sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Entenda por que é importante cuidar do peso para evitar problemas renais



Como o excesso de peso está fortemente ligado a maus hábitos alimentares, com alto consumo de sódio e carboidratos, o risco de desenvolver quadros clínicos de cálculo renal é mais alto em pessoas obesas — Foto: Reprodução/EPTV



A prevalência da obesidade no mundo é cada vez maior e as comorbidades relacionadas ao sobrepeso são as mesmas que desencadeiam a maior parte dos quadros de doença renal: diabetes e hipertensão.


“Na maior parte das vezes, a adiposidade faz com que haja uma piora dessas comorbidades (diabetes e hipertensão), que, por sua vez, são as principais causas da doença renal crônica”, destaca a médica nefrologista Andrea Pio de Abreu, professora da Faculdade de Medicina da USP e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Nefrologia.


Ainda, como o excesso de peso está fortemente ligado a maus hábitos alimentares, com alto consumo de sódio e carboidratos, o risco de desenvolver quadros clínicos de cálculo renal é mais alto em pessoas obesas.


Realizada pelo Ministério da Saúde, pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2018 aponta que um a cada cinco brasileiros é obeso. Mais da metade dos entrevistados têm excesso de peso – um aumento de 30,8% desde 2006, quando foi feito o primeiro levantamento.



Insuficiência renal



A doença ou insuficiência renal crônica consiste na perda progressiva das funções renais, podendo levar à paralisação dos rins. Nos casos mais graves, é preciso fazer hemodiálise, que é um procedimento de filtragem do sangue, para compensar a perda dos órgãos responsáveis por esse trabalho no organismo. Dependendo do quadro do paciente, pode ser necessário um transplante.


A médica Andrea Pio de Abreu explica que, quando existe obesidade, uma série de substâncias são liberadas no metabolismo, causando alterações que resultam na piora de doenças cardiovasculares, as quais acabam prejudicando os rins de forma indireta.


Mas também pode haver dano direto ao funcionamento dos órgãos quando o excesso de gordura afeta uma estrutura interna dos rins chamada glomérulo, aumento o risco de ocasionar o que se chama de glomerulomegalia (o aumento dessa estrutura). “Isso leva a uma maior permeabilidade dos rins, então passam pelos glomérulos substâncias que não deveriam passar, como a proteína, que acaba sendo eliminada pela urina”, explica a nefrologista.



Obesos graves



Embora haja evidências da associação entre obesidade e doenças renais, nem todo o obeso vai desenvolver insuficiência renal. De acordo com a endocrinologista Jacqueline Rizzolli, do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), a perda de função renal é mais comum em obesos graves, com 40 ou mais quilos de sobrepeso.


“A gordura intra-abdominal visceral, que fica perto dos órgãos internos, pode ativar um sistema que faz com que os rins trabalhem excessivamente, atingindo graus progressivos de perda de funcionamento devido à sobrecarga”, explica Jacqueline.


Segundo a médica, quando descoberto precocemente, é possível reverter esse quadro somente com a perda de 10 a 15% do peso e alguns cuidados alimentares, como reduzir o consumo de sódio e alimentos industrializados. A perda de peso reduz a sobrecarga, podendo reabilitar as funções renais sem a necessidade de outras intervenções.





Estudo mostra que subnutrição e obesidade são problemas mundiais




Países mais pobres sofrem com desnutrição e obesidade




Obesidade é responsável por grande parte dos casos de insuficiência renal




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Bom Dia Rio

Homem é preso ao atirar na madrasta à queima-roupa, em Saquarema


A Polícia prendeu o atirador em Maricá. O homem disparou 5 tiros na madrasta na tarde desta quarta-feira (25).





Autor: G1 Globo Saúde
Fonte: G1 Globo Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Globo Saúde
Data: 27/12/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/viva-voce/noticia/2019/12/27/entenda-por-que-e-importante-cuidar-do-peso-para-evitar-problemas-renais.ghtml

A técnica de detectar câncer de próstata que pode 'revolucionar a saúde dos homens'



Os testes de ressonância magnética serviriam para reduzir o número de homens que precisa fazer uma biópsia. — Foto: Getty Images via BBC


O câncer de próstata é uma das formas mais comuns de câncer entre homens, com cerca de 1,2 milhões de novos casos ao ano, segundo a Associação Espanhola contra o Câncer.


Ainda assim, o procedimento utilizado para diagnosticá-lo é pouco preciso.



"Tradicionalmente, usamos um teste de sangue para identificar níveis elevados de um antígeno específico da próstata (PSA, na sigla em inglês) e então fazemos uma biópsia. Isso quer dizer que tiramos um tecido da próstata para examiná-lo no microscópio", explica à BBC Mark Emberton, professor de oncologia intervencionista da University College London (UCL).


"Mas os níveis de PSA não são um indicador confiável do câncer de próstata: cerca de 75% dos homens que obtêm um resultado positivo não têm o câncer, enquanto que (o teste) não detecta a doença em cerca de 15% dos homens que a têm."


Hoje em dia, adiciona o especialista, "diagnosticamos tumores que são inofensivos, o que leva a exames e operações desnecessárias, e ignoramos cânceres que são prejudiciais, deixando que a enfermidade se multiplique e se espalhe pelo corpo sem controle".



Como se fosse uma mamografia



Atualmente, Emberton faz parte do projeto ReIMAGINE liderado pela UCL, com pesquisadores do Imperial College e do King's College de Londres, além de médicos do hospital da UCL.



Os testes estão acontecendo este ano em Londres — Foto: Getty Images via BBC

A equipe está analisando se as imagens por ressonância magnética podem servir para fazer um diagnóstico efetivo de câncer de próstata em homens, da mesma forma que as mamografias são utilizadas para detectar o câncer de mama em mulheres.


"Esperamos que, usando a ressonância magnética, possamos mudar a forma com que se diagnostica e se trata o câncer de próstata", diz Emberton.


"Sabemos, por pesquisas internacionais, que a ressonância pode reduzir notavelmente e de forma segura o número de pacientes que precisam de uma biópsia invasiva."



"Esses estudos fizeram com que, recentemente, as recomendações de saúde oficiais mudassem. Agora, sugere-se que a ressonância seja o primeiro teste para os homens que tenham suspeita do câncer de próstata e sejam encaminhados ao hospital pelo clínico-geral".



Como os estudos estão avançando?



A partir deste mês, 300 homens, que tenham entre 50 e 75 anos, serão selecionados de forma aleatória e convidados a participar do estudo.


Os exames de sangue, por si só, não são confiáveis para detectar câncer de próstata — Foto: Getty Images via BBC


Para cada paciente, será realizado um exame de sangue (que identifica PSA) e uma ressonância magnética de 10 minutos.


Ao combinar o trabalho de radiologistas e urologistas para analisar os resultados dos dois exames, será possível avaliar com mais precisão se o paciente apresenta ou não sinais de câncer de próstata.



Por que é importante?



Quanto antes for iniciado o tratamento, maior são as chances de um bom resultado. Em última instância, isso permite salvar vidas, conforme explica Emberton à BBC.


Também permitirá que sejam feitas menos biópsias, o que reduziria o custo para o sistema de saúde, acrescenta ele.


"Outro aspecto importante do estudo é que ele examinará se, em combinação com técnicas avançadas como a genômica (...), as imagens por ressonância magnética podem substituir as biópsias de próstata".


"Os grupos de pacientes com câncer de próstata são uma parte extremamente importante do estudo, e a perspectiva de alcançar uma grande redução nas biópsias é uma meta importante, já que elas podem ter efeitos colaterais sérios nos pacientes", diz Emberton.


A função principal da próstata é fornecer o fluido prostático ou líquido seminal, que se mistura com os espermatozoides nos testículos para que possam sobreviver e ser expelidos durante a ejaculação. — Foto: Getty Images via BBC


Entre os efeitos colaterais mais comum estão dor, sangramento e infecções.


"Nossa equipe espera recrutar mil homens com risco médio e alto de câncer para descobrir se a ressonância pode ser combinada a outros exames de diagnóstico de alta tecnologia, a fim de prever a progressão do câncer", explica Emberton.



"O objetivo final é desenvolver testes que sejam melhores que as biópsias para determinar o tratamento para o tumor que seja adequado a cada pessoa, e determinar inclusive se essa pessoa não precisa de tratamento".


Emberton e sua equipe esperam que, como resultado do estudo, possam chegar ao ponto de descartar a biópsia e calcular o risco baseando-se apenas na ressonância magnética e nos exames de sangue.



"Detectar e tratar o câncer de próstata usando técnicas avançadas de imagem é um dos descobrimentos mais revolucionários que posso recordar na saúde dos homem, e se baseia na experiência multidisciplinar de pesquisadores universitários e médicos do mundo todo", garante o especialista.



"Trabalhando juntos, continuaremos fazendo descobertas significativas para lutar contra o câncer."





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Autor: BBC
Fonte: G1 Globo Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Globo Saúde
Data: 27/12/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/12/27/a-tecnica-de-detectar-cancer-de-prostata-que-pode-revolucionar-a-saude-dos-homens.ghtml

Com Parkinson há quase 10 anos, paciente ganha 1° marcapasso cerebral em Rondônia



Antônio Marques, sorridente, durante consulta em Porto Velho. — Foto: Ana Kézia Gomes/G1


Comer, caminhar e vestir-se são atividades rotineiras aparentemente fáceis, mas seu Antônio Marques, de 68 anos, não conseguia fazê-las sozinho há quase uma década. Ele é um dos 200 mil brasileiros que vivem com Parkinson. Uma doença ainda sem cura que causa tremor, lentidão e rigidez.

Para acabar com os tremores, neste mês de dezembro seu Antônio passou por uma cirurgia inédita em Rondônia: a implantação de um marcapasso cerebral através do Sistema Único de Saúde (SUS).


Os resultados da implantação do eletrodo foram quase instantâneos, como mostra o vídeo feito antes e depois da cirurgia em Porto Velho. No início Antônio mexe a mão lentamente com dificuldades; na sequência já mais veloz (assista abaixo).




