sexta-feira, 24 de março de 2023

Estudo avalia testes para leishmaniose visceral no Brasil

O diagnóstico da leishmaniose visceral no estágio inicial da doença é fator importante para o sucesso do tratamento e, por isso, os testes para detectar a enfermidade devem ser precisos, ou seja, apresentar baixo índice de resultados errados. Na Fiocruz Minas, um estudo desenvolvido pelo grupo de Pesquisa Clínica e Políticas Públicas de Doenças Infecto-Parasitárias avaliou se os dados de desempenho de testes diagnósticos informados pelos fabricantes à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são reproduzidos em estudos realizados no Brasil. A avaliação apontou uma diferença significativa entre o informado na bula e o observado com o uso clínico, além da inexistência de informações críticas sobre os testes, como o antígeno utilizado e detalhamento das análises que geraram as medidas de desempenho.




Para realizar o estudo, os pesquisadores identificaram, no banco de dados eletrônico da Anvisa, todos os testes com registro vigente no Brasil, ou seja, autorizados a serem comercializados, totalizando 28 produtos. Desse total, 15 não disponibilizavam dados de desempenho (sensibilidade e especificidade) em seu manual de instruções e, assim, apenas 13 puderam ser avaliados. Para avaliar a reprodutibilidade do desempenho informado, foram buscados na literatura científica estudos clínicos, publicados até julho de 2021, descrevendo valores de sensibilidade (que é a capacidade de identificar corretamente os indivíduos que têm a doença ou, com mais especificidade, a capacidade de identificar corretamente os indivíduos que não têm a doença) desses testes.

De modo geral, os resultados indicaram que as medidas de desempenho apresentados nos manuais de instrução são superestimados, não sendo representativos do que ocorre com o uso em condições reais. Em boa parte dos casos, os fabricantes informam valores muito próximos de 100% de precisão, mas, na prática, ao aplicar os testes em um grupo grande de pessoas com suspeita da doença, vê-se que os resultados são inferiores.

“São várias as possíveis explicações para esta divergência, dentre elas, o fato de as medidas de desempenho do fabricante serem, em geral, obtidas a partir de pequeno número de soros de pacientes com e sem doença, casos muito selecionados, o que os tornam exemplos perfeitos de doente e não doente, mas não representativos de todo o espectro de pacientes com suspeita de leishmaniose visceral”, explica a pesquisadora Gláucia Cota, líder do grupo de pesquisa. Outro motivo é a realização das análises de desempenho com amostras e populações diferentes daquelas onde o teste será efetivamente aplicado, o que é relevante para uma doença como a leishmaniose, que pode ser causada por mais de uma espécie de parasita nas diferentes regiões do mundo.

“Outra constatação é a indisponibilidade de informações completas sobre os testes em comercialização, no que se refere não só às análises que produziram as medidas de desempenho realizadas pelos fabricantes, tais como tamanho da amostra, isto é, em quantas pessoas o teste foi aplicado, teste de referência, ou seja, qual foi o teste que definiu se havia ou não doença, mas também o local de realização do estudo, considerando a diversidade geográfica de espécies de leishmania, o que justifica que determinado teste apresente desempenho melhor em uma região em relação a outras”, explica a pós-doutoranda Mariana Lourenço Freire, que integra a equipe responsável pelo estudo.

Por isso, uma das proposições do grupo de pesquisa da Fiocruz Minas é a reavaliação dos critérios vigentes para registro de produtos diagnósticos na Anvisa. Além de informações relevantes para a compreensão dos limites e aplicabilidade de uma tecnologia, a apresentação de dados de validação local permitiria uma análise mais fidedigna da acurácia de um teste antes de sua incorporação. “Nossa análise mostrou a importância de estudos locais, com cálculos amostrais baseados em um número adequado de participantes e o estabelecimento de um teste padrão de referência adequado, de forma que seja possível identificar testes com desempenho aceitável a serem utilizados em cada área endêmica. Esperamos que nossa pesquisa possa contribuir para a melhoria do processo de avaliação de tecnologia em saúde no Brasil e, consequentemente, para melhor gestão dos recursos e abordagem clínica desta grave doença”, afirma Glaucia.

Leishmaniose visceral

A leishmaniose visceral é causada por protozoários parasitas que ficam hospedados principalmente em cães e roedores, transmitidos ao homem pelas fêmeas de flebotomíneos, popularmente conhecidos como mosquito palha, cangalhinha e birigui. A doença se caracteriza por febre de longa duração, anemia, aumento do fígado e baço, além de perda de peso acentuada.

No Brasil, são registrados cerca de 3.500 casos por ano. A taxa de letalidade no país se aproxima de 10%, muito mais alta do que a média mundial, que é de cerca de 5%. Pesquisas científicas sugerem que um dos fatores que levam a esse desfecho inaceitável no Brasil é a demora para se definir o diagnóstico.

Aos primeiros sintomas, pessoas residentes em áreas endêmicas de leishmaniose visceral devem procurar o serviço de saúde mais próximo. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico e tratamento gratuito para essa doença. O tratamento é feito com uso de medicamentos específicos.






Autor: Fiocruz Minas
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 22/03/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/estudo-avalia-testes-para-leishmaniose-visceral-no-brasil

A desconfiança na energia nuclear, artigo de Heitor Scalambrini Costa


A desconfiança na energia nuclear, artigo de Heitor Scalambrini Costa

Existe um clamor da sociedade brasileira de participação social, de uma maior transparência nas políticas públicas. E porque não na área energética?

A desaceleração dos negócios nucleares nas últimas duas décadas tem relação direta com a diminuição da competitividade econômica do setor, do perigo incomensurável que representa para a vida no planeta a liberação de material radioativo das usinas nucleares, e o problema ainda não resolvido de armazenamento dos resíduos produzidos (lixo atômico), altamente tóxicos, e cuja radioatividade perdura por milhares de anos.

Estas são algumas das desvantagens de se adotar uma tecnologia no mínimo polêmica, e desnecessária ao país para produzir energia elétrica.


O pós-Fukushima levou países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como a Itália, Bélgica, Suíça e Alemanha, a paralisar e mesmo descomissionar dezenas de usinas nucleares que funcionavam em seus territórios. Contrariamente a esta rejeição, governantes de países nada democráticos como China, Rússia e Índia ainda insistem em apoiar a geração nucleoelétrica.

Quando uma tragédia nuclear acontece, as consequências vão para muito além das pessoas. Toda a biodiversidade local é prejudicada diretamente. Pessoas que nem mesmo moram perto do local do desastre podem ser afetadas. Alguns trágicos eventos aconteceram nas últimas 3 décadas. O de Three Mile Island-USA, Chernobyl- Ucrânia e Fukushima-Japão. Este último provocou o deslocamento de mais de 120.000 pessoas que tiveram que abandonar suas casas e deixar suas cidades.

Tais tragédias tiveram ampla repercussão mundial. Todavia, acidentes menores, mas não menos graves, acontecem com certa frequência, e não são divulgados. O mais recente evento foi o vazamento de 1,5 milhão de litros de água radioativa de uma usina nuclear na cidade de Monticello, estado de Minnesota-USA. Mesmo ocorrido em 22 de novembro de 2022, somente 5 meses depois foi comunicado à opinião pública. Sem contar o alerta dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica-AIEA em 15 de março de 2023, sobre o desaparecimento na Líbia, de 2,5 toneladas de urânio natural concentrado, também conhecido como yellow cake.

Para reagir e contrapor as preocupações da sociedade quanto à guarda de material radioativo, sua proliferação, e aspectos relacionados à segurança da geração nuclear; uma nova estratégia foi montada pelos defensores da tecnologia, e de seus negócios bilionários.

Um novo modelo de reator mais compacto e com potência inferior (<300 MW) aos tradicionais, estão sendo oferecidos pela indústria nuclear, podendo serem totalmente construídos em uma fábrica e levado ao local de funcionamento. Vários modelos estão em desenvolvimento utilizando distintas rotas tecnológicas. Contudo os problemas que ocorrem nos grandes reatores persistem.

Os Small Modular Reactors (SMRs) ou Pequenos Reatores Modulares em inglês, é a nova tática adotada pelos negócios nucleares, que assim esperam disseminar tais unidades por todo o planeta. Nota-se que o termo nuclear foi omitido, no que deveria ser chamado de Small Modular Nuclear Reactors (SMNRs), ou Pequenos Reatores Nucleares Modulares. A omissão da palavra nuclear é uma tentativa de evitar a rejeição, a repulsa da grande maioria da população mundial, que associa o nuclear com morte, guerra, destruição, desgraça, bomba atômica.

