Paula Guatimosim
O esquema responde às perguntas como, onde, o quê nas esferas macro, meso e micro,
e junta os por quês na esfera final colorida aliando meio ambiente, sociedade e economia.
“Economia Circular é um sistema econômico que visa zero desperdício e poluição em todo o ciclo de vida dos materiais, da extração do meio ambiente, passando pela transformação industrial, até chegar os consumidores finais, aplicando-se a todos os ecossistemas envolvidos. Ao término de sua vida útil, os materiais retornam a um processo industrial ou, no caso de um resíduo orgânico tratado, de volta ao meio ambiente com segurança, como em um ciclo natural de regeneração. Cria valor nos níveis macro, meso e micro e explora ao máximo o conceito de sustentabilidade. As fontes de energia usadas nos diversos processos são limpas e renováveis. O uso e consumo de recursos são eficientes. Órgãos governamentais e consumidores responsáveis desempenham um papel ativo no processo, garantindo a operação correta do sistema a longo prazo”.
Esta é uma definição unificada, consensuada entre estudiosos da Economia Circular (EC), obtida por meio de pesquisa coordenada pelo administrador de empresas Gustavo Nobre, doutor em Administração pelo Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua tese original, que busca mostrar como a Tecnologia da Informação (TI) pode contribuir com a economia circular, deparou com um entrave inicial: o grande volume de definições para Economia Circular.
Nobre iniciou sua pesquisa junto a cerca de 300 especialistas em Economia Circular de vários países, com a solicitação: “Usando suas próprias palavras, descreva o que você entende por Economia Circular” e selecionou os 44 conceitos mais robustos de pesquisadores experientes, todos PhDs no tema. Ao contrário do jornalista, que em suas primeiras lições aprende a fazer o lead (ou lide, em português), respondendo às perguntas o quê, quem, quando, onde, como e por que, no campo da pesquisa essas perguntas devem ser respondidas separadamente, para que o conceito seja mais preciso. “Uma coisa é o que é, outra é como faço, outra é por que devo fazer”, esclarece o pesquisador.
Apoiado em seus estudos por meio do Programa Bolsa Doutorado Nota 10 da FAPERJ, o que Gustavo Nobre percebeu foi que muitos entrevistados tinham definições diferentes sobre o tema. Diante dessa surpresa, decidiu primeiro estabelecer uma definição consensual. Parte de sua tese, o artigo com o conceito consolidado foi publicado no The Journal of Cleaner Production, especializado em produção limpa e sustentável, da editora Elsevier, com o nome “The quest for a circular economy final definition:
A scientific perspective” (https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959652621021910).
Gustavo Nobre espera frear o uso indevido do conceito por empresas
Ao longo dos seus estudos Nobre descobriu, por exemplo, que apenas um autor - Julian Kirchherr – já identificara, em 2017, mais de 100 definições diferentes para EC. De acordo com o pesquisador, esse assunto está cada vez mais valorizado por organizações e seus clientes finais, que procuram saber detalhes da produção daquilo que consomem. Para o pesquisador, a falta de uma definição concreta para o termo dificulta a verificação e a auditoria das organizações. “Vimos também que, devido à variedade de definições e pressões do mercado, empresas que não se enquadrariam no conceito vêm se apropriando do termo economia circular, criando sua própria definição, adaptando o conceito a ela, em vez de se enquadrarem ao conceito”, explica. Essa prática muito comum foi cunhada como greenwashing (lavagem verde) e significa a apropriação injustificada e divulgação de virtudes ambientalistas por parte de organizações, inclusive em seus relatórios anuais de sustentabilidade. “Para que uma empresa pratique a economia circular, o conceito deve fazer parte do DNA da organização. Não basta uma boa ação ou campanha pontual para se enquadrar no amplo conceito de EC”, lembra o pesquisador. O framework 9R, por exemplo (Recusar, Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reparar, Renovar, Remanufaturar, Ressignificar, Reciclar e Recuperar) é apenas um componente de “como” se chegar a EC, dentre outros disponíveis, incluindo as tecnologias da Indústria 4.0.
Nobre espera que sua pesquisa forneça recursos para que as organizações de padrões e certificadoras estabeleçam políticas e regulamentações formais de economia circular, estabelecendo parâmetros, metas e desenvolvimento de Indicadores-chave de Desempenho (ou Key Performance Indicators – KPIs - em inglês), para avaliações e auditorias. Entre as certificadoras que podem se beneficiar da pesquisa estão a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a International Organization for Standardization (ISO) que, em 2018, instituiu comitê técnico com foco na normatização da Economia Circular. A parte final de sua tese, que mapeou como as tecnologias da Indústria 4.0 podem ajudar as organizações na adoção da Economia Circular, será apresentada no Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), segundo maior congresso de administração do mundo, que este ano será realizado em outubro.
Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 12/08/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4284.2.0
Gustavo Nobre espera frear o uso indevido do conceito por empresas
Ao longo dos seus estudos Nobre descobriu, por exemplo, que apenas um autor - Julian Kirchherr – já identificara, em 2017, mais de 100 definições diferentes para EC. De acordo com o pesquisador, esse assunto está cada vez mais valorizado por organizações e seus clientes finais, que procuram saber detalhes da produção daquilo que consomem. Para o pesquisador, a falta de uma definição concreta para o termo dificulta a verificação e a auditoria das organizações. “Vimos também que, devido à variedade de definições e pressões do mercado, empresas que não se enquadrariam no conceito vêm se apropriando do termo economia circular, criando sua própria definição, adaptando o conceito a ela, em vez de se enquadrarem ao conceito”, explica. Essa prática muito comum foi cunhada como greenwashing (lavagem verde) e significa a apropriação injustificada e divulgação de virtudes ambientalistas por parte de organizações, inclusive em seus relatórios anuais de sustentabilidade. “Para que uma empresa pratique a economia circular, o conceito deve fazer parte do DNA da organização. Não basta uma boa ação ou campanha pontual para se enquadrar no amplo conceito de EC”, lembra o pesquisador. O framework 9R, por exemplo (Recusar, Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reparar, Renovar, Remanufaturar, Ressignificar, Reciclar e Recuperar) é apenas um componente de “como” se chegar a EC, dentre outros disponíveis, incluindo as tecnologias da Indústria 4.0.
Nobre espera que sua pesquisa forneça recursos para que as organizações de padrões e certificadoras estabeleçam políticas e regulamentações formais de economia circular, estabelecendo parâmetros, metas e desenvolvimento de Indicadores-chave de Desempenho (ou Key Performance Indicators – KPIs - em inglês), para avaliações e auditorias. Entre as certificadoras que podem se beneficiar da pesquisa estão a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a International Organization for Standardization (ISO) que, em 2018, instituiu comitê técnico com foco na normatização da Economia Circular. A parte final de sua tese, que mapeou como as tecnologias da Indústria 4.0 podem ajudar as organizações na adoção da Economia Circular, será apresentada no Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), segundo maior congresso de administração do mundo, que este ano será realizado em outubro.
Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 12/08/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4284.2.0
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