terça-feira, 31 de maio de 2022

Refluxo: por que alguns alimentos elevam risco



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Dor na região do estômago, queimação e ânsia. Esses eram alguns dos sintomas que a estudante de educação física Emanuelle Carolina Pereira, de 21 anos, tinha ao sofrer com o refluxo (ou doença do refluxo gastroesofágico).

O refluxo ocorre devido ao retorno anormal do conteúdo do estômago (com pH ácido) ao esôfago, podendo atingir, em alguns casos, a laringe e a cavidade oral. Segundo especialistas, alimentos que provocam um maior relaxamento da musculatura da transição entre o esôfago e o estômago estão associados às queixas da doença. Assim, a ingestão de chocolates, cafés, refrigerantes, bebidas alcoólicas e frituras aumentam o risco de a pessoa desenvolver o problema. Entenda mais abaixo.

A condição se torna uma doença quando os sinais ocorrem ao menos uma vez por semana e atrapalham a qualidade de vida do paciente. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, cerca de 25% da população adulta sofre com o incômodo.

Emanuelle conta que se queixava desde bebê, mas que os efeitos maiores foram sentidos quando ela era adolescente. "Comecei a me alimentar mais com fast food e sentia ele voltando", diz.

Três anos atrás, ela iniciou um tratamento de curta duração para amenizar os sintomas e fazer com que as crises diminuíssem. Ela mudou os hábitos alimentares e sentiu uma melhora no dia a dia.



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Emanuelle, de 21 anos, foi diagnosticada com lesões no esôfago

No entanto, um ano depois de iniciar o procedimento, voltou a comer de forma errada, com alimentos gordurosos, e também sofreu com alguns efeitos colaterais da medicação.

Ao realizar uma nova endoscopia, exame comum que verifica alterações dos órgãos gastrointestinais, ela recebeu o diagnóstico de lesões no esôfago.

A estudante segue tratando esse novo sintoma e espera que os sinais do refluxo diminuam, já que atrapalham muito sua rotina. "Ele complica um pouco os exercícios que exigem mais força abdominal. Para comer também é ruim, pois dá muita sensação de queimação. Não é nada legal."

Coxinha e café eram os grandes vilões

O aposentado José Félix, de 64 anos, também sofreu com a doença do refluxo gastroesofágico por anos. "Fã" de coxinha, café e comidas gordurosas, ele sentiu os efeitos da ingestão excessiva desses alimentos.

Os sinais ocorriam quase imediatamente depois de consumi-los e ele não se dava conta que estava desenvolvendo refluxo.



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José Félix, de 64 anos, se alimentava mal e sofreu com refluxo por anos

"Sentia muita queimação, soluço e, às vezes, era tão forte que dava até tontura quando eu me abaixava para pegar algo", relembra.

Ignorando os sintomas por muito tempo e pegando receitas caseiras na internet — o que os médicos não recomendam— ele só procurou um gastroenterologista quando a condição começou a atrapalhar muito suas atividades no dia a dia.

Depois de alguns exames, recebeu o diagnóstico de refluxo e já estava desenvolvendo uma gastrite. Além da medicação, José precisou mudar seu padrão alimentar e levar a sério o tratamento.

"Parei com fritura e segui todas recomendações médicas. Depois de umas semanas, já senti uma grande melhora", diz.

Até hoje o aposentado tenta seguir uma alimentação mais saudável e evita fast food e bebidas cafeinadas. Ele diz que às vezes é difícil resistir, mas que não deseja sentir os sintomas que tinha anteriormente.

"Se como uma coxinha até hoje não me sinto 100%. Então, evito."

O que causa o refluxo?



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Resistir às frituras é uma forma de diminuir o risco

O retorno do conteúdo do estômago para o esôfago pode ser fisiológico ou, quando ocorre de forma frequente, é caracterizado pela doença do refluxo gastroesofágico.

"Em condições normais, existe entre o esôfago e o estômago um mecanismo de barreira anatômica e funcional, que pode ser influenciado por alguns fatores que acabam favorecendo a ocorrência do refluxo", explica Helen Perussolo Alberton, médica do Serviço de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR).

Geralmente, maus hábitos alimentares são os principais causadores do problema. Os alimentos que provocam um maior relaxamento da musculatura da transição entre o esôfago e o estômago —conhecido como esfíncter esofágico inferior —estão associados às queixas da doença.



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O consumo de frutas cítricas em excesso também está associado ao refluxo

A ingestão de chocolates, cafés, refrigerantes, bebidas alcoólicas e frituras aumentam o risco de a pessoa desenvolver o problema.

"Estes têm seu tempo de digestão no estômago mais prolongado. As bebidas gaseificadas também aumentam a pressão dentro do órgão, piorando o refluxo", ressalta Clóvis Massato Kuwahara, endoscopista e professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

O tabagismo também aumenta a incidência da doença do refluxo gastroesofágico. Além do cigarro, o consumo excessivo de frutas cítricas como limão, laranja, maracujá e outras também estão associados à condição.



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Café e chocolate devem ser evitados

Quais são os sintomas?

Os sinais podem demorar a aparecer e é importante que assim que os primeiros sintomas surjam, a pessoa procure um médico gastroenterologista.

Os mais comuns são azia, queimação sentida geralmente atrás do peito, e a regurgitação, que é a percepção do retorno do conteúdo ácido em direção ao esôfago e boca.



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Quando acontece de forma frequente, o retorno do conteúdo do estômago para o esôfago é caracterizado pela doença do refluxo gastroesofágico

O refluxo também pode se manifestar com sintomas atípicos como tosse, rouquidão, pigarro, sensação de afogamento, mau hálito e até desgaste do esmalte dentário.

Ele ainda pode comprometer órgãos extraesofágicos, diz a médica do Hospital Marcelino Champagnat.

Para receber o diagnóstico de doença, é necessário que o paciente faça consultas com especialistas e realize exames específicos como a endoscopia.

Como tratar o problema?

A abordagem inicial deve ser feita com mudanças comportamentais e alimentares.

Nesta primeira, é possível realizar com ações simples no dia a dia. Uma delas é respeitar os horários das refeições, realizá-las de três em três horas e evitar a ingestão excessiva de pratos pesados e calóricos antes de dormir.

Também é aconselhado elevar a cabeceira da cama para evitar o refluxo noturno e evitar possíveis engasgos.

Já na alimentação, é indicada uma diminuição do consumo de comidas e bebidas ricas em cafeína, gordura e acidez.

Em paralelo, sob orientação médica, o paciente pode tomar medicamentos antiácidos que auxiliam na melhora do "esvaziamento" do estômago. Normalmente, todo o tratamento pode durar seis meses.

Quando não ocorrem mudanças no quadro, a pessoa precisa realizar novos exames. Um deles é a manometria, que estuda a função motora do esôfago e avalia se o órgão tem algum tipo de fragilidade ou alterações nas funções peristálticas.

Eduardo Grecco, gastrocirurgião e endoscopista do Instituto EndoVitta, explica que a pessoa também pode ser submetida ao procedimento chamado phmetria, que mede a acidez gástrica e indica a quantidade ideal de remédio que o médico pode receitar.

Em alguns casos, há ainda alternativas cirúrgicas e endoscópicas indicadas para indivíduos que possuem um nível alto de acidez no esôfago.

"No caso de procedimentos cirúrgicos, é confeccionada uma válvula antirefluxo em volta do esôfago e o paciente fica um ou dois dias internado", explica Grecco, que é coordenador do Serviço e da Residência Médica de Endoscopia da Faculdade de Medicina do ABC. Segundo ele, aproximadamente 80% dos pacientes apresentam resultado satisfatório e ficam sem sintomas do refluxo após o procedimento.





Autor: Priscila Carvalho
Fonte: Rio de Janeiro para a BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 31/05/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-61521632

O câncer raro que tem dor nas costas como principal sintoma

O mieloma múltiplo é um tipo de câncer do sangue que afeta o sistema hematológico, resultando, principalmente, em complicações nos rins e nos ossos — com sintomas difíceis de serem diferenciados de outras várias doenças.

A doença ataca os plasmócitos, um tipo de glóbulo branco, que tem a função de produzir anticorpos para combater infecções. Em vez de células saudáveis, surgem versões malignas que se multiplicam e passam a produzir anticorpos anormais, conhecidos como proteína M ou proteína monoclonal, que prejudica diferentes partes do organismo — e por isso a doença leva a palavra "múltiplo" em seu nome.

Os pacientes costumam sentir, antes de qualquer outro sinal, uma dor lombar, sintoma bastante genérico, que pode ser resultado de uma noite dormida em posição não tão confortável, um treino pesado demais na academia ou tantos outros fatores do dia a dia. Mas que também é considerado o principal sintoma desse câncer raro.


Foi justamente esse incômodo que levou o comerciante Luiz Fernando Fontenele, de 37 anos, a começar uma longa jornada de exames e consultas médicas até descobrir a doença. "Eu sentia muita dor e só sete meses depois de sofrer a primeira fratura recebi o diagnóstico. Eu mesmo levantei a suspeita por ter lido sobre os sintomas na internet", lembra.


Assim como aconteceu com Luiz Fernando, a doença pode levar à fraturas, por deixar os ossos mais fracos, anemia, pelo excesso de células plasmáticas na medula óssea, que causa uma redução número de células formadoras de sangue, e em casos mais graves, a insuficiência renal, devido ao dano que o quadro causa aos túbulos renais.



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Luiz Fernando no evento de divulgação 'Juntos Somos Mais Fortes', promovido pela Amgen e International Myeloma Foundation Latin America

Embora raro, é o segundo câncer de sangue mais frequente no mundo. No Brasil, estima-se que quatro a cada cem mil pessoas sofram com a doença, uma média de 7600 novos casos a cada ano.

A doença é mais comum para pessoas com mais de 60 anos, mas há diagnósticos em pessoas mais jovens. O caso mais emblemático da literatura mundial aconteceu aqui no Brasil. Um menino de 8 anos, morador de Salvador, na Bahia, foi diagnosticado com o quadro. De acordo com a organização IMF (International Myeloma Foundation Latin America), ele foi a primeira criança da história a receber o diagnóstico.

O mieloma múltiplo pode ser detectado por exame de urina ou pelo exame de sangue chamado de eletroforese de proteínas séricas, solicitado quando os sintomas indicam doença inflamatória, doença autoimune, infecção aguda ou crônica, doença hepática ou renal.

"Embora acredite que o exame não precise ser pedido como rotina para todas as pessoas - até por que isso poderia significar um gasto público que tiraria recursos de outras doenças - considero inaceitável que um paciente possa ficar tanto tempo com sintomas, e por desconhecimento de profissionais que não são especialistas, não tenha um pedido de exame que leve ao diagnóstico", afirma Angelo Maiolino, professor de hematologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Após os primeiros sintomas, 29% dos pacientes com mieloma múltiplo demoram um ano para receberem o diagnóstico, e 28% esperam por um tempo ainda mais longo, de acordo com uma pesquisa feita pela Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia).

