quinta-feira, 29 de abril de 2021

Curso gratuito da Embrapa ensina como criar abelhas sem ferrão em casa



Meliponicultura Urbana – Embrapa abre inscrições para único curso on-line sobre criação de abelhas sem ferrão voltado para o público urbano.

Já pensou em criar abelhas sem ferrão no quintal? Isso está cada vez mais comum entre os brasileiros, afinal, temos mais de 300 espécies nativas.

Uma nova edição do curso criação de abelhas sem ferrão, agora com foco para quem mora nas cidades, será lançada na semana do aniversário da Embrapa. A iniciativa é realizada em parceria com a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) e a Loja das Abelhas.

O curso Meliponicultura Urbana é uma derivação da edição anterior, mas com foco direcionado para questões de quem quer criar abelhas na cidade. “Essa ideia surgiu da grande predominância de pessoas residentes em áreas urbanas entre os inscritos nos módulos anteriores. Percebemos que mais de 80% moravam em cidade.”, explica o criador e instrutor do curso, Cristiano Menezes, biólogo e pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e membro do comitê científico da A.B.E.L.H.A..

Entre os tópicos abordados, os participantes irão conhecer a diversidade de abelhas sem ferrão e sua relação com as cidades, aprender como iniciar a criação, como é a biologia e o manejo dessas abelhas em ambiente urbano. Também será estimulado o plantio de mudas que favorecem as abelhas.

Cristiano acredita que esse interesse aumentou em função da pandemia, provavelmente pelo fato das pessoas ficarem em casa, e a criação de abelhas sem ferrão se destacou nesse novo cenário.

“Ao longo do ano passado, mostramos a importância das abelhas sem ferrão para as nossas vidas, inclusive com dicas para criá-las em casa. Porém, recebemos muitas dúvidas de pessoas da cidade que ainda precisavam de informações para tomar a decisão de iniciar a criação. Por exemplo, onde conseguir as colmeias, como instalar, como cuidar, e algumas outras dicas que não foram contempladas nos cursos anteriores”, destaca o pesquisador.

Agora, o curso procura responder as dúvidas mais frequentes, especialmente para o público urbano.

O pesquisador recomenda ainda que quem tiver interesse em aprofundar seus conhecimentos sobre essas abelhas não deixe de assistir ao primeiro curso, onde a biologia e manejo delas são discutidos de forma mais detalhada.

Esta edição está dividida em 8 módulos, com palestras curtas e bem objetivas:


Módulo 1: Diversidade de abelhas sem ferrão e sua relação com as cidades
Módulo 2: Como escolher as espécies certas para criar em ambiente urbano?
Módulo 3: Como obter as colônias e os materiais necessários para iniciar a criação?
Módulo 4: Onde devo colocá-las e quais cuidados preciso ter para garantir sua sobrevivência?
Módulo 5: É possível produzir mel e multiplicar as colônias em ambiente urbano?
Módulo 6: O que devo plantar para ajudar as abelhas das cidades?
Módulo 7: Quais as licenças necessárias e como obtê-las?
Módulo 8: Dicas importantes, curiosidades, problemas frequentes e aspectos polêmicos

As inscrições são permanentes e, após a sua efetivação, o participante tem sete dias para realizar o curso.

As inscrições devem ser feitas no site do curso

Sobre a A.B.E.L.H.A.

A Associação Brasileira de Estudos das Abelhas tem o objetivo de liderar a criação de uma rede em prol da conservação de abelhas e outros polinizadores. Sua missão é reunir, produzir e divulgar informações, com base científica, que visem à conservação da biodiversidade brasileira e à convivência harmônica e sustentável da agricultura com as abelhas e outros polinizadores.

Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/04/2021




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/04/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/04/29/curso-gratuito-da-embrapa-ensina-como-criar-abelhas-sem-ferrao-em-casa/

Queimadas na Amazônia aumentam problemas respiratórios



Queimadas na Amazônia aumentam problemas respiratórios

Em 10 anos, o Brasil gastou quase 1 bilhão de reais com doenças respiratórias causadas pela fumaça das queimadas na região amazônica


A associação da pandemia com as queimadas pode ter agravado a situação de saúde da população da Amazônia legal


Estudo da Fiocruz e do WWF-Brasil aponta que as queimadas na Amazônia foram responsáveis pela elevação dos percentuais de internações hospitalares por problemas respiratórios nos últimos 10 anos (2010-2020) nos estados com maiores números de focos de calor: Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre. Estas internações custaram quase 1 bilhão aos cofres públicos. O levantamento aponta ainda que a associação da situação da pandemia com as queimadas florestais na Amazônia pode ter agravado a situação de saúde da população da Amazônia legal, pois os poluentes oriundos das queimadas podem causar uma resposta inflamatória persistente e, assim, aumentar o risco de infecção por vírus que atingem o trato respiratório.

O estudo mostra que mesmo com a possível subnotificação, por conta de inconsistências na base de dados do DataSUS, os valores diários de poluentes são extremamente elevados e contribuíram para aumentar em até duas vezes o risco de hospitalização por doenças respiratórias atribuíveis à concentração de partículas respiráveis e inaláveis finas (fumaça) nos estados analisados.

No Amazonas, 87% das internações hospitalares no período analisado estão relacionadas às altas concentrações de fumaça (partículas respiráveis e inaláveis). O percentual foi de 68% no Pará, de 70% em Mato Grosso e de 70% em Rondônia. Já as doenças respiratórias associadas às altas concentrações de partículas de poluentes emitidas pelas queimadas respondem por 70% das internações hospitalares registradas no Pará, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas.

A pesquisadora Sandra Hacon, da Ensp/Fiocruz, afirma que embora os percentuais de internação hospitalar por doenças respiratórias na região tenham se mantido estáveis entre 2010 e 2020, uma parte considerável dessas internações podem ser atribuídas às concentrações de partículas respiráveis finas e inaláveis emitidas por incêndios florestais. “As micropartículas que compõem a fumaça ficam depositadas nas cavidades dos pulmões, agravando os problemas respiratórios. Elas são um fator de risco para pessoas que já possuem comorbidades.
Vemos, portanto, um impacto à saúde e perda da qualidade de bem-estar das pessoas, além do elevado custo econômico das doenças respiratórias para o SUS”, explica. “A fragilização do sistema respiratório é extremamente preocupante no atual cenário de uma pandemia que também causa problemas respiratórios. Essa sobreposição sugere que a região da Amazônia legal tenderá a ter seu sistema de saúde pressionado, já que as queimadas são mais intensas nos meses de seca, que se iniciam dentro de poucas semanas”, alerta.Importante salientar que no ano de 2020 o Brasil alcançou o maior número de queimadas na década. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) a floresta amazônica registrou 103.161 focos ante 89.171 em 2019, um aumento de 15,7%. Essa tendência contínua de destruição impacta diretamente não só na saúde das pessoas, mas em todo o ecossistema, que sofre todos os anos durante o ciclo das queimadas intensificado no período de seca, ressalta Edegar de Oliveira, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil. Ele aponta que “as queimadas fazem parte da dinâmica de destruição da Amazônia. As áreas desmatadas são posteriormente queimadas para “limpar” o terreno, abrindo espaço para a pastagem, a agricultura, ou a simples especulação fundiária. A associação entre o desmatamento, queimadas e degradação da floresta traz um custo muito alto para todos nós, especialmente para os povos da floresta, e para o clima do planeta”, afirma.O Estudo traz algumas recomendações para o poder público:
– Os sistemas oficiais de vigilância e monitoramento em saúde precisam de evolução e melhorias sistemáticas, especialmente aqueles direcionados às populações indígenas da Amazônia;
– Políticas consistentes de redução do desmatamento e queimadas na Amazônia são críticas e imediatas, pois o combate ao desmatamento e à degradação do bioma amazônico é fundamental para a garantia de direitos básicos das populações locais, como acesso à saúde e um ambiente saudável e sustentável;
– Desenvolvimento e implementação de programas de vigilância epidemiológica e ambiental efetivos, direcionados à população amazônica exposta aos incêndios florestais, principalmente os grupos mais vulneráveis, como gestantes, crianças, idosos, e aquelas pessoas que apresentam comorbidades precisam de atenção dedicada;
– Necessidade iminente de esforço preventivo no controle de zoonoses, pois os custos associados aos esforços preventivos são substancialmente menores, comparados com os custos econômicos, sociais e de saúde no controle de potenciais epidemias e ou pandemias.



Metodologia do estudo
Foi analisada a relação das tendências da morbidade hospitalar (a taxa de internações registradas em hospitais) por doenças do aparelho respiratório no período de 2010 a 2020 e as concentrações estimadas de emissões de partículas respiráveis finas (PM2,5), presentes na fumaça de incêndios florestais no mesmo período, investigando os potenciais impactos à saúde nos estados com os maiores registros de focos de calor provenientes das queimadas na Amazônia Brasileira, segundo o INPE – Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre, que apresentaram maior número de focos de queimadas registrados no período analisado – 2010-2020.

O estudo observou as séries temporais diárias de morbidade hospitalar por doenças do aparelho respiratório obtidas no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), pelo Sistema de Informação sobre internação hospitalar (SIH) e analisados por dia, mês e ano no período de 1º de janeiro de 2010 a 31 de outubro de 2020, segundo a unidade de federação de residência. As internações hospitalares por doenças respiratórias relacionadas ao COVID-19 para cálculo da tendência retrospectiva foram excluídas. Portanto, as internações hospitalares derivadas do COVID-19, não entraram no conjunto das causas de hospitalizações.
Os pesquisadores selecionaram informações referentes ao valor em reais (R$) gasto com as hospitalizações de baixa e alta complexidade (Unidades de Terapia Intensiva – UTI) por doenças do aparelho respiratório para estimativa do custo econômico em saúde dessas hospitalizações que pudesse ser atribuível à poluição decorrente das queimadas.

