segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Bolsista da FAPERJ tem tese sobre Nise da Silveira premiada pela Capes

Com um olhar que valoriza as ideias e a forma inovadora de tratamento psíquico, para além da figura mítica da psiquiatra Nise da Silveira, o antropólogo Felipe Magaldi foi o vencedor da categoria Antropologia do Prêmio Tese Capes de 2019. Magaldi realizou seus estudos no Programa de Pós-graduação em Antropologia do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e contou com a bolsa "Doutorado Nota 10" da FAPERJ nos dois últimos anos de sua pesquisa.

“O trabalho de Nise foi reconhecido no âmbito da cultura e ela conquistou uma imagem heroica nesse meio, especialmente no Rio de Janeiro. Além deste aspecto, procuramos destacar na tese suas colaborações dentro da Psiquiatria para que sua contribuição volte a ser discutida em âmbito nacional, na formulação de políticas públicas e no campo médico e psicológico”, diz Magaldi. Ele teve como orientador o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte, ex-diretor do Museu Nacional, que também mereceu distinção especial dos organizadores do prêmio. O Prêmio Capes de Teses é atribuído pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência do Ministério da Educação, desde 2006, tendo se tornado uma vitrine da excelência do trabalho de pesquisa realizado no País.

O trabalho de campo foi realizado nas instituições que se dedicam a manter viva a memória da médica no Rio de Janeiro, com destaque para o Instituto Municipal Nise da Silveira, no bairro do Engenho de Dentro, e a Casa das Palmeiras, em Botafogo. Além disso, o autor realizou um mapeamento da obra da médica – livros, artigos, entrevistas, catálogos, audiovisuais, reportagens, teses e dissertações – dispersa em sebos, arquivos públicos e acervos pessoais. Magaldi também entrevistou alguns de seus ex-colaboradores vivos. “O objetivo foi analisar a trama de atores e instituições desenvolvida através da trajetória de Nise da Silveira a partir da década de 1940, bem como o consequente surgimento de um saber original, que pressupõe tanto um método de tratamento em saúde mental quanto um tipo de conhecimento sobre a condição humana”, conta.

Conhecida e autonomeada como psiquiatra rebelde, Nise da Silveira ganhou esse apelido após se recusar, em 1944, a aplicar o eletrochoque como tratamento. Ela acabava de retornar ao trabalho como médica no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, após passar sete anos em exílio pelo Norte e Nordeste do País com seu marido, o médico sanitarista Mário Magalhães. Antes disso, Nise havia passado um ano e quatro meses na prisão, denunciada como comunista durante o governo de Getúlio Vargas. No período em que esteve presa, presenciou cenas marcantes que a motivaram a se negar a praticar a eletroconvulsoterapia.

“Quando entrei para o hospital, em meados da década de 1940, o tratamento em voga mais usado era o eletrochoque que provocava crises convulsivas, perda de consciência, mal-estar terrível, e também o coma insulínico. Doses eram injetadas e levavam o indivíduo a um estado de coma. Esses eram os principais tratamentos quando voltei das minhas aventuras de prisão, demissão e etc. e encontrei o ‘moderno’. Era o que tinha que aprender e praticar, mas a isso não me adaptava, não conseguia aceitar esses tratamentos”, disse Nise, em entrevista a Ferreira Gullar, em 1987.

Ao se deparar com trechos como o da entrevista a Gullar, Magaldi chama a atenção para a necessidade de um olhar que não esqueça a relação com a história. “Tento mostrar porque ela teve que ser rebelde, em reação ao modus operandi biomédico naquela conjuntura histórica específica. E ela foi uma das primeiras médicas no Brasil a fazer esse movimento de recusa a essas práticas, influenciada pelas ideias da psicanálise em Carl Jung, da filosofia de Spinoza e da dramaturgia de Antonin Artaud, entre outros autores”, diz.


Hotel da Loucura: inspirado na obra de Nise, projeto ganhou destaque na tese de Magaldi (Foto: Arquivo pessoal)


A recusa por parte de Nise a aplicar as técnicas em voga, levaram a diretoria do hospital a isolá-la no espaço de terapia ocupacional. Foi então que ela se associou ao artista plástico Almir Mavignier, que até então realizava trabalhos burocráticos, para a montagem de um ateliê no local. E é por esse trabalho que ela ganhou seu maior reconhecimento, especialmente no campo artístico. Amiga do crítico de arte Mário Pedrosa, as obras produzidas no hospital logo levaram a produção interna às galerias de arte. No entanto, de acordo com Magaldi, a maior preocupação dela estava na capacidade da pintura acionar o inconsciente e permitir a expressão daqueles que tinham sua comunicação oral comprometida, ou seja, seu foco estava no tratamento e não necessariamente no potencial estético.

Nise também se recusava a chamar os internos do hospital de “pacientes” e pedia que os chamassem de “clientes”, como forma de lembrar que todos ali estavam recebendo um serviço do Estado, e também em alusão ao ditado popular de que “o cliente tem sempre razão”. Ao destacar as ideias e técnicas utilizadas pela psiquiatra, Magaldi põe ênfase no papel do afeto. “A ideia do afeto como catalisador do processo de cura pressupunha que nenhum tratamento seria eficiente se não houvesse essa presença interessada da parte dos terapeutas. E essa noção de afeto ainda é algo que é preciso ser batalhado na questão do modelo manicomial que, na prática, se sustenta em internações e na hiperdosagem de psicofármacos”, defende.

O trabalho desenvolvido por Nise, retratado em filme com Glória Pires como protagonista, não ocorreu sem retaliações, e Magaldi dedica um capítulo de sua tese a alguns desses episódios. Entre os atos mais marcantes está o envenenamento dos cães e gatos que a psiquiatra utilizava como parte do tratamento, na década de 1970. “Nise da Silveira incomodava, pois inscrevia uma presença feminina, imigrante, nordestina, marcada por uma trajetória política comunista, em um meio masculino e conservador. Através de seu trabalho, animais, plantas e pacientes psiquiátricos passavam a ganhar o estatuto de pessoa, enquanto os médicos adeptos das práticas violentas eram denunciados como desumanos”, comenta.

Nise da Silveira morreu em 1999, aos 94 anos, mas sua produção continua viva no Centro Psiquiátrico Pedro II, que desde 2001 tornou-se o Instituto Municipal Nise da Silveira e mantém o atendimento dentro dos moldes preconizados por Nise no Engenho de Dentro, Zona Norte carioca. O local abriga o Museu de Imagens do Inconsciente, que reúne o trabalho dos clientes que passaram pelo local ao longo das décadas. Em 1956, ela já havia criado sua própria instituição, a Casa das Palmeiras, inicialmente fundada na Tijuca e atualmente localizada em Botafogo, Zona Sul do Rio. A Casa é destinada a dar continuidade ao trabalho terapêutico com os egressos de internações psiquiátricas. Entre os projetos que ela influenciou a criar postumamente estão o Hotel da Loucura, que ocupou o próprio Instituto no Engenho de Dentro e até mesmo um bloco de Carnaval, o Loucura Suburbana.


Em sua tese, Magaldi resgatou obras raras da médica e deu ênfase ao seu método de tratamento, nomeado por ele de 'psiquiatria rebelde' (Foto: Divulgação)


Em vida, a psiquiatra nunca defendeu explicitamente a bandeira dos Direitos Humanos ou se articulou em torno de um grupo da antipsiquiatria, ao contrário do que ocorreu em países europeus, por exemplo. Diante dessa pouca preocupação em nomear sua atividade ou criar um movimento em torno do seu trabalho, Magaldi propõe chamar a atividade de Nise de “psiquiatria rebelde”, em menção a seus próprios termos. E é a partir da atuação de Nise, principalmente pela sua figura e menos por suas ideias, que ainda circulam pouco, de acordo com o pesquisador, que ela influenciou a reforma psiquiátrica realizada no Brasil na década de 1990 que alia preocupação com Direitos Humanos e humanização do tratamento.

Ao destacar que o trabalho de Nise já é bastante reconhecido nos círculos ligados às artes, Magaldi procura compreender o pouco reconhecimento do trabalho da psiquiatra no âmbito acadêmico e dentro dos tratamentos preconizados pela Psiquiatria e pela Psicologia, chamando a atenção para a persistência do ideal de uma ciência positivista e de uma visão estritamente biomédica. “O prêmio Capes ajudou a dar visibilidade ao meu trabalho e me colocou em contato com inúmeros profissionais dessas áreas, com a perspectiva de ministrar cursos. Acredito que essa difusão irá ajudar na ativação da memória do trabalho realizado por ela e que possa estimular aqueles que trabalham com saúde mental”, diz o pesquisador. O antropólogo também lembra que, por outro lado, algumas áreas da Biologia e da Neurociência passaram a se aproximar dos ideais de Nise da Silveira, como nos estudos da plasticidade da mente e a contribuição de fatores ambientais para acionamento de genes. "Em todos os casos, trata-se de afirmar a possibilidade de transformação e de regeneração – ou seja, de cura – dos organismos vivos diante de suas condições concretas de existência, seja do ponto de vista físico ou psicológico", completa.





Autor: Juliana Passos
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/09/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3844.2.0

Diálogos da Inovação discute rumos da saúde diante das novas tecnologias

A Casa Firjan promoveu, em parceria com a FAPERJ, nesta quarta-feira, dia 25 de setembro, o Diálogos da Inovação na Saúde, com objetivo de identificar quais as oportunidades e os gargalos a serem superados para garantir o desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro nesse setor. Em pauta, as tendências de inovação na área da saúde e as iniciativas de vanguarda que podem ser adotadas. A jornalista e especialista de Projetos Especiais da Firjan, Julia Zardo, apresentou o evento, que foi transmitido em tempo real pela Internet. Ela explicou aos novatos na plateia (cerca de 40% dos inscritos) que a Casa Firjan tem o compromisso de pensar o futuro a partir das mudanças trazidas por novas tecnologias e hábitos de consumo, que devem ser acompanhadas pelas empresas e toda a sociedade. E reforçou que a série Diálogos da Inovação pretende ser uma ponte entre diversos setores para o enfrentamento dos desafios de uma nova economia e uma sociedade em transformação.

O diretor de Tecnologia da FAPERJ, Mauricio Guedes, abriu o debate destacando o perfil dos três palestrantes, diferentes e complementares, e convidou os presentes para o próximo encontro, em 30 de outubro, que discutirá “Dados e Negócios”. Em seguida, anunciou a presença do presidente da FAPERJ, Jerson Lima, a quem passou a palavra. Lima parabenizou a Firjan pela parceria e garantiu que ele e toda a diretoria têm trabalhado incansavelmente para apoiar alunos desde a pré-iniciação científica até o pós-doutorado. Lembrou que a FAPERJ passará a apoiar, por decisão do governador Wilson Witzel, os participantes das Olimpíadas da Matemática. Ele destacou que sendo da área da saúde, setor que no Estado do Rio têm um histórico de excelência, está otimista quanto a possibilidade de o setor fazer a transição, acompanhando e agregando inovações.