Veja os movimentos de Antônio Marques antes e depois da cirurgia de marcapasso cerebral


O procedimento é conhecido como deep brain stimulation (DBS), isto é, uma estimulação cerebral profunda, considerada uma das melhores opções para quem sofre de Parkinson, pois controla os sintomas para devolver qualidade de vida ao paciente.



Dra. Rafaela Rezende, fazendo curativos em Antônio Marques, primeiro a fazer cirurgia de marca-passo cerebral em RO — Foto: Ana Kézia Gomes/G1


Uma semana depois de receber alta, Antônio voltou para consulta e desta vez não precisou da ajuda das filhas para sair do carro e caminhou pelos corredores do hospital com sorriso estampado no rosto. “Olha estou controlando o tremor”, foi a primeira frase que ele disse ao ver a dra. Rafaela Rezende, neurologista responsável pela cirurgia. Ela acompanha seu Antônio há mais de 1 ano.


"No caso dele o que mais melhorou foi a rigidez. Ele não conseguia colocar a bermuda, andava arrastando o pé. E agora já consegue comer com garfo", comemora a médica.



Convivendo com o Parkinson




Antônio Marques e a família durante consulta em Porto Velho — Foto: Ana Kézia Gomes/G1


Seu Antônio trabalhava em um restaurante, era muito ativo, casado e pai de três filhos. Há cerca de 10 anos, com a chegada da doença, a rotina da família mudou completamente.


"Quando recebi o diagnóstico fiquei muito preocupado porque o doutor falou que não tinha cura, mas graças a Deus agora estou me recuperando. Não tenho mais dor. Minha rotina antigamente era só comer e dormir porque o remédio era muito forte. Agora eu já consigo ficar acordado", diz.


Para a família a cirurgia foi um misto de esperança e apreensão. Há sete meses seu Antônio perdeu a esposa para o câncer e, com os riscos do procedimento, as oito horas de espera do lado de fora da sala de cirurgia foram "uma prova de fé".


"Deus levou minha mãe, mas devolveu a vida do meu pai", comenta Cristine, uma das filhas de Antônio.


O neto, Samuel, tem 10 anos e acompanha com orgulho a recuperação do avô.



"Antes a gente tinha que lembrar meu vô de tomar o remédio e agora ele mesmo lembra. Antes ele não saia de casa porque tinha vergonha da doença, agora ele sai de boa. Eu tô muito feliz", diz Samuel.




Antônio Marques chegando de carro na consulta em Porto Velho — Foto: Ana Kézia Gomes/G1



O procedimento



Segundo a neurologista Rafaela Rezende, a implantação do marcapasso cerebral é uma alternativa para outra cirurgia de Parkinson: a ablativa, já feita no estado. A principal diferença entre elas é que uma é reversível e a outra não.


"Uma eu entro e queimo [ablativa] e, mesmo sendo bem segura, se der complicação não tem como reverter. A outra [marcapasso] tem como ir ajustando, diminuir ou aumentar a terapia", explica a médica.


No caso de Antônio ele já era acompanhado por um neuroclínico, que o encaminhou à neurocirurgia.


Todo o procedimento durou 8 horas. Primeiro ele passou por um scalp block, que é um bloqueio da cabeça para não sentir dor. Então os médicos colocaram um arco e o levaram para tomografia.


Adiante a equipe fundiu a ressonância, feita anteriormente com a tomografia, para saber o tamanho real da cabeça. Após isso eles souberam as coordenadas que deveriam seguir durante a cirurgia.


Na primeira parte dela fixa-se a cabeça e coloca o eletrodo. Depois começam os testes para estímulo e mapeamento. Então aplica-se a anestesia geral e, por baixo da pele, coloca-se o gerador.


O mal de Parkinson




Lentidão dos movimentos é o sintoma principal do Parkinson — Foto: Arte/TV Globo


A doença não tem cura, mas tratamento. O sintoma principal do Parkinson, mais marcante, é a lentidão dos movimentos - a pessoa passa a ter lentidão para movimentar os braços, caminhar, levantar da cadeira, a voz também fica diferente. Além disso, também existe a rigidez muscular, o desequilíbrio e o sintoma mais famoso, que todo mundo associa ao Parkinson: tremor nos braços.


As principais causas podem ser desconhecidas, genéticas ou relacionadas a acidentes ou condições externas.

A doença de Parkinson não tem prevenção, mas algumas atitudes podem minimizar o risco, como a atividade física.





Autor: Ana Kézia Gomes, G1 RO
Fonte: G1 RO
Sítio Online da Publicação: G1 Globo Saúde
Data: 27/12/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2019/12/27/com-parkinson-ha-quase-10-anos-paciente-ganha-1-marcapasso-cerebral-em-rondonia.ghtml

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

‘Temos avançado no diagnóstico precoce, mas isso não é o mesmo que prevenção’

Em 2008, o médico e nutrólogo Edmond Saab Junior, cardiologista do corpo clínico Hospital do Coração e professor de pós-graduação da Associação Brasileira de Medicina Biomolecular e Nutrigenômica, escreveu um guia que se tornou best-seller. “O manual do proprietário” tinha como proposta ajudar as pessoas a compreender os mecanismos do corpo para cuidar melhor da saúde. Agora acaba de lançar “Os segredos da longevidade: um verdadeiro manual para ser saudável e viver mais por meio da alimentação, da medicina preventiva e do equilíbrio do seu organismo”, uma ótima leitura para quem quer tomar as rédeas da própria vida em 2020.



Edmond Saab Junior, cardiologista do corpo clínico Hospital do Coração, é também nutrólogo — Foto: Divulgação


Adepto da medicina integrativa, que utiliza métodos complementares de tratamento, como nutrologia clínica, prática ortomolecular, fitoterapia, entre outros, ele afirma: “a medicina moderna é fantástica para o diagnóstico preciso e salvar vidas, mas, em termos de prevenção, necessitamos integrar diversas áreas do saber, sem excluir nada”. Lembrando uma frase sua que ficou famosa – “não há um milhão de causas para um milhão de doenças diferentes” – é contundente: “alguns dos principais ‘monstrinhos’ são bem conhecidos de todos. Vivemos uma epidemia de diabetes e as doenças autoimunes vêm crescendo. Por volta de 2030, segundo a Organização Mundial da Saúde, o câncer vai ter ultrapassado as doenças cardiovasculares como principal causa de morte. Infelizmente só temos avançado no diagnóstico precoce, e isso não é prevenção. No fim das contas, mais pessoas estão consumindo remédios para o resto de suas vidas, quando o fundamental é que mudem seus hábitos”.


O doutor Saab trabalha em três frentes para essa transformação: hidratação, oxigenação e nutrição. Como esse blog já tratou da importância da hidratação e da atividade física, que está no pacote “oxigenação” do livro, decidi focar no item nutrição. “Parta do princípio de que alimento bom é o que apodrece rápido. O mais natural sempre será o mais saudável. Alimente-se como seus antepassados, com quase nada industrializado. Essa sem dúvida será a melhor escolha, apesar de não ser a mais fácil”, ensina.


O médico também alerta para o fato de pelo menos 50% das pessoas acima de 60 anos apresentarem hipocloridria, ou seja, baixa produção de ácido clorídrico. Para entender por que isso é um problema: o estômago é composto em grande parte por células parietais para a produção do ácido clorídrico, que protege o trato gastrointestinal da invasão de microorganismos nocivos que vêm do meio externo, com os alimentos. O pH estomacal deve ser mais ácido para iniciar a digestão das proteínas e ainda estimular o pâncreas a produzir todas as enzimas necessárias ao processo. “O pior é que quase todos esses pacientes são tratados com medicamentos que impedem a produção de ácido clorídrico, conhecidos pelos nomes comerciais de omeprazol, lanzoprazol, pantoprazol, esomeprazol e amplamente utilizados para refluxo e gastrite”, escreve.


Um crítico do uso excessivo de medicamentos, o doutor Saab diz que a desprescrição de remédios deveria estar na pauta de todo médico. Enfatiza que o envelhecimento saudável está ligado ao estilo de vida e propõe uma linha de ação:


1) Alimentação com menor consumo de proteína animal, uma dieta mais baseada em vegetais.


2) Estar atento às propagandas de medicamentos, coibindo o uso indiscriminado de remédios desnecessários que trazem prejuízos ao organismo, e estimulando campanhas contra a automedicação.


3) Ensinar a população a se hidratar, oferecendo água de melhor qualidade, com subsídio para filtros de osmose reversa e destiladores de água para a população.


4) Incentivar a prática de atividade física, orientar quanto à oxigenação. Um ótimo exemplo nesse sentido seria a implementação de outras formas de oxigenoterapia e ozonioterapia em todo o serviço de saúde pública.


5) Criar grupos de orientação para saúde emocional, incluindo ioga, meditação e palestras.

Capa do livro “Os segredos da longevidade: um verdadeiro manual para ser saudável e viver mais por meio da alimentação, da medicina preventiva e do equilíbrio do seu organismo” — Foto: Reprodução




Autor: Mariza Tavares
Fonte: G1 Globo Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Globo Saúde
Data: 26/12/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2019/12/26/temos-avancado-no-diagnostico-precoce-mas-isso-nao-e-o-mesmo-que-prevencao.ghtml

Descubra quais alimentos em excesso são inimigos do rim

Sobrepeso e doenças cardiovasculares, como diabetes e hipertensão, são fatores de risco para a saúde renal, e a alimentação é um elemento-chave para o controle de todos esses fatores.


“Embora eventualmente surjam alguns estudos destacando propriedades de alimentos específicos para a saúde renal, cada vez mais as evidências científicas indicam que manter uma dieta equilibrada é a melhor maneira de evitar complicações”, destaca a nefrologista Andrea Pio de Abreu, diretora da Sociedade Brasileira de Nefrologia e professora da Faculdade de Medicina da USP.


Nesse sentido, ter cuidado com o excesso de sódio e carboidratos é a principal recomendação. “Uma dieta que ajude tanto na prevenção quanto no controle dessas doenças deve ser baseada no consumo de alimentos in-natura e na restrição de alimentos industrializados, com elevado teor de sódio e gorduras trans”, resume a nutricionista nutricionista Paula Zubiaurre, do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS.