As estimativas de concentração do material particulado (PM2,5) foram obtidas por meio de dados de satélite da NASA, com as informações de profundidade óptica de aerossóis (Aerosol Optical Depth – AOD) convertidas por modelagem matemática em estimativas de concentração de PM2,5 e disponibilizadas para acesso público pelo Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS), que é o mais recente conjunto de dados de reanálise global de composição atmosférica produzida pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF).

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/04/2021



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/04/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/04/29/queimadas-na-amazonia-aumentam-problemas-respiratorios/



Rebaixamento do lençol freático: uma gravíssima realidade a ser definitivamente enfrentada




Rebaixamento do lençol freático: uma gravíssima realidade a ser definitivamente enfrentada, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos

Todos os indicadores apontam para a urgente necessidade de adoção rígida de planos de gestão para a abertura e para a exploração de poços profundos em todo o território nacional

Não é de hoje que o fenômeno é conhecido e suas graves consequências são medidas e aquilatadas em suas variáveis econômica, social e geológica.

Nas áreas rurais o principal fator de rebaixamento do lençol está na total falta de controle da exploração de poços profundos para a irrigação de lavouras. Como exemplo, o sertão baiano da região de Irecê, tradicional produtora de feijão e cebola enfrenta crises agrícolas com o severo rebaixamento de seus níveis freáticos. Esse rebaixamento é decorrente da generalizada sobreexploração de seu aquífero cárstico. Mas Irecê é apenas um exemplo didático de um fenômeno hoje generalizado nas regiões agrícolas que se utilizam da água subterrânea. O motivo é sobejamente conhecido: total descontrole dos regimes de exploração dos aquíferos subterrâneos.

Nas áreas urbanas, seja pelo aumento do escoamento superficial promovido pela impermeabilização das áreas de recarga, seja também pela sobreexploração de poços profundos, expediente hoje largamente utilizado por vários empreendimentos como, indústrias, galpões logísticos, hotéis, motéis, médios e grandes edifícios, hospitais, condomínios, shoppings, etc., observa-se a mesma tendência de rebaixamento do lençol freático.

Especialmente nas áreas urbanas agrega-se ao problema geral de perda de reservas hídricas a potencialização de graves fenômenos de ordem geológico-geotécnica advindos da alteração do comportamento geotécnico de solos e de abatimentos de terrenos promovidos por desequilíbrios hidráulicos em regiões cársticas, como é o caso dos municípios de Cajamar – SP, Sete Lagoas – MG, Almirante Tamandaré PR, Bocaiúva do Sul – PR, Colombo – PR, Vazante – MG, Teresina – PI, Lapão – BA, e várias outras localidades.

O diagnóstico é sempre o mesmo: ausência de planos e regras de gestão e monitoramento da exploração dos poços profundos executados. Na cidade de São Paulo há regiões em que o lençol freático já observa rebaixamentos de cerca de 4 metros, o que em termos de perda de reservas hídricas implica em graves consequências, especialmente tendo em conta que a fonte subterrânea já compõe cerca de 10% do total do abastecimento hídrico da metrópole paulista. Mais grave se torna o fenômeno em municípios que tem na água subterrânea sua principal fonte de recursos hídricos para o abastecimento da população.

Enfim, todos os indicadores apontam para a urgente necessidade de adoção rígida de planos de gestão para a abertura e para a exploração de poços profundos em todo o território nacional. Esse já antigo alerta técnico deve finalmente sair de nossos limitados textos congressuais e acadêmicos para se tornar uma exigência política a ser colocada às autoridades competentes.

Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)

Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia

Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”

Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente

Colaborador e Articulista do EcoDebate


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/04/2021




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/04/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/04/29/rebaixamento-do-lencol-freatico-uma-gravissima-realidade-a-ser-definitivamente-enfrentada/

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Mortes por doenças cardiovasculares estão diretamente relacionadas a pressão alta



Com 38 milhões hipertensos, Brasil tem alto risco de ocorrência de AVC, alerta especialista

Por Pollyana Cabral

Mais de 38 milhões de brasileiros maiores de 18 anos têm hipertensão, de acordo com levantamento do IBGE de 2020. O número corresponde a 23% da população total do país e é o maior índice desde 2013. Na passagem do Dia Nacional da Hipertensão, comemorado no dia 26 de abril, especialistas alertam para a manutenção da pressão arterial.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é responsável por 80% dos casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) no Brasil.

“A hipertensão é o principal fator de risco para desencadear o AVC. Na pandemia, houve um aumento dos casos de AVC. Está escalada está relacionada às consequências do isolamento social que levaram ao aumento da ansiedade, sedentarismo, obesidade e ingestão de comidas com altas taxas de gordura e sal. Assim, consequentemente há o aumento da incidência e descontrole da hipertensão arterial”, alerta o cardiologista do Hospital Brasília Edson D’Ávila.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a HAS é a principal causa de morte por doenças cardiovasculares no Brasil e no mundo. No país, anualmente cerca 350 mil pessoas morrem em decorrência de doenças no coração e a maioria desencadeada pela HAS. A entidade também alerta que a pressão alta agrava quadros de infarto, aneurisma arterial e até insuficiência renal.

Edson D’ávila explica que a HAS é mais comum em pessoas acima dos 50 anos de idade, aumentando os riscos todos os anos. “A pressão arterial é considerada normal quando está entre 120/80. Acima disso, a pessoa deve ficar de olho, sobretudo quando chegar a idade de risco. Se a pressão for maior ou igual a 140/90, está alta e um médico deve ser procurado para mais orientações”, alerta. O cardiologista ainda revela que os principais sinais do AVC são perda de força e sensibilidade, alteração na fala, alterações de equilíbrio, dores de cabeça súbitas e intensas.

Para prevenir a HAS, o médico recomenda a mudança total do estilo de vida. “Reeducação alimentar, redução de peso e atividade física. O controle da pressão reduz em 47% as taxas de AVC. Para o tratamento, além da mudança de hábitos, é necessária a terapia medicamentosa”, finaliza.

Como evitar a hipertensão arterial

Na campanha da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) de 2021, a instituição traz um folder com dicas para reduzir os casos de HAS:
Pare de fumar! O tabagismo aumenta o risco de doenças cardiovasculares e é apontado como fator negativo no controle de hipertensos;
Tenha uma alimentação saudável! Os alimentos frescos devem ser priorizados e as refeições congeladas, embutidas e enlatadas devem ser limitadas;
Limite o consumo de bebidas alcoólicas! O limite o consumo diário de álcool deve ser 1 dose (mulheres) e 2 doses (homens);
Mantenha seu peso adequado para a sua altura! O excesso de peso pode aumentar a pressão em 30% além de dificultar o controle dos hipertensos;
Tenha uma vida menos estressante! Uma melhor qualidade de vida ajuda;
Tenha uma vida mais ativa! 30 minutos de atividade física por dia, que pode ser dividido em 2 períodos de 15 min ou 3 de 10 min fazem toda a diferença. Seu corpo foi feito para se movimentar;


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/04/2021





Autor: Pollyana Cabral
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/04/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/04/28/mortes-por-doencas-cardiovasculares-estao-diretamente-relacionadas-a-pressao-alta/

A redução dos riscos apresentados por novos patógenos depende da atuação humana



A redução dos riscos apresentados por novos patógenos depende da atuação humana

Pandemias, saúde global e escolhas pessoais – Dois epidemiólogos estimulam, com muitos dados, uma reflexão profunda sobre como cada um de nós pode contribuir para diminuir as chances de futuras pandemias

O livro “Pandemias, saúde global e escolhas pessoais”, escrito por epidemiólogos especializados na pesquisa de pandemias e epidemias de doenças respiratórias, começa perguntando ao leitor se podemos comparar pandemias e surtos de doenças infecciosas a desastres naturais, tais como terremotos, tsunamis e furacões, contra os quais pouco se pode fazer além de nos prepararmos para o pior. “Deveria a nossa civilização se resignar a viver sob a ameaça constante de pandemias altamente patogênicas, e simplesmente ter em mãos planos de ação para reduzir seus efeitos quando elas acontecem?”, perguntam os autores.

Os autores, a Dra. Cynthia S Paim e o Dr. Wladimir J Alonso, ambos com doutorado em Oxford, trabalharam por vários anos em projetos de pesquisa em epidemiologia e saúde pública, com mais de 100 artigos científicos publicados sobre o impacto das pandemias de gripe de 1918 e 2009, a sazonalidade de doenças infecciosas e seu impacto em termos de hospitalizações e mortes, políticas de vacinação, prevenção de catástrofes, entre outros.

No livro, Cynthia e Wladimir percorrem com o leitor exemplos de pandemias e surtos de doenças infecciosas nas últimas décadas – do Ebola ao HIV, da gripe suína e aviária ao novo surto de coronavírus. Ao nos levar em jornadas por vilarejos da Guiné, mercados de animais vivos na China e em Bangladesh, por surtos de doenças infecciosas na Inglaterra e no México, eles mostram como tanto práticas ultra-primitivas como processos de produção tidos como ultra-modernos põe em risco a saúde de todos e a economia dos países.