“Sabemos que nos Estados Unidos e na Europa existem startups na área da saúde que valem de US$ 100 a 200 milhões, e que, eventualmente, são adquiridas por grandes empresas do setor. Espero que isso também possa acontecer aqui no Rio”, disse. O titular da FAPERJ informou que até o momento a Fundação já empenhou recursos que superam o montante liberado em 2018 e que a agência continua defendendo arduamente que a Constituição seja cumprida no que se refere ao percentual de repasses obrigatórios, além de estar se empenhando para pagar todos os atrasados. Por fim, o presidente da FAPERJ convidou o público presente para a cerimônia de entrega dos termos de outorga aos comtemplados nos editais Cientista do Nosso Estado, Jovem Cientista do Nosso Estado e Rede de Nanotecnologia, a ser realizado nesta sexta (27/09), no Museu do Amanhã, e informou que em breve novo edital será lançado para apoiar micro, pequenas e médias empresas.

O primeiro palestrante foi Ariel Dascal, diretor de Transformação Digital da rede D’Or São Luiz, com passagem pela Oi e Telefônica. Formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP), Dascal afirmou que a busca pela inovação é uma necessidade impulsionada pelas pressões por mudanças que agreguem valor aos processos. Para ele, as principais pressões por mudanças sofridas pelo sistema de saúde em todo o mundo é o aumento do envelhecimento da população mundial e a experiência digital da sociedade. Segundo ele, o Brasil já soma 29 milhões de pessoas com mais de 60 anos e a projeção para 2030 é que chegue a 42 milhões. Diante deste cenário, Dascal acredita que a principal mudança na pirâmide da saúde será a predominância das doenças crônicas, o que deverá aumentar a atenção com a prevenção e a gestão da saúde, gerando um aumento no custo da saúde em todo o mundo. Estimativas do Instituto Coalização Saúde mostram que idosos com mais de 60 anos gastam 1,8 vezes mais com consultas, exames e internações do que a faixa etária de 15 a 39 anos. Mantendo a tendência, atual, explica Dascal, o custo com saúde no Brasil passaria de 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB) hoje, segundo dados do IBGE, para 25% do PIB em 2030.

Em sua opinião, as inovações a serem adotadas pelo setor devem considerar as mudanças nos hábitos do consumidor brasileiro, que se tornou digital e em 73% do tempo em que está ativo está também conectado via celular, computador etc. Dados indicam que 31 milhões de brasileiros utilizam múltiplas plataformas digitais e possuem três ou mais telas. São Paulo é o líder mundial de utilização do aplicativo Waze, de navegação no trânsito. Segundo Dascal, todas essas transformações vêm impactando muitas empresas e negócios, que já incorporaram várias mudanças. “Muitas atividades que anteriormente dependiam de tempo e deslocamento, hoje podem ser resolvidas pelo celular, como operações bancárias, transporte, alimentação etc. Na saúde, é importante considerar que o paciente passou a ser agente da sua própria saúde”, afirma.

Segundo levantamento de 2018, 47,4 milhões de brasileiros possuem plano de saúde, número que vem caindo devido à crise econômica e ao desemprego. Para que o percentual de segurados particulares não caia ainda mais, o que pressionaria o já precário sistema público, Dascal acredita em novas formas de pagamento, focada em resultados, coparticipação, clínicas populares e verticalização das operadoras. Grandes empresas em todo o mundo buscam formas de se valer da tecnologia para promover a longevidade e a redução de custos com o tratamento e a gestão da saúde de seus colaboradores. Para ele, a proliferação de startups health techs pode auxiliar este processo.

“É preciso discutir um modelo de transformação digital do setor”, disse o executivo da Rede D’Or. Segundo ele, o Brasil possui mais de 500 startups health techs, que desenvolveram produtos voltados para o setor da saúde e há muitos investidores interessados nesse nicho. Deu o exemplo da China, onde a telemedicina já realiza 300 mil consultas por dia, e citou casos de como a Inteligência Artificial já está presente em toda a cadeia da saúde. “No mundo das transformações exponenciais, tanto as novas tecnologias quanto os novos players estão fazendo pressão por mudanças”, disse o executivo. Para ele, do ponto de vista de um hospital, o foco da transformação digital deve estar baseado em quatro pilares: no empoderamento e experiência do paciente, no suporte e personalização do médico, na digitalização e disponibilização de informações em tempo real para hospitais e clínicas, e, do ponto de vista do setor, a prevenção e a promoção da saúde. No caso da Rede D’Or, que agrega seis milhões de pacientes e possui mais de 45 hospitais, a transformação digital é um grande desafio. Segundo Dascal, o grupo está procurando se integrar, em rede, ao cenário da inovação, incluindo contratos com quatro startups, para evitar surpresas no futuro. Os próximos passos serão voltados para a área do paciente e do médico.

Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o coordenador de Ações de Prospecção da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Carlos A. Grabois Gadelha, segundo palestrante da tarde, acumula uma experiência de atuação em diversas áreas, tendo ocupado as Secretarias de Programas de Desenvolvimento Regional do Ministério de Integração Nacional; de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde; e Desenvolvimento e Competitividade Industrial no Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comercio Exterior. Como coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Desenvolvimento, Complexo Econômico Industrial e Inovação em Saúde da Fiocruz, vê o setor como uma grande oportunidade, de negócios, empregos e desenvolvimento social.

Sua palestra, intitulada Desenvolvimento, Inovação e Saúde: o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis), Desafios para o Rio de Janeiro discutiu a saúde com uma visão de oportunidade, considerando que o desenvolvimento pode ser ao mesmo tempo social, econômico, territorial e com base na ciência, tecnologia e inovação, sem necessidade de se fazer escolhas entre essas áreas. Gadelha deu o exemplo do pós-guerra para validar a existência de uma “evidência empírica” de que essas dimensões podem ser articuladas. O economista parte da ideia de que temos, na saúde, um sistema produtivo potente e que só tende a crescer, assim como os gastos com saúde, em função do aumento da longevidade e da redução da mortalidade infantil. “Promoção da saúde é bom, mas também aumenta os gastos”, brincou.

Gadelha considera a saúde a área mais dinâmica do Século XXI, que crescerá no PIB de modo acelerado, que gera intensivo conhecimento em ciência, tecnologia e inovação, e que necessariamente tem uma dimensão local. Ele enfatizou que não há como dissociar as transformações sociais e institucionais das econômicas, nos sistemas produtivos e na C,T&I. O economista mostrou o mapa mundial das assimetrias internacionais a partir da complexidade econômica dos países, e um gráfico que mostra o Brasil perdendo complexidade econômica e voltando a se basear num modelo de exportação de produtos extrativos, em vez de ciência e tecnologia.

Para Gadelha, apesar das desigualdades sociais ainda persistentes no País, saúde é um fator estruturante de bem estar posto que a qualidade de vida é um direito, um forte indutor de desenvolvimento econômico, fator de equidade social e regional, sendo base do desenvolvimento sustentável e tendo ainda papel importante na geopolítica global. Ele defende que a competição faz bem à saúde, não os monopólios. “É um problema sistêmico. O que é setorial é a nossa cabeça. Nesse sentido, sou um liberal”, afirmou, defendendo o papel das startups para reduzir a concentração de conhecimento e poder do setor. Em sua opinião, o complexo da saúde é ultra potente e interdependente, tendo o Estado como promotor e regulador do sistema e as indústrias e os serviços em interação. Segundo ele, o setor de saúde no Brasil emprega 20 milhões de trabalhadores (diretos e indiretos), agrega 10% dos trabalhadores melhor qualificados, concentra 35% do esforço nacional em pesquisa e desenvolvimento e detém plataformas das tecnologias críticas para o futuro como biotecnologia, nanotecnologia, inteligência artificial, big data, internet das coisas, entre outras.


FAPERJ marcou presença no debate sobre inovação: o presidente Jerson Lima (à dir.) e o diretor de Tecnologia, Mauricio Guedes, prestigiaram o evento, que discutiu os rumos da Saúde no País


Em sua opinião, o complexo econômico-industrial da saúde está sendo revolucionado pela 4ª Revolução Tecnológica. “Hoje, com a hiperdigitalização, não sabemos o que é serviço e o que é produto. Eles se misturam, se complementam. “É o diagnóstico ligado ao tratamento e ao cuidado”, explica Gadelha. Entretanto, ele faz um alerta aos empresários que pretendem ingressar no setor. “Se não gosta do Estado, não trabalhe na saúde, pois é um setor regulado, no qual há ética na pesquisa”, acrescentando que o público e o privado são complementares e passíveis de vários arranjos positivos.

Apesar da evolução na produção científica no País, que hoje ocupa a 14ª posição no ranking mundial, Carlos Gadelha chamou atenção para a falta de crescimento na produção do setor de saúde, que amarga resultado negativo na balança comercial, o que para ele significa que o conhecimento não está sendo transformado em riqueza. Ele ressalta que o investimento em um único equipamento para a área da saúde pode gerar/agregar uma dezena de outras áreas e conhecimentos. Suas estimativas são de que as importações para a saúde representem hoje R$ 80 bilhões, diante do orçamento do Ministério da Saúde de R$ 110 bilhões. Como agravante, a presença da indústria farmacêutica no Rio de Janeiro caiu pela metade. Como provocação final, Gadelha lançou a pergunta: “O Brasil será apenas consumidor e reprodutor de inovação ou vamos entrar no jogo?” E desafiou a todos a romper barreiras cognitivas e políticas “pensando fora da caixa e para dentro da sociedade brasileira”.

A médica ginecologista Renata Aranha, cofundadora da venture builder Atol, que busca identificar, estruturar e potencializar negócios com potencial de impacto econômico, e da Entropia, uma rede de inovação e empreendedorismo, finalizou os debates com uma provocação como título de sua palestra: “Onde estão seus dados de saúde?” Para ela, as farmácias que frequentamos regularmente e os laboratórios onde realizamos exames sabem muito mais do nosso histórico de saúde do que nós mesmos. “Quem não está se apropriando desses dados somos nós”, afirma.

Doutora e mestre em Epidemiologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Renata lembrou que nosso modelo de negócio da saúde é baseado na doença, no qual cada setor (operadora de planos, hospitais, clínicas de exames e indústria farmacêutica) tem seus interesses específicos e muitas vezes conflitantes. “O que incentiva, o que remunera, o que faz essas pessoas investirem em seus modelos de negócios é a doença, e não a saúde”, afirmou. Renata falou da ineficiência dos investimentos em saúde, dos quais 30% são desperdiçados por conta de abusos e fraudes no País. Por isso, ela defende a mudança do foco de intenção, propõe o alinhamento de todos os atores envolvidos na busca da saúde e do bem estar por meio da prevenção e do pagamento por hábitos saudáveis.