Entenda por que, em exagero, alguns alimentos podem prejudicar o funcionamento dos rins:


Congelados, enlatados e embutidos




Sódio, presente em embutidos como presunto, é fator de risco para a formação de cálculo renal quando consumido em excesso — Foto: Shutterstock


O consumo excessivo de sódio é um dos elementos mais determinantes para hipertensão arterial. “A pressão alta pode causar dano vascular no glomérulo, que é uma estrutura interna do rim para filtragem do sangue”, explica a nefrologista Andrea.


Ainda que seja comumente associado ao sal, o sódio está presente em uma série de outros produtos, inclusive bebidas adocicadas, como refrigerantes e sucos artificiais. Alimentos industrializados em geral costumam ter grande concentração de sódio, caso de produtos como macarrão instantâneo, comidas prontas congeladas, enlatados e embutidos.


Além das complicações ligadas à hipertensão, que afeta os rins de maneira indireta, o sódio em excesso também é fator de risco para a formação de cálculo renal.

Pães, massas e doces




Alimentos ricos em açúcar e carboidratos pode corroborar para o sobrepeso, o que impacta na saúde renal — Foto: Shutterstock


O consumo de alimentos ricos em açúcar e carboidratos pode corroborar para o sobrepeso, que também impacta na saúde renal, pois os rins precisam trabalhar mais para dar conta de filtrar o sangue e manter o equilíbrio nutricional do organismo. Esses ingredientes são mais perigosos para quem sofre com diabetes.


“No diabetes, o elevado consumo de carboidratos está associado à hiperglicemia (glicose elevada), o que piora a resistência insulínica e desencadeia vasoconstrição (diminuição dos vasos sanguíneos) e retenção de sódio”, explica a nutricionista Paula.


São alimentos ricos em carboidratos pães, biscoitos, bolos, massas, batatas e açúcares de todos os tipos (lactose, frutose, açúcar cristal ou refinado, açúcar mascavo, melado, caldo de cana, etc).


“Há diferença entre os tipos de carboidratos, sendo as versões integrais uma melhor escolha, mas igualmente, para haver um bom controle do diabetes, esses alimentos devem ser consumidos com moderação”, complementa a especialista.

Carnes, ovos, leite e queijo




Corpo pode ter dificuldade em processar carnes, ovos, leite e queijo em casos de insuficiência renal

— Foto: Shutterstock

Conforme a nutricionista Paula, quem já sofre com a perda de função renal, deve ter maior cuidado com as fontes de proteína, como carnes, ovos, leite e queijo. “Devido ao baixo funcionamento do rim, ele pode apresentar dificuldade no processamento desse nutriente”, explica.


A especialista destaca que não se trata de restringir totalmente esses alimentos, mas reduzir a quantidade, que deve ser planejada por um nutricionista, levando em conta o estágio de insuficiência renal do paciente no planejamento do cardápio.


Outros nutrientes importantes na insuficiência renal são potássio e fósforo. Carne bovina é rica em potássio, já o fósforo está mais presente em laticínios. Frutas como abacate e banana, e legumes como beterraba, batata doce, espinafre e couve também são fontes de potássio. Uma das alternativas para reduzir a concentração do nutriente é preparar esses alimentos com fervura ou deixá-los de molho. Mas a necessidade de restrição deve ser avaliada por um especialista.

VÍDEO

Em novembro, uma pesquisa mostrou que os brasileiros consumiam sal em excesso, um dos agravantes para a saúde do rim. Confira no vídeo abaixo:




Pesquisa mostra que brasileiros consomem sal em excesso



Autor: G1 Globo Saúde
Fonte: G1 Globo Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Globo Saúde
Data: 26/12/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/viva-voce/noticia/2019/12/26/descubra-que-alimentos-em-excesso-sao-inimigos-do-rim.ghtml

Três sinais de que você pode ter síndrome de burnout



A condição foi reconhecida pela OMS como uma síndrome ocupacional — Foto: Getty Images via BBC

Se você dissesse que estava sofrendo de "burnout" no início dos anos 1970, as pessoas pensariam que você estava usando drogas pesadas.


Na época, o termo era usado informalmente para descrever os efeitos colaterais do consumo destas substâncias, como um prejuízo às faculdades mentais, por exemplo.


No entanto, quando o psicólogo alemão-americano Herbert Freudenberger reconheceu o problema do esgotamento profissional na cidade de Nova York em 1974, em uma clínica para viciados e pessoas sem-teto, ele não estava pensando em usuários de drogas.


Os voluntários da clínica também estavam lutando contra um problema: a rotina de trabalho intensa levava muitos a se sentirem desmotivados e emocionalmente esgotados. Embora uma vez tivessem achado seus empregos gratificantes, eles estavam deprimidos e não davam aos seus pacientes a atenção devida.


Freudenberger definiu essa nova condição como um estado de exaustão causado pelo excesso de trabalho prolongado – e pegou emprestado o termo burnout para descrevê-lo.


Hoje, o esgotamento profissional é um fenômeno global. Neste ano, a condição foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma síndrome ocupacional "resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso".


Segundo a OMS, esse tipo de esgotamento não é uma doença ou condição médica, mas um fator que influencia nossa saúde.


Há três elementos principais: sentimentos de exaustão, distanciamento mental do trabalho e pior desempenho profissional.


Mas, ao notar esses sinais, não espere estar totalmente esgotado para fazer algo a respeito – você não aguardaria para tratar qualquer outra doença até ser tarde demais.


Sentindo a exaustão


Então, como você pode saber se está quase – mas não completamente – esgotado?


"Muitos dos sinais e sintomas do pré-burnout são muito semelhantes à depressão", diz Siobhán Murray, psicoterapeuta e autora de "The Burnout Solution" ("A solução burnout", em tradução livre).


Murray sugere observar os maus hábitos, como o aumento do consumo de álcool e a dependência de açúcar ao longo do dia, e sentimentos de cansaço que não desaparecem.



"Mesmo que você durma bem, às 10h da manhã, você já está ansioso para ir dormir novamente. Ou não tem energia para se exercitar ou dar um passeio."




Assim que começar a se sentir deste modo, Murray aconselha ir ao médico. É importante obter ajuda profissional para distinguir a síndrome de burnout da depressão, porque, embora existam muitas opções de tratamento para a depressão, o burnout é melhor combatido com mudanças no estilo de vida.



O ambiente de trabalho pode contribuir para a sensação de esgotamento, especialmente quando há pressão intensa e pouco apoio — Foto: Getty Images via BBC


E como você pode saber se está realmente prestes a ficar esgotado ou se apenas está passando por um mês especialmente desafiador no trabalho?


"O estresse é importante, e a ansiedade é o que nos motiva a fazer o bem. Mas, quando estamos continuamente expostos ao estresse e à ansiedade, isso começa a se transformar em esgotamento", diz Murray.



Pense em um grande projeto em que você está trabalhando. É normal sentir uma pontada de adrenalina quando você pensa sobre isso, e talvez seja algo que tenha mantido você acordado à noite.


Mas Murray diz que, se você ainda se sentir inquieto depois que terminá-lo, é hora de considerar se pode estar com síndrome de burnout.


Outro sinal clássico é o cinismo: sentir que seu trabalho tem pouco valor, evitar compromissos sociais e se tornar mais suscetível à decepção.


"Alguém à beira do esgotamento provavelmente começará a se sentir emocionalmente ou mentalmente distante, como se não tivesse a capacidade de se envolver tanto com as coisas comuns da vida", diz Jacky Francis Walker, psicoterapeuta especializada em burnout.


Ela também diz que um sinal de burnout é a sensação inabalável de que a qualidade do seu trabalho está começando a cair.



"As pessoas dizem 'mas este não sou eu', 'não sou assim', 'normalmente consigo fazer x, y e z'. Mas, obviamente, se estão em um estado de esgotamento físico, elas não estão em sua plena capacidade", diz Walker.



Você também pode recorrer ao Maslach Burnout Inventory (MBI), um teste projetado para medir o esgotamento profissional ao avaliar coisas como exaustão, cinismo e como você pensa que está se saindo no trabalho.


Você está quase esgotado: e agora?


A única maneira de impedir o burnout – e bani-lo para sempre de sua vida – é atacar a origem do problema.


"O que faz em sua vida que você pode temporariamente ou permanentemente deixar de lado para se recuperar dos sinais físicos de esgotamento?", diz Murray.


Walker tem um programa de três etapas, que inclui descobrir por que há uma incompatibilidade entre o que uma pessoa pode oferecer e o que ela sente que está sendo solicitada a dar.


Para identificar o pré-esgotamento, preste atenção nos maus hábitos, como beber demais e depender de açúcar para passar o dia — Foto: Alamy



"Às vezes, uma pessoa sente a necessidade de ser perfeita demais, ou podem ter uma síndrome de impostor, em que sente que não é tão boa no que faz quanto os outros pensam e acha que precisa trabalhar muito para tentar disfarçar isso."



No entanto, o ambiente de trabalho pode ser o problema. De acordo com um estudo da Gallup em 2018 com 7,5 mil profissionais nos Estados Unidos, o esgotamento pode ocorrer devido a tratamentos injusto no emprego, uma sobrecarga de trabalho e uma falta de clareza sobre o papel que uma pessoa deve exercer. Os trabalhadores também ficaram estressados com a falta de apoio de seus superiores e uma pressão irracional.


"Outra questão pode ser que os valores da empresa estão seriamente em desacordo com os valores da pessoa, o que cria tensão e sensação de dissonância, porque ela faz algo em que não acredita", diz Walker.


Em alguns casos, é possível resolver o problema fazendo algo gratificante fora do trabalho, mas, às vezes, é preciso fazer uma mudança mais radical, como trocar de empresa ou até mesmo de profissão.


Qualquer que seja a causa do seu esgotamento, a principal dica de Murray é ser gentil consigo mesmo. Segundo sua experiência, um dos principais fatores da epidemia de burnout é a cultura atual de querer fazer tudo ao mesmo tempo.


Muitas vezes, não é possível ter uma vida social saudável, realizar um grande projeto e cumprir todas as suas metas de condicionamento físico ao mesmo tempo.