No Brasil um lobby poderoso reunido na Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares- ABDAN, agrega os apoiadores das usinas nucleares, propondo promover o desenvolvimento e a aplicação da tecnologia nuclear no Brasil. Em sintonia, e representando interesses das grandes multinacionais do ramo, com interesses em fazer negócios, esta Associação tem obtido “avanços(?)” junto aos poucos que decidem a política energética brasileira.

Por exemplo, conseguiram no governo do ex-ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque (o mesmo investigado por entrar ilegalmente no país com joias milionárias não declaradas, destinadas ao ex-presidente), a inclusão no Plano Nacional de Energia-2050 a instalação de 8 GW a 10 GW a partir da nucleoeletricidade.

Decisões sobre um tema tão polêmico e com grande repercussão para as gerações presentes e futuras mereceriam discussões, debates mais amplos e aprofundados com a sociedade. Esta discussão passa necessariamente em decidir que tipo de sociedade queremos. Se desejamos uma sociedade democrática, com justiça ambiental, defensora da paz; ou um país nuclearizado, inclusive possuindo artefatos nucleares, como a bomba tupiniquim, que certamente poderá ser viabilizada com novas instalações nucleares.

O que se espera em sociedades democráticas é que as divergências devam ser tratadas pelo debate, discussões, disponibilização de informações, participação popular. Todavia o terreno desta disputa é muito desigual, pois o poder econômico dos lobistas é muito grande, o que acaba contribuindo para uma assimetria no processo da disputa, na divulgação das propostas, e das discussões sobre as consequências sociais, econômicas, ambientais e tecnológicas, do uso da tecnologia nuclear para produção de energia elétrica.

Todavia decisões monocráticas de um colegiado, o Conselho Nacional de Política Energética – CNPE, tem instituído uma política energética contrária aos interesses da maioria da população. A principal característica deste colegiado, é a falta de representatividade da sociedade organizada, além de um grande déficit de transparência. A sociedade civil não participa das decisões tomadas.

O Ministério de Minas e Energia- MME, também responsável pela política energética sofre há anos, um processo de captura pelo mercado. Utilizado como “moeda de troca” pelos vários governos, não passa de um ministério de 2º escalão, subserviente a grupos que defendem somente seus interesses particulares, e/ou de grandes empresas. Do ponto de vista técnico foi completamente esvaziado.

Outra instituição, com grandes poderes decisórios, é a Agência Nacional de Energia Elétrica-ANEEL. É comum que membros desta agência reguladora tenham seus diretores envolvidos em polêmicas, denúncias gerando grande desconfiança junto à sociedade. O escândalo mais recente, é de um ex-diretor escolhido pelo novo governo secretário executivo do MME, o número dois do ministério, envolvido em vários casos obscuros e ainda não explicados, enquanto era diretor da ANEEL (https://piaui.folha.uol.com.br/cheiro-de-enxofre/).

Existe um clamor da sociedade brasileira de participação social, de uma maior transparência nas políticas públicas. E porque não na área energética? Neste caso é fundamental a criação de espaços democráticos igualitários, de interlocução, de participação cidadã, na formulação e tomada de decisão. Ações no sentido de promover o engajamento da sociedade, para defender seus interesses junto ao Estado brasileiro, fortalecem e garantem nossa democracia.

Heitor Scalambrini Costa, doutor em Energética
Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394




Autor: ecodebate
Fonte: ecodebate
Sítio Online da Publicação: ecodebate
Data: 24/03/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/03/24/a-desconfianca-na-energia-nuclear/

ISICEM 2023: Desmame ventilatório difícil na UTI

Durante o congresso, uma das principais palestras, apresentada pelo Professor Alexander Demoule, trouxe uma abordagem prática sobre avaliação da força da musculatura respiratória na sessão de desmame ventilatório durante o ISICEM.


Primeiro, é importante entender que a eletroneuromiografia e a medida do p0.1 (medida da pressão de oclusão das vias aéreas 0,1 segundo após o início de um esforço inspiratório contra uma via aérea ocluída) não avaliam força muscular. Eles passam informações a respeito do drive respiratório!

Quando realizar a avaliação da força da musculatura respiratória em UTI?

Sempre que houver falência do desmame ou extubação!


Como então realizar a avaliação da força da musculatura respiratória?


O exame clínico não é a melhor opção. Importante entender que a força da musculatura dos membros é diferente da força do diafragma.


Se o paciente estiver totalmente cooperativo, tente a Pressão Inspiratória Máxima:

Para execução, necessitamos de um avaliador treinado;

Será avaliada a pressão nas vias aéreas a partir de um esforço > 1,5 segundos;

O valor obtido é o valor médio no primeiro segundo;

Valores elevados excluem fraqueza muscular respiratória. Valores baixos podem refletir técnica ou esforço inadequados;

Se o paciente estiver na ventilação mecânica (pressão de suporte):

Utilize o Ultrassom de Diafragma ou a medida da Pressão de Oclusão.

Vamos falar sobre essas duas técnicas agora.



Ultrassom Diafragmático: como realizar?

Você não pode usar esta técnica se o paciente não estiver com drive respiratório espontâneo.



O US será utilizado com os seguintes parâmetros técnicos:



Vista intercostal;

Probe linear;

8-9 espaço intercostal;

Linha axilar média;

2D, depois modo M.

O objetivo é analisar a Fração de Espessamento do Diafragma: TFdi (Thickness Fraction Diaphragm)



Existe alto risco de falha na extubação se TFdi < 29%



Medida da pressão de oclusão (Pocc)

A pressão de oclusão é um parâmetro utilizado para avaliar a força muscular respiratória. Ela representa a pressão máxima gerada pelos músculos respiratórios durante uma inspiração ou expiração máxima contra uma obstrução da via aérea, como por exemplo um bocal fechado ou uma máscara com uma válvula de resistência.



Ela ajuda na predição da Pressão Muscular, sendo igual a -3/4 Pocc.



Predicted Pmus = -3/4 Poccl



Baixo TFdi ou Pocc predizem fraqueza do diafragma!



Saiba mais: ISICEM 2023: Pupilometria automatizada na neuromonitorização de pacientes graves



Mensagens Práticas — Força muscular respiratória na UTI

Deve ser avaliada em caso de falha no desmame ou falha de extubação;

Se o paciente estiver totalmente cooperativo, tente um valor alto de Pressão Inspiratória Máxima para excluir fraqueza muscular;

Assim que o paciente estiver em ventilação mecânica com pressão de suporte (PSV):

Você pode usar ultrassom diafragmático (TFdi) e também medir Pocc (Pressão de Oclusão);

Um TFdi ou Pocc baixo prediz fraqueza do diafragma.








Autor: Filipe Amado
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 23/03/2023
Publicação Original: https://pebmed.com.br/isicem-2023-desmame-ventilatorio-dificil-na-uti/

quinta-feira, 23 de março de 2023

Inovação contra a tuberculose

A tuberculose é um grave problema de saúde pública que afeta milhares de pessoas em todo o Brasil. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde em março do ano passado, o país registrou 68.271 casos novos da enfermidade em 2021, o que equivale a um coeficiente de incidência de 32 por 100 mil habitantes. Diante dessa realidade, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) investe em pesquisa, desenvolvimento e ampliação de seu portfólio.



A unidade é o principal produtor de tuberculostáticos no país, com fornecimento de quatro medicamentos ao Sistema Único de Saúde (SUS): etionamida; isoniazida; isoniazida+rifampicina; e o 4 em 1, assim denominado por reunir em um único comprimido quatro princípios ativos (rifampicina+isoniazida+pirazinamida+etambutol). Confira o portfólio completo.

Além de abastecer a rede pública de saúde, Farmanguinhos vem trabalhando no desenvolvimento de novas formulações a fim de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Para se ter uma ideia da demanda nacional, neste primeiro trimestre de 2023, o Instituto forneceu quase 15 milhões de unidades farmacêuticas desses medicamentos ao Ministério da Saúde. A previsão é de entregar um total de mais de 80 milhões até dezembro, o que representa o dobro da quantidade enviada no ano passado.

Ampliação da produção

Neste sentido, para dar uma atenção ainda maior a essa crescente necessidade, no próximo mês, a instituição concluirá a nova área fabril voltada especificamente para produção de fármacos. Com total de 750 m2, a nova linha terá capacidade para produzir até 150 milhões de unidades farmacêuticas anualmente.