Médica com trajetória acadêmica, Renata fez pós-doutorado em Educação porque acredita ser um caminho para se aproximar mais das pessoas. Seu foco mudou radicalmente quando de médica passou a ser paciente. Foi no oitavo mês de gestação, quando enfrentou uma pré-eclâmpsia grave (Síndrome Hellp), que a levou para um CTI. Como acreditar que estava enfrentando um problema totalmente conhecido por ela, dentro da sua própria especialidade, só porque não identificou o momento crítico em que sua pressão subiu demais? A partir desse episódio, passou a querer sensibilizar as pessoas para elas mesmas monitorarem suas doenças, cuidarem da saúde, prestarem mais atenção em si. Sua opção foi, então, trabalhar com tecnologia que chega até as pessoas, como, por exemplo, um software que monitora a pressão sanguínea a custo acessível, e que até poderá ser compartilhado por várias grávidas de um grupo de amigas.

Foi para levar o conhecimento da pesquisa científica acadêmica ao máximo de pessoas que Renata mudou radicalmente sua vida e passou a empreender. “A minha casa virou uma empresa, um movimento para desenvolver soluções tecnológicas para prevenção de doença”, disse. Ela defende o auto monitoramento de cada pessoa em sua própria casa, se apropriando do histórico de dados “espalhados por aí”. Ela defende, inclusive, que o compartilhamento de dados pessoais seja uma opção do indivíduo para colaborar com atores da saúde, como a indústria farmacêutica, por exemplo, que poderá aplicar os resultados em suas pesquisas.

Renata propõe um modelo de carteira digital, que reúna todas as informações e histórico de saúde do paciente, podendo ser fornecido de forma anônima a vários atores do setor em troca de alguma recompensa, não necessariamente monetária. Em sua opinião, a competição não deve ser pelos dados dos pacientes, mas pela melhor gestão, ferramenta e eficiência. Diante da concentração de dados pessoais em empresas como Google, Facebook etc. Renata defende o blockchain, ou seja, as redes sem intermediários, dando o direito às pessoas de realizarem sua própria governança a partir de pactos pré-estabelecidos, em negócios auto implementados.




Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/09/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3847.2.6

FAPERJ faz entrega de termos de outorga no Museu do Amanhã

Nesta sexta-feira, dia 27 de setembro, em auditório do Museu do Amanhã, na Zona Portuária do Rio, o presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, junto com a Secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Leonardo Rodrigues, e o governador Wilson Witzel, entregarão aos 200 Cientistas do Nosso Estado (CNE) e mais 158 Jovens Cientistas do Nosso Estado (JCNE) os termos de outorga dos seus projetos aprovados na mais recente edição desses programas de fomento à pesquisa, realizado anualmente pela FAPERJ. A cerimônia, marcada para as 10h, também incluirá a entrega das outorgas aos agraciados no edital Redes de Pesquisa Cooperativa em Nanotecnologia, outro edital lançado pela Fundação, no início de abril, que prevê investimentos superiores a R$ 30 milhões.

Para o presidente da FAPERJ, a realização de cerimônia em museu que leva "amanhã" no nome é bastante emblemático. "Faremos a entrega de outorgas de três importantes editais lançados pela agência em 2019. São investimentos destinados a assegurar que a pesquisa fluminense continuará tendo lugar de destaque nos próximos anos", disse Jerson Lima Silva. "O programa de formação de redes em nanotecnologia terá impacto determinante na pesquisa e desenvolvimento em nanomateriais e novos dispositivos, setor extremamente importante para a retomada da atividade industrial do estado do Rio de Janeiro. Os outros dois editais, Cientista do Nosso Estado e Jovem Cientista do Nosso Estado, são dois dos programas mais concorridos da Fundação, e que contempla a pesquisa de excelência fluminense", acrescentou.

Os programas CNE e JCNE destinam-se a apoiar, por meio de concorrência, projetos coordenados por pesquisadores de reconhecida liderança em sua área, com vínculo empregatício em instituições de ensino e pesquisa sediadas no Estado do Rio de Janeiro. Selecionados entre as 1.167 propostas submetidas, os contemplados receberão uma bolsa mensal no valor de R$ 3 mil (CNE) e R$ 2.400 (JCNE), durante 36 meses, totalizando um investimento na ciência fluminense de mais de R$ 25 milhões.

Entre as 25 instituições contempladas na edição 2019 do edital, as que receberam um maior número de bolsas foram Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (119), Universidade Federal Fluminense - UFF (48), Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Uerj (42), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeirom - PUC-Rio (26), Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz (22), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ (11) e Universidade Estadual do Norte Fluminense - Uenf (08), além de outras 19 instituições sediadas no Estado. As grandes áreas do conhecimento que receberam o maior número de bolsas no CNE e JCNE, em ordem decrescente, são: Ciências Biológicas (80), Ciências Exatas e da Terra (60), Ciências Humanas (53), Engenharias (41), Ciências da Saúde (36), Ciências Sociais Aplicadas (27), Ciências Agrárias (19) e Linguística, Letras e Artes (15).

A edição 2019 dos programas CNE e JCNE foi a primeira em estender, em um ano, o período de avaliação da produtividade científica do solicitante no caso de nascimento ou adoção de crianças nos últimos cinco anos. Essa ação teve como objetivo minimizar o impacto do nascimento dos filhos na carreira científica das mulheres e compensar uma possível queda de produtividade decorrente do afastamento legal pela licença maternidade das atividades de pesquisa em institutos e universidades fluminenses.

Segundo a diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela, "essa e outras ações são necessárias para que se garanta maior participação feminina em todos os campos da sociedade, em especial na produção de conhecimento científico. Na edição de 2019, houve aumento de 3% na participação feminina em relação à edição de 2018 e de 5% em relação à 2017. O maior número de solicitações por parte de cientistas do sexo feminino reflete o estímulo à igualdade de gênero promovido pela Faperj nesses programas."

Na ocasião, também serão entregues os termos de outorga para os agraciados no edital Redes de Pesquisa Cooperativa em Nanotecnologia com impacto no desenvolvimento e consolidação da indústria 4.0 no Estado do Rio de Janeiro, incluindo produtos para diagnóstico (lab on a chip), nanopartículas para o carreamento e liberação de fármacos, regeneração de tecidos, entre outros. Os recursos deste edital são de mais de R$ 30 milhões. Foram selecionados sete projetos que reúnem 254 pesquisadores e mais de 600 pós-doutorandos e pós-graduandos de laboratórios de pesquisa de instituições de ensino e pesquisa do estado do Rio de Janeiro, além de duas startups e duas empresas.

Para mais informações sobre os programas/editais, visite a página da FAPERJ no endereço: www.faperj.br



Autor: Ascom Faperj
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/09/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3845.2.5

Primeiro encontro sobre pesquisa com zebrafish acontece dia 10 de outubro

No dia 14 de outubro, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) promove, em parceria com a Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, o primeiro encontro sobre pesquisa com zebrafish. O evento irá apresentar à comunidade científica e acadêmica estudos realizados com o método alternativo, já consagrado para estudos de doenças humanas.

A programação contará com mesas-redondas compostas por pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Fiocruz, que realizam experimentos com peixe-zebra.

O encontro acontecerá das 9h às 16h, no auditório Emmanuel Dias (Pavilhão Arthur Neiva), localizado no campus da Fiocruz, em Manguinhos (Av. Brasil, 4.365 – Rio de Janeiro/RJ). Para se inscrever, acesse o Campus Virtual Fiocruz.




Autor: IOC/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 30/09/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/primeiro-encontro-sobre-pesquisa-com-zebrafish-acontece-dia-10-de-outubro

Atenção Primária à Saúde é tema de seminário internacional

O Departamento de Administração e Planejamento em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Daps/Ensp/Fiocruz) promoverá, entre os dias 23 e 25 de outubro, o Seminário Internacional Atenção Primária à Saúde do global ao local.

Durante três dias serão debatidos temas como APS na perspectiva internacional, práticas avançadas de enfermagem na APS, rumos da Política Nacional de Atenção Básica, a APS no SUS no Rio de Janeiro, entre outros assuntos. O evento contará com a participação de pesquisadores da Ensp e outras instituições nacionais e internacionais.

Os interessados em participar devem entrar em contato com Rosana Brito, através do e-mail rbrito@ensp.fiocruz.br. Conheça a programação!



No Portal Fiocruz


Autor: Ensp/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 30/09/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/atencao-primaria-saude-e-tema-de-seminario-internacional

    Doenças negligenciadas: projeto colaborativo visa novas parcerias

    O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a DNDi celebraram, durante evento no Rio de Janeiro, os resultados de projeto colaborativo voltado para doenças negligenciadas. Parceiras desde 2015, as instituições reafirmaram o desejo de levar medicamentos eficazes, seguros e acessíveis às populações que sofrem com doença de Chagas e leishmanioses.


    Vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger frisou que “esta parceria é um grande orgulho, significa uma participação da Fiocruz na solução dos problemas de saúde global" (foto: DNDi)

    “O BNDES dá alto valor a este tipo de investimento que transforma a vida das pessoas que não tem acesso a soluções de saúde adequadas, e as doenças negligenciadas continuam no radar do banco”, afirmou Sandro Ambrosio da Silva, Gerente do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do BNDES.

    As doenças negligenciadas afetam bilhões de pessoas ao redor do mundo, principalmente em áreas de extrema vulnerabilidade. Embora elas sejam responsáveis por 12% da carga global de doenças (GBD, na sigla em inglês), os investimentos em P&D para novos tratamentos ainda são escassos. Segundo relatório da revista britânica The Lancet Global Health, apenas 4% dos medicamentos desenvolvidos entre 2000 e 2011 foram voltados para estas enfermidades.

    Países em desenvolvimento: ciência de qualidade com impacto social

    Por que investir no processo de descoberta de novos medicamentos em uma área endêmica? Foi a pergunta que permeou a apresentação das atividades e dos resultados de uma das iniciativas referentes ao acordo, o projeto Lola (Otimização de Compostos Líderes América Latina, por sua sigla em inglês). O gerente de P&D da DNDi, Jadel Kratz, ressaltou que a construção de capacidades locais permite aos países em desenvolvimento autossuficiência e responsabilidade para resolver seus próprios problemas. Estabelecer um time de pesquisadores multidisciplinar e multicêntrico para identificar um candidato pré-clínico foi o primeiro passo para chegar ao objetivo de longo prazo, que é entregar um candidato a novo medicamento que possa tratar as pessoas acometidas pelas doenças negligenciadas, especificamente a doença de Chagas e as leishmanioses.