Os relatos são embasados em ampla literatura científica, e nos mostram que a origem das ameaças à saúde global não está restrita aos mercados de animais vivos e zonas rurais de muitos países – ela está muito mais próxima de nós do que pensamos. O livro, no entanto, termina com uma mensagem otimista, mostrando ao leitor como cada um de nós pode contribuir para reduzir as chances de que estes eventos venham a ocorrer novamente no futuro. “Felizmente, a redução de muitos dos riscos apresentados por novos patógenos depende da atuação humana, e a humanidade já provou poder vencer desafios inclusive maiores”, comentam os autores.

O livro está disponível gratuitamente no formato de e-book, no endereço: http://www.bombarelogio.com.br/livro


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/04/2021






Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/04/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/04/28/a-reducao-dos-riscos-apresentados-por-novos-patogenos-depende-da-atuacao-humana/

Integridade dos ecossistemas é determinante na redução das doenças infecciosas emergentes


Integridade dos ecossistemas é determinante na redução das doenças infecciosas emergentes

A integridade do ecossistema também ajuda a controlar as doenças, apoiando a diversidade biológica e dificultando a disseminação, a ampliação e a dominação dos patógenos

ONU
Você sabia que cerca de 60% das doenças infecciosas humanas e 75% das doenças infecciosas emergentes são zoonóticas, ou seja, transmitidas através de animais?

Alguns exemplos que surgiram recentemente são o Ebola, a gripe aviária, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), o Vírus Nipah, a Febre do Vale Rift, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), a Febre do Nilo Ocidental, o Zikavírus e, agora, o coronavírus – todos ligados à atividade humana.

O surto de Ebola na África Ocidental é resultado de perdas florestais que levaram a vida selvagem a se aproximar dos assentamentos humanos; a gripe aviária está relacionada à criação intensiva de aves e o Vírus Nipah surgiu devido à intensificação da suinocultura e à produção de frutas na Malásia.

Cientistas e especialistas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estão reunindo os dados científicos mais recentes sobre o COVID-19 – tanto o que se sabe quanto o que não se sabe.

Embora a origem da pandemia e seu caminho de disseminação ainda não estejam claros, listamos seis pontos importantes que vale a pena conhecer:
A interação de seres humanos ou rebanhos com animais selvagens pode expor-nos à disseminação de possíveis patógenos. Para muitas zoonoses, os rebanhos servem de ponte epidemiológica entre a vida selvagem e as doenças humanas.
Os fatores determinantes do surgimento de zoonoses são as transformações do meio ambiente – geralmente resultado das atividades humanas, que vão desde a alteração no uso da terra até a mudança climática; das mudanças nos hospedeiros animais e humanos aos patógenos em constante evolução para explorar novos hospedeiros.
As doenças associadas aos morcegos surgiram devido à perda de habitat por conta do desmatamento e da expansão agrícola. Esses mamíferos desempenham papéis importantes nos ecossistemas, sendo polinizadores noturnos e predadores de insetos.
A integridade do ecossistema evidencia a saúde e o desenvolvimento humano. As mudanças ambientais induzidas pelo homem modificam a estrutura populacional da vida selvagem e reduzem a biodiversidade, resultando em condições ambientais que favorecem determinados hospedeiros, vetores e/ou patógenos.
A integridade do ecossistema também ajuda a controlar as doenças, apoiando a diversidade biológica e dificultando a disseminação, a ampliação e a dominação dos patógenos.
É impossível prever de onde ou quando virá o próximo surto. Temos cada vez mais evidências sugerindo que esses surtos ou epidemias podem se tornar mais frequentes à medida que o clima continua a mudar.



“Nunca tivemos tantas oportunidades para as doenças passarem de animais selvagens e domésticos para pessoas”, disse a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen. “A perda contínua dos espaços naturais nos aproximou demasiadamente de animais e plantas que abrigam doenças que podem ser transmitidas para os seres humanos”.

A equipe do PNUMA está trabalhando continuamente nessas questões importantes. As informações compartilhadas pela Divisão de Ciência estão disponíveis online com informações adicionais, incluindo uma lista de perguntas ainda não respondidas.



A natureza está em crise, ameaçada pela perda de biodiversidade e de habitat, pelo aquecimento global e pela poluição tóxica. Falhar em agir é falhar com a humanidade. Enfrentar a nova pandemia de coronavírus (COVID-19) e nos proteger das futuras ameaças globais requer o gerenciamento correto de resíduos médicos e químicos perigosos, a administração consistente e global da natureza e da biodiversidade e o comprometimento com a reconstrução da sociedade, criando empregos verdes e facilitando a transição para uma economia neutra em carbono. A humanidade depende de ação agora para um futuro resiliente e sustentável.


Nota da redação: Em relação ao tema “Covid-19/Coronavírus e Meio Ambiente” sugerimos que leia, também:
Coronavírus E O Meio Ambiente
Fatos Sobre Coronavírus E Meio Ambiente
Coronavírus, Meio Ambiente E Humanidade: O Que Temos A (Re)Aprender?
Coronavírus: Qual A Relação Do Meio Ambiente Com A Pandemia?
Como O Isolamento Social Tem Impactado No Meio Ambiente?
Os Efeitos Que Já Podemos Ver Da Pandemia Sobre O Meio-Ambiente
Covid-19 E Outros ‘Desserviços’ Ecossistêmicos
Como As Lições Do Covid-19 Podem Impedir O Colapso Ambiental


Da ONU, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/04/2020





Autor: ONU
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 28/04/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/04/28/integridade-dos-ecossistemas-e-determinante-na-reducao-das-doencas-infecciosas-emergentes/

terça-feira, 27 de abril de 2021

Como a mudança climática está alterando o eixo de rotação da Terra




CRÉDITO,SPL
Legenda da foto,

A inclinação do planeta depende em grande parte da forma como sua massa é distribuída


Enchentes e secas, chuvas torrenciais, incêndios infernais, temperaturas extremas, extinção de espécies.


Boa parte dos efeitos das mudanças climáticas provocadas pela ação do homem são visíveis nos quatro cantos do planeta. Alguns, contudo, não são tão óbvios.


Uma pesquisa publicada em março no periódico científico da American Geophysical Union (AGU, na sigla em inglês) mostrou que a mudança climática estaria por trás de uma série de deslocamentos no eixo de rotação da Terra desde a década de 1990.


Nos últimos 30 anos, o eixo do planeta — a linha imaginária em torno da qual a Terra gira em seu movimento sobre si mesma — teve um deslocamento acelerado. Desde 1980, a posição dos polos (que são os pontos onde o eixo de rotação da Terra cruzam a superfície) mudou cerca de quatro metros no sentido leste, diz o trabalho.


A avaliação da chamada deriva polar, o termo que denomina esse o movimento dos pólos, indica que o fluxo mudou completamente de direção em 1995 e, entre aquele ano e 2020, a velocidade do movimento dos pólos aumentou cerca de 17 vezes em comparação com o observado entre 1981 e 1995.




CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

Mudança climática tem provocado derretimento acelerado de gelo nos pólos

As causas


O deslocamento do eixo da Terra, segundo especialistas, é normal.


Mudanças na distribuição da massa do planeta fazem com que o eixo se mova e, por consequência, com que os pólos se movam.


Esse movimento geralmente acontece de forma natural, seja por mudanças na atmosfera, nos oceanos ou na parte sólida da Terra.


O que a pesquisa indica, contudo, é que a ação humana é um dos motores da aceleração observada desde 1990.


Para entender o porquê é preciso revisitar alguns conceitos de física que aprendemos no ensino médio.


A rotação de qualquer objeto é afetada pela forma como sua massa é distribuída.


A distribuição do peso da Terra, por sua vez, está sempre mudando, à medida que as entranhas derretidas do planeta se agitam e sua superfície se transforma.



CRÉDITO,ALAMY
Legenda da foto,

Os polos do planeta têm se deslocado em resposta a diversos fatores


Mas a água, que constitui quase três quartos do planeta, também tem um "peso" fundamental nesse processo.


Assim, os pesquisadores decidiram fazer observações sobre as massas de água, medições da perda de gelo e do volume de lençóis freáticos bombeados para uso humano para verificar seu impacto no deslocamento do eixo.

Planeta água


A pesquisa descobriu que a água é um fator chave: a perda de água das regiões polares - o gelo que derreteu e escoou para os oceanos - seria "o principal motor da rápida deriva polar após a década de 1990".


O derretimento do gelo glacial é uma consequência direta da mudança climática provocada pelo homem.


Estima-se que mais de um terço das geleiras remanescentes no mundo derreterão em menos de um século, antes de 2100. Quanto aos bancos de gelo marinho, 95% dos mais antigos e espessos que se encontravam no Ártico já desapareceram.


Os cientistas estimam que, se as emissões de gases poluentes continuarem a aumentar sem controle, o Ártico poderá ficar sem gelo durante os verões a partir de 2040.

Água para uso humano


O estudo aponta ainda como, em menor grau, a ação de bombear água para agricultura ou consumo humano também teve impacto na deriva polar.


Isso porque a água dos lençóis freáticos antes armazenada no subterrâneo tende a fluir para o mar, redistribuindo seu peso no planeta.


Especialistas estimam que, nos últimos 50 anos, os humanos extraíram 18 trilhões de toneladas de água de reservatórios subterrâneos profundos, o que nunca foi reposto.



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Água retirada dos lençóis freáticos na maioria das vezes vai parar no mar


"As descobertas oferecem uma pista para estudar o movimento polar impulsionado pelo clima no passado", disse Suxia Liu, hidróloga da Academia Chinesa de Ciências e principal autora do estudo, em um comunicado.


A ciência já tinha vinculado o derretimento das geleiras aos movimentos observados nos pólos entre 2005 e 2012 com dados coletados pela missão Grace (acrônimo para Gravity Recovery and Climate Experiment), que lançou um satélite ao espaço em 2002.