Segundo o diretor Jorge Mendonça, essa estrutura possibilitará a ampliação do portfólio e garantir o tratamento aos pacientes assistidos pelo SUS. A tuberculose é considerada uma doença negligenciada com poucos investimentos por parte da indústria privada para o desenvolvimento de novas terapias. Está incluída nos objetivos do desenvolvimento sustentável e da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, como uma das doenças a ser eliminadas até 2030. Neste cenário, Farmanguinhos promove esta ação importante para contribuir com essa meta e combater uma doença com alto índice de prevalência no Brasil, facilitando o acesso ao usuário do SUS e contribuindo para a diminuição da dependência do Brasil neste tipo de medicamento, ressalta o diretor.



Parte da nova área fabril, que terá capacidade de produzir até 150 milhões de unidades farmacêuticas de medicamentos para tuberculose (Imagem: Farmanguinhos)

Desenvolvimento

Além da produção e fornecimento, as áreas de pesquisa e desenvolvimento vêm trabalhando na descoberta de novas moléculas, investigando novas soluções terapêuticas e aplicando melhorias às formulações farmacêuticas existentes. O objetivo é oferecer tratamentos mais eficazes e com menos eventos adversos aos pacientes.

O portfólio de desenvolvimento tecnológico atual conta com oito projetos voltados para enfrentamento da tuberculose. Dentre eles, há formulações pediátricas e outras que reúnem diferentes princípios ativos em um único comprimido. A pesquisadora Juliana Johansson explica os benefícios a partir dessa estratégia que combina diferentes fármacos em um único medicamento, também denominado Dose Fixa Combinada (DFC).

“Quando se faz a escolha pela administração de comprimidos em uma dose fixa combinada há muitas vantagens para os pacientes. Por exemplo, a comodidade da posologia é um benefício importante, pois o paciente recebe em uma única tomada todos os fármacos necessários para o seu tratamento. Essa simplificação do esquema terapêutico promove uma maior adesão ao tratamento e reduz o risco de desenvolvimento de resistência dos microorganismos aos antibióticos utilizados. Além disso, do ponto de vista estratégico, a logística destas associações é muito mais simples. Ao invés de haver a produção e distribuição de diferentes medicamentos, o tratamento completo pode chegar ao paciente concentrado em uma única forma farmacêutica”, ressalta a pesquisadora.

Outro importante medicamento para a tuberculose em DFC é isoniazida+rifampicina (150mg+300mg). Foi totalmente desenvolvido internamente e obteve registro da Anvisa em 2021. Essa formulação é referência nacional, ou seja, qualquer laboratório que demonstre interesse em produzir, terá que seguir os parâmetros de Farmanguinhos.

A coordenadora de Desenvolvimento Tecnológico, Alessandra Esteves, explica que os laboratórios desenvolvem ainda outros importantes medicamentos, que ainda não possuem nenhuma aprovação pela agência reguladora brasileira (Anvisa), tais como isoniazida+rifampicina (75mg+150mg) e rifapentina 150 mg na apresentação comprimidos revestidos. Ela destaca que outra importante iniciativa é o desenvolvimento de formulações orodispersíveis, isto é, que se dissolvem na boca, direcionadas para as crianças.

“São formulações pediátricas, como é o caso da isoniazida+rifampicina (50+75mg). Este projeto busca, primeiramente, o alinhamento com a Anvisa sobre possíveis estratégias regulatórias para registro de medicamentos pediátricos no Brasil. Sendo bem-sucedida, abrirá portas para registro de novos produtos para este público no país. Nosso objetivo é desenvolver formulações mais adequadas para as crianças, neste caso, em comprimidos orodispersiveis”, avalia Alessandra Esteves.

Pesquisas inovadoras

O laboratório de Síntese de Fármacos da unidade conta com linhas de investigação de novos alvos terapêuticos a fim de ofertar tratamentos inovadores no SUS. Um dos estudos utiliza derivados da isoniazida objetivando resultados mais promissores e menos agressivos ao organismo.

Testes pré-clínicos mostraram que um dos novos derivados apresentou excelente biodisponibilidade, sendo altamente absorvido por via oral. Além disso, não apresentou toxicidade aguda, mesmo em doses elevadas. “Devido aos resultados animadores, o derivado seguirá na etapa de desenvolvimento e faremos ensaios mais avançados. Além disso, desenvolvemos um método otimizado de síntese pelos princípios da química verde, que aumentou o seu rendimento e diminuiu seu impacto ambiental”, explica o pesquisador Frederico Castelo Branco.

O especialista explica ainda que os derivados apresentaram o dobro da potência da isoniazida, e são mais potentes do que os demais fármacos de primeira escolha do tratamento da tuberculose. Essas substâncias foram fruto de patente nos Estados Unidos, Índia, China, Europa e no Brasil.
Outro Laboratório de Síntese da unidade, o de Substâncias no Combate a Doenças Tropicais (SSCDT), tem mais de 18 anos de estudos de novos alvos contra a tuberculose. A pesquisa desenvolvida pelo grupo é baseada na área da química medicinal com diferentes abordagens. Uma delas trabalha com novas rotas sintéticas para serem utilizadas em escala industrial para a produção dos fármacos disponíveis no mercado para essa patologia. Outra linha atua na obtenção de intermediários sintéticos de alto valor agregado obtidos em aumento de escala para a produção de outros fármacos candidatos a agentes anti-tuberculose.

“Outra abordagem bastante explorada por nosso grupo é a busca por novas substâncias não só para a tuberculose sensível, como também para a tuberculose resistente, que é um grave problema atual. Neste contexto, podemos destacar substâncias baseadas no núcleo quinolínico, que tem se mostrado uma classe muito promissora frente à doença”, ressalta Marcus Vinicius Nora de Souza, coordenador do Laboratório.

Esses resultados reiteram o caráter estratégico de Farmanguinhos como protagonista na saúde pública brasileira por meio de sua atuação em todo o processo produtivo de um medicamento, da pesquisa aplicada, passando por desenvolvimento tecnológico, produção e fornecimento no Sistema Único de Saúde.

Sobre a doença

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que afeta principalmente os pulmões, mas pode acometer outros órgãos, como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro). O Dia Mundial de Combate à Tuberculose foi criado em 1982 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em homenagem aos 100 anos do anúncio do descobrimento do bacilo de Koch, causador da doença, ocorrido em 24 de março de 1882, pelo médico Robert Koch. É uma forma de aumentar a conscientização sobre as consequências devastadoras à saúde, bem como os impactos sociais e econômicos provocados pela doença, além de intensificar os esforços com o objetivo de acabar com essa epidemia global.






Autor: Alexandre Matos (Farmanguinhos/Fiocruz)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 23/03/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/inovacao-contra-tuberculose

Revista Poli: atraso do Censo e suas consequências são tema de nova edição


Com mais de dois anos de atraso, em breve, os dados oficiais do Censo Demográfico serão finalmente divulgados. Na reportagem de capa, especialistas comentam as consequências desse longo período de espera e abordam as informações oferecidas pelo principal levantamento socioeconômico do país, além de debaterem como a redução de perguntas desse último levantamento pode impactar na formulação de políticas públicas.

Na editoria “Educação”, a Poli traz uma matéria sobre os 20 anos da Lei 10.639, que estabelece a obrigatoriedade das disciplinas de História e Cultura Afro-brasileira no currículo escolar brasileiro, trazendo à luz debates sobre a importância de uma educação antirracista e inclusiva. Entrevistados apontam caminhos e destacam a importância dos docentes nesse processo.

Na entrevista desta edição, a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Angélica Baptista Silva, comenta a Lei 14.510/2022, que inclui a telessaúde na Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela fala sobre as diferenças de abordagem no âmbito público e privado e aponta os desafios para a recém-criada Secretaria de Saúde Digital. Apesar da previsão definitiva em lei ter ocorrido no final de 2022, a telessaúde já era regulamentada por portarias e pela resolução de conselhos profissionais diante da Covid-19. No novo governo, os programas ligados a essa modalidade de atendimento ficaram a cargo da nova secretaria.

A retomada de conselhos e o fortalecimento da participação social nos primeiros meses do governo Lula também são abordados na 88ª edição da revista. Na reportagem, integrantes de conselhos fazem um balanço dos últimos anos, refletem sobre os limites desses espaços de diálogo e debatem sobre os desafios que permanecem.