"Já vi casos de pessoas que estavam fazendo diálise, com os rins muito comprometidos, que só descobriram a doença três anos depois", diz Maiolino.



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Dor nas costas é o principal sintoma do câncer raro

Tratamento

Desde o primeiro diagnóstico de mieloma múltiplo, no século 18, a medicina apresentou avanços na evolução tato nos conhecimentos biológicos da doença como nos tratamentos, que hoje permitem que os pacientes com esse tipo de câncer tenham vidas mais longas e com mais bem-estar.

A doença não tem cura, mas para muitos casos, os tratamentos que permitem que os pacientes vivam bem, com bom controle dos sintomas. "É como se eles tivessem uma doença crônica como é o diabetes, a hipertensão...", diz Maiolino.

A intervenção precoce, de acordo com o médico, é o caminho para que o avanço da doença não comprometa a saúde dos pacientes de forma irreversível. "Usamos um tipo de tratamento para cada estágio da doença, mas se o quadro é descoberto tardiamente, o paciente não conseguirá colher os benefícios das fases iniciais do cuidado", explica.

Outra opção bastante comum é a indicação do transplante de células-tronco. Antes da realização do transplante, é feito o tratamento com quimioterapia ou radioterapia para que a medula óssea já existente (local onde o corpo fabrica sangue, glóbulos brancos e vermelhos e plaquetas) dê espaço para que uma nova medula possa ser criada.

A nova medula óssea é um líquido com gelatinoso que pode vir de doador ou ser autólogo (do próprio paciente).

Luiz Fernando foi transplantado, mas sofreu uma recidiva, ou seja, a doença voltou. "Foi mais difícil do que receber o diagnóstico. Faço um tratamento específico, com uma combinação de medicamentos a cada 28 dias em ambiente hospitalar e a cada 21 dias em casa. Descobri o mieloma múltiplo com 28 anos e não me lembro de um dia que passei sem dor. É difícil, mas a gente aprende a conviver. A combinação de remédios permite que eu tenha uma vida normal."







Autor: Giulia Granchi
Fonte: BBC News Brasil em São Paulo
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 30/05/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61528422

Secretaria Municipal abre mais de sete mil vagas para cursos de tecnologia, informática e empreendedorismo


Foto: Prefeitura do Rio


A Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia (SMCT), por meio das Naves do Conhecimento, abriu inscrições para sete mil vagas em diversos cursos gratuitos nas áreas de tecnologia, informática e empreendedorismo. Os cursos serão realizados no formato presencial e online.

Palestras e oficinas gratuitas também estão disponíveis na programação oferecida para o mês de junho.

O secretário municipal de Ciência e Tecnologia, Willian Coelho, afirma que a tecnologia é uma realidade do cotidiano, por isso os cursos são necessários. “Vivemos uma nova cultura estabelecida pela tecnologia. Ela está cada vez mais efetiva em nossa rotina diária. Independente da área de atuação, quem não acompanha os avanços tecnológicos, acaba ficando em desvantagem no mercado de trabalho. As Naves atuam como núcleos fundamentais de capacitação e inclusão para a população”, completa Coelho.

Entre os temas oferecidos pelas Naves estão: Excel para Iniciantes, Informática Básica Kids, Code Club (Scratch), Excel para Ambiente Empresarial, Canva: O Design para seu empreendimento, Aprendendo Excel em VBA, Game Design, Retrato em Estúdio, Informática Básica Teens, Informática Básica Senior, Edite Imagens com Photoshop, Introdução ao Marketing Digital, Manutenção Preventiva (Desktops e Notebooks), Edição de Vìdeo em Lightworks, Software Livre (Linux mint), Mercado de Trabalho e Tecnologia, Tecnologias 5G e 6G, entre outros.






Autor: Estéfane de Magalhães
Fonte: diariodorio
Sítio Online da Publicação: diariodorio
Data: 26/05/2022
Publicação Original: https://diariodorio.com/secretaria-municipal-abre-mais-de-sete-mil-vagas-para-cursos-de-tecnologia-informatica-e-empreendedorismo/

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Alzheimer: mirtazapina é eficaz no tratamento de comportamentos agitados?

 A agitação possui alta prevalência em pacientes com demências com impacto importante nas relações familiares e qualidade de vida. As abordagens de primeira linha no tratamento da agitação nessa população envolvem estratégias não farmacológicas. Os tratamentos farmacológicos, por sua vez, são utilizados como segunda linha pela evidência de tamanho de efeito pequeno (ou até ausência de eficácia de determinadas classes de drogas), além de problemas importantes relacionados a efeitos adversos.

Os antipsicóticos são emblemáticos nesse quesito, pois apesar de uso disseminado na prática clínica, associam-se a risco aumentado de eventos cerebrovasculares e mortalidade nessa população. Mesmo sendo alternativa de segunda linha, o tratamento farmacológico é necessário em proporção relevante dos casos, como por exemplo, quando há heteroagressividade importante ou sintomas psicóticos associados. Dessa forma, o estudo aprofundado dessas estratégias é essencial para guiar a prática e determinar alternativas com melhor perfil de eficácia e segurança. Publicado em 2021, o SYMBAD objetiva avaliar a efetividade da mirtazapina em comparação ao placebo no tratamento da agitação em pacientes com doença de Alzheimer.


Metodologia e população

Trata-se de um ensaio clínico randomizado (n=102 em cada grupo), duplo cego, com recrutamento em múltiplos centros no Reino Unido e acompanhamento de doze semanas. Foram incluídos pacientes refratários a medidas não farmacológicas, com diagnóstico de doença de Alzheimer provável ou possível pelos critérios da National Institute of Neurological and Communicative Diseases and Stroke—Alzheimer’s Disease and Related Disorders Association e aqueles com pontuação de 45 ou mais no Cohen­Mansfield Agitation Inventory (CMAI). Foram excluídos aqueles já em uso de antipsicóticos ou antidepressivos, com condições clínicas graves, que não possuíam família ou cuidador ou com contraindicações absolutas de uso do fármaco. A dose alvo de mirtazapina foi de 45 mg com possibilidade de aumento (de 15 em 15 mg) a cada duas semanas. O desfecho primário envolveu avaliar a redução da agitação em doze semanas de tratamento através da pontuação do CMAI na comparação da mirtazapina com placebo.

O estudo foi planejado para realizar também a comparação do placebo e mirtazapina com a carbamazepina, porém por conta de problemas de recrutamento o braço da carbamazepina foi interrompido com 40 pacientes após análise de dados de tolerância e eficácia. Os dados referentes ao grupo da carbamazepina serão publicados separadamente segundo os autores.

Resultados e limitações

Em ambos os grupos ocorreu diminuição de dez pontos da pontuação média da CMAI em seis semanas, mantendo-se relativamente estável até doze semanas. Assim como o desfecho primário, a maior parte dos desfechos secundários não demonstrou benefício da mirtazapina com relação ao placebo.

Apesar do número total de efeitos adversos classificados como graves terem sido semelhantes entres os grupos, a mortalidade foi maior no grupo em uso da mirtazapina (sete mortes em comparação com uma morte no grupo placebo). Não há poder estatístico suficiente para atribuir o excesso de mortalidade à mirtazapina em vigência do acaso, porém trata-se de alerta importante.

Dentre as limitações, pode-se destacar o desbalanceamento na proporção de pacientes homens e mulheres entre os dois grupos, porém análises ajustadas não demonstraram diferenças nos resultados. Os autores destacam que a pouca representatividade de pacientes tratados na atenção primária pode impor certos limites na generalização dos resultados. Além disso, mesmo utilizando critérios amplos para o diagnóstico de doença de Alzheimer o resultado não é generalizável para outras etiologias de demência.

PEBMED e HA: O uso da inteligência artificial no diagnóstico de Alzheimer [podcast]

Mensagem prática

A mirtazapina não demonstrou benefício no tratamento da agitação em pacientes com doença de Alzheimer.

 O estudo demonstrou risco potencial de aumento da mortalidade no grupo da mirtazapina.

Autor(a):

Victor Grandi Bianco

Graduação em medicina pela UFRJ ⦁ Residência médica em psiquiatria pelo IPUB/UFRJ ⦁ Mestrando em Saúde Pública pelo Imperial College London.






Autor: Victor Grandi Bianco
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 26/05/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/alzheimer-mirtazapina-e-eficaz-no-tratamento-de-comportamentos-agitados/

Pré-eclâmpsia: revisão dos principais aspectos

Artigo publicado no The New England Journal of Medicine em maio de 2022 revisa os principais aspectos da pré-eclâmpsia e reúne dados publicados nos últimos 5 anos.

A pré-eclâmpsia é uma das síndromes hipertensivas da gestação, caracterizada por elevação da pressão arterial após 20 semanas de idade gestacional e acometimento de um ou mais órgão-alvo. Ela afeta de 2 a 4% das gestações e está associada ao aumento de risco de desfechos adversos.



Predição de pré-eclâmpsia

Há duas estratégias para identificação de mulheres sob risco de desenvolver pré-eclâmpsia: identificação de fatores clínicos e sociodemográficos e a associação deles com rastreio ultrassonográfico e avaliação bioquímica da função placentária. Essas estratégias podem ser adotadas em qualquer fase da gestação, mas quando realizada no primeiro trimestre, permite a adoção de medidas profiláticas.

Para conhecer a calculadora de risco da Fetal Medicine Foundantion, acesse http://fetalmedicine.org/research/assess/preeclampsia/first-trimester.

Medidas preventivas

Uma revisão sistemática de 15 ensaios clínicos, envolvendo um total de 3.322 mulheres, mostrou que o exercício físico reduz o risco de pré-eclâmpsia (razão de chances, 0,59; IC 95%, 0,37 a 0,90) sem efeitos fetais adversos. Para alcançar esses benefícios, as mulheres devem realizar pelo menos 140 minutos por semana de exercício de intensidade moderada, suficiente para elevar a frequência cardíaca e permitir falar, mas não cantar.

Além do exercício físico, o uso de ácido acetilsalicílico e cálcio desde o primeiro trimestre também reduz o risco de desenvolver pré-eclâmpsia em mulheres de grupo de risco.

Diagnóstico

Hipertensão gestacional (PA ≥ 140 mm Hg/90 mmHg) acima de 20 semanas, acompanhada por uma ou mais das seguintes alterações:

Proteinúria;

Complicações neurológicas (eclampsia, estado mental alterado, cegueira, dores de cabeça graves ou persistentes);

Edema agudo de pulmão;

Complicações hematológicas (contagem de plaquetas < 150.000/μL, hemólise);

Lesão renal aguda (creatinina ≥ 1 mg/dL);

Envolvimento hepático (níveis elevados de aminotransferase >40 UI/litro com ou sem dor abdominal);

Disfunção uteroplacental (descolamento prematuro de placenta, restrição de crescimento fetal).

