segunda-feira, 13 de maio de 2024

Estudo revela evidências de violência em uma época de crise no antigo Peru


A transição do quinto para o quarto séculos antes da presente era teria sido uma época crítica na região dos Andes Centrais, que ficam atualmente no território do Peru. Os estudiosos apontam evidências de um tempo conturbado, que marcaria a passagem do período Formativo Médio (1200 a.C.-400 a.C.) para o período Formativo Tardio (400 a.C.-1 a.C.). Desintegração política e violência intergrupal fariam parte do contexto, talvez associado à hipotética substituição de governos teocráticos por governos seculares. Um novo estudo, publicado na revista Latin American Antiquity, vem reforçar de forma consistente tal suposição.

A pesquisa foi conduzida por uma equipe de pesquisadores peruanos, colombianos e brasileiros, liderada pelo bioarqueólogo peruano Luis Pezo-Lanfranco, na época associado ao Laboratório de Antropologia Biológica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e apoiado pela FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.

“Fizemos uma análise detalhada das ossadas de 67 indivíduos escavados em um cemitério do período 500 a.C.-400 a.C. localizado no Vale de Supe, a poucos quilômetros de Caral, famoso centro cerimonial que esteve em funcionamento entre 2900 a.C. e 1800 a.C. Nesse cemitério, detectamos padrões de lesões característicos de eventos repetitivos de violência interpessoal. Dos indivíduos examinados, 80% dos adultos e adolescentes morreram em decorrência dos traumatismos infligidos”, diz Pezo-Lanfranco à Agência FAPESP. O pesquisador encontra-se instalado agora no Departamento de Pré-História da Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha.

Pezo-Lanfranco conta que as lesões perimortem (isto é, ocorridas no momento da morte) encontradas em ossos do crânio, face e tórax de vários indivíduos são compatíveis com violência letal provavelmente intercomunitária. E que essa violência não vitimou apenas homens e mulheres, mas também crianças. “Nossa hipótese é que um grupo alheio à comunidade teria chegado no local e perpetrado os homicídios. Depois que os agressores foram embora, os indivíduos mortos foram inumados pela própria comunidade seguindo ritos regulares, como sugerem os padrões de sepultamento”, afirma.

Dos 67 indivíduos estudados, 64 foram enterrados em posição fetal: 12 estavam em decúbito dorsal, quatro em decúbito ventral, sete em decúbito lateral esquerdo e 41 em decúbito lateral direito. A posição fetal é um padrão recorrente nos sepultamentos de várias populações pré-históricas e antigas do mundo. Por ser característico da fase intrauterina, alguns especialistas acreditam que estava associado à ideia de continuidade da vida depois da morte ou de renascimento.


Autor: FAPESP 

Fonte: FAPESP 

Sítio Online da Publicação: FAPESP 

Data: 13/05/2024