segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Editorial: A variante delta e as vacinas para Covid-19

Com o avanço da pandemia por Covid-19 em diferentes regiões do mundo, novas mutações têm surgido e muitas delas associadas à maior transmissão e contágio. A variante delta (B.1617.2) é a preocupação mais recente e há evidências de que esteja circulando em níveis altos no Rio de Janeiro e em outras regiões do país.


Nós que trabalhamos na linha de frente já observamos na última semana um aumento do número de casos, seja na população, seja nos profissionais de saúde. A boa notícia é que as internações de casos graves ainda não subiram na mesma proporção até a data deste editorial (16/08/2021), o que provavelmente indica a eficácia vacinal na redução de SDRA e mortalidade.

Neste texto, trouxemos para vocês as evidências mais atuais da eficácia das principais vacinas disponíveis no Brasil para a variante delta, reforçando a importância da imunização coletiva.

Vacinas de mRNA

A vacina da Pfizer foi avaliada em um recente estudo na NEJM e já publicada em nosso portal. Comparando com a cepa original, chamada de alfa, a eficácia foi de 88% após a segunda dose. O estudo da NEJM não separou casos graves dos demais para análise, considerando apenas a população como um todo, mas estudos subsequentes, no Canadá, Escócia e Israel, mostram eficácia para hospitalização e morte em torno de 80-90%!

A vacina da Moderna, também RNA, não está disponível no Brasil, mas apresentou resultados similares aos da Pfizer.

Vetor viral

A vacina da Jansen ainda não concluiu os estudos em humanos contra a variante delta. Apenas um resultado preliminar, ainda não revisado por pares, sugere que o nível de anticorpos neutralizantes induzido seja similar àquele da variante alfa, para a qual a vacina já se mostrou eficaz.

A vacina da AstraZeneca foi avaliada pelo estudo publicado na NEJM junto da Pfizer, porém sua eficácia global, isto é, englobando mesmo casos leves, foi menor, cerca de 67% após duas doses. Estudos no Canadá e na Escócia, ainda não revisados por pares, indicam resultados similares. A boa notícia é que a eficácia para hospitalização e morte é muito boa, com números em torno de 85-90%!
Vírus inativado

A Coronavac é a principal vacina deste grupo e a primeira a ser utilizada no Brasil. O fato de pessoas já imunizadas com duas doses estarem se infectando e às vezes internando tem gerado alarme na população leiga e até entre profissionais de saúde.

Para melhor entender a situação é necessário olhar com calma os estudos disponíveis até o momento. O principal deles foi realizado no Chile, em população do mundo real, e já comentado no nosso portal. A prevenção de infecções pelo Covid, como esperado, ficou em torno de 60-70%. O ponto central das vacinas é a prevenção de formas graves: a eficácia foi de 85 a 90%!

O problema é que neste estudo a maior parte da cepa não era delta. Infelizmente, para essa cepa, ainda não há estudos publicados. Tanto o Instituto Butantã quanto o fabricante chinês afirmam que há pesquisas em andamento, mas até o momento sem resultados revelados.
Conclusão

A disponibilidade de vacinas e a ampla vacinação da população não devem ser estímulos para a suspensão de medidas preventivas importantes, como evitar multidões e manter uso de máscaras. Isso porque o efetivo controle da doença a nível mundial só será possível com a vacinação em ampla escala, em todos os países, a fim de frear os casos graves.

Enquanto houver países com níveis incontroláveis de contágio, como a Indonésia e a Índia, recentemente, o surgimento de novas mutações e a possível resistência às vacinas continuarão a nos assombrar. Estudos com doses de reforço, em especial a Coronavac, são urgentes, a fim de programar o calendário vacinal em 2022.



Ronaldo Gismondi


Editor-chefe médico da PEBMED ⦁ Pós-doutorado em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Coordenador da Cardiologia do Niterói D’Or ⦁ Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF)


Referências bibliográficas:
Jongeneelen M, et al. Ad26.COV2.S elicited neutralizing activity against Delta and other SARS-CoV-2 variants of concern. Biorxiv. doi: https://doi.org/10.1101/2021.07.01.450707
Bernal JL, et al. Effectiveness of Covid-19 Vaccines against the B.1.617.2 (Delta) Variant. New England Journal of Medicine. August 12, 2021; 385:585-594. DOI: 10.1056/NEJMoa2108891
Jara A, et al. Effectiveness of an Inactivated SARS-CoV-2 Vaccine in Chile. New England Journal of Medicine. July 7, 2021. DOI: 10.1056/NEJMoa2107715
Nasreen S, et al. Effectiveness of COVID-19 vaccines against variants of concern, Canada. medRxiv preprint doi: https://doi.org/10.1101/2021.06.28.21259420
Sheikh A, et al. SARS-CoV-2 Delta VOC in Scotland: demographics, risk of hospital admission, and vaccine effectiveness. The Lancet. June 14, 2021 DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01358-1
Pancini L. Covid-19: Qual a eficácia das vacinas contra a variante Delta? Revista Exame. 30 de julho de 2021. https://exame.com/ciencia/eficacia-das-vacinas-contra-variante-delta/









Autor: Ronaldo Gismondi
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 16/08/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/virus-de-marburg-a-febre-hemorragica-detectada-no-guine-que-ainda-nao-possui-vacina/

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