Em “Trabalho e Saúde”, a publicação aborda os recentes alertas globais que têm chamado a atenção para a saúde mental nos ambientes de trabalho e como – apesar dos crescentes debates acerca do tema – esse ainda é um assunto delicado e envolto de estigmas. Especialistas falam das principais causas de sofrimento psíquico em espaços laborais e sobre formas de prevenção de transtornos mentais, especialmente após o isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19.

Por fim, a editoria “Dicionário” explica o verbete “Agroecossistema”, suas possibilidades agroecológicas, o papel da participação popular e do conhecimento tradicional, as tecnologias sociais envolvidas no manejo da terra e os riscos de apropriações de “discursos ambientais” pelo agronegócio.





Autor: Talita Rodrigues (EPSJV/Fiocruz)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 23/03/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/revista-poli-atraso-do-censo-e-suas-consequencias-sao-tema-de-nova-edicao

Fiocruz oferece 44 cursos gratuitos online; confira lista

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) oferece mais de 40 cursos gratuitos em diferentes categorias e modalidades. As capacitações são 100% online.

As qualificações abordam temas como educação e gestão em saúde; comunicação, doenças transmisíveis, doenças ocasionadas por vírus respiratórios emergentes, entre outros. Os cursos são uma ótima oportunidade para incrementar o currículo.




Créditos: Divulgação


Os cursos são livres, gratuitos e têm início imediato. O público alvo da maioria das capacitações é profissionais da área da saúde, no entanto, qualquer pessoa pode se inscrever e participar.

Porém, na maioria dos cursos, o certificado de conclusão é fornecido somente para o público interno, ou seja, para os trabalhadores da Fiocruz devidamente matriculados e que realizarem todas as atividades de aprendizagem propostas.
Lista de cursos gratuitos da Fiocruz

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL – 1º OFERTA
INTRODUÇÃO À INTEGRIDADE DE DADOS – 1º OFERTA
ENFRENTAMENTO AO ESTIGMA E DISCRIMINAÇÃO DE POPULAÇÕES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE
OS DESAFIOS DA LIDERANÇA – CURSO 2: FERRAMENTAS PARA GESTÃO DE PESSOAS – 1º OFERTA
PERCURSO COMUNICAÇÃO – 1º OFERTA
ENFRENTAMENTO DA COVID-19 NO CONTEXTO DOS POVOS INDÍGENAS – 1º OFERTA
OS DESAFIOS DA LIDERANÇA – CURSO 1: ENTENDENDO O COMPORTAMENTO
ORGANIZACIONAL. – 1º OFERTA
INTRODUÇÃO À DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA (MOOC) – 1º OFERTA
COVID-19 MANEJO DA INFECÇÃO CAUSADA PELO NOVO CORONAVÍRUS – 2ª EDIÇÃO – 2º OFERTA
PLATAFORMA CHA PARA EDUCADORES – 1º OFERTA
TREINAMENTO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE PARA APLICAÇÃO DE TESTE RÁPIDO DE
COVID-19 – 1º OFERTAUTILIZAÇÃO DOS TESTES RÁPIDOS NO DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO PELO HIV, DA SÍFILIS E DAS HEPATITES B E C – 1º OFERTA
AUTOCUIDADO EM SAÚDE E A LITERACIA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E A PREVENÇÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) – 1º OFERTA
INICIAÇÃO EM CIÊNCIA EM ANIMAIS DE LABORATÓRIO – 1º OFERTA
CURSO VIRTUAL EM PRÁTICAS EM BIOSSEGURANÇA NÍVEL 3 (NB3) – 1º OFERTA
ENSINO REMOTO – CAMINHOS E CONEXÕES – 1º OFERTA
INTRODUÇÃO À GESTÃO DA INOVAÇÃO EM MEDICAMENTOS DA BIODIVERSIDADE – 1º OFERTA
CURSO ONLINE DE BOAS PRÁTICAS CLÍNICAS – 2º EDIÇÃO
INFODENGUE E INFOGRIPE: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS – 1º OFERTA
TREINAMENTO EM LABORATÓRIO DE NÍVEL DE BIOSSEGURANÇA 3 (NB3) – EDIÇÃO 1/2023
BIOSSEGURANÇA – 2º OFERTA
ACESSO ABERTO – 1º OFERTA
DADOS ABERTOS – 1º OFERTA
EDUCAÇÃO ABERTA – 1º OFERTA
O QUE É CIÊNCIA ABERTA? – 1º OFERTA
PANORAMA HISTÓRICO DA CIÊNCIA ABERTA – 1º OFERTA
PROPRIEDADE INTELECTUAL APLICADA À CIÊNCIA ABERTA – 1º OFERTA
DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS – 1º OFERTA
EPIDEMIOLOGIA EM SAÚDE PÚBLICA – 2023 / 2024
CONHECIMENTO E PRÁTICAS AGROECOLÓGICOS NA PROMOÇÃO DE TERRITÓRIOS SAUDÁVEIS E SUSTENTÁVEIS – 1º OFERTA
GERENCIAMENTO DE RISCOS EM AMBIENTES DE SAÚDE
CONHECIMENTO E PRÁTICAS AGROECOLÓGICOS NA PROMOÇÃO DE TERRITÓRIOS SAUDÁVEIS E SUSTENTÁVEIS – 1º OFERTA
INICIATIVA HOSPITAL AMIGO DA CRIANÇA – 2023
CURSO CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE SAÚDE
GERENCIAMENTO E LOGÍSTICA DA CADEIA DE SUPRIMENTOS PARA UNIDADES DE SAÚDE – 2023
DIREITOS HUMANOS, GÊNERO E SEXUALIDADE – 2023
ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM MAMOGRAFIA
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA PARA DOCÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONTROLE DA QUALIDADE DE SANEANTES COM ABORDAGEM NOS ENSAIOS QUÍMICOS E FÍSICO-QUÍMICOS. – 1º OFERTA – 2023
TÓPICOS AVANÇADOS EM SAÚDE DIGITAL – 1º OFERTA
BIOLOGIA PARASITÁRIA – 2023
MEDICINA TROPICAL – 2023
UTILIZAÇÃO DO GERENCIADOR BIBLIOGRÁFICO MENDELEY – 1ª OFERTA/2023XVI CURSO DE BIOSSEGURANÇA LABORATORIAL E COLEÇÕES CIENTÍFICAS – MÓDULO DE BOAS PRÁTICAS LABORATORIAIS- 2023 – 1º OFERTA

Cursos no Campus Virtual Fiocruz

Na plataforma Campus Virtual Fiocruz também é possível encontrar cursos em EaD que vão dos livres a pós-graduação, passando pelos técnicos, de aperfeiçoamento, qualificação, entre outros.

O conteúdo é elaborado por unidades, parceiros e pela Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic/Fiocruz), abrangendo diferentes áreas do conhecimento e temas. Conheça aqui os cursos da Fiocruz com inscrições abertas.




Autor: Redação
Fonte: catracalivre
Sítio Online da Publicação: catracalivre
Data: 20/03/2023
Publicação Original: https://catracalivre.com.br/educacao/fiocruz-cursos-gatuitos-ead/

quarta-feira, 22 de março de 2023

A infecção mortal por fungo que se espalha pelos EUA



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

O fungo Candida auris visto do microscópio
Há 8 horas


A infecção por fungos da espécie Candida auris está se espalhando rapidamente e de forma "alarmante", diz o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.


Os casos nos EUA quase dobraram em 2021: passaram de 756 para 1.471, aponta o relatório da entidade.


Pessoas saudáveis não correm risco de ter complicações relacionadas ao fungo Candida auris, mas aquelas com sistema imunológico comprometido ou que usam dispositivos médicos, como ventiladores ou cateteres, podem sofrer com quadros mais graves ou até morrer.

Por esse motivo, o CDC classifica a situação como uma "ameaça urgente relacionada à resistência antimicrobiana". Muitos pacientes afetados estão em hospitais e lares de idosos.


Um em cada três indivíduos com infecções invasivas por Candida auris morre, mas pode ser difícil avaliar como esse fungo afeta pacientes vulneráveis, avalia a epidemiologista Meghan Lyman, principal autora do relatório do CDC.


A infecção foi relatada pela primeira vez nos EUA em 2016. O aumento mais rápido de casos aconteceu entre 2020 a 2021, de acordo com dados publicados no periódico especializado Annals of Internal Medicine.