Manejo

A resolução da pré-eclâmpsia se inicia com o parto. Apesar do risco de piora nos primeiros 3 dias, o tratamento definitivo é a resolução da gestação. Recomenda-se a resolução em gestações pré-termos, quando há risco de deterioração materna ou fetal e no termo (a partir de 37 semanas) quando os parâmetros permitem.

O tratamento farmacológico é feito com anti-hipertensivos para controle dos níveis pressóricos, porém, não há fármaco que mude a história natural da pré-eclâmpsia.

Deve-se manter monitorização clínica e laboratorial, com aferição diária da pressão arterial e exames de comprometimento sistêmico duas vezes por semana. Há uma calculadora de risco online, que permite estimar o risco de desfechos maternos desfavoráveis, baseada em alguns parâmetros clínicos e laboratoriais, que poderia ser usada para aumentar a vigilância materna (fullPIERS – Preeclampsia Integrated Estimate of Risk). Disponível em https://pre-empt.obgyn.ubc.ca/home-page/past-projects/fullpiers/.

Menciona-se também o uso do sulfato de magnésio para “neuroproteção” materna e profilaxia de eclâmpsia e o uso de corticoides para “maturação” pulmonar fetal.

Puerpério

A pré-eclâmpsia pode se manifestar também no período puerperal, como resultado da redistribuição do fluído intra e extravascular, geralmente no 3º ao 6º dia pós-parto.

Repercussões futuras

O desenvolvimento de pré-eclâmpsia aumenta o risco de síndrome hipertensivas em futuras gestações e aumenta o risco cardiovascular ao longo da vida dessas mulheres e também dos seus conceptos.

Autor(a):

Ênio Luis Damaso

Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto.






Autor: Roberta Esteves Vieira de Castro
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 27/05/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/pre-eclampsia-revisao-dos-principais-aspectos/

Disbiose e obesidade em crianças

Em cada fase da vida de uma criança existem diferentes fatores que afetam a microbiota. Estudos recentes apontam que a modulação precoce da microbiota intestinal com probióticos pode modificar o padrão de crescimento da criança por conter o ganho de peso excessivo durante os primeiros anos de vida.

Esse e outros assuntos, a pediatra Roberta Castro aborda no vídeo de hoje, comentando a relação entre disbiose e obesidade em crianças. Assista!


Autor(a):

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra.





Autor: Roberta Esteves Vieira de Castro
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 27/05/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/disbiose-e-obesidade-em-criancas/

Anvisa: Teste rápido para detecção da tuberculose latente é aprovado no Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o QIAreach QuantiFERON – TB, teste rápido de alta performance para auxiliar no diagnóstico da infecção latente por tuberculose (ILTB).

“A chegada dessa aprovação amplia o acesso aos testes IGRA ILTB a localidades mais distantes e com pouca infraestrutura, uma vez que para a sua realização não é necessário conhecimento técnico. Dentro de 20 minutos, o teste fornece a resposta ao paciente através de resultados qualitativos”, explicou o gerente de marketing regional LATAM para diagnósticos moleculares da QIAGEN, Raphael Oliveira.


O objetivo principal dessa autorização da Anvisa é viabilizar a realização dos testes em áreas que apresentam alta carga de contaminação, com poucos recursos para o combate da doença e a necessidade da testagem descentralizada, sem infraestrutura laboratorial.

O Relatório Mundial da Tuberculose 2019, da Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que 10 milhões de casos de tuberculose são registrados anualmente. Dados do último relatório indicam que a enfermidade infecciosa é a que mais mata jovens e adultos, ultrapassando o HIV/AIDS, com mais de 4.100 óbitos e cerca de 30 mil doentes.

No Brasil, em 2021, foram registrados 68.271 casos novos e 4.543 óbitos em decorrência da doença. Os estados do Amazonas, Rio de Janeiro e Roraima apresentaram os maiores índices de tuberculose. Em relação à mortalidade, os índices foram superiores nos estados do Rio de Janeiro, Acre e Amazonas.

Infecção latente por tuberculose

A infecção latente da tuberculose ocorre quando um indivíduo é infectado pelo M.tuberculosis a partir de uma pessoa com tuberculose bacilífera (formas pulmonar e laríngea) e o bacilo permanece viável sem causar a enfermidade no indivíduo.

Pacientes com infecção latente por tuberculose são considerados reservatórios do bacilo. Desta maneira, em caso de qualquer alteração em relação à imunidade, eles podem vir a desenvolver a forma ativa, sintomática e altamente contagiosa da doença.

Entre os grupos de risco estão portadores de HIV positivo, indivíduos que recebam tratamento anti-TNF-alfa ou imunossupressores, aqueles que tiveram contato com portadores da tuberculose, crianças abaixo de cinco anos, profissionais da área da saúde, imigrantes, população privada da liberdade e que vivam em ambiente comunitário, como idosos e militares.

Aldeia indígena enfrenta surto de tuberculose

Índios da etnia Apinajé ocuparam essa semana a sede da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) em Tocantinópolis, no Bico do Papagaio, em protesto por melhores condições de saúde.

As famílias afirmam que enfrentam um surto de tuberculose e que desde 2020 não contam com a assistência necessária nas aldeias. Eles denunciam que falta o básico, como medicamentos e ambulâncias. Na região vivem cerca de três mil indígenas em mais de 60 aldeias.






Autor: Úrsula Neves
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 27/05/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/anvisa-teste-rapido-para-deteccao-da-tuberculose-latente-e-aprovado-no-brasil/

quinta-feira, 26 de maio de 2022

transmissão de varíola dos macacos e diz que doença não é preocupante

Reprodução/Jovem Pan News

Roberto Zeballos foi o convidado do programa Pânico desta quarta-feira, 25

Nesta quarta-feira, 25, o programa Pânico recebeu o médico imunologista Roberto Zeballos. Em entrevista, ele esclareceu sobre a varíola dos macacos, doença que teve alta de casos nos últimos meses. “É um vírus que a transmissão dele é difícil de ocorrer, precisa ter contato íntimo, tem que ser gotas grandes, um contato bem íntimo para transmitir. Não houve nenhuma fatalidade. O caso do Texas circulou em dúzias de pessoas e nenhuma delas se contaminou. Colocar máscara, por melhor que seja a intenção, é uma total falta de conhecimento de como se transmite essa doença”, afirmou. Ainda não há casos confirmados de varíola dos macacos no Brasil, porém a infecção está presente com mais de 131 casos em 19 países, como Alemanha, Itália e Estados Unidos.

Porém, para Zeballos, para os profissionais da saúde, é necessário cuidado para o tratamento das feridas de pele comumente causadas pela doença. “Talvez o profissional de saúde entre em contato com as feridas da pele e tenha que usar luva e máscara, mas no dia a dia não transmite por aerosol. Fatalidade ocorria na época do HIV, que as pessoas estavam imunossuprimidas. É mais comum em pacientes imunossuprimidos. Tem tratamento e a transmissão é leve”, disse. “É perigoso em criança. Se você tem menos de 50 anos, vamos estimular a vacinação MMR. Se por acaso acontecer, fica mais leve. Estão esquecendo da dengue? Isso eu estou vendo.”

Confira na íntegra a entrevista com Roberto Zeballos:



Autor: Dr. Zeballos
Fonte: jovempan
Sítio Online da Publicação: jovempan
Data: 25/05/2022
Publicação Original: https://jovempan.com.br/saude/dr-zeballos-explica-transmissao-de-variola-dos-macacos-e-diz-que-doenca-nao-e-preocupante.html

FAPERJ amplia as possibilidades de acúmulo de bolsas de pós e atividades remuneradas

A direção da Fundação anunciou, nesta quarta (14/3), as novas diretrizes que ampliam as possibilidades de acúmulo de bolsas FAPERJ de pós-graduação (mestrado e doutorado) e de pós-doutorado em todas as suas modalidades, com atividades remuneradas de ensino e de pesquisa. Veja, abaixo, a íntegra do Comunicado:

A modificação aprovada na reunião do Conselho Superior da FAPERJ, no dia 24 de março de 2022, a partir de proposta da Presidência da FAPERJ, refere-se à exigência, para bolsas de Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado em curso, da obrigatoriedade de não ter vínculo empregatício de qualquer natureza ou outra fonte de renda, excetuando-se contrato de Professor Substituto na mesma Instituição em que cursa a pós-graduação, ou atuação na Educação Básica, seja com vínculo empregatício, seja por meio de bolsas para atuação temporária, tais como as bolsas Cederj, sempre respeitando o limite de 20h de trabalho e exigindo o consentimento por escrito do orientador/supervisor e do coordenador do Programa de Pós-graduação (no caso dos pós-graduandos) ou do dirigente imediato ao qual o pós-doutorando tem sua bolsa vinculada (coordenador da pós-graduação ou Diretor da Instituição).

A modificação amplia as possibilidades de acúmulo da seguinte forma:Para bolsas de Mestrado, Doutorado e Pós-doutorado em curso, é obrigatório não ter vínculo empregatício de qualquer natureza ou outra fonte de renda, excetuando-se contrato para atividade docente temporária em instituição pública ou privada, na Educação Básica ou no Ensino Superior, seja com vínculo empregatício seja por meio de bolsas para atuação temporária, tais como as bolsas Cederj e bolsas Seeduc, ou ainda em empresas, desde que este trabalho seja relacionado ao trabalho de conclusão de curso, sempre respeitando o limite de 20h de trabalho;
Em qualquer caso de acúmulo, será exigido o consentimento por escrito do orientador/supervisor e do coordenador do Programa de Pós-graduação (no caso dos pós-graduandos) ou do dirigente imediato ao qual o pós-doutorando tem sua bolsa vinculada (coordenador da pós-graduação ou Diretor da Instituição);
No caso de atividades em empresas, além do estabelecido acima, deverá ser justificada a compatibilidade da atividade com o trabalho de conclusão, que deverá ser avaliado pela Diretoria da Faperj ao qual o Edital da bolsa está associado, que poderá não aprovar, no caso de não haver compatibilidade entre as atividades.

Justificativa: A experiência como Professor é uma forma de qualificar melhor o estudante ou profissional para o exercício futuro na carreira docente. Assim, como a atividade ligada a uma empresa estimula a inovação.

A limitação em 20 h semanais visa não comprometer o desenvolvimento do projeto vinculado à bolsa, desde que tenha a anuência do(a) orientador(a) ou supervisor(a) e da Instituição.

Observação: Em caso de alguma Instituição de Ensino Superior ou empresa tenha qualquer irregularidade ou inadimplência com a Faperj, não será permitido o acúmulo de bolsa com o contrato de Professor ou pesquisador, após análise do recurso a esse Conselho Superior.

Todos os Editais e chamadas da FAPERJ, nas modalidades de bolsas relacionadas a esses estudantes e profissionais, terão que se adaptar a nova regra aprovada pelo Conselho Superior da FAPERJ. Esta regra igualmente deverá fazer parte do Manual de Prestação de Contas da FAPERJ.