Esta é a primeira pesquisa, contudo, a demonstrar o impacto das mudanças climáticas no eixo de rotação da Terra na década anterior ao lançamento desse sistema de monitoramento.




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/04/2021
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-56896424

É necessário organizar a cadeia de reciclagem de resíduos de embalagens plásticas



É necessário organizar a cadeia de reciclagem de resíduos de embalagens plásticas
Esforços de reciclagem de resíduos de embalagens de plástico são sufocados por entraves regulatórios e tecnológicos

Mudanças significativas na forma como os resíduos de embalagens plásticas são reciclados na Inglaterra são necessárias para eliminar os resíduos plásticos evitáveis ​​até 2043 e atender às ambições do governo em sua Estratégia de Recursos e Resíduos.

University of Leeds*

Um novo estudo da University of Leeds e da Brunel University London descobriu que o sistema atual de coleta e gerenciamento de resíduos de embalagens plásticas prejudica as autoridades locais e desestimula os esforços para investir em infraestrutura verde para explorar a mudança tecnológica.

Isso leva a uma dependência excessiva da exportação de resíduos para mercados com políticas de reciclagem questionáveis ​​e também prejudica a tomada de decisão do consumidor sobre como descartar resíduos de embalagens plásticas. O relatório – ‘ Embalagem de plástico – Como chegamos onde queremos estar? ‘- concluiu que o custo de coleta e gestão de resíduos sob o sistema atual significava que algumas autoridades locais foram forçadas a se vincular a contratos de até 25 anos para torná-lo economicamente viável.

O estudo foi financiado através do Fundo de Inovação em Pesquisa e Plástico e o Conselho de Pesquisa Econômica e Social, trabalhando em colaboração com o Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais (DEFRA) , o setor de gestão de resíduos e outras partes interessadas.

Ele também descobriu que as empresas de resíduos precisam estar confiantes de que podem ter um bom retorno sobre o investimento – o que incentiva esses contratos longos – mas isso torna difícil para as autoridades locais implementarem mudanças em sua infraestrutura.

Os pesquisadores argumentam que uma redução na carga de custos para as autoridades locais, por meio de uma distribuição mais equitativa do valor no sistema, pode incentivar o investimento de longo prazo, mas que os bloqueios regulatórios e tecnológicos precisam ser enfrentados.

As principais reformas no âmbito da Estratégia de Recursos e Resíduos, incluindo consistência na coleta de resíduos, responsabilidade alargada do produtor e esquemas de devolução de depósitos, foram concebidas para enfrentar os problemas e reter valor. A colaboração do DEFRA com este projeto é um reflexo do que o DEFRA está fazendo para mover as coisas na direção certa.

O relatório analisou o sistema de embalagens plásticas do Reino Unido na Inglaterra usando uma nova abordagem de sistemas denominada ‘Otimização de valor complexo para recuperação de recursos’ (CVORR) .

O coautor do relatório, Andrew Brown, Professor de Economia da Universidade de Leeds, disse: “O relatório mostra a importância de uma colaboração profunda entre economistas, engenheiros e cientistas ambientais, trabalhando também em colaboração com o DEFRA, o setor de gestão de resíduos e outras partes interessadas . ”

O professor Brown enfatizou que “para aproveitar as enormes oportunidades de longo prazo para preservação e criação de valor por meio da reciclagem de embalagens plásticas, é necessária uma mudança em todo o sistema, guiada pela nova estrutura CVORR.”

“A inovação na indústria de resíduos e reciclagem é realmente rápida, mas nossas autoridades locais não podem tirar proveito do sistema atual”, disse a Dra. Eleni Iacovidou, professora de Gestão Ambiental da Brunel, que conduziu o estudo.

“Confrontar e quebrar os bloqueios às regulamentações e infraestruturas atuais é a chave para alcançar transformações radicais no sistema de embalagens de plástico e nos sistemas de recuperação de recursos em geral.”

O Dr. Iacovidou continuou: “A complexidade do sistema de embalagem de plástico significa que não existe uma solução perfeita para os muitos problemas que afligem o sistema de embalagem de plástico e que são necessárias várias maneiras direcionadas e informadas de abordar esses problemas. A estrutura do CVORR nos ajuda a entender esses problemas e encontrar soluções de uma forma muito mais clara e integrada. ”

Os pesquisadores apontam a saída do Reino Unido da União Europeia como um desafio significativo para cumprir a meta de 2050, mas também uma oportunidade para implementar as mudanças necessárias à medida que o governo se desvincula da regulamentação europeia. Isso exige a orquestração de processos e estruturas em toda a cadeia de valor.

O relatório propôs novas métricas para o governo usar ao monitorar e avaliar seu sucesso em relação à meta de 2050. As métricas desenvolvidas correspondem a quatro domínios de valor – ambiental, econômico, social e técnico – permitem uma avaliação sistêmica do sistema de embalagens plásticas, tão necessária para realizar a mudança e monitorar essa mudança.

O estudo, que foi financiado pelo Conselho de Pesquisa Econômica e Social (ESRC), foi de autoria de Eleni Iacovidou, Norman Ebner, Bianca Orsi e Andrew Brown.

Referência:

Multidimensional Value Metrics for Assessing England’s Plastic Packaging System and Monitoring Associated Targets – EV0301

http://sciencesearch.defra.gov.uk/Document.aspx?Document=14777_Plasticpackaging-howdowegettowherewewanttobe.pdf

Henrique Cortez *, tradução e edição
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/04/2021




Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/04/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/04/27/e-necessario-organizar-a-cadeia-de-reciclagem-de-residuos-de-embalagens-plasticas/

Indígenas nas Cidades: memórias ‘esquecidas’ e direitos violados, artigo de Alenice Baeta

INDÍGENAS NAS CIDADES: memórias “esquecidas” e direitos violados
Um olhar a partir da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), MG
Alenice Baeta1

O objetivo deste artigo é contribuir para que os indígenas e as indígenas que vivem nas cidades, em especial na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), estado de Minas Gerais, ganhem visibilidade, superem a vulnerabilidade social que se encontram e que conquistem acesso aos seus direitos individuais e coletivos também no contexto urbano, como a própria legislação nacional e normas internacionais vigentes garantem.2

No Brasil, a porcentagem de índios morando em centros urbanos é 39%, de acordo com o Censo do IBGE de 2010, sendo que pelo menos 315 mil indígenas habitam áreas urbanas em todo o país, todavia, estes dados, dez anos depois, já se encontram defasados. Os últimos dados censitários ainda revelam que metade dos indígenas registrados, não teria nascido nas cidades, indicando a importância de compreender o fluxo migratório para as mesmas. A cidade de Belo Horizonte tem 3.477 indígenas e na região metropolitana da Grande Belo Horizonte há 7.979 mil indígenas, de acordo com este censo (IBGE, 2010).

Espera-se que o próximo recenseamento possa dar atenção aos Povos Tradicionais, em geral, visando calibrar tais índices, o que possibilitará uma visão mais nítida da realidade sociocultural e étnica dos mesmos. A RMBH tem forte presença indígena, mas o descompasso entre os dados oficiais com os reais pode também ser atribuído ao sistema de classificação censitária e seus critérios, como também à forma de abordagem a respeito do autorreconhecimento ou de autoafirmação de cada pessoa. Muitos ainda temem se apresentar como indígenas, em função do preconceito e do racismo institucionalizado, tal qual, pela falta de uma política social que respeite a diversidade e as peculiaridades socioculturais que existem no âmago das cidades, se apresentando como pardo, em muitas das vezes.

“Os índios não tem homogeneidade cromática nem possuem traços físicos que possam singuralizá-los perante outros segmentos da população. […] Por se tratar de um status jurídico, não há meio termo possível: ou a pessoa se enquadra nesse ou não se enquadra ainda que possa optar por acionar ou não a sua identidade” (OLIVEIRA FILHO, 1999a, p. 134-135).

A apologia da mistura ainda pode ser revelar na categoria censitária de pardo, que atende a uma intencionalidade social explícita, revelando um critério meramente operacional, ou melhor, artificial, arbitrário e de aparência técnico-científica, legitimando o discurso da mestiçagem por meio de um aparente metodologia e inquérito científico. A categoria denominada pardo, revela-se assim, improdutiva e enganadora, pois impede delimitações identitárias e o estabelecimento de estratégias e de cálculos para as performances sociais (OLIVEIRA, 1977:65).

Muitos são os motivos para o êxodo forçado de pessoas e famílias indígenas para as cidades, já sendo considerado um fenômeno mundial. Nesse sentido, as organizações indígenas buscam o reconhecimento a partir de características culturais próprias, afastando a imagem preconcebida do índio primitivo “nu e na mata”, que não pode interagir ou morar em cidades, sob a pena de deixar de “ser índio”.

“De acordo com a visão assimilacionista, os povos indígenas deveriam ser ‘civilizados’ para ser ‘integrados’ à sociedade dominante, deixando para trás seus modos de vida, suas línguas, costumes e tradições, considerados até então ‘selvagens’ ou ‘incivilizados’. Nesta visão, os indígenas deixariam de ser ‘silvícolas’, abandonariam seus territórios, seus modos de vida e suas culturas e passariam a ser trabalhadores rurais. Consequentemente, se chegassem ao contexto urbano, seria porque já teriam deixado de lado sua identidade indígena” (FACCO et al., 2018, p. 184).