A especialista diz que é crucial priorizar e não esperar muito de si mesmo. Se alguém parecem ser o pai perfeito, um ídolo do fitness e um ótimo amigo simultaneamente, provavelmente esta pessoa está enganando as outras - ou recebendo muita ajuda nas diferentes esferas de sua vida.


Se você acha que pode estar perto de se juntar ao clube do burnout, dê um passo para trás, descubra o que está acontecendo de errado - e seja menos duro consigo mesmo.





Autor: BBC
Fonte: G1 Globo Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Globo Saúde
Data: 26/12/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/12/26/tres-sinais-de-que-voce-pode-ter-sindrome-de-burnout.ghtml

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Fiocruz desenvolve tecnologia para reconstrução craniana



Por: Regina Castro (Agência Fiocruz de Notícias)

Pesquisadores da Fiocruz coordenaram um projeto multicêntrico que possibilitará a ampliação do uso de próteses para a reconstrução de defeitos extensos da calota craniana. A técnica tradicional custa aproximadamente R$ 200 mil por paciente. O novo procedimento tem um custo oportunidade de 10 mil reais, o que torna possível expandir a metodologia para atender a demanda da população no Sistema Único de Saúde (SUS).

Entre os problemas que podem causar a necessidade do uso de próteses cranianas estão tumores, Acidentes Vascular Encefálico (AVE), encefalites, hemorragias cerebrais e traumatismos cranianos, entre outros. De acordo com dados do DataSUS do Ministério da Saúde, de janeiro de 2008 a setembro de 2019, o maior número desses casos ocorreu na região Sudeste, com 49%, seguido da região Nordeste, com 19%, e da região Sul, com 15%.

“Segundo o DataSUS, dependendo do procedimento, cerca de 2 mil a 3 mil processos de craniectomia descompressiva (método cirúrgico indicado para a redução imediata da pressão intracraniana) são realizados por ano no Brasil. Acreditamos que, dentro dessa casuística, cerca de 200 a 300 procedimentos/ano de cranioplastia sejam necessários para atender a demanda da população SUS”, destacou o pesquisador da Fiocruz e neurofisiologista Renato Rozental, coordenador da equipe multidiscliplinar que desenvolveu o projeto.

O especialista informou que uma falha óssea no crânio, além de levar a alterações hemodinâmicas relacionadas à circulação do sangue nos vasos e da função cerebral, tem implicações estéticas e socioeconômicas, podendo resultar em uma aposentadoria precoce e uma péssima qualidade de vida desses pacientes. “O material usado nas próteses é o polimetilmetacrilato (PMMA), aprovado como produto para cimento ortopédico pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]. A técnica de produção da prótese com polimetilmetacrilato, cimento ósseo utilizada para a confecção do flap durante o período intraoperatório, mostra-se um procedimento seguro e rápido”, garante Rozental.

Acesso da população

O pesquisador ressaltou ainda que, para ampliar o acesso da população a esse tipo de procedimento, a solução passa por uma redução drástica dos custos dos materiais usados. “As cirurgias plásticas de reconstrução do crânio pós-craniectomia descompressiva envolvem um alto custo, incluindo a malha de titânio e porcelanato usada atualmente, totalizando um gasto entre R$ 140 mil e R$ 200 mil por paciente, o que torna sua realização no SUS economicamente inviável”.

Por isso, alertou Rozental, aprimorar estratégias terapêuticas viáveis para o SUS é essencial para permitir a reintegração familiar, social e profissional de pacientes submetidos à craniectomia descompressiva, realizada em casos de traumatismo cranioencefálico. Esse tipo de trauma representa um relevante problema de saúde pública, uma vez que a violência física se tornou a principal causa de morte por eventos externos no Brasil, segundo dados de 2019 do DataSUS”, destacou Rozental.

A cirurgia de reconstrução do crânio leva à melhora das funções neuropsicológicas do paciente, especialmente se realizada nos primeiros seis meses após o traumatismo cranioencefálico. A demora no atendimento, observou o pesquisador, pode gerar desde o agravamento das funções cognitivas e comportamental até sequelas, pela falta de proteção cerebral – além do estigma social atrelado à deformidade.


Autor: Regina Castro
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 19/12/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-desenvolve-tecnologia-para-reconstrucao-craniana

Emissões de CO2, por área territorial, nos 3 países mais poluidores do mundo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“A estabilidade e a resiliência do nosso planeta estão em perigo”
Timothy Lenton (27/11/2019)


O mundo vive uma emergência planetária em decorrência do caos climático e das mudanças ambientais descontroladas. A temperatura da Terra já subiu mais de 1º C desde o início da Revolução Industrial e o ritmo do aquecimento global tem se acelerado, prenunciando um grande desastre ecossocial nas próximas décadas.

O que provoca o aumento do aquecimento global é a elevação da concentração de gases de efeito estufa. A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou de aproximadamente 277 partes por milhão (ppm) em 1750, no início da era industrial, para cerca de 410 ppm em 2019. As emissões globais de CO2 estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 36 bilhões de toneladas em 2017.

Os 3 países que mais emitem dióxido de carbono são também os 3 países mais populosos do mundo: China, Índia e Estados Unidos da América (EUA). Historicamente, os EUA lideram a lista dos países que mais poluíram ao longo do tempo, a China assumiu a ponta das emissões anuais totais a partir de 2006 e a Índia passou a ter as maiores taxas de crescimento das emissões na atual década.

Durante todo o século XX, os EUA emitiam mais CO2 em quantidade total, em termos per capita e em termos de área. Porém, o quadro mudou no século XXI. Em 2017, a China emitiu 9,7 bilhões de toneladas de CO2, os EUA emitiram 5,3 bilhões e a Índia 2,4 bilhões de toneladas. Em termos per capita, em 2017, os EUA emitiam cerca de 16 toneladas por habitante, a China 7 toneladas e a Índia 2 toneladas por habitante. Em termos de emissões por área, a China emitiu 1.011 toneladas de CO2 por km2, a Índia 723 toneladas por km2 e os EUA emitiram 567 toneladas de CO2 por km2, conforme mostra o gráfico abaixo. Ou seja, a Índia ultrapassou os EUA nas emissões de CO2 por unidade territorial.




Segundo relatório da BP Statistical Review of World Energy (2019), China, EUA e Índia são os três maiores produtores de carvão mineral, com produção, em 2018, respectivamente de 1829, 365 e 308 milhões de toneladas. Em termos de produção de carvão por área, a China (área de 9,6 milhões de km2) produz 191 toneladas por km2, a Índia (área de 3,3 milhões de km2) produz 94 toneladas por km2 e os EUA (área de 9,4 milhões de km2) produzem 39 toneladas por km2.

Matéria da BBC (4/11/2019) mostra que a qualidade do ar em Nova Delhi é tão ruim que inviabiliza várias atividades. Além das doenças respiratórias, diversos voos são desviados nos momentos mais críticos, as escolas cancelam as aulas, os moradores são aconselhados a evitar atividades físicas ao ar livre, os habitantes são incentivados a usar máscaras, etc. Os níveis de poluição da Índia – que possui grandes megacidades com alta densidade demográfica – são altamente prejudiciais à saúde.





Portanto, a Índia – que deve ultrapassar a China como o país mais populoso do mundo na próxima década – está se tornando uma grande fonte de poluição nacional e global. A Índia sempre teve uma emissão de CO2 per capita muito baixa, mas na medida em que a economia e a população crescem o nível total de poluição fica volumoso e altamente danoso, agravando sobremaneira o quadro geral das mudanças climáticas.

O fato é que a estabilidade e a resiliência do nosso planeta estão em perigo como mostra artigo publicado na revista Nature (Lenton et. al. 27/11/2019). Os autores consideram que os seres humanos estão ignorando o risco crescente de pontos de inflexão que, se ultrapassados, poderiam levar o sistema climático a um novo estado, potencialmente tornando a Terra tão quente que seria progressivamente inabitável. Há um risco maior de que as “mudanças bruscas e irreversíveis” no sistema climático possam ser desencadeadas com aumentos de temperatura global menores do que se pensava há alguns anos. O estudo considera que não se trata apenas de um pouco mais de calor, mas sim um processo em cascata que já está, ou pode ficar, fora de controle.

Pouco antes da realização da 25ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP25), um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) afirmou que as emissões globais de gases de efeito estufa avançaram em média 1,5% por ano na atual década e precisam cair 7,6% ao ano entre 2020 e 2030, ou o mundo perderá a oportunidade de entrar na trajetória rumo à meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura em até 1,5°C.

Uma notícia auspiciosa, anunciada durante a COP25, é que a União Europeia (UE) pretende realizar uma ampla iniciativa ambiental voltada para a criação do primeiro continente do mundo neutro em carbono até 2050. O plano aborda tudo que vai de regras de ajuda estatal, política industrial ecológica e um imposto de carbono para importações. Mas a COP25 foi um fracasso e procrastinou as soluções para a COP26 que acontecerá em Glasgow, em 2020.

O mundo precisa ter emissões líquidas zero e, principalmente, os 3 maiores poluidores (China, EUA e Índia) precisam fazer um esforço especial. Todos os países precisam reduzir as suas emissões, assim como todas as nações precisam contribuir com o esforço de mitigação do aquecimento global.

Atualmente, são os países pobres (como a Índia) ou países de renda média (como a China) que possuem as maiores taxas de emissão de CO2, pois precisam crescer para reduzir a pobreza.

Contudo, não dá para manter o ritmo insustentável do atual modelo de produção e consumo do mundo e nem ficar sufocado pelo crescimento desregrado. Para reduzir a pobreza é preciso focar mais na desigualdade e em meios de produção mais amigáveis com a natureza. O decrescimento demoeconômico global é fundamental para reduzir as emissões de CO2 e para reduzir a pegada ecológica mundial.

Os 3 países mais populosos e mais poluidores precisam fazer sua parte e dar exemplo para o resto do mundo. Infelizmente, eles fizeram pouco para que a COP25 tomasse medidas concretas para reduzir as emissões globais. Todavia, garantir a resiliência do Planeta é uma questão de vida ou morte!

