Foram recrutados 502.543 pacientes entre 2006 e 2010 e feito o preenchimento de questionário, avaliação física e coletados exames laboratoriais. Os participantes foram agrupados em 8 categorias de acordo com o consumo de café: 0, menos que 1, 1, 2, 3, 4, 5 e 6 ou mais xícaras de café.
O desfecho primário foi ocorrência de taquiarritmia entre 2006 e 2018, obtida a partir dos registros de atendimento dos pacientes. Foram incluídas fibrilação ou flutter atrial (FA), taquicardia supraventricular (TSV), taquicardia ventricular (TV) e extra-sístoles atriais (ESA) ou ventriculares (ESV). A análise secundária avaliou a ocorrência de cada tipo de arritmia isoladamente.
Além disso, foi feita análise genética dos pacientes: mais de 95% da cafeína é metabolizada pelo gene CYP1A2 e a variabilidade de sua atividade enzimática é fortemente associada a variabilidade do metabolismo do café. Foi criado um score com as principais variantes genômicas e os maiores scores representam metabolismo mais lento da cafeína. Nesse estudo foi testada também a hipótese de que metabolizadores mais rápidos consomem mais café.
Resultados
Os 502.543 participantes consumiram uma mediana de 2 xícaras de café ao dia. Deste total, 22,1% não tomavam café, 61,7% faziam uso do café com cafeína e 14,8% sem cafeína. Na análise final foram incluídos 386.258 participantes com média de idade de 56 anos, sendo 52,3% do sexo feminino.
Pessoas que consumiam mais que a mediana diária de café eram mais velhos, brancos, do sexo masculino, com maior ocorrência de doença arterial periférica, câncer, tabagismo e etilismo e tinham menos hipertensão, diabetes e doença renal crônica.
No seguimento médio de 4,5 anos, ocorreram 16.369 arritmias, sendo a grande maioria FA (12.811), seguida de TSV (1.920) e o restante extrassístoles e arritmias não especificadas. Após ajuste para as comorbidades dos pacientes, para cada xícara ingerida a mais houve redução de 3% no risco de arritmia. Na análise dos tipos isolados de arritmia houve associação negativa com FA e TSV. A FA ocorre quando há menor período refratário efetivo atrial e a cafeína parece prolongar este período. Além disso, ela bloqueia receptores de adenosina, que em altas doses é capaz de desencadear FA. Ainda, a cafeína tem efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, o que pode contribuir para a menor ocorrência das arritmias.
Houve associação positiva da ocorrência de arritmia com tabagismo (HR 1,09, IC95% 0,03 – 1,15, p = 0,002). Em relação as variantes genéticas, participantes com variantes relacionadas a metabolismo mais lento da cafeína consumiram menos café, porém não houve associação com o risco de arritmia.
Análises adicionais de sensibilidade encontraram probabilidade 7% menor da ocorrência de arritmia para cada xícara adicional de café, sem evidência de relação do score genético ou variantes da CYP1A2 com o risco de arritmia.
Conclusão
Este foi um estudo populacional grande prospectivo que mostrou que o maior consumo de cafeína está associado a menor ocorrência de arritmias e essa associação não foi afetada pelas variantes genéticas associadas ao metabolismo da cafeína. A proibição do consumo de café para reduzir arritmias não se justifica e não deve ser realizada na prática clínica.
Autor(a):
Referências bibliográficas:
- Kim E-j, et al. Coffee Consumption and Incident TachyarrhythmiasReported Behavior, Mendelian Randomization, and Their Interactions. JAMA Intern Med. 2021 July. doi:10.1001/jamainternmed.2021.3616
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 04/08/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/cafe-esta-ou-nao-associado-ao-aumento-do-risco-de-arritmias/
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