O fato é que tanto nos territórios indígenas quanto na cidade, essas comunidades continuam a sofrer discriminação, perseguições, privações e ameaças. Os indígenas exigem o direito de ir e vir, como todos os demais grupos sociais, bem como, morar onde achar melhor, exigindo novos debates acerca dos distintos e complexos processos de territorialização indígena e suas redes de socialização.

Com a expansão do modelo colonialista impulsionado por empreendimentos ligados à produção de commodities da mineração e do agronegócio, obras de infraestrutura viária, energética e domínio de aquíferos, há uma forte tendência de aumentar os conflitos territoriais e socioambientais envolvendo comunidades tradicionais, camponeses e povos originários, causando novas ondas de violência e expropriação dos seus territórios.

O Brasil tem responsabilidade e dever de respeitar e promover os direitos dos povos indígenas tal como expressos na Constituição Brasileira de 1988, que em seu artigo 231, reconhece aos indígenas, sem distinção de onde estejam, o direito à organização social, costumes, línguas, crenças, tradições e também à terra tradicionalmente ocupada; como também na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, de 2007, e na Convenção sobre os Povos Indígenas e Tribais, de 1989, e na Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização das Nações Unidas (ONU). Contudo, o direito constitucional referente às terras originais é frequentemente violado, e o governo tem sido cúmplice do latifúndio e do agronegócio que, com ganância sem fim, insiste em continuar invadindo os territórios indígenas.

Muito importante registrar que a demarcação de terra é de extrema importância e fundamental para que os povos tradicionais e indígenas garantam a segurança e o domínio sobre seus espaços geográfico-cosmológicos, sobrevivência e manejo, sendo estes um meio de afirmação de seus modos de vida e de sua territorialidade.

“A noção de territorialização é definida como um processo de reorganização social que implica: i) a criação de uma nova unidade sociocultural mediante o estabelecimento de uma identidade étnica diferenciadora; ii) a constituição de mecanismos políticos especializados; iii) a redefinição do controle social sobre os recursos ambientais; iv) a reelaboração da cultura e da relação com o passado’’ (OLIVEIRA, 1999b, p. 20).

É preciso levar em consideração a realidade na qual os indígenas urbanos estão inseridos e os motivos que os levaram à cidade e os seus processos de (re)territorialização, quer dizer, a apropriação de espaços de convivência socioambiental (HAESBAERT, 2017). A migração para as cidades pode ser, às vezes, voluntária ou, quase sempre, forçada e, em muitas situações, envolve violação de direitos humanos e dos povos indígenas, motivada pela expulsão de suas terras de origem, fuga de conflitos, ameaças, inseguranças econômica e alimentar, falta de trabalho, ausência ou precariedade de serviços básicos, tratamento de saúde, comercialização de artesanato, estudos, dentre outras tantas razões. Na maioria das vezes subsistem em circunstâncias precárias, vivendo em comunidades de baixa renda espalhados por todo o território nacional. Há ainda situações que o crescimento de cidades é que alcançou e invadiu antigos territórios indígenas e/ou tradicionais. Este é o exemplo de cidades como São Paulo (SP) e Chapecó (SC).

Segundo constatado pela representante da Agência para a Habitação das Nações Unidas (ONU-Habitat), no Fórum Urbano Mundial sobre Povos Indígenas nas Cidades, o principal desafio é o direito à moradia.

“Indígenas acabam deixando suas áreas ancestrais e migram para as cidades por fatores como a invasão de suas terras, guerras ou mesmo a busca por melhores oportunidades. Mas, ao chegar nos novos territórios, encontram dificuldade para se assentar e passam a viver em favelas” (ABDALA, 2010, p. 1).

Há diversas e instigantes histórias de vida de indígenas e de suas famílias a respeito do motivo que os fizeram migrar para a cidade, contudo, parece bastante inadequada a utilização de conceitos que descrevem indígenas fora das suas terras tradicionais como “desaldeados” ou “aculturados”. Esta parece ser uma importante chave para se entender a argumentação equivocada e oportunista a respeito de programas de políticas públicas no Brasil, restritos a aldeias e a territórios indígenas em zonas rurais. Ademais, a noção usual que a maior parte da população indígena vive em áreas rurais remotas também não corresponde à realidade. Dados da ONU indicam que em alguns países, como Austrália, Canadá, Estados Unidos e Chile, a maior parte da população indígena vive em cidades. Em 2000 a população indígena na América Latina era de 30 milhões de pessoas, sendo que 12 milhões (40%) viviam em áreas urbanas.3

“Por mais que o Estado brasileiro tenha avançado no reconhecimento da necessidade de construção de políticas sociais diferenciadas para os povos indígenas, a questão do pré-requisito do território é ainda um nó que precisa ser superado” (FACCO et al, 2008, p. 184).

É fato a existência de vários tipos de “aldeias urbanas”, onde comunidades indígenas, com enormes dificuldades econômicas, conseguem manter suas redes de sociabilidade e de organização em meio a uma maioria não indígena, também diversa em sua composição. Em uma sociedade capitalista que reproduz a injustiça social de forma crescente, o processo de “urbanização indígena”, parece irreversível e carece de ações afirmativas para a melhoria das condições de vida dos indígenas. Relevante destacar que ainda há nas cidades muitas famílias que se apresentam como “descendentes de indígenas”, mas que por medo de perseguições e represálias, seus parentes ancestrais não teriam “revelado as suas histórias”.

Atualmente, há registros de mais de vinte etnias indígenas atualmente no estado de Minas Gerais, a dizer, Xakriabá, Maxacali, Krenak e Pataxó, Pataxó Hãhãhãe, Kaxixó, Aranã, Catu-Awa-Arachás, Kiriri, Mucurin, Pankararu, Puris, Tuxá, Xucuri-Kariri, Kamacã-Mongoió, Karajá, Tikuna, Borum-Kren, Canoeiros-Maxacali, Makuni-Krakmum, Kambiwá, Fulni-ô e Guarani. Há famílias ou indivíduos que pertencem às etnias mencionadas acima que moram ou transitam com certa periodicidade em centros urbanos, incluindo a RMBH. Acrescentam-se ainda indígenas da região amazônica que vêm estudar em cursos de graduação na UFMG; damos aqui o exemplo de Odana Kambeba. Certamente há muitas famílias indígenas que moram na RMBH de etnias não mencionadas acima. Contudo, a identificação em Minas Gerais não se apresenta de forma estática, sendo que o processo de etnogênese, migração e trânsito são muito dinâmicos. Há ainda carência de um diagnóstico a respeito de fluxos sazonais de indígenas nas cidades, em função de acesso a pagamento de benefícios sociais e/ou auxílios emergenciais, por exemplo. Isto também implica em considerar as dimensões espaciais e as vivências enquanto “territórios-rede”, reconhecendo a sua multiterritorialidade e a importância estratégica do espaço na dinâmica transformadora da sociedade (HAESBART, 2007).



Figura 1- Indígena da etnia Pataxó, que vende artesanato e vigia carros nas ruas do município de Ibirité-RMBH, onde também é morador. Foto: A. Baeta. Fevereiro de 2020.



A invisibilidade dos indígenas apresenta inúmeras contradições e contrastes na urbe. Sob esta perspectiva, merece destaque a toponímia de alguns logradouros e de quarteirões na zona central da capital mineira, que foram batizadas com etnônimos indígenas, como, Guajajaras, Tupinambás, Aimorés, Tupis, Carijós, Goitacazes, Guaranis, Timbiras, Tamoios; etnias ancestrais do território que hoje se constitui o estado de Minas Gerais. Inclusive, em 1991, no advento dos noventa anos da cidade de Belo Horizonte, quatro quarteirões que circundam a Praça Sete, considerada o coração da cidade, foram rebatizados com o nome de povos indígenas que habitam atualmente o Estado de Minas Gerais, no caso, Xacriabá, Krenak, Pataxó e Maxacali. Apesar dos nomes e da homenagem à memória indígena, foram inúmeros os episódios de indígenas que tentaram vender artesanato nesses quarteirões e arredores, que sofreram represálias por parte de policiais militares, de guardas municipais e de fiscais da prefeitura. Há ainda muitos relatos a respeito de repressão à comercialização em feiras abertas e eventos culturais, bem como, denúncias sobre impedimento de indígenas de entrarem no metrô, em ônibus e órgãos públicos trajando paramentos, pinturas corporais, instrumentos e bagagens. As repressões e violências não param por aí. Já morreram nas ruas de Belo Horizonte pelo menos três indígenas – mortes estas que até hoje não foram esclarecidas. Em julho de 2014, o indígena Samuel Pataxó, de 19 anos, da Aldeia Coroa Vermelha, localizada no município de Santa Cruz Cabrália (BA), veio vender artesanato em Belo Horizonte, foi assassinado com vários tiros, e seu corpo foi encontrado dois dias depois em um matagal. Em março de 2015, o indígena Genilson Lima dos Santos, de 39 anos, também Pataxó e da Aldeia Coroa Vermelha, foi assassinado com um tiro a queima roupa no Bairro Paraíso, também na capital mineira. Na Ocupação Vitória, na Região da Izidora, em Belo Horizonte, um índio também foi assassinado. Chamado de “índio”, ele ajudava a fazer as redes de água para viabilizar acesso à água para as carentes famílias da comunidade.