Outro motivo de preocupação é o aumento de casos que se tornaram "resistentes às equinocandinas", que é a classe de antifúngicos mais recomendada para o tratamento da infecção por Candida auris.




O CDC atribui o aumento à falta de medidas de prevenção nas unidades de saúde e às melhoras nos serviços de acompanhamento e diagnóstico de casos.


Outro fator que parece ter contribuído, segundo a entidade, foi o estresse ao sistema de saúde relacionado à pandemia de covid-19.


Lyman disse ao canal CBS News que o aumento de acometidos pela doença "enfatiza a necessidade de vigilância contínua, além de expandir a capacidade de laboratórios, criar testes de diagnóstico mais rápidos e criar programas de prevenção e controle de infecções".



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O fungo Candida auris tem virado uma das grandes preocupações na saúde pública

E no Brasil?


Outros países também têm visto um aumento nos casos de Candida auris.


No ano passado, a Organização Mundial da Saúde incluiu na lista de "patógenos fúngicos prioritários".


No Brasil, já foram identificados ao menos três surtos de maior importância relacionados a esse micro-organismo nos últimos anos.


O mais recente deles aconteceu entre dezembro de 2021 e março de 2022 em um hospital de Recife, em Pernambuco. À época, nove indivíduos foram acometidos.


O episódio foi alvo de um estudo publicado no início de 2023 por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).


Segundo os pesquisadores, a Candida auris "requer uma grande vigilância por sua alta capacidade de formar colônias e biofilmes, o que contribui para a disseminação do fungo".


"A identificação rápida e precisa dessa espécie é essencial para gerenciar, controlar e prevenir infecções", concluem os especialistas.




Autor: BBC 
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 22/03/2023
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c84dglv22dko

Vertigem aguda: os sintomas que podem ajudar em diagnóstico



CRÉDITO,GETTY IMAGESArticle informationAuthor,Megan Lawton e Polly Bayfield
Role,BBC Newsbeat
Há 4 horas

Geralmente usada para descrever o medo de altura, a vertigem também é um sintoma de várias outras condições. Ela causa a sensação de que a pessoa, ou o ambiente ao seu redor, está se movendo ou girando.

É algo que Leanne Buck entende muito bem. A jovem de 22 anos não sabe o motivo exato por trás de sua experiência de vertigem - mas ela enfrenta o problema desde os 14 anos de idade.


Leanne aprendeu que um dos gatilhos para desencadear sua vertigem é ficar em pé - algo que a afeta todos os dias.


"Muito do meu papel no trabalho inclui filmar e estar em sessões de fotos e isso envolve ficar de pé, então muitas vezes preciso descansar depois", disse ela à BBC Newsbeat, programa de rádio da BBC.


Leanne explica que seus colegas a apoiam, mas a condição a incomoda muito.


"Posso fazer algumas pausas, mas estou na casa dos 20 anos e gostaria de pensar que estou no auge da minha vida."


Em um dia ruim, Leanne diz que tem que se deitar em um quarto escuro e "esperar que a vertigem passe".



CRÉDITO,LEANNE BUCK
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Leanne Buck tenta evitar álcool e cafeína para reduzir suas chances de ataques de vertigem


"Minha visão fica muito branca e tudo o que posso ouvir é um zumbido nos ouvidos. Pode ser bastante assustador”, conta.


Kelly Boyson também convive com vertigem há oito anos. Para ela, a vertigem é resultado da doença de Ménière, um distúrbio no ouvido.


Ela conta que seus sintomas vão além da tontura.


"A vertigem pode fazer você se sentir muito mal e pode durar horas. É como um carrossel. Você está girando e, quando sai, não consegue andar e tudo fica embaçado."


"Não há nada que você possa fazer para impedir. Você só precisa esperar", diz.


Nos primeiros dias de diagnóstico, Kelly não podia sair de casa sozinha porque seus ataques eram muito frequentes.


"Eu tinha surtos de vertigem duas a três vezes por semana, e era assustador."


Ela se lembra de ter ataque ao metrô de Londres e "de ter que se agarrar às paredes do trem".


"Fui levada por um funcionário porque eles pensaram que eu estava bêbada”, conta.

O que fazer se sentir vertigem


Segundo o NHS, sistema público de saúde britânico, um ataque de vertigem pode durar segundos ou meses.


Embora o sintoma mais comum seja a tontura, os pacientes apresentam fortes dores de cabeça e altas temperaturas.


O professor Simon Lloyd, especialista nesta área, diz ser recomendável a procura de ajuda médica dependendo da gravidade do problema.


"Com vertigem severa, a melhor coisa a fazer é ir ao pronto-socorro local", diz Lloyd, presidente da Sociedade Britânica de Otologia.



CRÉDITO,KELLY BOYSON
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Kelly Boyson perde a audição durante ataques de vertigem


"Se for leve e não for algo que precise de atenção urgente, seu médico vai orientá-lo sobre o melhor tratamento."


Nanette Mellor, do The Brain Charity, diz que a vertigem "não é algo para se ter medo" e que há pessoas que podem ajudar.


Ao consultar um médico, explica Nanette, os pacientes podem descobrir o que está causando o problema.


"Pode ser algo bastante comum, como uma infecção no ouvido ou até enxaquecas."


Já Leanne quer que as pessoas sejam mais solidárias com quem sofre de vertigem.


"A vertigem aguda pode ser muito debilitante. É desorientador quando a sala parece estar girando… Eu não desejaria isso para ninguém."






Autor: Megan Lawton e Polly Bayfield
Fonte: BBC Newsbeat
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 22/03/2023
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cg321vny3pjo

A importância da dieta para prevenir câncer e melhorar qualidade de vida de pacientes



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Alimentação saudável ajuda a prevenir diversos tipos de câncerArticle informationAuthor,Saioa Gómez Zorita, Maitane González Arceo e María Puy Portillo
Role,The Conversation
Há 8 horas


Milhões de pessoas são diagnosticadas a cada ano com câncer, a principal causa de morte no mundo. Por isso, tanto a prevenção da doença quanto seu tratamento são tão importantes. Neste contexto, uma alimentação adequada, parar de fumar e limitar o consumo de álcool são fatores que reduzem o risco de adoecer e melhoram o prognóstico.


Uma alimentação saudável é de grande importância para prevenir diversos tipos de câncer. Porém, não existem alimentos milagrosos que curem ou previnam seu aparecimento. Também não há ingredientes na dieta que a causem diretamente: é o conjunto de nossos hábitos alimentares que reduz ou aumenta as chances de adoecer.


Ao longo das linhas seguintes, os leitores observarão que, em geral, as frases usadas ao fazer recomendações sobre dieta e câncer são pouco conclusivas. As palavras "parece" ou "pode" são repetidas constantemente. Isso ocorre porque mais pesquisas são necessárias para confirmar essas descobertas e esclarecer o verdadeiro impacto da dieta.

Algumas orientações para elaborar um cardápio anticâncer


Antes de tudo, é importante manter um peso saudável: o excesso de gordura corporal e as patologias associadas, como a resistência à insulina, são ligados a um risco aumentado de câncer de tireoide, esôfago, fígado, vesícula, cólon, rim, mama, endométrio ou próstata. Além disso, parecem promover metástase em alguns tumores, como o câncer de pulmão.


Em relação aos nutrientes e alimentos que auxiliam na prevenção, a alimentação deve ser rica em fibras (frutas, verduras, legumes e grãos integrais). Muitas vezes, incluir esses alimentos no cardápio também está associado a um menor risco de obesidade.

Especificamente, o consumo de frutas e vegetais reduz as chances de desenvolver vários tipos de câncer, como o de boca e esôfago, enquanto os grãos integrais podem ajudar a prevenir o câncer colorretal. Além da fibra, esses alimentos contêm antioxidantes que também podem proteger o corpo.


Além disso, deve-se limitar o consumo de alimentos ricos em gorduras de má qualidade (gorduras saturadas e trans), amidos e açúcares. É o caso dos alimentos ultraprocessados ​​(bebidas energéticas, embutidos, lasanhas, pizzas industriais, salgadinhos, entre outros).


Em relação aos diferentes tipos de dieta, a mediterrânea se destaca por suas virtudes, que parecem reduzir as chances de desenvolver câncer de mama e cólon. Caracteriza-se pela utilização de azeite virgem como fonte fundamental de gordura; uma alta ingestão de vegetais, frutas, grãos integrais, nozes e legumes; consumo moderado de peixe e laticínios; e pouca quantidade de carnes vermelhas ou processadas.