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382


Referências

BP Statistical Review of World Energy 2019
https://www.bp.com/content/dam/bp/business-sites/en/global/corporate/pdfs/energy-economics/statistical-review/bp-stats-review-2019-coal.pdf

BBC. India air pollution at ‘unbearable levels’, Delhi minister says, 4/11/2019
https://www.bbc.com/news/world-asia-india-50280390

LENTON, Timothy M. Climate tipping points — too risky to bet against, Nature, 27/11/2019
https://www.nature.com/articles/d41586-019-03595-0


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 20/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/20/emissoes-de-co2-por-area-territorial-nos-3-paises-mais-poluidores-do-mundo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Geração distribuída bate novo recorde no Brasil em 2019 com placas solares

O segmento de geração distribuída no Brasil registrou novo recorde de instalações em 2019, sendo mais de 99% de sistemas solares.



Gerar a própria energia elétrica, algo impensável até alguns anos atrás, está rapidamente se tornando a realidade para mais brasileiros que a cada ano adentram o segmento de geração distribuída.

Em 2019, o número de instalações bateu novo recorde, sendo mais de 92 mil conexões até o final de novembro segundo os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Entre as fontes de energia renováveis incentivadas pelo segmento, a energia solar novamente ficou com a liderança e respondeu por mais de 99% de todos os geradores conectados.

Foram quase 276 sistemas fotovoltaicos instalados por dia no país e conectados à rede elétrica, que juntos somaram uma capacidade instalada de mais de 1,1 Gigawatts (GW).

Com a grande disponibilidade de sol em todas as regiões do país, as placas solares se mostraram a tecnologia mais viável para quem deseja gerar a própria energia.

Somam-se a isso as vantagens da fotovoltaica, como longa vida útil e adaptabilidade, além de incentivos para a energia solar, como a isenção de tributos e linhas de financiamento.

Desde 2012, ano em que a Aneel promulgou as regras da Geração Distribuída (GD), o segmento já registrou um crescimento acumulado de mais de 789.000%.

Em busca de uma saída para o alto preço da energia no país, os consumidores apostam na autogeração para economizar na conta de luz, economia que pode chegar a até 95%.

Outro benefício é a proteção contra a inflação energética, que entre 1995 e 2017 foi 50% maior que a inflação do país, segundo pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina).

Com os novos aumentos no preço da energia esperado para os próximos anos e a contínua queda dos preços da tecnologia fotovoltaica, o público da GD deverá continuar crescendo.

De acordo com o último Plano Decenal de Expansão Energia realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil deverá registrar 1,3 milhão de consumidores com autogeração elétrica até 2029.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 20/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/20/geracao-distribuida-bate-novo-recorde-no-brasil-em-2019-com-placas-solares/

Parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) permite produção agropecuária na Mata Atlântica



O presidente da República, Jair Bolsonaro, anunciou ontem (19), durante transmissão ao vivo na internet, que a Advocacia-Geral da União (AGU) emitiu parecer para dar segurança jurídica a produtores rurais que desenvolvem atividades no bioma Mata Atlântica. Segundo a AGU, “o parecer destaca que o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) admite a produção agropecuária na Mata Atlântica, uma vez que os artigos 61-A e 61-B da norma preveem a continuidade de atividades agropecuárias em áreas de preservação ambiental que tenham sido fixadas no bioma até 22 de julho de 2008”.

O presidente Jair Bolsonaro disse, durante sua live semanal no Facebook, que o parecer beneficia mais de 200 mil agricultores em 936 municípios de 10 estados do país, que também poderão ter multas extintas com a mudança de entendimento.

“Esse parecer atinge aproximadamente 220 mil agricultores no Brasil, que poderão voltar a produzir nas suas terras. E o mais importante, quem foi multado lá atrás pode recorrer agora e, em função desse parecer, vai ficar isento de multa”, afirmou.

Em reunião no Palácio do Planalto com parlamentares e produtores rurais, o advogado-geral da União, André Mendonça, afirmou que parecer jurídico traz impacto social importante, ao beneficiar produtores que atuavam em áreas que já estavam consolidadas para a agricultura.

“Esse parecer reconhece que o Código Florestal tem aplicabilidade como norma geral em relação a área de Mata Atlântica e que áreas que já estavam consolidadas como produtivas até julho de 2008 não só podem como devem ser utilizadas para a produção”, pontuou.

O parecer será publicado no Diário Oficial da União nesta sexta-feira (20).


Por Pedro Rafael Vilela, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2019



Autor: Pedro Rafael Vilela
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 20/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/20/parecer-da-advocacia-geral-da-uniao-agu-permite-producao-agropecuaria-na-mata-atlantica/

Amazônia: As florestas secundárias estão cada vez mais fragmentadas e isoladas das florestas primárias restantes

O crescimento da floresta secundária na Amazônia é muito mais lento do que se pensava


© Marizilda Cruppe / Rede Amazônia Sustentável

Lancaster University*

O novo crescimento das florestas amazônicas após o desmatamento pode acontecer muito mais lentamente do que se pensava anteriormente, mostra um novo estudo.

As descobertas podem ter impactos significativos nas previsões de mudanças climáticas, já que a capacidade das florestas secundárias de absorver carbono da atmosfera pode ter sido superestimada.

O estudo, que monitorou o crescimento da floresta ao longo de duas décadas, mostra que as mudanças climáticas e a perda maior de florestas podem estar prejudicando o crescimento da Amazônia.

Ao retirar grandes quantidades de carbono da atmosfera, as florestas que cresceram após o desmatamento – comumente chamadas florestas secundárias – foram consideradas uma ferramenta importante no combate às mudanças climáticas causadas pelo homem.

No entanto, o estudo de um grupo de pesquisadores brasileiros e britânicos mostra que, mesmo após 60 anos de rebrota, as florestas secundárias estudadas retinham apenas 40% do carbono em florestas que não haviam sido perturbadas por seres humanos. Se as tendências atuais continuarem, levará mais de um século para que as florestas se recuperem completamente, o que significa que sua capacidade de ajudar a combater as mudanças climáticas pode ter sido superestimada.

O estudo, publicado na revista Ecology , também mostra que as florestas secundárias retiram menos carbono da atmosfera durante as secas. No entanto, as mudanças climáticas estão aumentando o número de anos de seca na Amazônia.

O primeiro autor Fernando Elias, da Universidade Federal do Pará, explicou: “A região que estudamos na Amazônia registrou um aumento na temperatura de 0,1 C por década e o crescimento das árvores foi menor durante os períodos de seca. Com previsões de mais secas no futuro, devemos ser cautelosos quanto à capacidade das florestas secundárias de mitigar as mudanças climáticas. Nossos resultados destacam a necessidade de acordos internacionais que minimizem os impactos das mudanças climáticas. ”

Além de ajudar a combater as mudanças climáticas, as florestas secundárias também podem fornecer um habitat importante para as espécies ameaçadas. No entanto, os pesquisadores descobriram que os níveis de biodiversidade nas florestas secundárias eram apenas 56% daqueles observados nas florestas locais não perturbadas, sem aumento na diversidade de espécies durante os 20 anos de monitoramento.

Muitos países fizeram grandes promessas de reflorestamento nos últimos anos, e o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de ha de floresta sob o acordo climático de Paris. Tomados em conjunto, esses resultados sugerem que essas grandes promessas de restauração florestal precisam ser acompanhadas por ações mais firmes contra o desmatamento de florestas primárias e uma consideração cuidadosa sobre onde e como reflorestar.

A pesquisa foi realizada em Bragança, Brasil, a mais antiga região de fronteira de desmatamento da Amazônia que perdeu quase toda a sua cobertura florestal original.

A bióloga Joice Ferreira, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, disse: “Nosso estudo mostra que em áreas fortemente desmatadas, a recuperação florestal precisa de apoio e investimento adicionais para superar a falta de fontes de sementes e de animais dispersadores de sementes. Isso é diferente de outras áreas que estudamos, nas quais o desmatamento histórico é muito menor e as florestas secundárias se recuperam muito mais rapidamente sem nenhuma intervenção humana. ”

Jos Barlow , professor de ciências da conservação no Lancaster Environment Center , destaca a necessidade de mais estudos de longo prazo. Ele disse: “As florestas secundárias são cada vez mais difundidas na Amazônia, e seu potencial de mitigação das mudanças climáticas as torna de importância global. São necessários mais estudos de longo prazo como o nosso para entender melhor a resiliência florestal secundária e direcionar a restauração às áreas que mais farão para combater as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade. ”


Referência:

Elias, F., Ferreira, J., Lennox, G.D., Berenguer, E., Ferreira, S., Schwartz, G., de Oliveira Melo, L., do Nascimento Reis Júnior, D., do Nascimento, R.O., Ferreira, F.N., Espirito Santo, F., Smith, C.C. and Barlow, J. (2019), Assessing the growth and climate sensitivity of secondary forests in highly deforested Amazonian landscapes. Ecology. Accepted Author Manuscript. doi:10.1002/ecy.2954
https://doi.org/10.1002/ecy.2954


* Da Lancaster University, com tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2019




Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 20/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/20/amazonia-as-florestas-secundarias-estao-cada-vez-mais-fragmentadas-e-isoladas-das-florestas-primarias-restantes/

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A crescente ameaça do lixo eletrônico

Por Henrique Cortez, redação EcoDebate.

Os incríveis avanços da tecnologia nas últimas décadas trouxeram grandes avanços à nossa comodidade, segurança e saúde, mas também trouxeram severos impactos socioambientais, da extração de recursos naturais à geração de lixo eletrônico ou e-lixo. E o lixo eletrônico é um dos resíduos tóxicos que mais crescem de ano para ano.

Em 2017, a ONU estima que foram produzidos 44 milhões de toneladas de lixo eletrônico e elétrico , o equivalente a mais de 6 quilos por habitante do planeta. No ritmo atual, o nível de produção de lixo eletrônico global deverá alcançar 120 milhões de toneladas ao ano em 2050.

É um silencioso desastre socioambiental, que poucos percebem, mas que afeta a todos.

