quinta-feira, 19 de agosto de 2021

O que sabemos sobre a variante Delta do SARS-CoV-2 em crianças?

A disseminação massiva e rápida da pandemia de Covid-19 levou ao surgimento de muitas variantes, resultando em diversidade genética. Atualmente, existem quatro variantes de preocupação (VP) reconhecidas globalmente. Entre elas, a variante Delta já se espalhou para mais de 132 países, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS): é uma variante mais transmissível, tornando-se a cepa dominante do vírus SARS-CoV-2 em todo o mundo.

Ao longo da pandemia, a Covid-19 se manifestou, na população pediátrica, como uma doença de curso mais leve na maioria dos casos, o que ainda tem sido descrito na literatura. Todavia, com a chegada da variante Delta, o risco para as crianças está aumentando, segundo dados do órgão americano CDC (Centers for Disease Control and Prevention). Nos Estados Unidos, aproximadamente 1.800 crianças foram hospitalizadas com Covid-19 na primeira semana de agosto, um aumento de 500% na taxa de hospitalizações de crianças com Covid-19 desde o início de julho de 2021.




Proteção pela vacina

No mundo todo, com o surgimento da variante Delta e outras VP, as pessoas que não foram vacinadas correrão maior risco, especialmente crianças com idade inferior a 12 anos, que não podem ainda ser vacinadas, e adolescentes que estão em processo de vacinação. No Canadá, por exemplo, um estudo recente sugere que as crianças com teste positivo para Covid-19 durante a onda Delta podem ter duas vezes mais probabilidade de serem hospitalizadas do que quando as variantes anteriores estavam dominando a transmissão. Infelizmente, esses dados falam a favor de que crianças mais novas têm apresentado quadros clínicos mais graves da doença. Ainda no Canadá, considerando os indivíduos vacinados, a efetividade contra hospitalização ou óbito para a variante Delta, depois de uma dose das vacinas AstraZeneca®, Pfizer® ou Moderna®, foi de 88%, 68% e 96%, respectivamente, mesmo com a circulação das quatro VP. Em nota conjunta, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) descrevem que esses resultados reforçam evidências prévias que demonstraram que a proteção da resposta induzida pelas vacinas se mantém alta para os desfechos graves, como internação hospitalar e morte.

A variante Delta está se apresentando de forma um pouco diferente em crianças e adolescentes. As manifestações clínicas incluem sintomas de vias aéreas superiores, como congestão nasal, e menos proeminência de perda do paladar e do olfato, pelo menos inicialmente. Além disso, sintomas semelhantes que foram aparentes durante a pandemia continuam a ocorrer em crianças e adolescentes, como febre e fadiga. Dessa forma, qualquer criança que apresente sintomas consistentes com infecção do trato respiratório superior deve ser avaliada para Covid-19. Além disso, crianças sintomáticas devem ficar em casa e não frequentar a escola e/ou a creche.

Conclusão

Portanto, todos os esforços devem ser implementados para estimular a vacinação e fornecer acesso às vacinas. O uso de máscaras e a manutenção do distanciamento social ainda devem ser estimulados, devido ao possível aumento iminente de casos secundários às novas variantes.


No Brasil, segundo o presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP, Dr. Renato Kfouri, ainda não existem indícios de que seja preciso disparar o alerta em relação à variante Delta do SARS-CoV-2 em adultos ou crianças.

Autor(a):



Roberta Esteves Vieira de Castro


Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.


Referências bibliográficas:
Liang Q, et al. Vaccination remains the first choice to control the spread of delta and other variants of severe acute respiratory coronavirus virus 2 (SARS-CoV-2). Infect Control Hosp Epidemiol. 2021
World Health Organization. COVID-19 Virtual Press conference transcript – 30 July 2021. 2021. Disponível em: https://www.who.int/publications/m/item/covid-19-virtual-press-conference-transcript—30-july-2021. Acesso em: 18/08/2021
Goodman B. US Pediatric Hospitals in Peril as Delta Hits Children. 2021. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/956690?src=wnl_edit_tpal&uac=137967BJ&impID=3575547&faf=1. Acesso em: 17/08/2021
Versalovic J. The Delta variant: What parents need to know as children head back to school. 2021. Disponível em: https://www.texaschildrens.org/blog/delta-variant-what-parents-need-know-children-head-back-school. Acesso em: 17/08/2021
Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Imunizações. Intervalo entre as doses das vacinas COVID-19: AstraZeneca/Oxford e Pfizer. 2021. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23126d-NTC_-_Intervalo_doses_vacinas_COVID_AstraZeneca-Pfizer.pdf. Acesso em: 17/08/2021
Metropoles. Brasil LM. Variante Delta é mais perigosa para crianças? O que se sabe até aqui. 2021. Disponível em: https://www.metropoles.com/saude/variante-delta-e-mais-perigosa-para-criancas-o-que-se-sabe-ate-aqui





Autor: Roberta Esteves Vieira de Castro
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 19/08/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/o-que-sabemos-sobre-a-variante-delta-do-sars-cov-2-em-criancas/

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