segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Clostridioides difficile na pediatria: devemos realizar profilaxia secundária com vancomicina?

Segundo um estudo publicado no jornal Pediatrics, a profilaxia oral secundária com vancomicina durante o recebimento de antibióticos sistêmicos reduz o risco de infecção por Clostridioides difficile (ICD) recorrente em pacientes pediátricos com história prévia dessa condição.




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Infecção por Clostridioides difficile

A ICD está entre as infecções mais frequentes nos Estados Unidos. As taxas de recidiva e recorrência são estimadas em 25% e podem causar morbidade e mortalidade significativas. Aproximadamente 30–40% dos lactentes são colonizados com C. difficile e são amplamente assintomáticos. No entanto, após o primeiro ano de vida, as taxas de colonização assintomática diminuem e a prevalência de colonização é paralela a de adultos, com uma taxa de 3–8%. Crianças com ICD prévia correm um risco muito maior de infecções subsequentes em comparação com controles não infectados (até 30% dos pacientes com C. difficile apresentam recorrência). Além disso, é importante lembrar que aproximadamente um terço das crianças com câncer são colonizadas por essa bactéria.

Frequentemente, a vancomicina oral é prescrita como profilaxia secundária em pacientes adultos como forma de reduzir o risco de recorrência de infecção por Clostridioides difficile durante a antibioticoterapia concomitante. Apesar de essa ser uma prática muito utilizada em adultos, não havia sido ainda estudada em Pediatria. Sendo assim, o objetivo do estudo foi avaliar a utilidade da profilaxia oral secundária com vancomicina em pacientes pediátricos com ICD anterior que receberam exposição subsequente a antibioticoterapia sistêmica.

Metodologia do estudo

Os pesquisadores realizaram uma avaliação de coorte retrospectiva multicêntrica, incluindo pacientes com idade igual ou inferior a 18 anos com qualquer história de ICD clínica e recebendo antibióticos sistêmicos em uma internação subsequente de 2013 a 2019. Os pacientes que receberam profilaxia oral secundária com vancomicina concomitante ao uso de antibióticos foram comparados com que não a receberam. O desfecho primário foi a recorrência de ICD dentro de um período de oito semanas após a exposição ao antibiótico. Também foram avaliados a infecção com enterococos resistentes à vancomicina e fatores de risco para a recorrência de ICD.

A profilaxia oral secundária com vancomicina foi definida como doses de vancomicina enteral de 10 mg/kg (até 125 mg/dose) a cada 12 horas, durante o uso concomitante de antibióticos. A duração foi planejada para continuar enquanto o paciente estivesse em uso de agentes antimicrobianos sistêmicos e por 5 dias após o término da antibioticoterapia. No entanto, a prática variou e a duração foi deixada a critério do provedor.


Foram selecionados 148 pacientes, sendo que 74 foram excluídos, principalmente por causa da falta de um uso subsequente de antibióticos sistêmicos após o episódio inicial de ICD. Dos 74 pacientes incluídos no estudo, 30 receberam a profilaxia oral secundária com vancomicina e 44 não a receberam. Os pacientes que receberam a profilaxia receberam mais fluoroquinolonas e carbapenêmicos e tiveram maior uso de antibióticos e maior tempo de internação (mediana de 13 versus 6,5 dias; P = 0,009). Além disso, a incidência de recorrência de ICD dentro de oito semanas de exposição ao antibiótico foi significativamente menor em pacientes que receberam a profilaxia (3% versus 25%; P = 0,02), apesar deste grupo ter mais fatores de risco para recorrência. Os pesquisadores também relataram que não houve infecções por enterococos resistentes à vancomicina em nenhum paciente de nenhum dos grupos. Por fim, após o ajuste em uma análise multivariável, a profilaxia secundária com vancomicina oral foi associada a menos risco de recorrência (odds ratio: 0,10; P =0,04).
Conclusão

Nesse estudo, a profilaxia secundária com o uso de vancomicina oral mostrou-se como uma prática clinicamente eficaz e bem tolerada em pacientes pediátricos com alto risco de recorrência de infecção por Clostridioides difficile. Todavia, apesar de serem excelentes, esses resultados precisam ser validados através de ensaios clínicos randomizados.

Autor(a):



Roberta Esteves Vieira de Castro


Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.


Referências bibliográficas:
Bao H, Lighter J, Dubrovskaya Y, et al. Oral Vancomycin as Secondary Prophylaxis for Clostridioides difficile Infection. Pediatrics. 2021;148(2):e2020031807. doi:10.1542/peds.2020-031807







Autor: Roberta Esteves Vieira de Castro
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 16/08/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/clostridioides-difficile-na-pediatria-devemos-realizar-profilaxia-secundaria-com-vancomicina/

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