    Segundo Kratz, a construção da rede de pesquisa foi um claro sucesso e a marca de 900 compostos sintetizados no âmbito do consórcio pode ser considerada altamente significativa e competitiva. Mais de 30 pesquisadores foram bem treinados em uma área extremadamente técnica e não é de surpreender que a indústria farmacêutica esteja interessada nos cientistas que foram formados. Luiz Carlos Dias, Professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos parceiros acadêmicos do Lola, considera que o aprendizado até hoje foi imensurável e a necessidade de manter o nível alcançado requer a continuação de investimento nacional. A parceria das universidades, Unicamp e Universidade de São Paulo (USP), são fundamentais no projeto Lola. “Trouxe fortalecimento e progresso no desenvolvimento científico e tecnológico para o Brasil em esta área, comentou Adriano Andricopulo, Professor do Instituto de Física (IFSC) da USP São Carlos, outro parceiro do Lola.

    Caracterizado por parcerias público-privadas, o consórcio está hoje estruturado e agrega capacidades que não estão ainda desenvolvidas em outros grupos da América Latina. “A ideia não é fazer ciência isolada no Brasil, a chave do sucesso é o intercâmbio de conhecimento”, disse Michel Lotrowska, diretor regional da DNDi América Latina. A rede, que começou no Brasil, foi ganhando conhecimento e robustez até chegar a um grau de autonomia que permite hoje um trabalho de excelência na região, e o seu potencial inspira novas parcerias com empresas como a Eurofarma, o centro inovação e negócios de Medellín Ruta N, na Colômbia, e outras instituições.

    Redes de pesquisa fortalecem combate a doenças negligenciadas

    O apoio do BNDES também permitiu o fortalecimento de duas plataformas de pesquisa clínica, uma para a doença de Chagas e a outra para as leishmanioses, que foram criadas para avançar na condução de ensaios clínicos para estas doenças, bem como facilitar o intercâmbio de conhecimento entre instituições e pesquisadores que buscam novas opções terapêuticas no Brasil e em outros países da América Latina. Para Ana Lúcia Rabello, do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), as redes têm avançado e se fortalecido através dos anos, “a nossa missão é tentar diminuir o sofrimento das pessoas que padecem estas enfermidades e os resultados mostram que vale a pena continuar porque estamos no caminho certo”, apontou a pesquisadora.

    A gerente de estudos clínicos para leishmanioses da DNDi, Joelle Rode, enumerou todos os projetos colaborativos que surgiram e estão em andamento graças ao intercâmbio e colaboração entre os membros das redes. “Tanto para a doença de Chagas como para as leishmanioses a identificação de novos estudos clínicos a serem realizados e o consenso sobre as prioridades de pesquisa permitem aproveitar ao máximo os recursos disponíveis e evitar a duplicação de esforços”, sinalizou Joelle. Por outro lado, a padronização de critérios para a realização de ensaios clínicos robustos e com qualidade técnica constitui um dos maiores ganhos destas duas plataformas que contam hoje com mais de 600 membros de aproximadamente 230 instituições localizados em diversas partes do mundo.

    O intercâmbio continuado das redes é apoiado por web forums, boletins informativos anuais, e reuniões de caráter virtual assim como presencial, onde os pesquisadores podem apresentar atualização dos ensaios realizados e planejados, e discutir protocolos, Perfil de Produtos Alvo (PPA) e mudança de guias de atenção quando apropriado. As plataformas são essenciais para a implementação de ensaios clínicos e projetos colaborativos promovidos por seus integrantes que estimulam, além do mais, o acesso aberto ao conhecimento e compartilhamento de resultados de investigação científica para doenças negligenciadas. Segundo Joelle Rode, “hoje estamos em um cenário promissor para a doença de Chagas e as leishmanioses, com a possibilidade de continuar avançando, neste contexto as redes de pesquisa clínica serão importantes ferramentas para a realização de novos projetos colaborativos e futuros ensaios clínicos.”

    O evento finalizou com grande satisfação de todos os presentes, a indicação de lições aprendidas para avançar com os projetos desde uma perspectiva de melhoria continua e com o brilho nos olhos de quem se orgulha de poder fazer parte de uma colaboração entre instituições científicas, tecnológicas e empresas que visa um bem comum, o acesso a saúde para todos. O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, frisou que “esta parceria é um grande orgulho, significa uma participação da Fiocruz na solução dos problemas de saúde global. É muito importante salientar os desdobramentos, e ressaltar que o Brasil decidiu apoiar as doenças negligenciadas, especificamente Chagas e Leishmanioses", concluiu. Já Michel Lotrowska, da DNDi, defendeu o caminho para uma solução de saúde pública aos problemas das populações negligenciadas está apenas começando e esta parceria encerra com a intenção de estimular novas colaborações e a necessidade de continuar investindo na pesquisa e desenvolvimentos para novos medicamentos nesta área.



    Autor: Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi)
    Fonte: Fiocruz
    Sítio Online da Publicação: FiocruzFiocruz
    Data: 30/09/2019
    Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/doencas-negligenciadas-projeto-colaborativo-visa-novas-parcerias

    sábado, 28 de setembro de 2019

    Como tratar hipertensão em pacientes asmáticos?




    A prevalência de hipertensão arterial sistêmica (HAS) em pacientes asmáticos é maior que na população em geral. O mecanismo fisiopatológico envolve diversas vias, sendo as mais importantes:
    Inflamação, promovendo disfunção endotelial e hiperplasia da musculatura lisa;
    Aumento da angiotensina, um potente vasoconstrictor;

    Efeito colateral do tratamento, como retenção hidrossalina do uso de corticoides.

    Há, inclusive, relação entre a gravidade da asma, medida pelo VEF1, e o risco de hipertensão. Um artigo de revisão recente da New England Journal of Medicine (NEJM) trouxe dicas para seu dia-a-dia.

    Hipertensão e asma: como afeta sua prática?

    No tratamento da hipertensão:

    Evite betabloqueadores: em pacientes estáveis, com asma controlada, e sem broncoespasmos recente, você até pode começar um beta-seletivo, mas como regra geral, o ideal é evitar, até porque os betabloqueadores não são drogas de primeira linha no tratamento da hipertensão;
    Evite iECA: Estão associados com tosse e um risco pequeno, porém real, de agravar o broncoespasmo. A preferência para inibir o sistema renina são os BRA, considerados seguros;
    Atenção à hipocalemia dos tiazídicos, pois pode ser potencializado pelos beta-agonistas inalatórios;
    Os bloqueadores dos canais de cálcio estão liberados, e têm até benefício teórico de relaxamento da musculatura lisa.

    No tratamento da asma:

    Corticoide e beta-agonistas de curta ação aumentam o risco de hipertensão e efeitos colaterais cardiovasculares. Na asma refratária, considere mais precocemente uma terapia biológica.

    Autor: Ronaldo Gismondi
    Fonte: pebmed
    Sítio Online da Publicação: pebmed
    Data: 27/09/2019
    Publicação Original: https://pebmed.com.br/como-tratar-hipertensao-em-pacientes-asmaticos/

    Nefropatia diabética: como a genômica pode ajudar




    A associação entre doença renal e diabetes vem, progressivamente, tomando espaço na literatura médica. Após muitos anos sem grandes evoluções apareceram novos medicamentos capazes de lentificar a progressão da nefropatia diabética. Carecem, no entanto, estudos genômicos que tragam mais bases para o entendimento desta doença e o motivo dos pacientes se comportarem de formas diferentes.

    Em um contexto global em que a metabolômica, proteômica e genômica trazem dados que permitem um tratamento mais eficaz e individualizado, o entendimento da genética associada a nefropatia diabética pode ser um grande avanço na farmacogenômica para estes pacientes.


    Um estudo publicado no Journal of the American Society of Nephrology (JASN) mostrou que certas variantes genéticas predispõem pacientes com diabetes tipo 1 a doenças renais. Para identificar essas variantes o genoma de 19.406 pacientes com ascendência européia portadores de diabetes tipo 1, com ou sem doença renal, foi analisado.

    Os pacientes foram divididos em 10 grupos fenotípicos (definidos pela associação de albuminúria, função renal e DRCT) e os pesquisadores conseguiram identificaram 16 novas regiões genéticas associadas à nefropatia diabética. Um exemplo foi a descoberta de uma variante do COL4A3, um gene que codifica uma proteína colágena presente na membrana basal glomerular.

    Este 16 genes associados à nefropatia diabética nos trazem novas informações sobre a sua patogênese e identificam potenciais alvos biológicos para prevenção e tratamento no futuro.

    Sobre a nefropatia diabética

    A diabetes mellitus é uma das principais causas de insuficiência renal. A fase inicial da doença geralmente é assintomática. As principais manifestações clínicas são albuminúria, hematúria (menos frequente) e, muitas vezes, doença renal crônica progressiva.




    Autor: Guilherme Fonseca Mendes
    Fonte: pebmed
    Sítio Online da Publicação: pebmed
    Data: 27/09/2019
    Publicação Original: https://pebmed.com.br/nefropatia-diabetica-como-a-genomica-pode-ajudar/amp/

    Medicamentos para câncer de endométrio avançado são aprovados




    As agências reguladoras de saúde dos Estados Unidos, da Austrália e do Canadá aprovaram simultaneamente uma nova combinação de dois medicamentos para o tratamento de câncer de endométrio avançado.

    As três agências estão trabalhando juntas através do Projeto Orbis, uma nova iniciativa da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, que permite o envio e a revisão simultânea de produtos oncológicos entre parceiros internacionais. “É a primeira vez que aprovamos um medicamento com outro país em colaboração”, contou Amanda Turney, porta-voz da FDA, em entrevista ao Medscape Medical News.

    As aprovações foram concedidas ao lenvatinib (Lenvima, Eisai) em combinação com pembrolizumab (Keytruda, Merck) para o tratamento de pacientes com carcinoma endometrial avançado. Todas as três aprovações foram condicionais com a exigência de novos estudos para a verificação de mais evidências de eficácia do fármaco.

    Mais especificamente, as aprovações são para direcionadas para os pacientes cuja doença não é instável por microssatélites-alta (MSI-H) ou deficiente em reparo de incompatibilidade (dMMR), que experimentam progressão da enfermidade após terapia sistêmica anterior e que não são candidatos a cirurgia curativa ou radioterapia.

    Ambos os medicamentos são indicados para uso em vários outros tipos de câncer. O Projeto Orbis é apenas direcionado para aprovações suplementares em oncologia ou novas indicações para terapias aprovadas anteriormente. Não é válido para novas aplicações de drogas.

    “As aprovações foram facilitadas por novos processos e ferramentas da FDA que ajudaram a acelerar a revisão nos três países. Essas solicitações foram aprovadas três meses antes da data estabelecida pela FDA”, disse o médico Richard Pazdur, diretor do Centro de Excelência em Oncologia da entidade, em um comunicado para a imprensa.

    As aprovações de lenvatinibe e do pembrolizumabe são baseadas nos resultados de eficácia e segurança de um ensaio clínico de 94 pacientes com tumores de carcinoma endometrial que não eram MSI-H ou dMMR. Os investigadores relataram uma taxa de resposta objetiva de 38,3%. Entre os 36 pacientes que responderam à terapia, 10 tiveram uma resposta completa e 26 tiveram uma resposta parcial. Para 25 pacientes (69% dos que responderam), a duração da resposta foi> 6 meses.