Como qualquer outro resíduo, ao lixo eletrônico também se aplica as regras dos 3 R’s – Reduzir, Reutilizar e Reciclar.

É óbvio que para qualquer tipo de resíduo a sua redução é a solução mais inteligente. Mas será possível reduzir a geração de lixo eletrônico?

A primeira solução possível é a redução da produção e consumo. Não temos à nossa disposição uma Terra B e, por isto, habitando um planeta finito, com finitos recursos, devemos entender que a lógica de crescimento baseada em extração-produção-consumo-descarte é insustentável e não poderá ser mantida por muito tempo.

Mas será realmente possível reduzir o consumo de produtos eletrônicos que, afinal, fazem parte do nosso dia a dia e são, cada vez mais, úteis e necessários.

No caso dos produtos eletrônicos de uso pessoal e residencial a resposta é sim, a partir da lógica do consumo responsável. Ao contrário do impulso consumista, o consumo responsável supõe que nosso consumo ocorra apenas e tão somente se e quando necessário.

É o caso dos aparelhos celulares que, de verdade, não possuem diferenças tecnológicas tão evidentes de uma geração para outra. Raríssimas pessoas precisam trocar de celular a cada nova geração do produto e a troca pela troca é um claro exemplo de consumismo, com consequências negativas para os limitados recursos naturais e para a própria sociedade. É desnecessário e caro.

Enquanto isto, a reutilização de eletrônicos é um mercado crescente que também pode influir na redução desnecessária de produtos novos.

A primeira e natural forma de reúso está na atualização dos nossos próprios equipamentos, como computadores e celulares, dos quais podemos trocar fontes, processadores, placas, baterias e, com isto, utilizá-los por mais, melhor e por mais tempo.

Se não for este o caso, podemos revendê-los. Computadores, celulares, eletrodomésticos, eletrônica embarcada em veículos, etc., podem ser úteis e necessários para outras pessoas.

Já existe um mercado legal de compra e venda de eletrônicos usados e tudo indica que este mercado continuará em crescimento, atendendo a uma demanda igualmente crescente.

A terceira hipótese de reutilização ocorre por remanufatura, quando o equipamento passa por reprocessamento, transformando-se em um novo equipamento.

Vejamos um exemplo. Nos cassinos podem existir centenas de máquinas de jogos, os caça-níqueis, que ficam obsoletos ou inutilizados em poucos meses. Isto geraria uma montanha anual de lixo eletrônico, que, na prática, é reduzida porque estas máquinas são desmontadas e seus componentes eletrônicos são recuperados e reutilizados em um novo equipamento. Com isto o cassino consegue reduzir custos ao mesmo tempo que também reduz a produção de resíduos.

E, por fim, temos a reciclagem, que é um dos mais sérios desafios na destinação do lixo eletrônico. Estima-se que, em termos globais, 20% dos resíduos eletrônicos sejam reciclados, o que significa um imenso desperdício de recursos naturais, tais como ouro, prata, cobre e outros materiais de alto valor e uma inacreditável fonte de resíduos tóxicos.

Refletir sobre o tema está cada vez mais urgente porque, diante de tantos desafios ambientais globais, o e-lixo tende a se tornar um dos mais relevantes e com grande potencial de danos.

Para ilustrar o tema ‘lixo eletrônico e qual é o tamanho do problema’, a Betway Cassino Online, site de caça níquel, produziu um interessante infográfico, que reproduzimos abaixo:




in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 18/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/18/a-crescente-ameaca-do-lixo-eletronico/

Brasil pode atingir 24,8 GW em capacidade instalada de energia solar até 2029

Por: Ruy Fontes – Agência #movidos



O último estudo sobre a expansão de energia no Brasil feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), aponta que o país pode atingir 24,8 Gigawatts (GW) de energia solar até 2029.

Realizado anualmente como base de planejamento, o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) traça as perspectivas do governo para os próximos 10 anos do setor elétrico brasileiro.

Segundo o estudo, o crescimento atual das placas solares poderá acumular em um total de 15 GW de capacidade em geração centralizada (grandes usinas solares) ao fim desse período.

Por outro lado, os micro e minigeradores de energia solar fotovoltaica dentro do segmento de geração distribuída deverão somar 9,8 GW de capacidade até o final de 2029.

De acordo com o estudo, a principal força por trás dessa expansão continuará sendo a queda de preços da tecnologia fotovoltaica.

Como prova, a EPE aponta um relatório da International Energy Agency (IEA) que mostra uma depreciação de mais de 70% no valores para investimento na tecnologia entre 2010 e 2018.

Dessa forma, a tendência é que a fonte solar continue conquistando a maioria dos projetos de usinas elétricas comercializados nos Leilões de Energia promovidos pelo Governo.

O caso mais recente foi em junho deste ano, quando a energia solar atingiu a mínima histórica de preços no Leilão A-4, negociando projetos a R$75,31 o Megawatt-hora (MWh).

Além disso, a EPE também aponta para o ganho de eficiência da tecnologia, que a cada ano apresenta novos avanços tecnológicos na fabricação e eficiência das placas (módulos).

Na geração distribuída, o PDE 2029 estima um público total de 1,3 milhão de brasileiros e uma capacidade instalada de 11,4 GW, já considerando as possíveis revisões das regras do segmento.

Para isso, a empresa afirma que serão necessários quase R$50 bilhões em investimento entre todas as fontes de energia renováveis incentivadas pelo segmento.

No entanto, a EPE ressalta que a energia solar continuará sendo a líder do segmento devido ao seu maior potencial de geração, custos mais baixos e pela sua adaptabilidade.

De acordo com o PDE 2029, a geração distribuída poderá contribuir por até 17% do consumo de eletricidade no Brasil.

Além dos benefícios diretos para a população, a EPE destaca a contribuição do segmento de geração distribuída para o setor elétrico brasileiro.

Entre eles está o da eficiência energética, parte importante das medidas anunciadas pelo Governo para atingir suas metas de descarbonização assumidas no Acordo de Paris.

No geral, a EPE afirma que é “incontestável o relevante papel que a tecnologia solar fotovoltaica tem para a expansão do sistema elétrico brasileiro.”.



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 18/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/18/brasil-pode-atingir-248-gw-em-capacidade-instalada-de-energia-solar-ate-2029/

Agrotóxico mais encontrado em frutas e verduras no Brasil é fatal para abelhas



Sem abelhas, produção de lavouras fica prejudicada; estudo da Anvisa analisou que mais da metade das 4 mil amostras de 14 alimentos vegetais no país contém agrotóxico

Por Pedro Grigori, Agência Pública/Repórter Brasil



Um agrotóxico fatal para as abelhas foi o mais encontrado em um levantamento do governo que analisa o resíduo de pesticidas em frutas e verduras vendidas em todo país. O resultado da nova edição do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, o PARA, foi divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na semana passada e mostrou também que em 51% dos testes realizados foi encontrado alguma quantidade de resíduo de agrotóxico nos alimentos.

Na pesquisa, que testou 4.616 amostras de 14 alimentos, o ingrediente ativo Imidacloprido foi o mais encontrado. Ele é um neonicotinoides, um inseticida derivado da nicotina que tem capacidade de se espalhar por todas as partes da planta e, por isso, é fatal para os polinizadores.

Uma reportagem da Agência Pública e Repórter Brasil revelou em março deste ano que mais de 500 milhões de abelhas morreram em três meses em quatro estados brasileiros. Uma das principais causas das mortes foi justamente o contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides, que atingem o sistema nervoso central das abelhas – afetando a capacidade de aprendizagem e memória, fazendo com que muitas delas percam a capacidade de encontrar o caminho de volta para a colmeia.

Ter um agrotóxico fatal para abelhas como o mais encontrado em alimentos é um alerta também para a saúde humana.

Primeiro porque ele acaba sendo consumido pelas pessoas. “Esse tipo de produto que se espalha por toda a planta é muito perigoso, pois lavar o alimento ou descascá-lo não é suficiente para retirar os resíduos de agrotóxico, que já circulam dentro da planta”, explica engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, vice-presidente da regional sul da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA).

Outro problema desse tipo de agrotóxico ser o mais detectado no PARA é que, ao matar abelhas, se prejudica também a produção das lavouras. Isso porque elas são as principais polinizadores da maioria dos ecossistemas, promovendo a reprodução de diversas espécies. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização das abelhas. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas.

No PARA, o Imidacloprido foi encontrado em 713 amostras, ou cerca de 15% de todos os alimentos testados. Oito produtos agrotóxicos à base de Imidacloprido foram autorizados pelo governo de Jair Bolsonaro neste ano, com registros de comercialização indo para as multinacionais estrangeiras Sulphur Mills, Albaugh Agro (dois registros), Helm, Nufarm, Tide e Tradecorp, e para a nacional AllierBrasil.

Na edição anterior do PARA, com análises feitas entre 2013 e 2015, o Imidacloprido havia sido apenas o quinto ingrediente ativo mais encontrado nas amostras. Segundo a Anvisa, não é possível comparar os resultados porque a metodologia de pesquisa mudou — alimentos e períodos de análise agora são diferentes.
Resultados não são positivos

A pedido da Agência Pública e da Repórter Brasil, especialistas de organizações que estudam o tema dos agrotóxicos analisaram o relatório, disponibilizado no site da Anvisa, e afirmaram que os resultados são alarmantes, ao contrário do que fez parecer o tom otimista da divulgação oficial do relatório.

Para Melgarejo, da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), o relatório acende um alerta. “O número de 23% dos produtos apresentarem agrotóxico acima do permitido é assustador. E os 27% com veneno abaixo do limite não traz tranquilidade”, diz. “Nas definições de limites aceitáveis, é tido como base uma pessoa adulta de 50 quilos. Mas estamos alimentando crianças e bebês com esses mesmos alimentos. Estar abaixo do limite considerado seguro para um adulto de 50 quilos não significa dizer que é seguro para um bebê ou criança.”

Representantes da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida também criticaram o posicionamento da Anvisa em relação ao relatório, qualificado como “roupa bonita para um conteúdo altamente tóxico”. Em nota, a organização diz que apesar do aspecto técnico da publicação, o release divulgado no site da Anvisa é “extremamente otimista”. Segundo eles, o tom é “de uma peça de propaganda política para um relatório que, lido atentamente, traz grandes preocupações para a sociedade.”