Uma dieta com abundância de carnes vermelhas e processadas, bebidas açucaradas, carboidratos refinados e alimentos ultraprocessados ​​aumentaria as chances de alguém sofrer dessas doenças.

A dieta não cura, mas melhora a qualidade de vida do paciente



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Alimentação deve ser rica em frutas, verduras, legumes e grãos integrais


Uma dieta balanceada reduz o risco de câncer, mas não o previne. Uma vez que a doença aparece, isso pode ajudar, aliado ao tratamento médico adequado, a melhorar o prognóstico e a qualidade de vida do paciente. Além disso, pode ajudar a atenuar alguns efeitos colaterais dos tratamentos e reduzir o risco de infecções.


É comum que pacientes com câncer sofram de desnutrição devido aos tratamentos e ao próprio curso da doença. Evitar reduzir esse problema é importante, porque melhora o prognóstico. É muito importante atender às necessidades energéticas dessas pessoas e, principalmente, proteicas.


Estas últimas se encarregam de reparar os tecidos, que em pacientes com câncer podem ser muito danificados devido à cirurgia, quimioterapia ou radioterapia. Ovos, laticínios, peixes, aves e legumes são boas fontes de proteína.


Esses processos de reparo também requerem uma quantidade extra de energia. Quando a ingestão necessária não pode ser alcançada – por exemplo, por falta de apetite –, a dieta deve incluir alimentos com alta densidade energética, como frutas secas ou vitaminas. Você pode até mesmo substituir os grãos integrais por grãos refinados, já que a fibra gera saciedade.


Em suma, a dieta deve ser adaptada ao indivíduo, às suas necessidades e à sua condição. Assim, em pacientes com náuseas e vômitos, alimentos frios e leves, como purê de frutas, iogurte ou macarrão ou saladas de arroz, geralmente são bem tolerados. Se o paciente tiver alguma dificuldade para engolir, pode ser útil triturar o alimento e adicionar espessantes e gelificantes para melhorar a textura, a fim de evitar o uso de sonda para administrar o alimento.


A título de conclusão, convém recordar que, embora a alimentação não cure o câncer, melhora o prognóstico e ajuda a preveni-lo, o que a torna uma prioridade.


*Saioa Gomez Zorita é pesquisadora de Nutrição e Obesidade e professora da Universidade do País Basco. Maitane González Arceo é pós-doutoranda no Grupo de Nutrição e Obesidade da Universidade do País Basco. Maria Puy Portillo é professora de Nutrição na Universidade do País Basco


**Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original (em espanhol).



Autor: bbc
Fonte: bbc
Sítio Online da Publicação: bbc
Data: 22/03/2023
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/crg5wl07eqpo

segunda-feira, 20 de março de 2023

Azitromicina para prevenir sepse ou morte em mulheres que planejam parto vaginal

As infecções maternas em particular a sepses materna durante o período periparto responde por até 10% das mortes maternas e estão entre as principais causas de morte materna no mundo. As mortes causadas por hemorragias e pré-eclampsia tem se mantido estáveis ou até diminuído. A sepse neonatal contabiliza 16% das causas de morte neonatal, sendo a terceira causa de morte neonatal.


A OMS e outras entidades tem priorizado ações para diminuir sepse materna pela diminuição de infecções maternas no pré-natal e principalmente na época de parto para diminuir as mortes maternas. Entre as opções sugeridas está o uso de antibioticoprofilaxia periparto.

Métodos

Um estudo randomizado multinacional duplo cego publicado no New England Journal of Medicine em fevereiro de 2023, utilizou 2g de azitromicina via oral comparado com placebo em 29.278 mulheres com mais de 28 semanas que estavam em trabalho de parto ou planejavam parto normal induzido para avaliar a eficácia na prevenção de infecções maternas e fetais. Foram excluídas do estudo parturientes com mais de seis centímetros de dilatação, com infecções em uso de antibióticos na época da randomização, arritmias ou cardiomiopatia conhecida, alergia a azitromicina ou outro macrolídeo ou que tenham feito uso deles nos últimos três dias, cesárea planejada ou quaisquer condições médicas que o investigador julgasse contraindicações para o estudo.


Resultados

Os desfechos primários analisados foram sepse materna ou morte materna dentro de seis semanas pós parto e um composto de natimortalidade ou sepse e/ou morte neonatal dentro de quatro semanas pós-parto. Os desfechos secundários maternos incluíram: corioamnionite, endometrite, infecções de parede abdominal, abscessos abdominais ou pélvicos, mastite ou abscesso mamário, pneumonia ou pielonefrite. Desfechos clínicos como antibioterapia, readmissão hospitalar, admissão em unidade especial hospitalar (UTI) e consultas extraordinárias puerperais foram computados nas análises também.

Dois grupos foram assim formados: azitromicina com 14.590 mulheres e 14.688 recebendo placebo. Os países participantes pertenciam a África, Ásia e América Latina.


Conclusões

Neste estudo, o uso de azitromicina oral intraparto entre mulheres que foram planejar um parto vaginal resultou em menor risco de sepse materna (1,6% vs 2,4%; RR 0,67, IC 95%, 0,56 – 0,79, P < 0,001) ou morte do que o placebo, um resultado que foi mais significativo pela redução na sepse (risco de morte foi de 0,1% nos dois grupos; RR 1.23; IC 95%, 0.51 to 2.97). No entanto, a intervenção não reduziu a risco de sepse ou morte em recém-nascidos.






Autor: João Marcelo Martins Coluna
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 23/03/2023
Publicação Original: https://pebmed.com.br/azitromicina-para-prevenir-sepse-ou-morte-em-mulheres-que-planejam-parto-vaginal/

Os riscos da semaglutida, que ganha popularidade para perda de peso



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Role,BBC News Mundo
Há 3 horas

O empresário Elon Musk afirma que já usou semaglutida e, segundo alguns meios de comunicação dos Estados Unidos, começar esse tratamento se tornou "o segredo mais mal guardado de Hollywood".


Trata-se de uma injeção para perda de peso cuja popularidade cresce em várias partes do mundo e cujas doses até estão em falta em algumas farmácias.


A droga — vendida sob os nomes comerciais de Wegovy, Ozempic e Rybelsus — é usada para tratar diabetes tipo 2 e, mais recentemente, começou a ser aprovada em várias partes do mundo como uma nova opção para perder peso.


No Reino Unido, ela acaba de ser liberada para uso no Serviço Nacional de Saúde, conhecido pela sigla em inglês NHS.


No Brasil, os medicamentos à base de semaglutida para perda de peso receberam o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro. No país, eles são considerados um tratamento auxiliar a outras medidas, como adotar dietas com menos calorias e fazer exercícios físicos com regularidade.

O fármaco, administrado como uma injeção sob a pele, faz com que a pessoa se sinta mais cheia e satisfeita, o que a leva a comer menos.Pai de menina obesa morta é acusado de negligência em tribunal britânico19 janeiro 2023.


Autoridades de saúde, como a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos, ou o National Institute for Excellence in Health and Care (NICE) no Reino Unido, indicam que o medicamento é seguro e eficaz para controle do excesso de peso crônico em adultos com obesidade que têm pelo menos um distúrbio associado, como hipertensão ou diabetes tipo 2.


Assim como acontece no Brasil, esses órgãos também enfatizam que o uso do remédio deve ser acompanhado de dieta com poucas calorias e programas de atividade física.


De acordo com o NICE, as evidências mostram que a semaglutida pode ajudar a reduzir o peso em mais de 10%, se implementada em conjunto com mudanças na nutrição e na prática de exercícios.


Como mencionado anteriormente, a semaglutida funciona como um inibidor de apetite. Ela "imita" a ação de um hormônio produzido no intestino chamado GLP-1, que tem como alvo áreas do cérebro responsáveis por regular a saciedade e a necessidade de ingestão de alimentos.


O hormônio é liberado depois de uma refeição e normalmente faz com que as pessoas se sintam satisfeitas, o que ajuda a reduzir a ingestão total de calorias ao longo do dia.



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As injeções de semaglutida devem sempre ser prescritas por um médico


As injeções devem ser prescritas por um médico e a recomendação é que o remédio seja tomado por, no máximo, dois anos.


No entanto, o efeito da droga na perda de peso é tão drástico que, em muitos países, a popularidade do tratamento disparou.