Autor: Ascom Faperj
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 13/05/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=84.7.0

Uma plataforma para medir a emissão de carbono por veículos de modelos variados

Monitoramento de veículos automotores com a medição das emissões de gases que provocam efeito estufa e quais as possíveis compensações ecológicas estão dentro do projeto do empreendedor Ricardo Augusto Braun, que ganhou recursos FAPERJ dentro do edital Programa Doutor Empreendedor: Transformando Conhecimento em Inovação.

A equipe, liderada por Braun, desenvolve o projeto Mobilidade C3 que significa Carro, Compensa, Carbono. Uma plataforma 3 em 1, que mede em tempo real, a distância percorrida (km), a quantidade de CO2 emitida pelo tipo e marca do veículo durante o percurso e o número de árvores para compensar as emissões geradas pela viagem.

Aprovado em processo seletivo para integrar a incubadora do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), o grupo pretende desenvolver uma forma comercial de alinhamento ao sistema mundial de precificação de carbono e, a partir de parcerias com empresas e instituições de silvicultura, em diversos biomas brasileiros, estabelecer formas de compensação ecológica.

Segundo Braun, ainda não existe no mercado plataforma ou aplicativo que calcule, em tempo real, as emissões específicas de carbono de veículos automotores individuais e frotas e, ao mesmo tempo, estime a compensação ecológica para neutralizar as emissões de CO2 através de negócios sustentáveis, como os créditos de carbono.


Ricardo Braun: pesquisador espera conseguir, por meio de plataforma digital, calcular compensações ecológicas de cada veículo monitorado


Dentro do projeto, já está em funcionamento um laboratório off-line que mediu, de forma piloto, emissões de carbono por veículos de modelos variados, de diferentes anos de fabricação, em diferentes estados brasileiros. Foram avaliados carros de 2001 a 2022, durante vários dias, calculado a emissão de carbono por cada um dos veículos e qual seria a necessidade de plantio de árvores ou a preservação de florestas para compensar as emissões de CO2, seguindo as recomendações do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPPC) e o objetivo 13 das Nações Unidas para sustentabilidade.

O desafio atual é a busca por uma saída do universo off para o online, transformando poucos dados em milhares de informações e formas de compensações. E o objeto do desejo é uma ferramenta que traga soluções econômicas e ambientais, permitindo o arquivamento de dados gigantescos e o processamento de análises variadas.

Pós-doutor em Participação Social e Mudanças Climáticas, pela Universidade de Aberdeen, do Reino Unido, Braun explica que, a partir das parcerias com empresas de rastreamento de veículos, quer analisar veículos automotores e frotas via plataforma digital de monitoramento ambiental, e espera conseguir calcular compensações ecológicas de cada veículo monitorado e com isso contribuir com ações de combate às mudanças climáticas. O projeto Mobilidade C3 recebe apoio FAPERJ desde 2021.





Autor: Claudia Jurberg
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 19/05/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=99.7.4

UENF se destaca na pesquisa de materiais que reaproveitam resíduos

Pesquisadores brasileiros vêm colaborando cada vez mais no desenvolvimento de materiais para utilização na construção civil a partir de resíduos sólidos. Essa nomenclatura serve para todos os materiais descartados que chegaram ao fim da sua vida útil, produzidos por residências, comércio, indústria, entre outros. Devido às limitações, principalmente de espaço, e de destinação final para os resíduos, as campanhas e iniciativas visando reduzir a quantidade de lixo produzido, estimular a reutilização e a reciclagem, vêm crescendo em todo o mundo. A iniciativa vem sendo considerada fundamental diante das consequências decorrentes do descarte inadequado, como as poluições do solo, água e ar, além da possibilidade de atrair vetores de doenças e afetar a saúde da população.

O Laboratório de Materiais Avançados do Centro de Ciência e Tecnologia (Lamav) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) há anos vem se dedicando às pesquisas de materiais que utilizam resíduos em sua composição. O coordenador do Programa de Pós-Graduação e doutor em Engenharia e Ciência dos Materiais da Uenf, Carlos Mauricio Fontes Vieira, e sua equipe de mais de 20 pesquisadores e discentes, incluindo pesquisador visitante emérito, pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos, alunos de iniciação científica e técnico de nível médio, muitos deles apoiados pela FAPERJ, vêm desenvolvendo pesquisas em rochas artificiais ou engenheiradas, cerâmica vermelha e compósitos poliméricos reforçados por fibras naturais e materiais álcali-ativados, como os geopolímeros.

Fontes Vieira e sua bolsista de pós-doutorado sênior da Fundação, Elaine Aparecida Santos Carvalho Costa, vêm se dedicando ao projeto “Influência da resina epóxi sintetizada a partir de óleo vegetal residual e resina poliuretano comercial no desenvolvimento de rocha artificial sustentável”. O objetivo do estudo é oferecer mais uma alternativa para o aproveitamento e redução do impacto dos resíduos sólidos no meio ambiente. O engenheiro de materiais explica que a rocha artificial pode substituir várias rochas naturais, entre elas granito, mármore, quartizito e ardósia, entre outras, com a vantagem de possibilitar maior variedade de design e colorações, oferecer maior resistência ao desgaste, às manchas e ao ataque químico, bem como menor porosidade e consequente menor absorção de água.


Em um dos experimentos, a rocha artificial foi produzida com escama de Pirarucu, carga mineral e resina.

Na produção da rocha engenheirada (nomenclatura técnica), segundo o pesquisador, podem ser utilizados vários tipos de resíduos, como pó de brita resultante das pedreiras e resíduos de siderúrgicas como escórias, pó de balão (retido no filtro da chaminé) e a lama do alto-forno (materiais mais finos que são obtidos quando misturados à água). “O aço é um dos materiais mais utilizados em todo o mundo, mas na produção de uma tonelada de aço são gerados cerca de 600 kg de resíduos sólidos”, esclarece Fontes Vieira. O Brasil produz cerca de 36 milhões de toneladas de aço por ano, gerando cerca de 20 milhões de toneladas de resíduos, e a China, maior produtor mundial, produziu em 2021 mais de um bilhão de toneladas, informa o pesquisador.

Elaine Carvalho, que também contou com bolsa da FAPERJ no pós-doutorado nota 10, trabalha no setor de materiais e meio ambiente do LAMAV. Orienta alunos de Iniciação Científica e colabora na orientação de alunos de mestrado e doutorado. “Junto com alunos da pós-graduação venho trabalhando na síntese de resina à base de óleo de cozinha e resíduos de borracha de pneu, vidro de garrafa, quartzito, também utilizando a resina poliuretano derivada de óleo de mamona, na busca de um trabalho com apelo sustentável para o desenvolvimento da rocha artificial”, esclarece a doutora em Engenharia e Ciência dos Materiais. O estudo já rendeu alguns artigos em revistas internacionais, capítulos de livro e participações em vários congressos, incluindo um congresso internacional nos Estados Unidos, no qual ela mesma participou.

Em mais uma frente de pesquisa, ela e os alunos de IC e pós-graduação trabalham com outros tipos de resíduo, como siderúrgico, finos de brita e de beneficiamento de rocha natural, utilizando o método que a indústria de rocha artificial adota, vibração, compressão e vácuo, mas em escala laboratorial. “Buscamos adotar todos os tipos de resíduos que possam ser utilizados em rocha artificial e que tragam propriedades que sejam superiores às rochas naturais, com mármore e granito”, explica Elaine.
 

Parte da equipe do Lamav, que por meio de parcerias com siderúrgicas e indústrias, desenvolve novos materiais.

Logística reversa e parceria com os geradores de resíduo são fundamentais para viabilizar os projetos e fazer com que os produtos cheguem ao mercado. “Muito importante também são as políticas públicas visando a coleta seletiva de lixo, a fim de facilitar o recolhimento e a reciclagem dos diversos materiais”, enfatiza o pesquisador.

No caso do Lamav, foi firmada parceria com a ArcelorMital, siderúrgica localizada em Tubarão, na Grande Vitória (ES), para o fornecimento dos resíduos da siderúrgica. Há também uma parceria com uma fabricante de rochas artificiais para o fornecimento da carga mineral industrial. O pesquisador explica que a substituição da carga mineral na produção da rocha artificial pode chegar a 100%, acrescida de 15 a 20% de resina.

Atualmente o Lamav vem testando o uso de 100% de resíduo de vidro como carga particulada para a obtenção da rocha artificial. O grupo de pesquisa também vem atuando também no desenvolvimento de resinas naturais a partir de biomassas renováveis e de resíduos como a mamona e óleo de cozinha usado. Fontes Vieira destaca ainda o potencial dos materiais álcali-ativados como os geopolímeros, obtidos a partir de resíduos como cinzas, dentre outros e materiais naturais como rochas e minerais, em substituição do cimento. Com a utilização de técnicas de reações álcali-ativadas obtêm-se materiais com propriedades semelhantes aos materiais tradicionais sem a necessidade de processamento térmico em alta temperatura ou menos poluentes que os materiais cimentícios, o que pode acarretar uma melhor eficiência energética do processo de produção, além de minimizar os impactos ambientais. As pesquisas com materiais álcali-ativados visam o desenvolvimento de materiais de construção como blocos, telhas e pavimentos, além de materiais ligantes. O engenheiro conta que o material remonta à antiguidade, e foi usado, inclusive, na construção do Coliseu de Roma como ligante, dentre muitas outras construções. “A redescoberta desses materiais com propriedades cimentícias pode acarretar no desenvolvimento de materiais muito mais sustentáveis que os cimentos convencionais”, diz o pesquisador.

Um projeto anterior, e por isso mais consolidado, é o da produção de cerâmica vermelha (tijolos, telhas, pavimentos intertravados e revestimentos rústicos) a partir de resíduos. Nesse caso, podem entrar na composição do produto diferentes resíduos, preferencialmente na forma de pós ou lamas (para redução do custo), com destaque para lama de alto-forno, lodo da indústria de papel, vidros triturados em geral, além de subprodutos da produção ou de origem agrícola como bagaço de cana, borra de café, resíduo de vinícolas, esterco de vaca; e até bituca de cigarro.


Elaine, ao lado de Fontes Vieira, vem trabalhando com resina à base de óleo de cozinha e resíduos de borracha de pneu e vidro.

O pesquisador explica que, no caso da cerâmica vermelha, mais que substituir a argila, que é um recurso natural não renovável, resíduos orgânicos proporcionam grande economia de combustível na etapa de queima – que para algumas cerâmicas corresponde ao segundo maior item do custo de produção. No município de Campos dos Goytacazes algumas cerâmicas utilizam resíduo da indústria de papel. O reaproveitamento desse resíduo acarretou uma redução aproximada de 2/3 no custo de disposição para o gerador, além de proporcionar aproximadamente uma economia de combustível para as cerâmicas de cerca de 10% na etapa de queima com incorporações na massa argilosa em teores de cerca de 5% em massa. “Está aí um exemplo da pesquisa aplicada”, ressalta o pesquisador.