    Os efeitos colaterais comuns para os pacientes no estudo clínico incluíram fadiga, pressão alta, dor musculoesquelética, diarreia, apetite diminuído, hipotireoidismo, náusea e estomatite.

    Já os efeitos colaterais adicionais incluíram vômitos, diminuição de peso, dor abdominal, dor de cabeça, prisão de ventre, infecção do trato urinário, disfonia, eventos hemorrágicos, hipomagnesemia, síndrome mão-pé, dispneia, tosse e erupção cutânea.

    Mais sobre o Projeto Orbis

    Em 2004, o Escritório de Produtos de Hematologia e Oncologia (OHOP) da FDA começou a realizar teleconferências regulares sob um contrato de confidencialidade com outras agências reguladoras para permitir o intercâmbio de informações e a colaboração em tópicos específicos relacionados às aplicações em análise.

    Atualmente, a OHOP realiza uma teleconferência mensal com a Administração de Produtos Terapêuticos da Austrália, Health Canada, Agência Europeia de Medicamentos, Agência de Medicamentos e Dispositivos Médicos do Japão e Swissmedic da Suíça. Além disso, a FDA e a Administração Nacional de Produtos Médicos da China iniciaram uma reunião trimestral para discutir questões regulatórias específicas de produtos que não enfrentam o desenvolvimento mundial de medicamentos.




    Autor: Úrsula Neves
    Fonte: pebmed
    Sítio Online da Publicação: pebmed
    Data: 27/09/2019
    Publicação Original: https://pebmed.com.br/medicamentos-para-cancer-de-endometrio-avancado-sao-aprovados/

    Twilight: suspender AAS após 3 meses de DAPT com ticagrelor reduz sangramentos





    Apresentado com grande entusiasmo pela Dra. Roxana Mehran (Icahn School of Medicine at Mount Sinai, Nova York) e publicado simultaneamente no New England Journal of Medicine, os resultados do estudo Twilight reverberaram durante todo o dia.

    Trata-se de um estudo prospectivo, randomizado, que selecionou mais de 9 mil pacientes de 11 países, comparando a manutenção da dupla antiagregação plaquetária (DAPT) com ácido acetilsalicílico (AAS) e ticagrelor ​versus ​ ticagrelor mais placebo, após três meses de uma intervenção coronária percutânea (ICP), em pacientes com alto risco trombótico. O estudo foi desenhado com poder para demonstrar superioridade em relação à redução de sangramentos maiores, sem aumentar o risco de eventos trombóticos.

    Os pacientes foram randomizados após três meses de DAPT completados após a angioplastia e seguidos por um ano. O desfecho primário era sangramento maior, definido pelo escore BARC, e ocorreu menos frequentemente no grupo ticagrelor mais placebo (4.0% vs 7.1%; RR 0.56; 95% IC 0.45-0.68). Em relação ao desfecho secundário, composto por morte, infarto do miocárdio (IM) ou acidente vascular cerebral (AVC) 3.9% vs 3.9%; RR 0.99; 95% IC 0.78-1.25; P não inferioridade < 0.001).



    Também não houve diferença estatística em relação aos componentes isolados deste desfecho, embora o estudo não tivesse poder para detectá-las. Destaca-se ainda que não houve diferença em relação à trombose de stent, inclusive mostrando uma taxa bastante pequena deste tipo de evento – 0.4% vs. 0.6% (p=0.38).

    É importante ressaltar que a população deste estudo era de alto risco trombótico – média de idade de 65 anos, cerca de 37% eram diabéticos, 17% tinham doença renal crônica e aproximadamente 65% deles foram tratados no contexto de uma síndrome coronária aguda (SCA) – embora infarto com supra tenha sido critério de exclusão. Isso torna a aplicabilidade clínica do estudo bastante relevante, uma vez que tende-se a prolongar a DAPT justamente nos pacientes de maior risco de eventos isquêmicos, enquanto o risco de sangramento seja frequentemente subestimado.

    Algumas limitações, entretanto, precisam ser destacadas. A principal delas é o fato de que o estudo não tinha poder suficiente para detectar diferenças em eventos isquêmicos mais raros, como trombose de stent e AVC. Alguns estudos prévios, como o Themis-PCI e o Pegasus-TIMI 34, sugerem que em pacientes de alto risco trombótico e, sobretudo, baixo risco de sangramento, a DAPT poderia oferecer algum benefício.

    Outro ponto relevante, amplamente discutido no evento, foi a comparação com o estudo GLOBAL LEADERS, no qual a monoterapia até dois anos com ticagrelor após 1 mês de DAPT ​versus ​ 1 ano de DAPT seguida de 1 ano de monoterapia com AAS não mostrou diferenças significativas em relação à mortalidade, eventos isquêmicos ou sangramentos. Entretanto, ressaltou-se que o desenho diverso dos estudos poderia explicar estas diferenças, sobretudo o fato de que no Twilight a randomização ocorria somente após os três primeiros meses de DAPT, o que reduziria o “ruído” de potenciais confundidores neste período inicial. Na verdade, um subestudo posterior do Global Leaders, avaliando pacientes submetidos à ICP complexa, de fato mostrou superioridade na estratégia de se retirar o AAS e manter o ticagrelor pelos próximos 23 meses, sobretudo em relação às incidências de morte e infarto.

    O Twilight vem ao encontro de outros estudos que mostram a segurança de se reduzir o tempo de DAPT após angioplastias, como o SMART-CHOICE e o STOPDAPT-2, que avaliaram esta estratégia no contexto do clopidogrel. Embora com desenhos e drogas diferentes, todos estes estudos avaliaram a retirada do AAS após um período relativamente curto de DAPT (de um a três meses). Certamente o conjunto destes dados deverão mudar futuros guidelines.




    Autor: Wilton Francisco Gomes
    Fonte: pebmed
    Sítio Online da Publicação: pebmed
    Data: 27/09/2019
    Publicação Original: https://pebmed.com.br/twilight-suspender-aas-apos-3-meses-de-dapt-com-ticagrelor-reduz-sangramentos/

    quarta-feira, 25 de setembro de 2019

    Aposentadoria é muito mais do que parar de trabalhar

    Se você fizer uma busca na internet, a palavra aposentadoria vem acompanhada de imagens de homens e mulheres de cabelos grisalhos, quase sempre esbeltos, fazendo surfe, andando de moto, dançando numa praia deserta e uma série de bobagens difíceis de encontrar no mundo real. Na vida como ela é, de acordo com a professora Teresa Amabile, da Harvard Business School, os primeiros meses fora do ambiente profissional podem envolver uma crise existencial de contornos até dramáticos.


    Sob seu comando, um time de pesquisadores entrevistou, durante quatro anos, 120 profissionais de diferentes partes dos Estados Unidos a respeito da sua visão sobre sair de cena. O estudo mostrou que, no começo, havia uma sensação de relaxamento e bem-estar com a nova situação, que logo deixava de existir – o que surpreendia a maioria. “As pessoas que planejam a aposentadoria focam apenas no aspecto financeiro, esquecendo-se de que este é também um exercício psicológico e que envolve seus relacionamentos. Temos que pensar em quem queremos ser quando nossa carreira formal terminar”, afirma a professora, que, aos 69 anos, se encontra nesse período de transição e atualmente tem uma carga horária menor.



    A professora Teresa Amabile, da Harvard Business School: “as pessoas que planejam a aposentadoria focam apenas no aspecto financeiro, esquecendo-se de que este é também um exercício psicológico” — Foto: YouTube

    Segundo a professora Teresa Amabile, que apresentou os resultados preliminares do levantamento no encontro anual da Academy of Management, é importante construir o que chama de “ponte de identidade”. Entre os entrevistados, muitos que tinham netos passaram a dar mais assistência aos filhos, cuidando das crianças e adolescentes ou ajudando nos deveres de casa. Havia os que redescobrem antigas paixões, como desenhar, pintar, ou fazer marcenaria. Alguns revisitaram sua trajetória em profundidade, concluindo que não sentiam qualquer prazer na antiga ocupação, e dessa forma superaram o “luto” da perda do sobrenome corporativo. Abrir um pequeno negócio ou dedicar-se a trabalho voluntário foram outras alternativas citadas. Ela diz que as empresas poderiam ajudar no processo, criando uma espécie de ritual para a despedida do empregado que mostrasse como seu trabalho foi apreciado: “se a companhia trata as pessoas com dignidade e respeito, indicando que elas são valorizadas, isso tem um efeito positivo na transição”.



    Autor: G1 Saúde
    Fonte: G1 Saúde
    Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
    Data: 25/09/2019
    Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2019/09/22/aposentadoria-e-muito-mais-do-que-parar-de-trabalhar.ghtml

    O esquecido drama de quem vive com pessoas que sofrem de depressão



    Depressão é doença de difícil diagnóstico. — Foto: Getty Images/via BBC

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 11 milhões de brasileiros sofrem com a depressão. Pelo mundo, são quase 300 milhões de pessoas, números que fizeram a OMS chamar a doença de "mal do século".

    Tratamentos psiquiátricos e terapias diversas são apresentadas em textos e programas de TV. Famosos e até youtubers têm falado muito mais da doença, mas uma parte importante desta equação toda parece ficar de lado: o cuidador. Por ser um conjunto de sintomas que podem estar presentes em aspectos variáveis em cada pessoa, a depressão não é fácil de ser diagnosticada. E a pessoa que convive com o doente rotineiramente também pouco sabe o que fazer.

    Segundo o Ministério da Saúde, um paciente com depressão pode apresentar tristeza profunda, falta de apetite, de ânimo, pessimismo, baixa auto-estima - que aparecem com frequência - e podem combinar-se entre si. De acordo com os especialistas, o crescimento do diagnóstico pode estar ocorrendo por conta de maiores cobranças sociais e pessoais de hoje. Mas também existe mais informação e aos poucos os preconceitos estão sendo combatidos e reduzidos, o que aumenta a quantidade de pedidos de ajuda e, consequentemente, os diagnósticos.

    Parceiros

    O psiquiatra Roni Cohen, diretor do Centro Brasileiro de Estimulação Magnética (CBREMT), aponta onde normalmente é o calcanhar de Aquiles do parceiro: "Realmente aqueles que cuidam ficam em segundo plano. Cuidar de uma pessoa com depressão requer uma sobrecarga emocional grande, principalmente porque, além de absorver o sentimento do outro, advém uma sensação de impotência quando se percebe que nem sempre a ajuda está sendo efetiva".


    O arquiteto S. (que preferiu não se identificar), de 33 anos, conta como aprendeu a se frustrar com a noiva, a médica I.. Ele revela que a maior dificuldade disso é saber como lidar com ela em momentos críticos. "Você sempre quer que a pessoa que você ama se sinta bem, feliz, quer fazer coisas legais juntos e às vezes eu tinha que entender que não conseguiria isso, não importa o que fizesse.