Conforme exposto, boa parte dessa população indígena saiu de seus locais originários, fugindo de conflitos e ameaças na luta por seus territórios, como também em busca de melhores condições de vida na região Sudeste e/ou suas capitais, consideradas mais prósperas e com mais chance de emprego no país. Em Belo Horizonte, os indígenas vivem nas periferias, em condições precárias de sobrevivência, vendendo artesanato, fazendo apresentações culturais, em empregos sazonais, na construção civil, vigilantes, pequenos “bicos”, serviços domésticos e gerais. Muitas famílias também participam de ocupações urbanas, como na Ocupação Eliana Silva, região do Barreiro, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), como também, nas Ocupações Esperança e Vitória, zona norte da capital, organizada pelas entidades Brigadas Populares (BPs), Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG) e pelo MLB. Existem também alguns indígenas vivendo em situação de rua, pedindo esmolas, fazendo uso excessivo de bebidas alcoólicas e de drogas. Indígenas Maxacali (oriundos de aldeias no Vale do rio Mucuri) são frequentemente vistos nas ruas de Belo Horizonte e de Teófilo Otoni. Esta foi a situação do terceiro indígena assassinado brutalmente na capital mineira no dia 15 de janeiro de 2016. Tratava-se de um indígena em situação de rua que há pelo menos dois anos frequentava a localidade onde foi assassinado, segundo apuração do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

“Ele dormia na calçada quando um jovem se aproximou e iniciou um ataque covarde e cruel com um chute e mais 20 pisadas em sua cabeça. O indígena ficou agonizando na calçada durante cinco horas. Levado ao hospital, não resistiu aos ferimentos e faleceu. O assassino é um jovem bem apessoado que agiu por ódio, preconceito e racismo, comportamento este que está se tornando comum em nossa sociedade, principalmente contra indígenas, negros, prostitutas, homossexuais, todos cidadãos.”4

O corpo deste indígena que seria enterrado como indigente, ficou 67 dias na câmara fria do Instituto Médico Legal (IML), segundo reportagem de Juliana Baeta (BAETA, 2016). A partir do esforço de indígenas integrantes do Comitê Mineiro de Apoio à Causa Indígena, descobriram que se tratava de José Januário da Silva, de 57 anos, e que este seria pertencente à etnia Fulni-ô, do município Águas Belas, em Pernambuco. Este crime se assemelha ao ocorrido em abril de 1997, em Brasília, quando cinco jovens da elite local atearam fogo no cacique Galdino José dos Santos, da etnia Pataxó Hãhãhãe, que dormia no banco da parada de ônibus, que teve 95% do corpo queimado, morrendo no dia seguinte ao ataque. A sua morte reavivou discussões importantes sobre a questão das demarcações de terras indígenas, assunto que o teria levado ao Distrito Federal, na ocasião. Anos depois, Galdino passou a ser considerado um mártir da luta indígena.

Segundo o portal da ONU News, a representante da ONU, Maria Espinosa, alertou no encontro do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, em 2019, que o mundo tem uma “dívida histórica” com os povos indígenas, devido aos grandes danos socioambientais e territoriais a eles causados, lembrando ainda que 15% das pessoas mais empobrecidas do mundo são indígenas e que sua inclusão plena é crucial para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs). Chamou atenção especial para a situação das mulheres destes grupos étnicos, que enfrentam múltiplas formas de discriminação e de violência. Todavia, reitera que estas são agentes fundamentais de mudança para combater a pobreza e a fome (SCAFFIDDI, 2019). Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgados no “Caderno de Conflitos no Campo Brasil”, no ano de 2019 a maioria dos trabalhadores assassinados envolvendo conflitos relacionados a luta pela terra, eram indígenas (CPT, 2020).

A Comissão Nacional da Verdade (CNV), por sua vez, incluiu em seu Relatório Final, no capítulo “Violações de Direitos Humanos dos Povos Indígenas”, que algumas etnias indígenas fazem parte da listagem de vítimas que sofreram graves violações de direitos humanos ocorridas no Brasil durante a ditadura civil, empresarial e militar entre 1964 a 1985. Segundo a pesquisa, ao menos 8.350 indígenas foram mortos em massacres, esbulho de suas terras, remoções forçadas de seus territórios, contágio voluntário por doenças infectocontagiosas, prisões, torturas e maus tratos, configurando claro cenário de tentativas de extermínio. Conclui ainda que no enfrentamento a esta cultura de “esconder os conflitos do passado” é preciso tornar públicas as histórias de violações dos direitos humanos. A CNV apresentou recomendações para que o Estado inicie o processo de reparação aos povos originários pelas violências sofridas (CNV, 2014).

Referindo-se ao índice de pobreza e esbulho, importante mencionar os indígenas da Venezuela, muitos da etnia Warao, oriundos da região norte da Venezuela, que habitam há séculos o delta do rio Orinoco, no estado Delta Amacuro, que tem sido frequentemente vistos nas ruas de grandes cidades brasileiras, tais como, Belo Horizonte (MG), Montes Claros (MG), Cuiabá (MT), Manaus (AM), Belém5 (PA), Boa Vista (RR), Teresina (PI) e Recife (PE), muitas vezes com crianças de colo, vendendo seus artesanatos ou pedindo doações e dinheiro, normalmente, próximos a semáforos no cruzamento de grandes avenidas.



Figura 2- Indígenas venezuelanas nas ruas de Belo Horizonte, MG, pedindo doações. Foto: A. Baeta. Abril de 2020.



Fugiram de um estado de caos, miséria, falta de remédios e absoluta insegurança alimentar, mas no Brasil não podem ser tratados como mero estrangeiros, pois transcendem a condição de imigrante e demandam proteção jurídica específica como indígenas. Segundo o promotor de justiça em Roraima, André Paulo dos Santos Pereira:

“Há a possibilidade jurídica de a União reservar, através de ato político, certa parcela de terras e entregá-las aos indígenas warao, para uso exclusivo, embora não seja tradicionalmente ocupada. A ressalva que se faz é o direito à consulta prévia e o respeito à autodeterminação do povo indígena Warao no Brasil. Por fim, há que se considerar que a imigração para o Brasil do povo indígena warao é um fato com forte repercussão no Direito brasileiro, que demanda novos desafios jurídicos. É preciso um olhar diferenciado, que os acolha não apenas como estrangeiros, mas como índios orgulhosos de sê-lo, com rica história, cultura e tradições” (PEREIRA, 2019, p. 22).

Existem dados demográficos no Brasil que indicam as peculiaridades étnicas regionais em determinadas urbes. Chama atenção, neste sentido, o diagnóstico censitário no estado de Goiás, que de acordo com o IBGE (2012) apresenta-se como um estado inverso em relação aos demais, pois vivem, pelo menos, 2.400 índios nas cidades e 203 índios em três aldeias, o que implica que a população urbana é maior, dez vezes mais que a população nas aldeias (CRUZ, 2016).

Em nível nacional, São Paulo foi o primeiro município com população indígena autodeclarada vivendo em meio urbano. Os estudos pioneiros da Comissão Pro-índio de São Paulo/CPI e do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos deram luz a esta questão por meio da obra: “Índios na Cidade de São Paulo”, publicada no ano de 2004, quando realizaram um diagnóstico de referência sobre a questão indígena no contexto urbano (CPI, 2004; 2013).

No que se refere a terra e a moradia nas cidades descortina-se um cenário diversificado de territorialidades. Conforme já exposto, há terras indígenas que foram alcançadas pelas cidades e que são reconhecidas pela FUNAI como terra tradicional, como raros casos que ocorreram em São Paulo6 e em Porto Alegre7. Mas segundo o IBGE (2010), dos indígenas que vivem em área urbana, 92% vivem fora de Terra Indígena (TI).

Há a experiência de desapropriação e o reconhecimento como área de interesse cultural indígena em Porto Alegre8. Há também aldeias urbanas constituídas como conjuntos ou unidades habitacionais em São Paulo9, Campo Grande10 e Curitiba11. A aldeia multiétnica urbana Maracanã na capital Rio de Janeiro é um símbolo de resistência quando da ocupação, em 2006, de um prédio histórico que abrigou o antigo Museu do Índio (Cf. REBUZZI, 2014; BAETA, 2018).

Na área de saúde pública, importante destacar que São Paulo conseguiu de forma experimental implantar um Programa de Saúde da Família (PSF) voltado às populações indígenas.

Inspirada nas pesquisas inéditas da Comissão Pró-índio de São Paulo sobre direitos e politicas públicas para indígenas em contexto urbano, estimulada, sobretudo, por demandas e denúncias de lideranças indígenas, que desde o início do séc. XXI solicitavam um projeto que se voltasse aos direitos e violações indígenas nas cidades, a ONG Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES), que possui sede na capital mineira, elaborou um projeto denominado: “Indígenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) – identificação e subsídios para a sua organização”, desenvolvido nos anos 2008 e 2009. O objetivo principal foi realizar um diagnóstico preliminar da situação e demandas dos indígenas da RMBH, quando foi feito um levantamento geral de indígenas e/ou famílias indígenas que moram em Belo Horizonte e região metropolitana. Em um segundo momento, houve reuniões com representantes indígenas, oficinas de capacitação sobre direitos humanos e dos povos tradicionais, seminários e encontro dos povos indígenas urbanos.



Figura 3- Seminário do projeto “Índios na Cidade- RMBH”, que ocorreu no Bairro Olaria, região do Barreiro, em Belo Horizonte, MG. Foto: A. Baeta. Setembro de 2009.



Na terceira etapa, ocorreram reuniões junto às instituições públicas e entidades, como Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) (hoje, Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Ministério Público Federal/MG, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) e outras. A última etapa visou subsidiar a organização dos indígenas da RMBH com uma Assembleia onde foi criada, na ocasião, a “Associação de Apoio aos Povos Indígenas da Região de Belo Horizonte e abrangência”, quando foi apresentado um documento final com as demandas e diretrizes de trabalho dos povos indígenas da RMBH.