Já as mais de 20 cerâmicas que utilizam lama de alto-forno estão localizadas, em maioria, no estado do Espírito Santo, o que facilita a logística, devido à proximidade com as siderúrgicas. Mas Fontes Vieira destaca o potencial de uso desse resíduo também no Estado do Rio, onde se localizam a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em Itaguaí, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda. O pesquisador ressalta uma importante vantagem da lama de alto-forno: seu alto teor de carbono (de 25% a 30%), com poder calorífico capaz de reduzir em até 15% o custo na etapa da queima da cerâmica com incorporações máximas também de 5% em massa.

Outro produto inovador para uso urbano são os pavimentos intertravados (também conhecidos como bloquetes no caso de materiais cimentícios) de argila, que podem ganhar a coloração natural da argila, passando dos tons de ocre e mostarda aos tons terracotas e esverdeados. A manufatura aditiva, impressão 3D, também está presente nas pesquisas de cerâmica vermelha do grupo, possibilitando a obtenção de uma diversidade de geometrias e de combinação de cores, além do desenvolvimento de cerâmicas com porosidade controlada para o cultivo de gramídias e plantas decorativas por hidroponia.





Autor: Paula Guatimosim
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 26/05/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=95.7.5

quarta-feira, 25 de maio de 2022

'Fiquei em coma, meus rins pararam e quase morri por infecção urinária'



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

Um dos principais sintomas é a dificuldade para controlar o xixi, mas muitos pacientes são assintomáticos


"Tem que ser muito filha de uma p* para vir 1 da manhã no pronto socorro por conta de uma infecção urinária viu (sic). Não tem outra expressão para descrever".


O comentário acima, postado no Twitter durante o fim de semana por um perfil de uma médica que se identifica como sendo de Rondônia, viralizou, chocando e enfurecendo usuários.


Mas para a carioca Luciane Almeida, de 35 anos, trouxe à tona memórias dolorosas, que ela decidiu compartilhar também na mesma rede social.



CRÉDITO,REPRODUÇÃO/TWITTER
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Tuíte de suposta médica sobre infecção urinária chocou e enfureceu usuários


Em 2009, Luciane conta que, devido a uma infecção urinária, ficou internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por uma semana, foi colocada em coma induzido e teve que fazer hemodiálise porque seus rins pararam de funcionar.


Hoje, mais de uma década depois, ela recobrou a saúde, mas não esquece do episódio que quase lhe tirou a vida. "A assistente social do hospital chegou a perguntar à minha família sobre os possíveis preparativos para o meu funeral."

A BBC News Brasil não conseguiu confirmar a identidade do perfil que postou o comentário que abre esta reportagem e levou o assunto "infecção" a "trending topic" no Twitter, mas conversou por telefone com Almeida.


Em outro desdobramento, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) decidiu na segunda-feira (23/5) abrir uma sindicância para apurar a conduta da suposta médica, que viveria em Curitiba e trabalharia numa unidade de pronto atendimento na região metropolitana da capital paranaense.



CRÉDITO,REPRODUÇÃO/TWITTER
Legenda da foto,

Resposta de Luciane Almeida à tuíte de suposta médica viralizou, com mais de 35 mil curtidas


Esta é a história de Luciane (a conversa foi editada por motivos de clareza).


"Tudo aconteceu no fim de 2009, quando eu tinha 22 anos. Comecei a sentir uma ardência ao urinar. Achei que se tratava de uma cistite e me automediquei. A ardência passou e voltei à vida normal.


Dois dias depois, senti uma dor estranha nas costas, mas pensei que era um problema na coluna. Era uma dor leve e suportável. Tomei um anti-inflamatório e fui para a piscina. Passei o dia bebendo refrigerante e comendo batata-frita. À noite, passei muito mal e tive que cancelar a noitada com meus amigos. A dor aumentou de intensidade e se tornou incapacitante. Foi quando pedi ao meu marido para me levar ao hospital. Já era madrugada.


Passei toda a manhã lá, fizeram todos os exames e o médico me passou um antibiótico. Voltei para casa.


Era horário do almoço e não consegui comer nada. Fui direto para a cama. Estava exausta e com muito enjoo. Uma dor abdominal que não cedia de jeito algum.


Meu marido ficou estressado com a situação e achava que era exagero meu. Ele me encorajou a comer e eu vomitei tudo. Andava curvada tamanha era a dor no abdômen.


Decidimos voltar ao hospital. Fui atendida por outra médica, que refez os exames. Quando os resultados chegaram, ela me mandou imediatamente fazer uma tomografia.


Fui colocada em uma cama na enfermaria para aguardar o diagnóstico. Foi então que a médica veio até mim com um semblante sério e disse: 'Você já está num quadro de choque séptico'.


Ela me explicou que, por causa da minha situação, não podia mais me dar antibiótico via oral. Seria necessário administrar um antibiótico intravenoso. Também disse que eu teria que permanecei durante dois dias na UTI. Inicialmente, me assustei, mas pensei: 'são só dois dias'.


Me lembro até hoje. Quando entrei no CTI, me despedi do meu marido e falei: 'tá vendo como não é exagero?'. Estava muito mal, delirante, não falava coisa com coisa. A médica, então, me disse que teria que fazer a administração do antibiótico por meio da minha veia jugular.


Comecei a entrar em pânico. Tiveram que me segurar na maca. A médica falou: 'Vou ter que entubar você se você continuar assim'. Estava completamente fora de si, mas não porque sou rebelde. Em infecções assim, você acaba perdendo seu eixo, não consegue pensar direto.


Fui entubada e colocada em coma induzido. O hospital avisou a minha mãe por telefone. Foi desesperador para minha família. Imagine, entrei falando na UTI. E de lá talvez não saísse viva. Fiquei quase três dias em coma. Minha família me disse depois que fiquei irreconhecível porque os meus dois rins pararam e tive que fazer hemodiálise.


Fiquei completamente inchada. Virei uma 'bolha humana'. Fiz hemodiálise por dois dias e, quando me tiraram da sedação, me lembro de ter acordado bastante debilitada, porque minha saturação de oxigênio caiu bastante durante esse período. Tive que fazer fisioterapia respiratória durante o restante do tempo que passei na UTI. Também permaneci com uma sonda para me alimentar, que depois foi retirada.


O médico que me acompanhou no CTI foi categórico: eu só sobrevivi porque era muito jovem. Meu organismo reagiu muito bem ao tratamento.



CRÉDITO,LUCIANE ALMEIDA/ARQUIVO PESSOAL
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Em 2009, carioca Luciane Almeida teve que fazer hemodiálise porque seus rins pararam de funcionar


Foi um milagre, na verdade.


Quando estava no pior momento do coma e da hemodiálise, a assistente social do hospital chamou minha mãe e chegou a perguntar se minha família estava preparada financeiramente para meu velório.


Ao todo, fiquei uma semana na UTI e depois mais alguns dias no quarto. Quando saí da UTI, havia perdido nove quilos. Aos poucos, fui recuperando os movimentos. Não conseguia nem me mexer direito.


Durante minha estadia na UTI, três pessoas morreram de pielonefrite aguda (quando a infecção ascende aos rins, tornando-se mais grave), mas eram mais idosas.


E ao voltar para casa, ainda tive que tomar antibiótico por 14 dias.


A suspeita dos médicos foi que eu contraí uma bactéria comum, pois não houve resistência ao antibiótico. Cheguei a investigar para ver se eu tinha algum problema de saúde subjacente que desconhecia, mas não tinha nada de errado comigo. Foi algo aparentemente pontual.


Quando vi o tuíte dessa suposta médica, fiquei indignada. Além de mostrar total falta de sensibilidade, ela parece não ter conhecimento técnico algum.


Sou o exemplo vivo de que uma infecção urinária é, sim, coisa séria.



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As mulheres são as mais afetadas pela infecção urinária

Opinião do especialista


Osvaldo Merege Vieira Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), explica que há infecções urinárias de diferentes gravidades.



CRÉDITO,SBN
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'Quando você tiver sintomas específicos de infecção urinária, você não deve ficar esperando. Você deve buscar ajuda médica imediatamente', diz Osvaldo Merege Vieira Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN)


"Há casos leves, como cistite, mas há outros que matam, se o médico não intervier rapidamente. Já vi um caso de um paciente vir a óbito em poucas horas, especialmente quando afeta os rins (pielonefrite)".


"O comentário desta suposta médica é absurdo. Infecção urinária pode ser potencialmente grave e matar. "


"Quando você tiver sintomas específicos de infecção urinária, você não deve ficar esperando. Você deve buscar ajuda médica imediatamente", conclui.

Mulheres mais atingidas


Segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a infecção do trato urinário (ou infecção urinária) é associada à bactéria 'Escherichia coli' em cerca de oito a cada 10 casos.


Mas as causas por trás desse problema de saúde são diversas, entre elas higiene inadequada, histórico familiar, gestação, infecção hospitalar, atividade sexual e doenças crônicas, como diabetes.


A infecção urinária pode afetar bexiga (quando ganha o nome de cistite), uretra (uretrite) ou rins (pielonefrite).


Entre os sintomas, o principal deles é a urgência urinária (dificuldade de controlar), mas muitos pacientes são assintomáticos.


As mais atingidas são as mulheres: estima-se que mais de 50% delas vão ter ao menos um episódio de infecção do trato urinário ao longo da vida.


Isso porque a uretra, mais curta do que a dos homens, facilita a entrada de bactérias no canal urinário, que alcançam a bexiga e encontram um ambiente úmido e aquecido, propício ao seu desenvolvimento.


Os idosos também costumam ser afetados com maior frequência.


E, com a chegada do verão, crescem as ocorrências de infecções urinárias — as temperaturas mais elevadas, ideais para maior frequência em praias e piscinas, "favorecem o aumento da umidade em áreas íntimas, o que modifica a população de bactérias e germes comuns dessa região, causando um desequilíbrio que propicia o desenvolvimento de infecções", segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).



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Ingerir bastante água é uma das recomendações para evitar a infecção urinária

Prevenção


Segundo a SBN, estas são as recomendações para evitar infecções urinárias:
Ingestão de água suficiente para provocar de seis a oito micções, distribuídas uniformemente ao longo do dia;
Revisão de hábitos de higiene, utilizando apenas papel higiênico descartável, evitando uso de duchas e produtos específicos propagados como "mais seguros" a cada micção;
Utilização de água e sabonete após as evacuações, com cuidado no direcionamento do fluxo de água para o enxague;
Regularização do ritmo intestinal, pois longos períodos de constipação permitem a proliferação bacteriana pela presença de fezes ressecadas na ampola retal;
Revisão ginecológica anual, para mulheres e consulta urológica para os homens, especialmente quando apresentam quadros pouco comuns de ITU;
Cuidados de higiene antes e após as relações sexuais;
Uso de preservativos;
Dar preferência por roupas íntimas de algodão, evitando tecidos sintéticos e modelos "colados" ao corpo, especialmente nas regiões íntimas.