    É muito frustrante", explica. "E algo que agrava isso é o fato de que muitas vezes não havia nenhum motivo 'real' pra que ela se sentisse triste. Então não há um problema que você possa resolver e fazer tudo ficar bem". Um outro motivo para agravar o problema foi a negligência da família, algo muito comum no mundo dos depressivos.


    "Eles (os familiares) tinham um certo preconceito com tratamento psiquiátrico e medicação. A depressão dela nunca me causou transtornos diretamente, mas sim à ela. Mas como vivemos juntos me atingem de alguma forma. Não procurei ajuda psicológica e tenho certeza que isso traria benefícios."



    A perda de compromissos importantes era um dos maiores problemas. "Há dias que ela acaba dormindo o dia todo e perde compromissos".


    As dificuldades também são relatadas pelo administrador de empresas Henrique Luiz, de 38 anos, que cuida do pai doente, de 74 anos, que preferiu não ser identificado. Além da depressão, o pai foi diagnosticado com transtorno bipolar.


    "A maior dificuldade realmente é se aproximar em tempos de "mania", quando ele acha que está super bem e pode tudo. É neste momento que ele acaba pisando em cima de todos", relata Henrique. "Já colocamos remédios nos sucos e café para tentar conter ele, com orientação médica, até que a internação foi nossa última saída. Minha mãe, hoje falecida, sofria demais com isto, e hoje vejo que meu irmão sofre por morar com ele."


    Henrique acabou tendo que fazer um tratamento psiquiátrico, onde foi diagnosticado com Depressão Pós Traumática e ficou um bom tempo com remédios e terapia. "Infelizmente, o meu irmão, apesar de demonstrar claramente desequilíbrio emocional devido a condição do meu pai, não procurou ajuda."



    Taxa de suicídios é maior entre homens, diz OMS. — Foto: Pixabay

    Um dos grupos mais antigos e atuantes de ajuda a pacientes e familiares é a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), situada atualmente na Vila Clementino, em São Paulo. Os grandes centros universitários pelo país dispõem também de grupos semelhantes. Há os "Neuróticos Anônimos" e grupos de portadores de transtorno bipolar.


    O psiquiatra Mauro Aranha, fala sobre a importância de se apoiar neste tipo de pilar: "Esses grupos ajudam portadores e familiares em prevenção e indicam rede de tratamento. Permitem também a expressão de um lugar de fala que dá um sentido mais concreto e compartilhado ao sofrimento e aponta caminhos possíveis de recuperação ou superação."


    A psicóloga Melina Ferreira vai além. "O ideal seria que o cuidador tivesse muito claro o que é a depressão, qual seu papel na contribuição do tratamento, quando sair de cena e quando voltar, já que pode existir uma 'contaminação' dos sintomas depressivos, devido ao ambiente, preocupação, atenção demasiada, além de suas próprias frustrações. Os profissionais da saúde precisam estar atentos e abertos para dar este apoio aos cuidadores", afirma.


    Há também que se separar um quadro de melancolia e tristeza com a depressão.


    Taxa de mortalidade por suicídio aumentou 12% entre jovens e adolescentes negros de 2012 a 2016 — Foto: Pixabay


    Isso faz toda a diferença para o doente. Saber diferenciar as patologias e emoções naturais são fundamentais para o tratamento e melhora da pessoa tratada, aponta Melina: "A questão problemática desta relação é que a depressão tem suas peculiaridades como doença e quem ajuda pode acabar cuidando como uma tristeza, frustração ou qualquer outra emoção ruim comum ao ser humano.


    Isso gera conflitos e ambos sofrem com esta dinâmica: a pessoa com depressão se sente não entendida ou vista e o cuidador frustrado por não conseguir ajudar como gostaria. A depressão é uma doença muito autocentrada no paciente".


    A atriz e professora D., 38 anos, acabou procurando ajuda psicológica justamente para não desistir do seu namorado B., de 45. "Vou a sessões individualizadas com os médicos e analistas do meu namorado. Pedi ajuda da família. O peso é muito grande e você precisa estar preparada para lidar com as frustrações, que são muitas. Ter um grupo de apoio é fundamental".


    Já o arquiteto S. conta que leu bastante sobre o assunto e conversou com a psicóloga da noiva algumas vezes, sempre com ela presente, pra ficar claro que lidavam com aquilo juntos. E assim, com o tempo foi aprendendo, meio que na tentativa e erro, os tipos de conduta que poderia tomar quando ela não estava bem.


    "Eu tento falar com ela de maneira muito lógica. Uma característica dela é ser extremamente pessimista, ela vê todas as possibilidades das coisas darem errado e vai desdobrando isso até chegar a consequências horríveis e fica extremamente ansiosa. Então eu cito fatos parecidos onde tudo deu certo, converso sobre como seria se algo ruim acontecesse, como iríamos resolver, sempre tentando ser muito claro, pra que apesar da depressão ela veja que está tudo bem. E isso sempre tem que ser feito com muita paciência e carinho, acho que pra ela, estar perto de uma pessoa tranquila ajuda muito".


    Mauro Aranha pede atenção especial à depressão que agrega angústia e desinteresse por tudo e todos, isolamento social e desesperança. "São ingredientes que podem levar o enfermo ao suicídio. E não se deve temer perguntar, de maneira acolhedora, ao enfermo se ele deseja ou planeja matar-se. Isso pode salvar uma vida".


    Para casos mais agudos, O CVV - Centro de Valorização da Vida - realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e 24 horas todos os dias. A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita.




    Autor: G1 Saúde
    Fonte: G1 Saúde
    Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
    Data: 25/09/2019
    Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/09/23/o-esquecido-drama-de-quem-vive-com-pessoas-que-sofrem-de-depressao.ghtml

    Doenças cardiovasculares rondam os cuidadores



    No dia 10 de setembro, o “Canadian Journal of Cardiology” publicou pesquisa sobre as evidências científicas que mostram que cuidadores de pacientes com doenças cardiovasculares têm mais chances de eles próprios desenvolverem a enfermidade. Para o levantamento, cuidador é aquele que presta algum tipo de serviço, informal e sem pagamento, para uma pessoa com deficiência ou doença crônica. O estresse dessa ocupação é tão grande que já se pensa numa abordagem que contemple paciente e cuidador.

    No Canadá, onde foi feito o estudo, metade da população está envolvida com algum tipo de cuidado, seja de um membro da família ou de um amigo. Este é um índice semelhante ao existente nos Estados Unidos e na Europa. Cerca de 40% dos cuidadores relatam que a atividade se traduz em estresse emocional, psicológico, físico, social e financeiro. São fatores que podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares, mas praticamente nada é feito para resolver ou reduzir o problema. Pior: a equação vai se tornar cada vez mais complexa nas próximas décadas, com o progressivo envelhecimento da população.



    Monica Parry, professora de enfermagem da Universidade de Toronto: “epidemia de cuidadores sobrecarregados” — Foto: Divulgação


    “Há evidências abundantes de que os cuidadores precisam de maior apoio, uma vez que seu papel é fundamental, com enorme contribuição para o sistema de saúde”, afirmou Heather Tulloch, diretora do laboratório de saúde psicológica cardiovascular e medicina comportamental da Universidade de Ottawa. O levantamento mostrou que, entre eles, a atividade física era menor e um número significativo fumava. Sua dieta alimentar também deixava a desejar e o sono era de má qualidade. Quem cuidava do cônjuge apresentava mais sintomas de depressão.



    Para os pesquisadores, o risco de desenvolver hipertensão e síndrome metabólica pode estar diretamente relacionado ao tempo dedicado a essas tarefas: foi considerado de alta intensidade o trabalho de cuidador por mais de 14 horas por semana, durante período superior a dois anos. A síndrome metabólica descreve um conjunto de fatores que aumentam as chances de o indivíduo desenvolver doenças cardíacas, diabetes e ter um AVC (acidente vascular cerebral): pressão sanguínea, glicose e triglicerídeos elevados, alterações no colesterol, grande quantidade de gordura abdominal.


    Para Monica Parry, professora de enfermagem da Universidade de Toronto, estamos enfrentando uma “epidemia de cuidadores sobrecarregados”, principalmente entre pessoas de meia-idade que têm que se dividir entre a função de zelar por entes queridos, ter uma profissão e dar atenção à família. Apesar de um número muito maior de mulheres desempenhando esse papel, vem crescendo o contingente de homens que acaba assumindo esse tipo de responsabilidade. “Por razões culturais, eles podem ter mais dificuldades de pedir ajuda externa, o que vai impactar sua saúde”, explicou.




    Autor: G1 Saúde
    Fonte: G1 Saúde
    Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
    Data: 25/09/2019
    Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2019/09/24/doencas-cardiovasculares-rondam-os-cuidadores.ghtml

    segunda-feira, 23 de setembro de 2019

    Dermatite de fraldas em crianças: como fazer prevenção e tratamento?




    Dermatite da fralda ou assadura é um termo não específico usado para descrever qualquer uma das várias reações inflamatórias da pele dentro da área da fralda, incluindo as nádegas, a região perianal, os órgãos genitais, as coxas e a cintura. É um dos distúrbios cutâneos mais comuns em neonatos e lactentes, com uma prevalência entre 7 e 50%. A incidência real pode ser maior, porque nem todos os casos são relatados (geralmente as lesões desaparecem em poucos dias sem a necessidade de tratamento específico).

    Embora raramente cause problemas por longos períodos, gera considerável sofrimento aos bebês e aos pais ao mesmo tempo. Os pais costumam referir dor com períodos de choro prolongados, juntamente com agitação, alterações nos padrões de sono e diminuição da frequência de micção e defecação. Há relatos, inclusive, de que os níveis de cortisol salivar também ficam elevados em alguns bebês durante o período de dermatite de fralda.

    A assadura leve ocorre frequentemente em crianças antes da conclusão do treinamento para controle de esfíncteres, e não há diferença aparente na prevalência entre os sexos. Alguns estudos mostraram que bebês que são amamentados ao seio podem ter um risco reduzido para a sua ocorrência.
    Dermatite de fraldas

    Os três tipos mais comuns são: dermatite por atrito, dermatite por irritante primário e candidíase. A forma predominante é por irritante primário, causada por uma combinação de fatores como: longos períodos de umidade e urina na fralda, fricção e abrasão mecânica; presença de sais biliares e outros irritantes nas fezes que quebram os lipídios e proteínas protetores na camada superior da pele; aumento dos níveis de pH da pele por uma mistura de urina e fezes; e, ocasionalmente, a presença de microrganismos.

    Em artigo publicado em 2018 no International Journal of Dermatology intitulado Diagnosis and management of diaper dermatitis in infants with emphasis on skin microbiota in the diaper area, Pogacar e colaboradores descreveram o tratamento e a prevenção deste tipo de afecção cutânea. Vejamos as principais recomendações dos autores.