Um artigo publicado no ano passado na revista Variety, nos EUA, relata que a droga “saturou a indústria [de entretenimento de Hollywood] nos últimos meses, ajudando pessoas bonitas e ricas a perderem quilos extras rapidamente”.


Os planos de saúde nos Estados Unidos se recusam a cobrir o custo da semaglutida, que é de cerca de US$ 1,3 mil (R$ 6,8 mil) por mês, para pessoas que não são diabéticas ou que não o tomam como medicamento prescrito.


No Brasil, as seguradoras podem cobrir o preço do tratamento em alguns casos. Por ora, ele não está disponível na rede pública de saúde.


No exterior, a popularidade da semaglutida cresceu tanto que agora há uma escassez generalizada de doses naquele país, com temores de que as pessoas que dependem da droga por motivos médicos percam o acesso.


Em fevereiro, o executivo-chefe da Novo Nordisk, a farmacêutica que fabrica o medicamento, disse à rede NBC News que produção foi aumentada para atender à demanda crescente.


"Sabemos com certeza que os pacientes estão fazendo fila [para comprá-lo]", afirmou Lars Jorgensen, representante do laboratório.

Os riscos


A farmacêutica Novo Nordisk ressalta que a semaglutida só deve ser utilizada mediante prescrição médica.


Este tratamento apresenta efeitos colaterais e riscos. Os principais são náusea, dor de estômago, vômito e diarreia.


Outros eventos adversos listados pelo FDA são: dor de cabeça, fadiga, indigestão, tontura, inchaço, flatulência excessiva, gastroenterite e doença do refluxo gastroesofágico.



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A obesidade pode levar a outros distúrbios, como hipertensão, colesterol alto e diabetes tipo 2


A agência americana também observa que os profissionais de saúde devem alertar os pacientes sobre o risco potencial de tumores da tireoide.


"Remédios como o Wegovy não devem ser usados em pacientes com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide ou em pacientes com uma doença rara chamada síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2", afirma o FDA.


Além disso, a rápida perda de peso também pode fazer com que a pele tenha uma queda na quantidade de substâncias como o colágeno e a elastina, levando ao que alguns profissionais chamam de "rosto de semaglutida" — que se assemelha a uma aparência abatida.

Opção 'bem recebida'


Mas, para quem enfrenta problemas para perder peso, ou quando os quilos extras levam a outras doenças, a semaglutida é uma alternativa positiva.


A americana Kailey Wood, de 36 anos, tomou o Ozempic por sete meses, depois que seu médico receitou o fármaco.


Ela contou à BBC que, durante o período, perdeu pouco menos de 30 quilos — com isso, deixou de ser obesa e entrou na faixa de Índice de Massa Corporal (IMC) considerada saudável.


"Tenho síndrome dos ovários policísticos e resistência à insulina, mas, honestamente, não tive nenhum problema com meu peso até os 30 anos", diz ela.


"Eu estava ganhando peso rapidamente. Tinha um personal trainer e segui todas as dietas conhecidas: cetogênica, de baixo teor de carboidratos, jejum intermitente... Nada parecia funcionar."


Quando Kailey foi fazer exames com o médico, ela foi informada de que também estava com hipertensão e colesterol alto. Para piorar, devido aos riscos associados à síndrome dos ovários policísticos, corria o risco de desenvolver diabetes tipo 2.


"Os efeitos a longo prazo [de ser obesa] me assustaram porque tenho duas filhas", diz ela.


"Eu só queria fazer o meu melhor, mostrar a elas como é ser uma mãe saudável, capaz ir lá e brincar."


Kailey, que trabalha para uma startup de tecnologia e tem sua própria página no TikTok, observa que quem deseja usar a semaglutida precisa estar ciente dos efeitos colaterais da droga.


“Quando se começa a tomar esse remédio, o corpo quase entra em choque: você sente dor de cabeça, enjoo, cansaço...”, explica.


"Mas o organismo começa a se acostumar com isso. Você tem que estar atenta e ouvir seu corpo."


Kailey diz que acha "de muito mau gosto" que alguns estejam promovendo a droga na mídia americana como um "produto para uma perda de peso rápida".


Ela acha que isso revela uma mensagem inadequada.


"O que o remédio realmente está fazendo é mudar a vida das pessoas: tratar o paciente antes que ele desenvolva outras doenças", diz.


Helen Knight, diretora de Avaliação de Medicamentos do NICE, no Reino Unido, diz que, "para algumas pessoas, perder peso é um verdadeiro desafio, então um medicamento como a semaglutida é uma boa opção".


Já Duane Mellor, nutricionista e professor sênior da Escola de Medicina da Universidade Aston, na Inglaterra, afirma que "é importante lembrar que viver com alto peso corporal ou obesidade não é uma escolha de estilo de vida".


"Para melhorar a saúde, esses indivíduos devem ser apoiados."


Segundo o especialista, a semaglutida não deve ser encarada como um tratamento de estilo de vida, mas "com o objetivo de melhorar a saúde".





Autor: BBC News Mundo
Fonte: BBC News Mundo
Sítio Online da Publicação: BBC News Mundo
Data: 20/03/2023
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqvjl4dl81lo

O recém-descoberto gene que protege povos amazônicos da doença de Chagas e pode inspirar tratamentos



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O inseto barbeiro é o transmissor do protozoário Trypanosoma cruzi, que causa a doença de ChagasArticle informationAuthor,André Biernath
Role,Da BBC News Brasil em Londres
Twitter,@andre_biernath
18 março 2023


Já se sabe há muitos anos que os povos tradicionais da Amazônia sofrem menos com a doença de Chagas, uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido por meio da picada do inseto conhecido popularmente como barbeiro.


Agora, cientistas descobriram que a genética está entre as possíveis explicações para esse fenômeno: as populações que habitam a região há milênios passaram por adaptações no DNA que permitem "barrar" a entrada do patógeno nas células onde o problema se desenvolve.

A geneticista Tábita Hünemeier, do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), conta que o trabalho começou há cerca de quatro anos — e, a princípio, não tinha nada a ver com Chagas.


"Queríamos saber se existia algum sinal de seleção natural entre as populações da Amazônia", lembra.


"Vale lembrar que essa floresta é um ambiente hostil, de difícil sobrevivência. A vegetação é muito alta, há pouca luz, temos a circulação de diversos patógenos… Ou seja, os primeiros habitantes dessa região tiveram que enfrentar uma série de desafios", complementa.


Será que viver num local como esse deixou marcas no DNA dos amazônidas? A resposta é sim, segundo uma pesquisa recém-publicada no periódico Science Advances, que tem Hünemeier como uma das autoras.



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A Floresta Amazônica era um ambiente hostil para os primeiros habitantes, que precisaram se adaptar (até do ponto de vista genético)


No trabalho, o grupo de cientistas avaliou o genoma de 118 pessoas, que fazem parte de 19 populações nativas diferentes espalhadas pela Amazônia. Essas informações genéticas foram comparadas com a de outros povos das Américas e da Ásia.


Os resultados mostram que as populações que vivem há milênios na maior floresta tropical do mundo apresentam variações em três genes específicos capazes de garantir uma resistência maior a Chagas.


Mas os pesquisadores foram além e decidiram ver como essas alterações no DNA funcionam na prática.


Para isso, eles selecionaram um dos genes adaptados — o PPP3CA.


No laboratório, os especialistas inseriram esse trecho genético comum entre as populações amazônicas em células cardíacas (que são as mais afetadas pelo protozoário Trypanosoma cruzi).


"Nós vimos uma redução de 25% na carga de parasitas que conseguiam entrar nas células cardíacas com o gene PPP3CA adaptado", estima Hünemeier.


Ou seja, a mudança genética permite que menos patógenos causadores de Chagas consigam se infiltrar nas células cardíacas — o que, por sua vez, resulta em menos problemas à saúde.


Vale lembrar aqui que Chagas é uma doença que costuma ficar "dormente" por um longo período. Uma parcela considerável dos afetados só desenvolve os sintomas típicos da fase crônica — como as complicações cardíacas — anos ou até décadas depois de serem picados pelo barbeiro.


Hünemeier avalia que os experimentos feitos em laboratório recentemente corroboram aquilo que era observado na prática.


"Quando olhamos os dados sobre a doença de Chagas, a Amazônia era basicamente um vazio epidemiológico, com pouquíssimos ou nenhum caso em algumas regiões", diz.