Autor: bbc
Fonte: bbc
Sítio Online da Publicação: bbc
Data: 24/05/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61563421

Varíola dos macacos: como prevenir e tratar



CRÉDITO,SCIENCE PHOTO LIBRARY
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Mais países notificaram casos de varíola dos macacos, que é semelhante à varíola, mas menos severa e menos infecciosa


A varíola dos macacos acendeu uma luz de alerta entre a comunidade médica, com mais casos sendo notificados ao redor do mundo.


Segundo o serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), geralmente leva entre cinco e 21 dias para que os primeiros sintomas apareçam.


São eles: febre alta, dor de cabeça, dores musculares, dor nas costas, linfonodos inchados, calafrios e exaustão.


Uma erupção geralmente aparece 1 a 5 dias após os primeiros sintomas. A erupção geralmente começa no rosto e depois se espalha para outras partes do corpo.


A erupção às vezes pode ser confundida com catapora. Ela começa com espinhas elevadas, que se transformam em pequenas bolhas cheias de líquido. Essas bolhas podem formar crostas que mais tarde caem.

Os sintomas geralmente desaparecem em 2 a 4 semanas.



CRÉDITO,REUTERS
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Não há tratamento específico para varíola dos macacos


Mas o que pode ser feito para amenizar os sintomas? E há cura para a varíola dos macacos?

Vacina eficaz

A infecção é geralmente leve e a maioria das pessoas se recupera dentro de algumas semanas sem tomar nenhum remédio.


Ibuprofeno e paracetamol podem combater a febre e as dores, mas não há no momento tratamento específico para a varíola dos macacos.


Às vezes, no entanto, algumas pessoas, especialmente as que são imunossuprimidas, podem ficar muito doentes e precisar de internação.


Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), vacina contra a varíola, antivirais e a imunoglobulina vaccinia (VIG) podem ser usados para controlar o surto de varíola dos macacos.


"Uma vacina, JYNNEOS TM (também conhecida como Imvamune ou Imvanex), foi licenciada nos Estados Unidos para prevenir a varíola e a varíola dos macacos. Como o vírus da varíola dos macacos está intimamente relacionado ao vírus que causa a varíola, a vacina contra a varíola também pode proteger as pessoas contra a varíola dos macacos", diz o CDC em seu site.


Segundo a agência de saúde pública dos EUA, dados da África, onde o vírus da varíola dos macacos é endêmico, indicam que a vacina contra a varíola é pelo menos 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos.


"A eficácia de JYNNEOS TM contra a varíola dos macacos foi concluída a partir de um estudo clínico sobre a imunogenicidade de JYNNEOS e dados de eficácia de estudos em animais. Os especialistas também acreditam que a vacinação após a exposição à varíola dos macacos pode ajudar a prevenir a doença ou torná-la menos grave", acrescenta o CDC.


No entanto, a vacina contra a varíola não está atualmente disponível para o público em geral, uma vez que a doença foi erradicada mundialmente na década de 80.

Transmissão


A varíola dos macacos pode ser transmitida por animais selvagens infectados em partes da África Ocidental e Central. Acredita-se que seja espalhada por roedores, como ratos, camundongos e esquilos.


Sendo assim, pode-se contrair a doença caso você seja mordido por um animal infectado, comendo a carne dele que não tenha sido completamente cozida, ou tocando em sua pele.


A varíola dos macacos também pode ser transmitida:
por tosse ou espirro de uma pessoa infectada;
tocando em roupas, roupas de cama ou toalhas usadas por alguém infectado;
tocando em bolhas ou crostas na pele de alguém infectado.


Como a varíola dos macacos pode se espalhar se houver contato próximo com alguém infectado, a recomendação dos médicos é se isolar se você receber um diagnóstico positivo para a doença.

Recomendação


Segundo o NHS, embora a varíola dos macacos seja rara, há coisas que você pode fazer para reduzir o risco de contraí-la.


O que você deve fazer:
Lave as mãos com água e sabão regularmente ou use um desinfetante para as mãos à base de álcool;
Coma apenas carne que tenha sido bem cozida.


O que você não deve fazer:
não se aproxime de animais selvagens, incluindo animais mortos;
não se aproxime de nenhum animal que pareça doente;
não coma ou toque em carne de animais selvagens (carne de caça);
não compartilhe roupas de cama ou toalhas com pessoas doentes e que possam ter varíola dos macacos;
não tenha contato próximo com pessoas que estão doentes e podem ter varíola dos macacos.




Autor: bbc
Fonte: bbc
Sítio Online da Publicação: bbc
Data: 25/05/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-61579727

Por que cientistas estão congelando animais de espécies ameaçadas



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Veterinários do zoológico de Chester coletam amostra de tecido de um lóris-amor-amor, ave tropical ameaçada


“Ele se foi”, murmura a veterinária Gabby Drake, do zoológico de Chester (Inglaterra), enquanto segura o estetoscópio junto ao peito de um papagaio vermelho de 28 anos.


O pássaro é um lóris-amor-amor (Lorius garrulus), um idoso residente no zoológico de Chester e uma espécie listada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como vulnerável à extinção.


É triste ver uma ave cheia de personalidade como essa ter que ser "colocada para dormir”. Seus pés pequenos e com garras estão retorcidos com artrite, que atingiu um estágio grave demais para ser tratada.

Mas não será o fim para o código genético único contido em suas células. Alguns pequenos fragmentos de seu corpo se juntarão a amostras de outras 100 espécies que serão congeladas e armazenadas por tempo indefinido no maior biobanco de tecidos vivos do Reino Unido, o Nature's Safe.


Em frascos com um anticongelante rico em nutrientes e acolhedor para as células, as amostras são mantidas a -196°C, ponto em que todos os processos químicos naturais nas células param.



CRÉDITO,NATURE'S SAFE
Legenda da foto,

Amostras de tecido de animais são armazenadas congeladas em nitrogênio líquido


A ideia é que, em algum momento no futuro, em décadas, talvez até séculos, eles possam ser ressuscitados. É uma espécie de "backup congelado" em caso de extinção.

A vida recomeça


Conservacionistas dizem que neste momento estamos perdendo espécies mais rápido do que nunca. Em meio a uma crise de biodiversidade que, segundo estimativas da ONU, ameaça 1 milhão de espécies de plantas e animais de extinção, alguns cientistas trabalham selecionando o que entra no freezer que guardará amostras para o futuro.


"Isso não vai parar a extinção, mas certamente vai ajudar [em alguma medida a atenuar os efeitos negativos]", diz Tullis Matson, fundador da Nature's Safe. Ele é um entusiasta da missão da instituição sem fins lucrativos: preservar tecidos vivos de animais silvestres.



CRÉDITO,NATURE'S SAFE
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Tullis Matson, fundador da Nature's Safe, começou a trabalhar com raças raras domésticas


"É aqui que a vida começa de novo", ele sorri, enquanto exibe a imagem de um frasco de células de pele de guepardo sob o microscópio.


O monitor está repleto de células epidérmicas densamente compactadas, um dos blocos de construção de um organismo. O ponto preto no meio de cada célula é um núcleo, contendo um conjunto único de instruções genéticas que fizeram, neste caso, um guepardo.


“Este animal morreu em 2019”, explica Matson. "'Acordamos' essas células há alguns dias. E - você pode ver agora - elas estão por toda a tela. Elas se multiplicaram e se multiplicaram."


As células da pele são muito úteis para essa estratégia, particularmente um tipo de célula do tecido conjuntivo chamado fibroblasto. Estas são críticas para a cura e reparo e, depois de serem removidas do freezer e aquecidas à temperatura corporal em um banho de nutrientes, se dividirão e se multiplicarão em um recipiente.



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Kurt, o cavalo clonado de Przewalski, vive no zoológico de San Diego

Um dos possíveis usos futuros para essas células que vêm de DNA congelado é a clonagem de novos animais.


A clonagem de animais não é nova. Em 1996, cientistas na Escócia clonaram a ovelha Dolly fundindo uma célula de uma ovelha com o óvulo de outra. É tecnologia reprodutiva, nascida no reino dos animais domésticos e agora sendo canalizada para a conservação.


A empresa de biotecnologia americana Revive and Restore produziu recentemente um clone usando células da pele de um furão de patas negras ameaçado de extinção que estava morto havia décadas. Seus óvulos foram congelados em 1988.


A fusão de um fibroblasto de furão com um óvulo produziu um embrião, e um clone – Elizabeth Ann, a furão de patas negras – nasceu em dezembro de 2020.


Eles usaram a mesma abordagem básica para clonar um cavalo de Przewalski - uma espécie considerada o último cavalo vivo verdadeiramente "selvagem" - a um custo de US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil). O clone, chamado Kurt, vive no Zoológico de San Diego, nos EUA.



CRÉDITO,BEN NOVAK/REVIVE AND RESTORE
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Um clone de um furão de patas negras nasceu em dezembro de 2020


“Na verdade, era mais barato para o zoológico clonar um cavalo – para trazer mais diversidade genética para a população americana da espécie – do que seria enviar um cavalo de um zoológico europeu”, explica o cientista-chefe da Revive and Restore, Ben Novak.

Quais espécies deveríamos congelar?


Diversidade genética importa. À medida que a população de uma espécie diminui, isso pode levar à endogamia. Nos mamíferos, os descendentes têm um conjunto de instruções genéticas de cada progenitor biológico. E se esses pais são parentes, que é o caso da endogamia, quaisquer doenças genéticas que eles tenham são muito mais propensas a serem transmitidas.


Banco de células, porém, não é a maneira mais barata de ressuscitar genes, diz Novak.


"Os conservacionistas estão lutando para salvar as espécies, mas não conseguimos salvar tudo - a destruição está em andamento. Sair na frente e colocar as coisas no banco nos dá a oportunidade no futuro de fazer a restauração", diz ele. "Se não fizermos isso, vamos nos arrepender mais tarde."


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A veterinária do zoológico de Chester, Gabby Drake, se prepara para levar tecido de uma onça morta para o banco de dados


Há temores, por exemplo, de que o biobanco transmita uma mensagem de que não precisamos nos preocupar em salvar espécies agora "porque podemos congelá-las para mais tarde", afirma o professor Bill Sutherland, biólogo conservacionista da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.


"E há a questão de priorizar o que está armazenado", diz. "Seria maravilhoso conseguir tecido de 20 leopardos-das-neves de 20 locais diferentes, mas seria muito difícil."


Em vez disso, a Nature's Safe trabalha em estreita colaboração com os zoológicos da Europa, em particular o zoológico de Chester.