    Como tratar assaduras

    O tratamento se concentra em dois objetivos principais: aceleração da cicatrização da pele danificada e prevenção de erupções cutâneas recorrentes. No entanto, a chave para o manejo eficiente está na prevenção. A integridade da pele saudável é comprometida pela própria natureza do ambiente da fralda e, portanto, uma pele intacta normal permanece um objetivo ilusório a partir do momento em que o bebê usa fralda.

    O tratamento inclui inúmeras abordagens. Contudo, para o diagnóstico correto e o tratamento adequado, o médico deve ter conhecimento sobre a etiologia da dermatite da fralda, da fisiologia e do microbioma da pele. Eliminar as causas da dermatite da fralda e usar cremes de barreira pode ser suficiente para curar casos leves; todavia, para a melhor abordagem terapêutica, a investigação de fungos e bactérias deve ser realizada quando houver suspeita.

    Apresentações diferentes de dermatite de fralda podem exigir estratégias de tratamento diferentes. Se o bebê não responder a uma terapia específica, pode ser devido à falta de adesão, falha na correção dos fatores agravantes ou o diagnóstico pode estar incorreto. Devem ser consideradas causas de dermatite não associadas à fralda ou condições subjacentes que predispõem à dermatite de fralda.

    Pontos importantes destacados por Pogacar e colaboradores (2018):

    – Na maioria dos casos, o tratamento envolve medidas gerais de cuidados com a pele (por exemplo, troca frequente de fraldas, exposição ao ar, limpeza suave), escolha das fraldas e uso de preparações tópicas de barreira;

    – A troca frequente de fraldas, a cada 1 a 3 horas, é essencial para o tratamento, pois ajuda a reduzir a quantidade de tempo em que a pele está em contato com a umidade e com substâncias irritantes;

    – Deve-se ter cuidado para evitar fricção, limpando, enxaguando e secando suavemente a área da fralda, para minimizar traumas adicionais na pele;

    – Idealmente, um bebê com dermatite de fralda deve ter períodos de descanso sem fralda, expondo a pele danificada ao ar, reduzindo o tempo de contato entre a pele e a urina, fezes, umidade e outros irritantes;

    – A melhor escolha de fraldas para uso em bebês é uma questão controversa. No entanto, o uso de fraldas descartáveis, super absorventes e respiráveis, em vez de fraldas de pano, está associado à frequência reduzida de dermatite de fraldas;

    – A área da fralda deve ser cuidadosamente limpa com água morna e com uma pequena quantidade de produto de limpeza suave com pH levemente ácido a neutro;

    – Lenços sem perfume e sem álcool podem ser usados, mas seu uso deve ser descontinuado caso a pele fique irritada. Conservantes como a metilisotiazolinona nos lenços umedecidos podem causar dermatite alérgica de contato;

    – Na dermatite de fralda leve a moderada, o uso de preparações tópicas de barreira como terapia de primeira linha é geralmente suficiente. Cremes de barreira contendo óxido de zinco e/ou petrolato formam um filme lipídico na superfície da pele e minimizam o contato da pele com urina e fezes. Estes cremes reparam o estrato córneo e protegem a pele contra a dermatite da fralda. Outros aplicações tópicas úteis incluem pomadas de vitamina A e D, dexpantenol e solução de Burow, uma mistura de acetato de alumínio na água. Cremes usados ​​para o tratamento da dermatite de fralda moderada também costumam conter ingredientes como óleos minerais, Aloe Vera e cera para fornecer uma proteção adequada à pele. Formas mais graves com sinais clínicos de infecções secundárias requerem atenção médica com diagnóstico cuidadoso e tratamento terapêutico;

    – Em casos de candidíase, bastante comum em casos mais graves de dermatite de fralda, é sugerido o uso de agentes antifúngicos, como nistatina, clotrimazol, miconazol, cetoconazol e sertaconazol, para serem aplicados a cada troca de fraldas. Além disso, corticosteroides tópicos leves podem ser usados mesmo se a pele estiver infectada com Candida albicans. A recidiva da dermatite da fralda com uma infecção secundária após o tratamento com nistatina é comum devido à falha em erradicar infecções bacterianas concomitantes, recolonização dos locais do reservatório e resistência ocasional a agentes antifúngicos. Além disso, os possíveis efeitos adversos dos antifúngicos incluem irritação, queimação e coceira;

    – Se uma infecção bacteriana secundária estiver presente, antibióticos tópicos ou orais podem ser necessários. Se a infecção bacteriana for localizada e leve, a mupirocina tópica aplicada duas vezes ao dia por 5 a 7 dias pode ser suficiente para tratar uma infecção estafilocócica. Já os antibióticos orais são indicados para infecções mais graves, incluindo dermatite estreptocócica perianal. Os bebês com dermatite de fraldas bacteriana podem exigir avaliação adicional para doenças bacterianas graves, principalmente se forem febris e/ou com estado geral comprometido;

    – Em geral, o uso de preparações tópicas de barreira dificulta o contato da pele com substâncias irritantes químicas, minimiza a umidade e o atrito e diminui a possibilidade de dermatite da fralda. No entanto, Pogacar e colaboradores (2018) enfatizam que devem ser evitadas barreiras ou medicamentos tópicos que contenham fragrâncias, conservantes e outros ingredientes com potencial irritante ou alérgico. Os produtos que contenham ácido bórico, cânfora, fenol, benzocaína e salicilatos também devem ser evitados devido ao potencial de toxicidade sistêmica e/ou meta-hemoglobinemia. Pastas e pomadas geralmente são melhores barreiras do que cremes e loções, que são pouco aderentes, minimamente oclusivas e podem conter fragrâncias e conservantes;

    – Uma curta duração (até 2 semanas) de corticosteroide tópico de baixa potência pode reduzir a inflamação, que persiste apesar das medidas de cuidado da pele e uso de preparações tópicas de barreira. Os autores recomendam que o corticoide mais forte seja a hidrocortisona a 1%, que só deve ser aplicada até a erupção desaparecer. Corticosteroides mais fortes podem causar efeitos colaterais graves, como atrofia da pele, estrias e taquifilaxia, bem como supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, síndrome de Cushing, hipertensão intracraniana, atraso no crescimento e outros efeitos colaterais no paciente pediátrico, devido ao aumento da área da superfície da pele em relação ao peso corporal em comparação com os adultos.


    Como prevenir as assaduras

    Pogacar e colaboradores (2018) descrevem que um fator crucial, não somente na prevenção da dermatite de fralda como no seu tratamento, é a educação e o apoio dos pais. A dermatite de fralda por irritante primário é uma condição evitável, e é de extrema importância que os pais aprendam maneiras comuns de diminuir a probabilidade da condição, através de higiene adequada, de meios para restaurar uma pele saudável e através da prevenção de dermatite de fralda de repetição.

    Os autores destacam as seguintes medidas:

    – A exposição das nádegas ao ar pelo maior tempo possível reduz a duração do contato direto da pele com a superfície do tecido úmido e reduz o atrito;

    – Uma fralda limpa deve ser preferivelmente colocada após cada micção ou defecação. Para bebês com risco de desenvolver dermatite da fralda, um creme de barreira deve ser aplicado a cada troca. Isso forma um filme lipídico protetor na pele e diminui significativamente a exposição à umidade e a irritantes;

    – O ambiente exclusivo da área das fraldas, incluindo a microbiota local da pele, a irritação contínua por bactérias em urina e fezes, o pH (em mudança) da pele na área, bem como a composição de agentes de limpeza e adjuvantes em preparações tópicas, devem ser considerados para desenvolver práticas de limpeza na área das fraldas. Enquanto estes são destinados a auxiliar na manutenção de uma barreira cutânea intacta ou promover a cura de uma barreira comprometida, práticas inadequadas podem piorar as lesões;

    – O banho dos bebês deve ser dado com água morna (37 a 40° C) em pequena quantidade. Uma superfície ácida na pele é essencial para a manutenção da microbiota normal, fornecendo proteção antimicrobiana contra invasão por bactérias patogênicas e leveduras.

    Autora:

    Roberta Esteves Vieira de Castro


    Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença. Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes. Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil pela Universidade Federal Fluminense (Linha de Pesquisa: Saúde da Criança e do Adolescente). Doutora em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), do Hospital Caxias D’Or (Duque de Caxias) e do Hospital Getúlio Vargas Filho (Getulinho – Niterói). Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) no Rio de Janeiro. Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox. Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Membro do comitê de filiação da American Delirium Society (ADS). Coordenadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG). Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS).


    Referências bibliográficas:
    POGACAR, M. S. et al. Diagnosis and management of diaper dermatitis in infants with emphasis on skin microbiota in the diaper area. International Journal of Dermatology, v.57, n.3, p.265-275, 2018.


    Autor: PEBMED
    Fonte: PEBMED
    Sítio Online da Publicação: PEBMED
    Data: 23/09/2019
    Publicação Original: https://pebmed.com.br/dermatite-de-fraldas-em-criancas-como-fazer-prevencao-e-tratamento/

    Ebola: insuficiência renal causa morte em sobreviventes do surto




    Pesquisadores descobriram que efeitos a longo prazo da infecção pelo vírus do ebola contribuíram para o aumento das mortes subsequentes entre os sobreviventes do surto, acontecido entre os anos de 2013 a 2016, na África Ocidental.

    “Na República da Guiné, 59 pacientes que sobreviveram ao ebola morreram mais tarde com insuficiência renal estabelecida como a causa da morte em 37 pacientes”, disse um dos autores do estudo, Lorenzo Subissi, PhD, do Sciensano, Instituto Nacional de Pesquisa de Saúde Pública em Bruxelas, na Bélgica.

    “Não é de surpreender que fatores de risco como idade avançada, morar em uma área não urbana e longas estadias em unidades de tratamento de ebola estivessem ligados a um maior risco de mortalidade após a alta”, escreveram os autores no artigo publicado no The Lancet Infectious Diseases.

    O coautor do estudo, Mory Keita, MD, epidemiologista da República da Guiné, que atualmente é coordenador de campo da Organização Mundial de Saúde (OMS) na República Democrática do Congo, disse em comunicado para a imprensa que a insuficiência renal é uma “causa de morte biologicamente plausível” em sobreviventes do ebola.


    “Anteriormente, o vírus foi detectado em amostras de urina durante a fase aguda da enfermidade, demonstrando que pode infectar o rim. Alguns pacientes com o ebola desenvolvem lesão renal aguda, o que pode levar a insuficiência renal a longo prazo e ao aumento da mortalidade mesmo após a aparente recuperação inicial”, acrescentou Mory Keita.

    Os autores disseram ainda que a insuficiência renal se baseava, principalmente, nos relatos de familiares de anúria, com altas concentrações de creatinina em alguns casos. Eles também observaram que outras condições, como malária, tuberculose pulmonar e hipertensão arterial, também poderiam ter contribuído para as mortes.