A organização completa dizendo que “em um contexto de uso crescente de agrotóxicos ano a ano, e também de aumento sistemático das intoxicações por agrotóxicos, é lamentável ver a Agência que deveria garantir a segurança alimentar da população minimizando resultados gravíssimos sobre as condições da comida servida ao povo brasileiro”.

Para a organização não governamental Greenpeace, a comunicação dos resultados foi “maquiada”. “Os problemas continuam os mesmos, mas a forma otimista que eles divulgaram faz parecer que melhorou, e isso, infelizmente, foi replicado por muitos veículos de imprensa. Ainda temos mais de 50% dos alimentos com alguma quantidade de agrotóxicos. E os 27% com agrotóxicos abaixo do limite são questionáveis, pois esses limites são muito frágeis quando falamos de várias alimentação completas durante o dia, com mistura de alimentos e substâncias, que tem um efeito diferente de um produto isolado”, explica Marina Lacôrte, especialista em Agricultura e Alimentação do Greenpeace.

Criado em 2001, o PARA testou nesta versão 14 produtos da dieta da população brasileira — abacaxi, alface, alho, arroz, batata-doce, beterraba, cenoura, chuchu, goiaba, laranja, manga, pimentão, tomate e uva. As amostras foram recolhidas em estabelecimentos de 77 municípios, entre agosto de 2017 a junho de 2018, ou seja, antes do início do governo de Jair Bolsonaro, no qual 467 produtos agrotóxicos foram liberados em menos de um ano, um recorde histórico.

Do total de amostras analisadas (4.616), em 2.254 (49%) não foram detectados resíduos, 1.290 (28%) apresentaram resíduos com concentrações iguais ou inferiores ao Limite Máximo de Resíduos (LMR), estabelecido pela Anvisa. E em 1.072 amostras (23%) foram identificados resíduos acima do permitido, incluindo até mesmo agrotóxicos proibidos de serem comercializados no Brasil.

Em 0,89% — quase um em cada 100 casos —, foi identificado potencialidade para causar riscos agudos à saúde, com efeitos como enjoo, vômito, dor de cabeça e febre nas 24 horas seguintes ao consumo do alimento.

A visão do governo, por meio da Anvisa, é a de que o resultado do relatório é positivo. “Temos situações pontuais de riscos, mas que não geram nenhum risco a saúde da população. Os dados mostram a segurança dos alimentos que a gente consome hoje”, garantiu Bruno Rios, diretor adjunto da Anvisa, em coletiva após a divulgação dos dados.
Análise não identifica todos agrotóxicos permitidos no Brasil

As coletas analisadas no PARA foram feitas pelas vigilâncias sanitárias e encaminhadas para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens): Instituto Octávio Magalhães (IOM/FUNED/MG), Laboratório Central de Goiás (Lacen/GO) e Instituto Adolfo Lutz (IAL/SP); e para um laboratório privado contratado por processo licitatório.

Segundo o relatório, em cada amostra foram pesquisados até 270 ingredientes ativos, número bastante inferior aos 499 permitidos para serem comercializados no Brasil após avaliação da Anvisa, Ministério da Agricultura e Ibama. Foram detectados resíduos de 122 ingredientes ativos diferentes nas 4.616 amostras analisadas, o que resultou no total de 8.270 detecções de agrotóxicos — em muitos casos foram identificados mais de um tipo de pesticida em um só alimento, mas a Anvisa não especifica quais em seu relatório.

Depois do Imidacloprido, citado no início da reportagem, os ingredientes ativos mais encontrados foram os fungicidas Tebuconazol (570) e o Carbendazim (526) — este último proibido na União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Japão por causar problemas mutagênicos e de toxicidade reprodutiva. Em 2012, os EUA proibiram a importação do suco de laranja brasileiro devido à presença deste fungicida nos produtos.

Entre os 40 ingredientes ativos mais encontrados há o Carbofurano, um produto proibido no Brasil, identificado 52 vezes na atual pesquisa — na edição 2013-2015, o Carbofurano aparecia entre os 30 ingredientes ativos mais encontrados.

Em outubro de 2017, dois meses após o começo das análises, a Anvisa desautorizou a comercialização de agrotóxicos à base de Carbofurano justamente pela persistência de seus resíduos nos alimentos, além de malefícios à saúde humana. Ele também é classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como altamente tóxico do ponto de vista agudo — a que causaria intoxicação nas 24 horas seguidas ao consumo.

De acordo com a Anvisa, a presença de agrotóxicos não autorizados nas análises tem como um dos motivos os poucos registros para culturas consideradas de baixo retorno econômico. Por isso, muitos produtores acabam utilizando agrotóxicos autorizados para uma cultura específica – soja, por exemplo, em outras culturas, caso da uva.
Laranja, goiaba e uva: os três mais com agrotóxicos

Entre os alimentos testados, a laranja foi a que mais apresentou resíduos de agrotóxicos. De 382 análises, apenas 157 não apresentaram vestígios de pesticidas, 173 apresentaram resíduos em concentrações iguais ou inferiores ao permitido pela lei e em 52 casos os níveis de agrotóxico encontrados estavam acima do permitido.

Foram encontrados 47 agrotóxicos diferentes nas laranjas vendidas em supermercados brasileiros, que incluiu até mesmo resíduos de Carbofurano, proibido no Brasil. O mais encontrado na fruta foi o Imidacloprido. Na laranja também foi encontrado a maior exposição para risco agudo. Depois da laranja, a goiaba e a uva foram os alimentos que mais apresentaram riscos agudos.


– No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana, 60% dependem da polinização das abelhas –
Nova metodologia é criticada

Até 2012, os resultados do PARA eram lançados anualmente. Desde então, optou-se por divulgar o relatório compilado de três anos. O último foi divulgado em 2016, com dados de 2013 a 2015. Não houve coletas em 2016, por conta de uma reestruturação no projeto, que só voltou à ativa no segundo semestre de 2017.

Na edição anterior, onde foram analisadas 12.051 amostras em três anos, o percentual de alimentos com agrotóxicos acima do permitido pela lei era de 19,7%, menos do que o atual.

Além disso, até 2015, o PARA trabalhava com uma lista de 25 alimentos a serem analisados, que representavam 70% da cesta de alimentos de origem vegetal consumidos pela população brasileira, segundo dados brutos da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2008-2009, que traça o perfil de orçamento doméstico e condição de vida da população brasileira. Agora, a partir da reestruturação, o número de alimentos foi ampliado para 36, mas nem todos os alimentos escolhidos serão analisados anualmente, pois as análises vão variar dentro de cada triênio. Nesta edição, por exemplo, apenas 14 foram analisados, e alimentos como o feijão e a batata ficaram de fora, mas devem entrar nas próximas edições.

A rotatividade é criticada por especialistas da área. “Produtos muito importantes, que estão no prato do brasileiro, não aparecem no resultado. O trigo que vai no pãozinho do dia a dia, o feijão que é um ingrediente tradicional no prato brasileiro. Não é uma boa ideia a Anvisa fracionar as análises para períodos específicos, quando a população consome esses produtos durante todo o ano”, explica o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo.

Marina Lacôrte, do Greenpeace, também criticou o baixo número de alimentos apresentados. “Esses dados têm que ser avaliados todo o ano, pois há safras todos os anos. Eles argumentam que essas alterações ocorrem por questões financeiras, mas esse é um investimento necessário que o governo deve fazer: a saúde da população. Se o problema é financeiro então que se retire a isenção de impostos para os agrotóxicos, e utilizem esses impostos para bancar programas como esse”, diz.

Esta reportagem faz parte do projeto Por Trás do Alimento, uma parceria da Agência Pública e Repórter Brasil para investigar o uso de Agrotóxicos no Brasil. A cobertura completa está no site do projeto.

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 18/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/18/agrotoxico-mais-encontrado-em-frutas-e-verduras-no-brasil-e-fatal-para-abelhas/

Tragédia de Mariana: Estudo revela poeira com metais em áreas afetadas por lama da Samarco


Foto: Antonio Cruz

Concentrações de ferro, cádmio e cobre acima dos valores de referência estabelecidos pelos padrões de saúde no Brasil foram detectadas na poeira coletada dentro das casas em comunidades de Mariana (MG) e Barra Longa (MG).

ABr

As duas cidades são as mais afetadas pela lama que vazou da barragem da mineradora Samarco, após a ruptura ocorrida em novembro de 2015. A análise foi realiza pelas empresas Ambios e Technohidro e os resultados incluídos no Estudo de Avaliação de Risco à Saúde Humana (ARSH).

Além da poeira, foram encontrados níveis acima dos padrões nacionais em sedimentos e no solo para ferro, manganês, cádmio, alumínio e cobalto. Também foram analisados alimentos produzidos na região. Em frutas e tubérculos, arsênio foi encontrado em concentrações que extrapolam o recomendado. Já no ovo, constatou-se excesso de selênio. Os metais com maior número de amostras acima dos valores de referência foram o ferro, em 41 análises, e o manganês, em oito.

A pesquisa foi divulgada ontem (17) pela Fundação Renova, entidade criada conforme acordo firmado em março de 2016 entre a mineradora, suas acionistas Vale e BHP Billiton, o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo. Cabe a ela reparar todos os prejuízos causados em decorrência da tragédia, na qual 19 pessoas morreram, comunidades ficaram destruídas e dezenas de municípios mineiros e capixabas situados na bacia do Rio Doce foram impactados pela poluição.

De acordo com a Fundação Renova, a presença de metais no ambiente é natural na região, que é conhecida como Quadrilátero Ferrífero. A entidade afirma que apenas o ferro e o manganês teriam correlação com o rompimento. Segundo ela, com exceção desses dois, os demais metais foram encontrados em níveis acima dos parâmetros recomendados apenas em amostras pontuais e, na maioria das vezes, fora da área atingida pelo rejeito.