Sempre que um animal tem que ser "colocado para dormir” ou morre inesperadamente, os veterinários do zoológico levam alguns tecidos para o banco.


"É como um raio de Sol", diz Tullis. “Esse animal morrendo, na verdade, dá um pouco de esperança para o futuro dessa espécie, porque podemos congelar essa genética”.


Embora colocar no banco o que está disponível não seja uma abordagem perfeita, ela forneceu à Nature's Safe amostras de espécies como o sapo-da-montanha, um anfíbio criticamente ameaçado quase exterminado por uma doença fúngica, ou a pega-verde-de-Java, uma ave levada à beira da extinção pelo comércio ilegal de aves silvestres. (Alguns pássaros absurdamente belos têm habilidades de mímica notáveis ​​e acabam sendo também por isso muito procurados).


A cientista-chefe do zoológico de Chester, Sue Walker, diz que se trata de salvar o máximo de material genético possível. “Se não fizermos isso quando o animal morrer, acabamos de perdê-lo”, diz ela.



CRÉDITO,CHESTER ZOO
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Pega-verde-de-Java foi levado à beira da extinção pelo comércio ilegal


No início deste ano, em Chester, Goshi, uma jaguar de nove anos, foi encontrada morta. A veterinária Gabby Drake cuidadosamente cortou a orelha esquerda do grande felino, colocou-a em uma embalagem fria e a colocou no Nature's Safe, antes de enviar Goshi para uma autópsia.


“Os jaguares não são os grandes felinos mais ameaçados, mas estão em declínio e enfrentam as mesmas pressões humanas que outros grandes predadores”, diz Drake. "Ela era um animal muito jovem e nunca teve filhotes, infelizmente. É triste, mas é bom saber que seu tecido continuará vivo."


Agora, alguns pedaços do tamanho de ervilhas da orelha preta e aveludada de Goshi, limpos, preparados e banhados em uma solução nutritiva protetora, estão em um repositório cada vez mais biodiverso de nitrogênio líquido.



CRÉDITO,ZOOLÓGICO DE CHESTER
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Células da jaguar Goshi estão agora armazenadas no banco do zoológico de Chester


Tullis está otimista sobre o que a ciência pode ser possível no futuro. "Com a tecnologia de edição de genes, podemos até ser capazes de criar uma nova diversidade genética", especula.


Olhando para o agora solitário jaguar macho patrulhando sua área, Sue Walker, do zoológico de Chester, diz que pode levar "décadas até que tenhamos a tecnologia para fazer o que queremos com essas amostras".


A esperança dela, e da maioria dos conservacionistas, é que o uso de células congeladas de animais mortos há muito tempo nunca seja necessário.


"Mas, se não a coletarmos, essa genética será perdida para sempre", diz Walker. "Perdemos toda essa biodiversidade única."




Autor: Victoria Gill
Fonte: Repórter de Ciência da BBC News
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 23/05/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-61527339

terça-feira, 24 de maio de 2022

Varíola



Diagnóstico diferencia

Varíola

Vaccinia generalizada

Zoster disseminado

Catapora

Eczema herpético

Herpes simples disseminado

Sífilis

Bouba

Sarna

Rickettsiapox

Sarampo

Infecções bacterianas da pele

Erupção associada a drogas


Prognóstico

Existem dois clados distintos do vírus da varíola dos macacos. O clado da África Ocidental tem um prognóstico mais favorável com uma taxa de letalidade abaixo de 1%. Por outro lado, o clado da Bacia Central (clado da África Central) é mais letal, com taxa de letalidade de até 11% em crianças não vacinadas. Além de possíveis cicatrizes e descoloração da pele, o restante dos pacientes geralmente se recupera totalmente dentro de quatro semanas após o início dos sintomas.


Vamos para:

Complicações

Superinfecção bacteriana da pele

Cicatrizes permanentes da pele

Hiperpigmentação ou hipopigmentação

Cicatrizes permanentes da córnea (perda de visão)

Pneumonia


Desidratação (vômitos, diarreia, ingestão oral diminuída devido a lesões orais dolorosas e perda insensível de líquidos por ruptura generalizada da pele)


Sepse

Encefalite

Morte


Dissuasão e Educação do Paciente

A educação de pacientes e profissionais de saúde em regiões onde o vírus da varíola dos macacos é endêmico é de extrema importância. A contenção local é a melhor defesa contra a disseminação mundial. Historicamente, o vírus da varíola dos macacos tem uma capacidade limitada de se espalhar entre humanos. No entanto, a diminuição da população de pessoas vacinadas contra a varíola abre caminho para um aumento da prevalência da varíola humana, aumentando as oportunidades de mutação viral. Portanto, melhorar o reconhecimento da doença pelo paciente, a fidelidade dos relatórios e o acesso aos recursos de diagnóstico são ações críticas para coletar os dados necessários para obter uma compreensão mais profunda e fortalecer a defesa contra a varíola dos macacos.

Vamos para:

Melhorando os resultados da equipe de saúde

A disseminação de doenças infecciosas requer uma população suscetível e oportunidades de transmissão. A imunidade individual e coletiva à varíola dos macacos, anteriormente alcançada por meio da ampla vacinação contra a vaccinia, diminuiu desde a década de 1980, aumentando a suscetibilidade humana a surtos. Além disso, mudanças sociopolíticas e ecológicas provisórias em regiões endêmicas provavelmente aumentaram a exposição humana a reservatórios animais.

Embora relativamente rara fora da África central e ocidental, a receita acima mencionada para a propagação de doenças, juntamente com o comércio de animais selvagens e a disponibilidade de viagens internacionais, resultou em casos em outras partes do mundo. Devido à variedade de gravidade da doença da varíola dos macacos, um paciente infectado pode se apresentar ao pronto-socorro, atendimento de urgência ou atendimento primário. A capacidade de uma equipe interprofissional de médicos, enfermeiros, virologistas, veterinários e especialistas em saúde pública para identificar prontamente a infecção por varíola em humanos e animais, implementar medidas de proteção e iniciar relatórios de saúde pública cria um baluarte contra um surto devastador.






Autor: Marlyn Moore; Farah Zahra
Fonte: ncbi
Sítio Online da Publicação: ncbi
Data: 22/05/2022
Publicação Original: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK574519/

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Como se transmite a varíola dos macacos, que tem 90 casos confirmados em 12 países



CRÉDITO,SCIENCE PHOTO LIBRARY
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Partícula do vírus da varíola do macaco; OMS detectou cerca de 80 casos em 12 países


A varíola dos macacos foi confirmada, até o momento, em 92 pacientes em ao menos 12 países, segundo boletim de sábado (21/5) da Organização Mundial da Saúde (OMS).


Outros 50 casos estão sob investigação, e a OMS acredita que novas notificações devem surgir nos próximos dias.


A doença rara e pouco conhecida, até recentemente restrita a regiões remotas da África Ocidental e Central, foi identificada em nove países europeus (Reino Unido, Espanha, Portugal, Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Suécia), além de EUA, Canadá e Austrália.


O Brasil não tem registro da doença ainda, mas o vírus foi identificado em um brasileiro de 26 anos na Alemanha, vindo de Portugal, após passar pela Espanha.


Trata-se de uma rara infecção viral que geralmente se manifesta de forma leve - e a maioria dos pacientes se recupera em algumas semanas, segundo dados do NHS, o sistema de saúde britânico.

Até o momento a varíola dos macacos não causa motivo para um alarme semelhante ao que foi dado com a chegada do novo coronavírus, no início de 2020 - até porque não se espalha tão facilmente e o risco de contaminação geral é apontado, por enquanto, como baixo.


Além disso, embora não haja uma vacina específica para esse vírus, a vacina contra a varíola tem alta eficácia, de 85%, porque os dois vírus são bastante parecidos.


Mas chama atenção o fato de a doença estar aparecendo em países onde não ocorria até agora, e a OMS realizou na sexta-feira uma reunião de emergência para tratar do assunto.



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Varíola dos macacos causa coceira dolorida, que provoca lesões, mas a tendência é de que o quadro seja leve e acabe em poucas semanas


Em comunicado, a organização afirmou que o quadro atual é "atípico, porque (a doença) está ocorrendo em países onde ela não é endêmica", e que vai ajudar os países afetados no monitoramento dos casos.

Como a varíola dos macacos é transmitida?

A varíola dos macacos é transmitida quando alguém tem contato próximo com uma pessoa infectada. O vírus pode entrar no corpo por lesões da pele, pelo sistema respiratório ou pelos olhos, nariz e boca.


Não é uma doença que se espalhe tão facilmente, mas pode infectar da seguinte forma:


- Ao se encostar em roupas, lençóis e toalhas usadas por alguém com lesões de pele causadas pela doença;


- Ao se encostar em bolhas ou casquinhas na pele de pessoas com essas lesões;


- Pela tosse ou espirro de pessoas com a varíola dos macacos.


Até agora, o vírus não foi descrito como uma doença sexualmente transmissível, mas pode ser passado durante a relação sexual pela proximidade entre as pessoas envolvidas.


E os casos mais recentes no Reino Unido foram observados em homens gays ou bissexuais, algo que levou a Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido a pedir que homens prestem atenção a coceiras ou lesões de pele que lhes pareçam incomuns.


Eles foram orientados a contactar seus serviços locais de saúde sexual no caso de algum sintoma ou preocupação. Mas autoridades ressaltam que qualquer pessoa, independentemente de sua orientação sexual, pode ser contaminada.


Animais infectados, como macacos, ratos e esquilos, também podem transmitir o vírus.

Quais são os sintomas da varíola dos macacos?


Depois da infecção, leva-se geralmente de 5 a 21 dias para os primeiros sintomas surgirem.


Esses sintomas incluem febre, dor de cabeça, dor nas costas ou musculares, inflamações nos nódulos linfáticos, calafrio e exaustão.


E nesse processo pode surgir a coceira, geralmente começando no rosto e depois se espalhando por outras partes do corpo, principalmente nas mãos e sola do pé.


A coceira, que costuma ser bastante irritante e dolorida, muda e passa por diferentes estágios - de modo parecido à varicela - antes de formar uma casquinha, que depois cai.


A infecção costuma terminar depois de 14 a 21 dias.



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A coceira da varíola dos macacos passa por diferentes estágios até a formação de lesões de pele


No Reino Unido, a maioria das infecções até agora são leves. Mas a doença pode ganhar formas mais severas, especialmente em crianças pequenas, mulheres grávidas e pessoas com sistema imune frágil. Na África Ocidental, já houve casos de mortes pela doença.

Qual é o tratamento?


A melhor forma de prevenir surtos é com a vacinação: a vacina da varíola é capaz de prevenir a ampla maioria dos casos de varíola dos macacos.


Drogas antivirais também podem ajudar.


De modo geral, nos casos leves, a infecção passa por conta própria.

Devo me preocupar com a varíola dos macacos?