    Os dados mais recentes da OMS indicam que, durante o atual surto de ebola na República do Gongo, que está em andamento desde agosto de 2018, houve 2.997 casos, incluindo quase dois mil óbitos.
    Estudo “Primeiro de Seu Tipo”

    Os cientistas observaram que a África Ocidental apresenta a maior coorte de sobreviventes da doença, mais de 17 mil pessoas no total.

    Segundo dados do programa de monitoramento de sobreviventes nacionais da República da Guiné, o Surveillance Active en Ceinture, de dezembro de 2015 a setembro de 2016, os médicos tentaram entrar em contato ou acompanhar outros sobreviventes do ebola que haviam recebido alta das unidades de tratamento utilizando “autópsias verbais”. Eles solicitaram aos familiares próximos informações sobre sinais, sintomas e evolução clínica dos pacientes, assim como os arquivos médicos disponíveis, que foram revisados por epidemiologistas.

    No geral, as informações de acompanhamento estavam disponíveis para 1.130 de 1.270 sobreviventes. A idade mediana na alta dos centros de tratamento foi de 28 anos, e cerca de metade eram mulheres. A duração média de internação foi de 12 dias.

    Embora 59 mortes tenham sido relatadas, a data exata da morte era desconhecida para 43 pacientes.

    Eles descobriram ainda que, até dezembro de 2015, com cerca de um ano de seguimento após a alta hospitalar, os sobreviventes de ebola possuíam um risco cinco vezes maior de morrer em comparação com a população geral na República da Guiné (taxa de mortalidade padronizada por idade 5,2, IC 95% 4,0-6,8). No entanto, após esse período de um ano, de janeiro a setembro de 2016, não houve diferença na mortalidade entre os sobreviventes e a população geral, o que é concordante com outros estudos realizados com mais de um ano após a alta hospitalar, nos quais também não houve diferença de mortalidade.


    Os pesquisadores caracterizaram o estudo como o “primeiro deste tipo a mostrar um aumento significativo na mortalidade de sobreviventes da doença pelo vírus ebola após a alta das unidades de tratamento”.

    Os resultados sugerem que o acompanhamento a longo prazo pode ser necessário em sobreviventes de outras febres virais hemorrágicas, incluindo os vírus da febre de Marburg, Crimeia-Congo, Lassa e Nipah.

    Os autores sugerirem a realização de estudos de acompanhamento de dois anos para medir reduções na expectativa de vida, assim como intervenções clínicas terapêuticas preventivas e precoces contra infecções agudas graves nesses pacientes.

    *Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

    Autor:


    Úrsula Neves


    Jornalista carioca. Diretora executiva do Digitais do Marketing, colunista de cultura e maternidade dos sites Cabine Cultural e Feminino e Além, respectivamente.


    Referências bibliográficas:
    https://www.medpagetoday.com/infectiousdisease/ebola/81998;
    https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(19)30313-5/fulltext;
    https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(19)30429-3/fulltext;
    https://www.who.int/csr/don/29-august-2019-ebola-drc/en/


    Autor: PEBMED
    Fonte: PEBMED
    Sítio Online da Publicação: PEBMED
    Data: 23/09/2019
    Publicação Original: https://pebmed.com.br/ebola-insuficiencia-renal-causa-morte-em-sobreviventes-do-surto/

    Quando realizar o parto em gravidez complicada por hipertensão?



    O momento certo de resolução de uma gravidez é razão para muitas controvérsias. Isso pode tanto acontecer numa gestação de baixo risco que não entra em trabalho de parto espontâneo e atinge a “data provável do parto” com 40 semanas, quanto mais numa gravidez complicada por quaisquer patologias. A gravidez complicada por hipertensão arterial acontece em aproximadamente 10% das gestações, dessas, 2 a 3 % desenvolvem pré-eclampsia.

    O momento de resolução da gestação a partir de 37 semanas parece bem acordado pelo mundo científico. Todos guidelines concordam que o risco de continuar a gravidez supera em muito o benefício da resolução nessa idade gestacional.

    Nas idades abaixo de 34 semanas também existe bastante concordância na possibilidade de se aguardar um melhor prognóstico fetal próximo de 34 semanas se possível desde que a paciente esteja bem controlada.

    As controvérsias de difícil decisão situam-se no período de 34 a 37 semanas. Qual seria a melhor idade para interrupção? Deve-se indicar resolução da gravidez ao alcançar 34 semanas? Ou 37 semanas? Deve-se aguardar o trabalho de parto de forma espontânea ou iniciar indução do parto?

    O estudo

    Um trabalho recente, envolvendo maternidades inglesas e do País de Gales, selecionou pacientes para o estudo que preenchessem os seguintes critérios:
    Idade gestacional entre 34 e 37 semanas;
    Gestações únicas ou gemelares dicoriônicas diaminióticas com pelo menos um feto viável;
    Idade materna de pelo menos 18 anos.

    O único critério de exclusão era a previsão de parto nas próximas 48 horas por alguma indicação médica.

    Assim, as pacientes foram randomizadas para o estudo de acordo com a gravidade de sua hipertensão no momento da admissão, cidade de origem, número de fetos, cesárea prévia e idade gestacional (34, 35 ou 36 semanas).

    Foram recrutadas 901 pacientes das quais 450 no grupo de parto planejado e 451 no grupo de conduta expectante até 37 semanas.
    Quando realizar o parto?

    Entre os resultados, neste trabalho que avaliou pacientes com pré-eclâmpsia no final da gravidez, observou-se que o parto programado reduziu a morbidade, mas aumentou a necessidade de assistência ao recém-nascido (com admissões em unidade de UTI neonatal – principalmente pela prematuridade, nem tanto pela necessidade respiratória). Os custos com internação também foram menores neste grupo.


    Nas gestações complicadas por pré-eclâmpsia tardia (a partir de 34 semanas) abreviar o parto planejando-o antes das 37 semanas melhora o seguimento puerperal, mas aumenta os índices de admissão em unidades neonatais pela exclusiva prematuridade. Postergar o parto ganhando apenas alguns dias aumentou a morbidade materna de forma desaconselhável.

    É importante ressaltar que os dados deste trabalho não podem ser extrapolados para hipertensas crônicas ou aquelas com hipertensão gestacional.


    Autor:


    João Marcelo Martins Coluna


    Médico Ginecologista e Obstetra formado pela Universidade Estadual de Londrina • Mestrado em Fisiopatologia pela Unoeste (Universidade Oeste Paulista) • Docente da Unoeste (Presidente Prudente) – departamento materno infantil • Preceptor Residência Médica Hospital Regional Presidente Prudente – SP • Plantonista Ginecologia e Obstetrícia Hospital Regional Presidente Prudente • Plantonista Ginecologia e Obstetrícia Hospital Estadual Dr. Odilo Antunes Siqueira (Presidente Prudente – SP) • Plantonista Ginecologia e Obstetrícia Santa Casa de Misericórdia de Adamantina
    Plantonista Socorrista Santa Casa de Misericórdia Presidente Prudente • Médico Regulador ambulatorial município de Dracena – SP • Médico Preceptor ambulatorial UNIFADRA (Dracena – SP) • Ginecologista do serviço ambulatorial de Narandiba (SP) • Ginecologista e Obstetra do serviço ambulatorial de Pirapozinho (SP).


    Referência bibliográfica:

    Chappell LC, et al. Planned early delivery or expectant management for late preterm pre-eclampsia (PHOENIX): a randomised controlled trial. The Lancet. Published online August 28, 2019. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(19)31963-4


    Autor: PEBMED
    Fonte: PEBMED
    Sítio Online da Publicação: PEBMED
    Data: 23/09/2019
    Publicação Original: https://pebmed.com.br/quando-realizar-o-parto-em-gravidez-complicada-por-hipertensao/

    Antidepressivos podem interferir na perda de peso?

    mão segurando medicamentos antidepressivos, com outros ao fundo

    Uma das grandes preocupações dos médicos que possuem pacientes em tratamento psiquiátrico e que estão com sobrepeso ou obesidade é a interferência da medicação, principalmente antidepressivos e antipsicóticos, no peso. Por isso, um recente estudo canadense, publicado no Obesity, visou comparar a perda de peso em pacientes que tomam alguma dessas classes de medicamentos, ou ambas, com quem não toma.

    O estudo analisou mais de 17 mil pessoas inscritas em um programa de mudança de estilo de vida, supervisionado por médicos da Wharton Medical Clinic, em Ontário, no Canadá. Desses, cerca de 23% estavam em uso de pelo menos um medicamento psiquiátrico: 3457 participantes tomavam antidepressivos, 172 usavam antipsicóticos e 465, ambos.
    Medicações psiquiátricas interferem na perda de peso?

    Os resultados mostraram que a perda de peso entre os pacientes psiquiátricos e aqueles que não usavam nenhuma medicação do tipo foi bem parecida. Depois de 21 meses, a perda média foi de 3,4 kg (2,9% do peso corporal inicial), com os homens perdendo cerca de 1 kg a mais que as mulheres. Em resumo, cerca de 28% dos participantes do estudo perderam 5% ou mais do peso corporal inicial, e 10% perderam 10% ou mais.

    Apesar de todos perderam uma quantidade significativa de peso (P <0,0001), quando foi separado por sexo, os homens tiveram uma diferença maior: aqueles que tomavam antidepressivos perderam um pouco menos de peso que os que usavam as duas classes de medicamentos ou nenhuma delas (3,2 ± 0,3 kg vs. 5,6 ± 0,9 kg e 4,3 ± 0,1 kg; P <0,05). Enquanto isso, as mulheres com uso de uma ou duas das classes de medicamentos psiquiátricos tiveram uma perda de peso semelhante às que não usavam nenhum dos medicamentos (P> 0,05).


    Por ser uma preocupação comum que os fármacos antidepressivos e antipsicóticos possam interferir no peso, muitas vezes os médicos não insistem na mudança de hábito de pacientes com sobrepeso ou obesidade. Os resultados do estudo, porém, mostram que, apesar de alguns medicamentos possuírem efeitos adversos relacionados ao peso, se o paciente utilizar estratégias para perda de peso e mudanças para hábitos saudáveis, os medicamentos não possuem tanta interferência.

    Assim, os profissionais de saúde não devem ter receio de encorajar esses pacientes a se envolver em programas de emagrecimento, focando sempre na importância do acompanhamento médico. Além disso, como o estudo não se aprofundou nos fármacos, na hora da escolha é importante avaliar de acordo com os efeitos, para que cada paciente possa ter o tratamento correto sem interferir tanto em outras questões da sua saúde.


    Referência bibliográfica:
    Wharton S, et al. Effectiveness of a Community‐Based Weight Management Program for Patients Taking Antidepressants and/or Antipsychotics. Obesity. V 27, n 9, september 2019. P 1539-1544. https://doi.org/10.1002/oby.22567


    Autor: PEBMED
    Fonte: PEBMED
    Sítio Online da Publicação: PEBMED
    Data: 23/09/2019
    Publicação Original: https://pebmed.com.br/antidepressivos-podem-interferir-na-perda-de-peso/