Figura 4- Oficina de Diagnóstico do projeto “Índios na Cidade – RMBH”, que ocorreu na sede do CEDEFES. Foto: A. Baeta. Abril de 2009.



O diagnóstico preliminar revelou demandas que ainda perduram no âmbito da saúde, moradia, cultura e educação. No campo da saúde, boa parte dos indígenas que habitam a RMBH informou não serem assistidos pela FUNASA (atual SESAI). Os poucos credenciados consideraram que não são bem atendidos, pois há muita demora na marcação de consultas e entrega de remédios, que vem de Governador Valadares (município onde se situa a sede da FUNAI, em MG, mas que fica a 320 km da capital mineira). Reivindicam um polo de saúde e farmácia credenciada na RMBH, ou melhor, que se crie um DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) ou estrutura similar, para atendimento às comunidades indígenas da Região Metropolitana, bem como, participação efetiva e permanente de indígenas no Conselho Municipal de Saúde e no Conselho Estadual de Saúde. Consideraram fundamental o cumprimento do estabelecido no ano 2001 na 3ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, que determina:

“Incluir os povos indígenas ainda não reconhecidos oficialmente e os índios que residem fora das terras indígenas no planejamento das atividades dos distritos, conforme especificidades locais, com a participação dos Conselhos Distritais.”

No que tange ao incentivo à cultura e à economia solidária indígena, além dos aspectos já mencionados relacionados à dificuldade de vender artesanato nas ruas e eventos, há ainda a carência de espaços permanentes, denominados “Casa de Apoio” ou “Casa da Etnia”, para expor, acondicionar, produzir e distribuir os produtos indígenas, bem como, para reuniões, atividades, formação, organização e acolhida dos indígenas em trânsito. Denunciam ainda a falta de uma política de educação indígena integrada nas cidades que compõem a RMBH e de divulgação de oportunidades de trabalhos, projetos, concursos e cursos para crianças, jovens e mulheres. Consideram importante o recebimento de cestas básicas, como ocorre nos territórios indígenas, incluindo orientações sobre o processo de aposentadoria de indígenas que moram em cidades de Minas Gerais.



Figura 5 – Criação da “Associação de Apoio aos Povos Indígenas da Região de BH e abrangências”, na sede da ONG CEDEFES. Representantes das etnias Guarani, Xakriabá, Aranã, Kamacã e Pataxó Hãhãhãe. Foto: A. Baeta – Outubro de 2009.



Foi constatada nesta pesquisa a gritante falta de justiça socioterritorial e de políticas públicas de habitação popular e indígena na RMBH. Algumas famílias ou indígenas por sua vez, sinalizaram que gostariam de voltar para a sua cidade natal caso tivessem uma terra para morar com seus parentes. Outras manifestaram interesse em permanecer na cidade, mantendo o seu atual trabalho, mas também seus laços familiares com os parentes distantes, e outras, demonstraram planos de buscar na própria RMBH terrenos onde pudessem retomar aldeias de uso coletivo, incentivando as suas práticas culturais e de agroecologia, como foi o caso da comunidade Kamacã Grayra Mongoió.

No último decênio ocorreram inúmeras reuniões na ALMG, Mesas de Diálogo e de Negociação junto ao governo do estado de MG e outras instituições para tratar do descaso que os indígenas em situação urbana estavam sofrendo. Sem solução, após uma série de discussões, manifestações, denúncias e reivindicações não atendidas, alguns indígenas que moram na RMBH que possuíam inúmeros problemas ligados à moradia, risco social, carência alimentar e dificuldade de acesso às políticas públicas, decidiram ocupar uma fazenda no município de Esmeraldas na RMBH, no vale do rio Paraopeba. Então, no final do ano de 2016, famílias indígenas Kamakã-Mongoió12 e Pataxó Hãhãhãe ocuparam a fazenda Santa Teresa, conhecida também como FUCAM (Fundação Educacional Caio Martins) que se encontrava com várias de suas instalações, benfeitorias e casarios em processo de abandono ou subaproveitadas pela FUCAM e estado de Minas. Uma grande lagoa que já foi cartão postal do lugar outrora se encontrava tomada por plantas aquáticas que podem estar comprometendo a vida deste aquífero e dos animais que dela necessitam. Nascentes de água encontram-se assoreadas. Os indígenas detectaram estes problemas, dentre outros na gleba e vêm propondo a recuperação ambiental e social da mesma desde então (BAETA & WAYÁ PURI, 2017).

Segundo a associação indígena, esta ocupação ou retomada indígena, como consideram mais adequando, se deu devido à organização de famílias moradoras de Belo Horizonte e da região metropolitana, desempregadas e sem condições de pagar aluguéis, que avaliaram a necessidade urgente de ocupar uma terra improdutiva que não cumpria sua função social, buscando assim um lugar comum de convívio indígena e de produção coletiva. Segundo a liderança indígena Marinalva Kamakã Mongoió:

“Lutamos por terra, moradia, preservação e resgate da cultura tradicional e formas dignas de sobrevivência. Ao longo dos anos sofremos abandono, descaso e discriminação por estarmos vivendo no contexto urbano, sem acesso às políticas públicas por simplesmente estarmos ‘desaldeados’. Temos os nossos direitos indígenas já conquistados em lei. Não abriremos mão deles.”



Figura 6- Primeira Retomada Indígena na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Lideranças mulheres Kamacã-Mongoió. Fazenda Santa Teresa. Município: Esmeraldas, MG. Foto: A. Baeta. Maio de 2017.


Fizeram no local ocupado a capina do mato para plantio de hortas, feijão, mudas frutíferas e plantas medicinais, alimentos que ajudam na subsistência da comunidade que ali se encontra. Esta ocupação e retomada de território apresenta-se como importante marco para a história indígena de Minas Gerais, necessitando do apoio e atenção da sociedade organizada e da população em geral. Todavia, após sequenciais reuniões e mesas de negociação junto ao estado, o descaso, ameaças e represálias à comunidade Kamacã Mongoió permanecem, exigindo uma postura firme e decisiva por parte do Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União (DPU) e da Defensoria Pública Estadual (DPE) em defesa desta legítima retomada indígena. A insegurança jurídica que a comunidade vive dificulta que a mesma possa desenvolver plenamente os projetos, parcerias e ideias de cunho comunitário, que tem potencial para se revelar um importante núcleo de referência da cultura, da agroecologia e de educação indígena na RMBH. Após estes anos, espera-se que o governo mineiro e os demais órgãos responsáveis e competentes assumam definitivamente o compromisso com esta comunidade e regularize o seu território, como almejado.



Figura 7- Primeira Retomada Indígena na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Etnia: Kamacã-Mongoió. Fazenda Santa Teresa. Município: Esmeraldas, MG. Foto: A. Baeta. Outubro de 2018.


Outra retomada indígena na RMBH ocorreu no município São Joaquim de Bicas, em novembro de 2017, em parte de uma das fazendas atribuídas ao megaempresário da área de mineração e especulador imobiliário, Eike Batista. Inicialmente, a retomada ocorreu por iniciativa de uma comunidade indígena Puri (Aldeia Uxô Mehtl’om)13 situada rente ao rio Paraopeba. Em seguida, a ocupação tornou-se provisoriamente multiétnica com a chegada de famílias Pataxó, Karajá e Pataxó Hãhãhãe, (cuja origem é do Sul da Bahia), contudo, a partir do final do ano de 2018, permaneceram somente famílias Pataxó Hãhãhãe na localidade, que ficou conhecida como Aldeia Naô Xohã. (MOREIRA, 2018; PIMENTEL, 2020) Fundamental que se efetue, urgentemente, a concessão de uso definitivo da terra para as comunidades indígenas que ali estão, severamente prejudicadas e atingidas em 25 de janeiro de 2019 pelo crime/tragédia socioambiental decorrente do rompimento da barragem de rejeito Córrego do Feijão de propriedade da mineradora Vale S/A, no distrito homônimo, município de Brumadinho, MG. O rio Paraopeba foi atingido por uma lama tóxica de rejeitos minerários, tornando-o nocivo, prejudicando gravemente os modos de vida e a saúde desta comunidade, dentre outras da região, como os pescadores artesanais, ribeirinhos, quilombolas, agricultores familiares e habitantes em geral.



Figura 8- Reunião de indígenas de várias etnias na Retomada Indígena de São Joaquim de Bicas-RMBH, com representantes da FUNAI/MG com a participação de representantes da CPT e do CEDEFES. Foto: A. Baeta. Outubro de 2018.

O advento da pandemia do novo coronavírus, a Covid-19, que assola desde março de 2020 o Brasil, veio desnudar em definitivo este quadro de racismo institucional e estrutural de abandono das populações indígenas citadinas. O registro de indígenas que estão contaminados ou que chegaram a óbito que moram nas cidades não vem sendo considerados pela SESAI, que insiste, injustamente, que o atendimento para o novo coronavírus tem que ser procurado no Sistema Único de Saúde (SUS) pelos indígenas que habitam em cidades. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), associação nacional de entidades que representam os povos indígenas do país, divulgou uma nota onde denuncia a exclusão de atendimento aos indígenas que estão fora de territórios indígenas, bem como a falta de testes rápidos e dados divulgados subnotificados de Covid-19.