Especialistas no Reino Unido, onde há algumas dezenas de casos confirmados, dizem que não há neste momento risco de uma epidemia nacional.


"É importante enfatizar que a varíola não se espalha facilmente entre e o risco para as pessoas em geral é bastante baixo", disse Nick Phin, vice-diretor do Serviço Nacional de Infecção do departamento de Saúde Pública do Reino Unido.


Jonathan Ball, professor de virologia molecular da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, lembrou que, de 50 pessoas que tiveram contato com o primeiro paciente infectado no país, apenas uma apresentou sintomas.


Isso, segundo Ball, mostra como o vírus não é bastante eficiente em se alastrar.


No entanto, especialistas reforçam que pessoas infectadas precisam se isolar para não correr o risco de passar a doença adiante.

O que faz o vírus avançar neste momento?


O vírus da varíola dos macacos é da mesma família da varíola comum, mas menos grave e prevalente, e por isso as chances de infecção de grandes populações é considerado baixo.


O vírus foi identificado inicialmente em um macaco em cativeiro nos anos 1970, e desde então houve surtos esporádicos em países centro e oeste-africanos.


Já houve um surto nos EUA em 2003 - a primeira vez que o vírus foi visto fora da África -, com 81 casos registrados, mas nenhuma morte.


O maior surto já registrado foi em 2017, na Nigéria: houve 172 casos suspeitos.


No momento atual, não está claro o motivo por trás do avanço da varíola dos macacos na Europa, América do Norte e Austrália.


Uma possibilidade é que o vírus tenha mudado de alguma forma, mas até o momento não há evidências de que esteja em circulação uma nova variante.



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Uma das preocupações é com a pressão adicional em serviços de saúde


Outra possibilidade é de que, com a redução da cobertura vacinal para a varíola (que é considerada erradicada no mundo desde 1980), o vírus tenha encontrado condições propícias para se propagar mais do que antes.


O diretor regional de Europa da OMS, Hans Kluge, se disse preocupado com a possibilidade de o vírus avançar nos meses de verão no continente, quando há mais festas e aglomerações.


Peter Horby, diretor do Instituto de Ciências Pandêmicas da Universidade de Oxford, disse à Radio 4, da BBC, que está em curso uma "situação incomum, em que parece que o vírus foi introduzido (do exterior) mas agora está sendo transmitido dentro de certas comunidades".


A mensagem principal, agregou Horby, é de que pessoas com sintomas devem "procurar assistência, obter um diagnóstico e daí se isolar".

Pressão sobre sistemas de saúde


Uma preocupação de alguns especialistas é com a pressão adicional que a varíola dos macacos pode ter sobre sistemas de saúde e clínicas já no limite da capacidade de atendimento, já que pode forçar profissionais de saúde a se afastar temporariamente de suas atividades.


No Reino Unido, clínicas que atenderam pacientes tiveram de isolar seus profissionais de saúde, deixando-as desguarnecidas.


Em Londres, onde estão a maioria dos 20 casos de varíola dos macacos identificados no Reino Unido até agora, clínicas de saúde sexual já interromperam o atendimento a visitantes.


A Associação Britânica de Saúde Sexual e HIV se disse preocupada com o efeito disso no tratamento de outras infecções relacionadas à saúde sexual.


A médica Claire Dewsnap, presidente da Associação Britânica de Saúde Sexual, diz que equipes de clínicas de saúde sexual já estavam "sob pressão significativa", e a varíola dos macacos tende a tornar a situação pior.


"Isso (a doença) já está exigindo muito da força de trabalho e haverá um enorme impacto se as equipes tiverem de se isolar no caso de entrarem em contato com pessoas infectadas", diz Dewsnap.


"Me preocupa o potencial impacto disso no acesso a (medidas de) saúde sexual em geral."


Em Londres, clínicas estão pedindo que pacientes liguem antes de ir ao local e notifiquem os sintomas antes da consulta.


Assim, pacientes com suspeita de varíola dos macacos podem ser colocados em salas de espera ou locais de atendimento separados dos demais pacientes.


No Brasil, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações anunciou a criação de uma câmara técnica para acompanhar os desdobramentos do vírus.





Autor: BBC
Fonte: BBC News Mundo
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 21/05/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61535607

Varíola dos macacos: qual a diferença da doença para a varíola humana, erradicada há 40 anos



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O surgimento de vários surtos de varíola dos macacos nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e vários países da Europa trouxe à memória da humanidade a terrível doença que durante séculos arrasou vidas.

A varíola é uma das doenças mais mortais que já existiu, e estudos sobre múmias egípcias sugerem que ela pode estar circulando entre nós há pelo menos 3 mil anos.

Felizmente, a varíola se tornou a primeira doença erradicada da história há mais de 40 anos, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) certificou seu fim em 1980, após uma bem-sucedida campanha de vacinação global.

Agora, a varíola dos macacos está causando o maior surto da doença já visto na Europa. Cientistas estão investigando o que está acontecendo.

No momento, as autoridades médicas afirmam que as chances de uma transmissão descontrolada são baixas e apontam que sua letalidade está longe daquela causada pela varíola humana.

Especialistas apontam que a varíola dos macacos é muito mais branda e menos contagiosa do que a versão humana da doença.

A seguir, entenda as diferenças entre os dois vírus, que pertencem à mesma família de Orthopoxvirus:

Mortalidade

Quão mortal é a varíola dos macacos?

Essa é a principal pergunta que muitos se fazem ao ouvir falar de uma doença desconhecida. Especialmente se ela compartilha o nome com uma das mais mortíferas da história.


"Felizmente, a varíola dos macacos é muito mais branda do que a versão humana da varíola", explica Raúl Rivas González, professor de microbiologia da Universidade de Salamanca, na Espanha, à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC).



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A varíola humana tinha duas versões: varíola maior e varíola menor. A maior era a mais mortífera — com mortalidade em 30% dos casos de infecção. A menor causava doenças mais leves e raramente levava à morte.

Algo parecido acontece com a varíola dos macacos, embora com taxas de mortalidade mais baixas. Existem duas versões: da África Ocidental e da África Central.

"A da África Ocidental é a mais branda, com mortalidade entre 1% e 10%, e parece ser a que está causando o surto na Europa", diz Rivas. "A da África Central, por outro lado, é mais virulenta e perigosa e pode matar cerca de 20% dos infectados", acrescenta.

Jacob Lorenzo Morales, diretor do Instituto Universitário de Doenças Tropicais e Saúde Pública das Ilhas Canárias, na Espanha, explica que os níveis mais altos de letalidade estão concentrados em certas populações.


"Com base nos dados que vimos, a maior parte das mortes ocorre em áreas rurais muito pobres da África e, em geral, em muitas crianças devido ao seu sistema imunológico menos desenvolvido", disse ele à BBC News Mundo.



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A varíola foi erradicada do mundo há 40 anos

Transmissão

Ao contrário do coronavírus ou até mesmo da varíola humana, em que o patógeno é altamente transmissível, a varíola dos macacos é menos contagiosa.

"É um vírus que transmite muito bem entre animais, mas quando ele passa de animal para humano, ele não tem alta capacidade de transmissão", diz Lorenzo Morales.

As autoridades médicas observam que ainda não há muita informação sobre as possíveis rotas de transmissão entre humanos nos surtos atuais.

Até onde se sabe agora, o vírus é transmitido principalmente por meio de contatos próximos e trocas de fluidos corporais. Muitos dos casos na Europa parecem estar ligados à transmissão sexual.



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Uma campanha histórica de vacinação, especialmente em áreas com menos recursos, conseguiu erradicar a varíola humana em 1980

A equipe da BBC News Brasil lê para você algumas de suas melhores reportagens

Episódios

Mas todas as vias possíveis estão sendo estudadas, como a transmissão indireta por meio de objetos contaminados e até aerossóis.


"A varíola erradicada era transmitida de forma semelhante, mas o contágio entre humanos era muito mais fácil", lembra Lorenzo Morales, que não descarta que no futuro a varíola possa se tornar mais eficiente na forma como é transmitida.


Raúl Rivas explica que esta varíola dos macacos é um vírus bastante estável e que varia muito pouco. Mas Morales diz que "se trata de um patógeno relativamente novo, que está se acostumando a viver entre nós, e que ainda não é especializado em se multiplicar e nos infectar".


A varíola humana só podia ser transmitida entre humanos. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, não há evidências científicas de que a varíola possa ser transmitida por insetos ou outros animais.


A origem da varíola é desconhecida. No caso da varíola dos macacos, foi chamada assim porque foi descoberta em colônias de macacos mantidas para pesquisa em 1958.

Sintomas


Em ambas as doenças, o quadro clínico começa de forma semelhante, embora seja um pouco mais suave na varíola dos macacos.


"Como na maioria das infecções, elas começam com febre e também é comum ter desconforto corporal, fadiga, dores musculares e dor de garganta", descreve Rivas.



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Visão microscópica do vírus que causa a varíola


Além disso, em ambas as doenças também se desenvolvem as inconfundíveis pústulas cutâneas (bolinhas na pele), que podem deixar cicatrizes visíveis na pele dos pacientes.


"Com o passar dos dias, a varíola do macaco costuma inchar os gânglios linfáticos, tanto cervicais, maxilares, axilares e na virilha. Isso não aconteceu com a varíola humana", diz Rivas.


O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de 7 a 14 dias, mas pode variar entre 5 e 21 dias.


No caso da varíola, a incubação pode durar entre 7 e 19 dias, embora a duração média tenha sido entre 10 e 14 dias.

Tratamento


A varíola foi erradicada graças a uma campanha histórica de vacinação que pôs fim a milhares de anos de mortes causadas pelo patógeno.


Como o vírus da varíola do macaco tem relação com a varíola humana, a vacina contra a varíola também se mostrou eficaz para ambas as doenças.


Nesse caso, as pessoas com mais de 55 anos que foram vacinadas contra a varíola humana antes de sua erradicação podem ter uma imunidade considerável contra a varíola dos macacos.



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Os estudos do inglês Edward Jenner no século 18 foram fundamentais para o desenvolvimento da vacina contra a varíola


Os tratamentos disponíveis são principalmente paliativos para os sintomas. Lorenzo Morales diz não haver tratamento específico para a doença.


"Por se tratar de um patógeno que tem afetado principalmente a África e não os países desenvolvidos, não se investe o suficiente na busca de tratamentos", diz ele.


No entanto, há uma diferença muito grande entre a varíola dos macacos e a que foi erradicada: o avanço da ciência e do conhecimento nos últimos anos.


Por centenas de anos, a varíola arrasou vidas sem que a humanidade entendesse o que estava acontecendo.


"Essa varíola dos macacos é uma doença que conhecemos bem. Talvez para o público em geral ela seja algo novo, mas ela foi descoberta em 1958. Também é bem estudada porque é muito parecida com a varíola humana", diz Rivas.





Autor: José Carlos Cueto
Fonte: BBC News Mundo
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 23/05/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-61548513