“O relatório não recomenda limitação de atividades agropecuárias, do consumo de água tratada, nem a remoção de moradores”, diz a Fundação Renova. A entidade afirma ainda que nas águas superficiais e nas águas utilizadas para consumo humano não foram identificadas concentrações acima dos valores de referência de saúde. Ainda de acordo com a fundação, os metais identificados são elementos de baixa absorção pela pele.

Para avaliar o estudo, a Fundação Renova convidou o médico Anthony Wong, que atua no Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, não há perigo para a população. “Do ponto de vista toxicológico, a quantidade e a concentração encontradas, em relação à vida humana e até animal, são praticamente insignificantes”.

Ele destaca que muitos desses metais são essenciais para a saúde humana em determinadas quantidades e cita, por exemplo, o manganês, que está presente em diversos alimentos. Segundo Wong, não existem casos de intoxicação por manganês decorrente de exposição ambiental. O médico explica ainda que o ferro é necessário ao organismo humano.

“Mais de 80% da população do mundo é carente de ferro, mesmo comendo bem. A concentração no solo dessa região, como indica a própria atividade minerária, necessariamente vai ser alta. Mas essa concentração no solo não representa risco. Só para se ter uma ideia, locais no estado de São Paulo têm o nível de ferro duas vezes maior do que o encontrado aqui. E não se pode dizer que a população paulista está intoxicada por ferro”, diz.

Para melhorar as condições de saúde nas áreas atingidas, a Fundação Renova informa que iniciativas estão em discussão com o governo de Minas Gerais como a melhoria dos laboratórios públicos regionais, a capacitação dos profissionais de saúde dos municípios atingidos, a revisão do protocolo de avaliação toxicológica para metais e a ampliação dos estudos para outras áreas. A entidade afirma que já vem adotando uma série de medidas, entre elas, a reconstrução de Unidades Básicas de Saúde e o repasse para que municípios reforcem infraestrutura e as equipes médicas.

Também está no plano a realização de estudos epidemiológicos e toxicológicos para avaliar, por exemplo, a ocorrência de problemas respiratórios, de distúrbios mentais e de presença de metais no corpo dos atingidos. Um chamamento público será aberto para convidar pesquisadores do Brasil para apresentação de propostas.
Divulgação

Avaliar riscos à saúde humana foi uma demanda apresentada pelo Comitê Interfederativo (CIF). Composto por órgãos públicos estaduais e federais e liderado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o comitê tem a função de fiscalizar e orientar os trabalhos da Fundação Renova.

Foram pesquisadas três áreas nas zonas rurais de Mariana e de Barra Longa. Ao todo, foram 316 pontos de coleta de amostras visitados entre julho de 2018 e agosto de 2019. Só agora dados do levantamento estão se tornando públicos. Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) já havia cobrado uma apresentação aos atingidos.

“Já deveria ter havido uma devolutiva para a população sobre os resultados deste estudo”, disse Helder Magno da Silva, procurador da República de Minas Gerais.

Ele também contestou procedimentos da Fundação Renova. Segundo o procurador, a Ambios foi aprovada pela Câmara Técnica de Saúde do Comitê Interfederativo, enquanto a Tecnohidro teve o aval da Câmara Técnica de Rejeitos. Assim, o escopo das análises de cada uma era diferente, o que tornaria estranha a apresentação conjunta dos dados.

“O estudo da Tecnohidro parece que tem sido aproveitado para contrapor os resultados da Ambios. A Technohidro fez um estudo que foi submetido a uma empresa de consultoria chamada Newfields, contratada pela Fundação Renova para validar os dados. Se vocês forem agora no site da Newfields, vocês vão perceber que ela presta serviço para a Samarco e para a BHP Billiton. É muito estranho esse tipo de atuação”, avalia.

O gerente do programa de saúde da Fundação Renova, Wagner Tonon, afirma que as duas análises permitiram a construção de um conhecimento mais abrangente. “A Ambios só havia analisado a área onde o rejeito efetivamente passou. Mas se faz necessário ter um conhecimento mais amplo da área, considerando as concentrações dos elementos que já existiam no ambiente. Os locais não atingidos ajudam também a entender como o rejeito afetou o ambiente. Então, as análises da Technohidro foram usadas para ampliar o estudo da Ambios”, diz.
Atingidos fazem outra pesquisa

Na semana passada, uma pesquisa apresentada pela Cáritas e pela Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) – assessorias técnicas que prestam suporte aos atingidos de Mariana e Barra Longa, respectivamente – identificou alta presença de ferro no solo. Diferentemente do estudo divulgado hoje pela Fundação Renova, a pesquisa revelou também níveis altos de cobre, zinco e níquel. Em amostras de água, chamaram atenção concentrações de ferro, manganês, níquel e, eventualmente, de chumbo. O estudo foi realizado por uma equipe multidisciplinar do Laboratório de Educação Ambiental, Arquitetura, Urbanismo, Engenharias e Pesquisa para a Sustentabilidade (LEA-AUEPAS) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Segundo Dulce Maria Pereira, coordenadora da pesquisa, o risco de contaminação pode crescer conforme a frequência a que o atingido está exposto aos metais. Ao longo do tempo, ela vê possibilidade de aumento de problemas respiratórios, além de ameaças ao equilíbrio mental, emocional e neurológico. A pesquisadora argumenta ainda em sentido oposto às colocações do médico Anthony Wong. “Posso citar, por exemplo, o manganês, que causa efeitos neurológicos e psiquiátricos. Nas quantidades em que ele se apresenta no território, pode causar instabilidades emocionais, além de distúrbios de comportamento e na fala”.

A pesquisa também avaliou a contaminação do ar. “Caminhões transportaram muitos resíduos de lugares que haviam sido atingidos para locais não afetados. Isso aumentou a contaminação e expandiu a presença de contaminantes. É preciso ter muita preocupação com a presença de metais tóxicos no ar, sobretudo do chumbo, do cobre, do ferro, do zinco, do manganês”, acrescenta a pesquisadora.


Por Léo Rodrigues, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019




Autor: Léo Rodrigues
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 18/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/18/tragedia-de-mariana-estudo-revela-poeira-com-metais-em-areas-afetadas-por-lama-da-samarco/

Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) reconhece a tragédia de Mariana como crime contra a humanidade


Foto: Tânia Rêgo, ABr


O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) reconheceu a tragédia de Mariana (MG) como violação “a direitos humanos de excepcional gravidade”.

A decisão tomada de forma unânime pelos 22 conselheiros foi registrada na Resolução nº 14/2019. Segundo o próprio conselho, trata-se de classificação equivalente a crime contra a humanidade, definido no âmbito do Tribunal Penal Internacional.

ABr

A tragédia de Mariana ocorreu em 5 de novembro de 2015, quando uma barragem da mineradora Samarco se rompeu. A lama de rejeitos que vazou causou 19 mortes, destruiu comunidades, devastou florestas e provocou impactos em dezenas de municípios mineiros e capixabas ao longo da Bacia do Rio Doce, até sua foz, em Linhares, no Espírito Santo (ES).

É a primeira vez que o CNDH aprova essa classificação para um crime. A resolução, publicada nesta segunda-feira (16) no site do conselho, foi tomada durante a 54ª Reunião Plenária ocorrida na semana passada.

O CNDH foi criado pela Lei Federal 12.986/2014. Sua função é promover e defender os direitos humanos no país através de ações preventivas, protetivas e reparadoras. Também pode aplicar advertências e outras sanções a responsáveis por condutas e situações de ameaça ou violação desses direitos, que são previstas na Constituição Federal e em tratados internacionais ratificados pelo Brasil.

Dos 22 conselheiros, 11 são representantes da sociedade civil, eleitos em encontro nacional convocado por edital público. Os outros 11 são representantes do Poder Público, que são indicados pelo Ministério dos Direitos Humanos, da Justiça e Segurança Pública, das Relações Exteriores, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal (MPF), pelo Conselho Nacional de Justiça, pela Defensoria Pública da União, pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal, dentre outros.

Pressão

A tragédia de Mariana não resultou, até o momento em nenhuma prisão, nem de caráter temporário. Dos 22 denunciados pelo MPF, nove ainda figuram como réus. Os demais foram excluídos do processo por decisão judicial. Entre os acusados que ainda respondem na ação criminal estão o então presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, e o então diretor-geral de Operações da empresa Kleber Terra. A Samarco e suas acionistas Vale e BHP Billiton também continuam respondendo no processo.

A ação tramita na Vara Federal de Ponte Nova. No entanto, mesmo os réus remanescentes já não respondem mais pelos crimes de homicídio e lesões corporais. A decisão foi tomada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) em abril desse ano. O julgamento prossegue apenas para os crimes de inundação qualificada e desabamento tipificados no Código Penal e por mais 12 crimes previstos no Código Ambiental.

A resolução do CNDH pressiona a Justiça brasileira a dar uma resposta jurídica à tragédia. O conselho assinalou como graves violações de direitos humanos o homicídio, o deslocamento compulsório e os danos físicos humanos.

“A resolução será enviada à Justiça Federal de Ponte Nova, ao TRF1 e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), nos quais tramitam os processos e recursos relacionados ao homicídio de 19 pessoas ocasionados pelo crime ambiental e os demais crimes ocorridos e decorrentes do rompimento da barragem de Fundão, da empresa Samarco”, informa o CNDH.

Outro lado

Procurada pela Agência Brasil, a Samarco informou em nota que não comentará a resolução e disse manter seu compromisso com as comunidades e com as áreas afetadas pela tragédia. “Até outubro deste ano, foram destinados cerca de R$ 7,17 bilhões para as medidas de reparação e compensação que estão sendo conduzidas pela Fundação Renova”, acrescenta o texto.

A Fundação Renova é a entidade criada conforme acordo firmado em março de 2016 entre a Samarco, suas acionistas Vale e BHP Billiton, o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo. Cabe a ela, com recursos das três mineradoras, reparar todos os prejuízos causados em decorrência da tragédia.


Por Léo Rodrigues – Repórter da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2019



Autor: Léo Rodrigues
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 18/12/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/12/18/conselho-nacional-de-direitos-humanos-cndh-reconhece-a-tragedia-de-mariana-como-crime-contra-a-humanidade/