“Nós da APIB repudiamos esta medida e exigimos a revogação urgente da portaria 070/2004 para garantir que a SESAI atenda todos os indígenas, aldeados ou não. É uma ação de racismo institucional que invisibiliza e desassiste os povos indígenas que vivem em áreas urbanas. Somos indígenas dentro ou fora de nossos territórios. Estamos em uma situação de grande vulnerabilidade, com risco real deste novo vírus causar outro genocídio […]”.14

Marcivana Paiva, do grupo étnico Sateré Mauwé, que fez parte da delegação brasileira como representante indígena que esteve com o Papa Francisco durante o Sínodo para a Amazônia15, em outubro de 2019, no Vaticano, alerta para a alta suscetibilidade de indígenas, estejam eles na cidade ou nos territórios ao contágio de gripes e pandemias em geral. Ela afirma:

“Essa política nos divide e temos sofrido muito mais com essa pandemia. Estamos vendo o quanto somos excluídos e invisibilizados. Indígena é indígena em qualquer lugar, não importa onde esteja”. 16

A inclusão dos povos indígenas como grupo prioritário no plano de vacinação nacional foi fruto da luta ferrenha dos movimentos e organizações indígenas no Supremo Tribunal Federal-STF (ADPF 709), pois é maior a letalidade da Covid-19 entre os povos indígenas.

A Apib lançou em 2021 a campanha: “Vacina, parente!”, visando conscientizar sobre a importância da vacinação no combate à disseminação do novo coronavírus, cobrando do poder público a vacinação para toda a população indígena, estimulando a autodeclaração, pois é preciso identificar os indígenas os vacinando urgentemente, estejam eles nas aldeias, como também em pequenas e grandes cidades em todo o país. Apesar de continuar a ser continuamente violado, sobretudo no âmbito dos grandes interesses do agronegócio, da mineração e especulação imobiliária, o instituto do Protocolo de Consulta livre, prévia e informada, tornou-se poderosa ferramenta política na defesa dos direitos indígenas (e demais povos tradicionais), também nas cidades, especialmente na América Latina, onde está o maior número de países que já ratificaram e incluíram em sua legislação nacional as disposições da supracitada Convenção 169.

Apesar da invisibilidade e exclusão que os indígenas sofrem nas cidades, muito bom lembrar que eles foram os primeiros a pisar nestas terras. Esta também é a situação de Belo Horizonte e da chamada RMBH e seus arredores, marcados por inúmeros sítios arqueológicos e vestígios que comprovam ocupações humanas pré-coloniais, ou seja, de tempos imemoriais.

Quando a capital mineira comemorava 50 anos, o então presidente da Academia de Ciências e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHG/MG), Professor Aníbal Mattos escreveu sobre os moradores originários do território belo-horizontino, tendo registrado fotografias de peças, tais como, pedaços de potes cerâmicos, rodas de fuso, instrumentos de pedra ou líticos, dentre eles, machados, batedores e bigornas, provenientes de antigas aldeias indígenas existentes principalmente nas regiões do Horto Florestal, no Bairro Santa Inês, e no Córrego do Cardoso, no Bairro Santa Efigênia (WERNECK, 2017).



Figura 9 – Fotos de peças arqueológicas encontradas entre 1938 e 1947 na região do Horto, em BH, hoje Museu de Historia Natural e Jardim Botânico da UFMG. Fonte original: “Arqueologia de Belo Horizonte”, de Aníbal Mattos/Reprodução/Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais-IHG/MG.


Em seu texto, o escritor e pesquisador Mattos revelou ainda que as melhores peças encontradas por Soares de Gouvêa, que trabalhou em escavações na região do antigo Horto Florestal, hoje parte do Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (MHNJB/UFMG),

“tinham sido enviadas a Roquette Pinto, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro”. E ressaltou: “Das jazidas arqueológicas que devem ter existido aqui, a mais importante até agora é a do Horto Florestal”.17

É provável que o acervo arqueológico da “Pré-Belo Horizonte”, acima mencionado, caso estivesse acondicionado na reserva técnica do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio Janeiro, tenha sido destruído no trágico incêndio ocorrido em setembro de 2018, juntamente com o acervo de 20 milhões de itens, dentre eles, fósseis, artefatos africanos, pré-colombianos, múmias egípcias e livros raros. Não há como mensurar tamanho prejuízo ao patrimônio cultural e à história natural, consequência de irresponsabilidades e do descaso com a memória ancestral e com os povos tradicionais de todo o mundo. Este quadro foi severamente agravado no âmbito estadual com o incêndio inaceitável, no dia 15 de junho de 2020, em um dos prédios da reserva técnica do próprio Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, em Belo Horizonte, que destruiu coleções etnográficas e arqueológicas oriundas de escavações realizadas nos últimos decênios em distintas regiões de Minas Gerais – que perde mais uma vez com esta outra imensa tragédia e irreparável.

Nunca é tarde para chamar atenção sobre memórias destruídas, obliteradas e direitos violados. Um passado milenar que tentam escamotear e esmaecer de várias maneiras, negando o importante lastro e legado dos povos originários que percorreram e habitaram o(s) território(s) que hoje conhecemos como Região Metropolitana de Belo Horizonte e seus arredores. Mas também é tempo de chamar muita atenção a um possível futuro nas cidades, que se viável, deverá fatalmente recuperar os ensinamentos e relações do bem viver comunitário dos povos tradicionais em geral, suas distintas exegeses, inserções, demandas, existências e territorialidades nas urbes.

Referências

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BAETA, Alenice & PURI WAYÁ, Kapua Lana Primeira Ocupação de Indígenas da Região Metropolitana de Minas Gerais. Combate Racismo Ambiental. 17 de Maio de 2017. Disponível em: https://racismoambiental.net.br/2017/05/17/primeira-ocupacao-de-indigenas-da-regiao-metropolitana-de-belo-horizonte-rmbh/ Acesso: 17 de Maio de 2017.

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Sites e Blogs Consultados

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1 Doutora em Arqueologia pelo MAE/USP; Pós-Doutorado Antropologia e Arqueologia-FAFICH/UFMG; Mestre em Educação pela FAE/UFMG; Historiadora e Membro da ONG CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva). Email: alenicebaeta@yahoo.com.br


2 Este artigo, apresentado durante o Seminário “Roça Grande: Naturezas-Culturas da Cidade”, promovido pelo Laboratório de Estudos BioCulturais – KAIPORA/UEMG e pelo Programa Cidade e Alteridade/UFMG, buscou agregar novas informações a partir dos dados do projeto desenvolvido pelo Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva intitulado: “Indígenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH, identificação e subsídios para a sua organização” (Coord. BAETA, A.), CEDEFES/Governo da Áustria-KMB, Belo Horizonte, 2009.


3 http://cpisp.org.br/indios-em-sao-paulo/terras-indigenas/indios-na-cidade/


4 https://cimi.org.br/2016/01/38096/


5 Em 2018 foi elaborado o Protocolo de Consulta do povo Waro que se encontra em Belém (considerado modelo), quando centenas de indígenas Warao puderam ser ouvidos por instituições de estado ligadas à justiça, segurança pública, assistência social e educação, além de entidades da sociedade civil organizada. Além do MPF, apoiaram a produção do PCPLI dos Warao em Belém: Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), as defensorias públicas da União (DPU) e do Estado do Pará (DPE), as secretarias estaduais de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), de Educação (Seduc) e Saúde (Sespa), a Universidade do Estado do Pará (Uepa), a Fundação Papa João XXIII (Funpapa), as secretarias municipais de Saúde (Sesma) e de Educação (Semec), a Cáritas Brasileira – Regional Norte 2, e voluntários. Em 2021 foi lançada versão em vídeo do mesmo protocolo autodeclaratório. Fonte:

http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/indigenas-warao-em-belem-pa-lancam-versao-em-video-do-protocolo-de-consulta-previa-livre-e-informada


6 Três aldeias Guarani localizadas nas zonas sul e oeste (Terras Indígenas Jaraguá, Barragem, Krukutu e Tenondé Porã) onde vivem 867 índios.(Cf. FARIA, 2016)


7 Uma aldeia Guarani, localizada na zona leste – Território Lomba do Pinheiro. ( Cf. MASSARO, 2017)


8 Aldeia Indígena Charrua Polidoro. (Cf. VICTORA, 2011)


9 Etnia Pankararu do Bairro Real Parque. (Cf. NAKASHIMA & ALBUQUERQUE, 2011)


10 Unidades urbanas Marçal de Souza, Água Bonita, Tarsila do Amaral e Darcy Ribeiro de indígenas das etnias Guarani, Kadiwéu e Terena. (Cf. BATISTOTI & LATOSINSKI, 2019)


11 Kaigang Guarani e Xetá – Comunidade Kakané Porã. (Cf. FACHINI, 2018)


12 Os índios conhecidos sob o etnônimo englobante Pataxó Hãhãhãe abarcam, hoje, as etnias Baenã, Pataxó Hãhãhãe, Kamakã, Tupinambá, Kariri-Sapuyá e Gueren, habitantes de várias localidades das regiões sudoeste e sul da Bahia.


13 https://gilvander.org.br/site/retomada-indigena-em-sao-joaquim-de-bicas-mg-segue-em-frente-e-se-fortalece/


14 http://apib.info/2020/04/18/alerta-apib-02-covid-19-e-povos-indigenas/


15 O Sínodo para Amazônia foi uma resposta do Papa Francisco à realidade da Pan-Amazônia, cujo objetivo foi identificar novos caminhos para a evangelização de sua população, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta.


16 https://amazoniareal.com.br/coronavirus-indigenas-que-vivem-na-cidade-sao-classificados-como-brancos-no-amazonas/


17 https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/12/10/interna_gerais,923465/vestigios-arqueologicos-dao-pistas-sobre-a-pre-historia-de-belo-horizo.shtml

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/04/2021




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/04/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/04/27/indigenas-nas-cidades-memorias-esquecidas-e-direitos-violados/