"Uma das hipóteses que tentavam explicar isso é o tipo de habitação comum por lá, que dificultaria o contato com o barbeiro. Mas isso não parecia ser suficiente para entender a situação por completo. Agora detectamos uma associação genética que parece contribuir para essa maior proteção", completa.

Descoberta inédita


A pesquisa recém-publicada descreve o primeiro exemplo nas Américas de seleção natural influenciada por um patógeno entre seres humanos.


No mundo, o fenômeno só foi observado em outras quatro circunstâncias.


A mais famosa delas envolve a resistência à malária entre algumas populações africanas (que, por causa dessa mesma adaptação genética, são mais propensas a desenvolver a anemia falciforme, uma doença que afeta as células vermelhas do sangue).


"Também temos o exemplo da tripanossomíase africana, além da peste bubônica e da tuberculose, ambas na Europa", acrescenta Hünemeier.


Segundo a geneticista, a adaptação genética à doença de Chagas começou há cerca de 7,5 mil anos, ao longo das ondas migratórias que vieram da América Central e povoaram a América do Sul.


"Parte da população seguiu para os Andes e para a costa do Pacífico. E a outra parcela foi Amazônia adentro", explica.


Hoje em dia, as mudanças nos genes que conferem maior proteção contra Chagas só são observados entre os amazônidas — entre os andinos, essa doença é considerada endêmica e tem uma alta frequência.


Entre as populações amazônicas ancestrais, os indivíduos que carregavam essa versão genética capaz de "barrar" o Trypanosoma cruzi tinham uma vantagem em relação àqueles que não traziam essa informação no DNA.


Por causa dessa resistência maior a Chagas, eles conseguiram sobreviver e geraram mais descendentes — e esses genes adaptados passaram de geração em geração ao longo de milhares de anos, até os dias de hoje.



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Até 4,6 milhões de brasileiros estão infectados com o Trypanosoma cruzi, que são os filamentos roxos vistos nesta imagem de microscópio

Esperança para o futuro


Por fim, Hünemeier avalia que a descoberta de todos esses mecanismos biológicos renova as perspectivas de tratamentos modernos contra Chagas.


"Quando entendemos a base genética de uma doença, fica mais fácil pensar em estratégias terapêuticas diferentes", diz.


"Ao sabermos como o patógeno entra nas células e quais são os mecanismos de resistência, é possível desenvolver e testar soluções novas", reforça.


E a busca por vacinas e remédios contra Chagas é urgente e necessária: o Ministério da Saúde estima que entre 1,9 e 4,6 milhões de brasileiros estejam infectados com o Trypanosoma cruzi.


Só em 2019, essa enfermidade provocou 4,2 mil mortes no país.


Na América Latina (incluindo o Brasil), são mais de 6 milhões de casos estimados da doença.


A geneticista conta que, além das regiões onde a doença é endêmica há séculos, a doença de Chagas também começa a preocupar outras partes do mundo, como os Estados Unidos e a Europa.


E isso se deve a dois fatores principais. Primeiro, às mudanças climáticas, que facilitam o espalhamento dos insetos que transmitem o protozoário para regiões que antes eram frias, mas agora estão mais quentes.


Segundo, à imigração e à facilidade para viajar, pois indivíduos infectados podem se mudar de país e estabelecer ciclos de transmissão no novo local sem nem saber que carregam o agente infeccioso.


"Precisamos prestar cada vez mais atenção nas doenças tropicais e desenvolver soluções que atendam não apenas os norte-americanos e os europeus, mas principalmente as populações que são historicamente negligenciadas", conclui Hünemeier.


- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c87vd031k33o





Autor: André Biernath
Fonte: BBC News Brasil em Londres
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 20/03/2023
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c87vd031k33o

sexta-feira, 17 de março de 2023

Morte, cegueira e perda de globo ocular levam a suspensão de colírios nos EUA



CRÉDITO,GETTY IMAGESArticle informationAuthor,Max Matza
Role,Da BBC News
Há 8 horas

As autoridades de saúde dos EUA dizem que colírios podem ter provocado a morte de uma pessoa e deixado diversas outras gravemente feridas devido a uma contaminação bacteriana resistente a medicamentos.


Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (a agência americana de saúde pública CDC, na sigla em inglês) identificaram 68 pacientes em 16 Estados americanos com uma cepa rara de Pseudomonas aeruginosa.


A cepa nunca havia sido encontrada nos EUA antes deste último surto.


Além de uma morte, oito pacientes sofreram perda de visão e quatro precisaram ter seus olhos removidos cirurgicamente.


A maioria dos pacientes diagnosticados com a infecção relataram o uso de colírios e lágrimas artificiais, de acordo com o CDC.


Dez marcas diferentes foram identificadas como possivelmente ligadas ao surto, disse o CDC. Colírios fabricados na Índia e importados para os EUA sob duas marcas foram retirados das prateleiras em janeiro e fevereiro.


Em janeiro, o CDC alertou as pessoas a pararem de usar as lágrimas artificiais EzriCare e da Delsam Pharma. No mês seguinte, a empresa proprietária das marcas — a Global Pharma — fez um recall voluntário seguindo uma recomendação da Food and Drug Administration (FDA), agência sanitária do governo americano.


Frascos abertos por pacientes foram submetidos a testes. O CDC detectou a bactéria nas amostras. Frascos fechados estão sendo examinados em laboratório para determinar se a contaminação ocorreu durante o processo de fabricação.


Na semana passada, uma mulher na Flórida processou a empresa farmacêutica, alegando que uma infecção que ela sofreu após usar o produto obrigou os médicos a remover um de seus olhos.


Um advogado da mulher atribuiu a contaminação à falta de conservantes no colírio.


"Provavelmente há muito mais pessoas que sofreram infecções que não sabem", disse a advogada Natasha Cortes à rede NBC News.



CRÉDITO,EZRICARE

Um representante da EzriCare disse que os testes até agora não comprovaram definitivamente uma relação entre o surto e os seus produtos.


"Na medida do possível, estamos entrando em contato com os clientes para aconselhá-los contra o uso contínuo do produto", disse um porta-voz.


"Também entramos em contato imediatamente com o CDC e o FDA e indicamos nossa disposição de cooperar com quaisquer solicitações que eles nos fizerem."


O CDC disse que qualquer pessoa que tenha usado os produtos recolhidos e agora esteja apresentando sintomas deve entrar em contato com um médico.


Os sintomas incluem secreção ocular amarela, verde ou clara, desconforto ou dor, vermelhidão, visão embaçada e aumento da sensibilidade à luz.


Na semana passada, o FDA publicou avisos de recall separados para alguns produtos colírios distribuídos pela Pharmedica e Apotex depois que as empresas disseram que os retiraram voluntariamente das prateleiras.


Colírios e produtos para lavagem dos olhos foram usados por aproximadamente 117 milhões de americanos em 2020, de acordo com a Statista, uma empresa de pesquisa de mercado.







Autor: Max Matza
Fonte: BBC News
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 17/03/2023
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c72184plxjpo

CPT e MST lutam pela terra, por educação do campo e pelo fim do trabalho escravo


CPT e MST lutam pela terra, por educação do campo e pelo fim do trabalho escravo

Por frei Gilvander Moreira1

“A terra é de quem nela trabalha”, eis uma concepção defendida pela CPT desde sua origem há 48 anos

Após abraçarem a luta pelo rompimento das cercas do latifúndio, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde 1975, e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), desde 1984, perceberam que lutar por educação pública de qualidade, especificamente Educação do/no Campo, e com base nele, também era, é e será sempre imprescindível, pois sem conhecimento crítico e criativo não acontece emancipação.


O MST e a CPT buscam na sua atuação prática e coletiva a conjugação de forças que sejam de fato uma ecologia de saberes, baseada no reconhecimento da pluralidade de conhecimentos heterogêneos, sendo a ciência moderna apenas um deles, em interações sustentáveis e dinâmicas. “A Ecologia de Saberes baseia-se na ideia de que o conhecimento é interconhecimento”, diz Boaventura de Souza Santos (SANTOS, 2010, p. 53).

Assim, o conhecimento científico, que Boaventura Souza chama de Pensamento Abissal, é apenas uma das formas de conhecimento e, pior, atrelado aos poderes econômicos e políticos, desqualifica outros conhecimentos conquistados graças à interação construída na luta coletiva pela conquista da terra.

Gradativamente, a atuação da CPT e do MST passou a priorizar a educação popular, segundo a pedagogia libertadora de Paulo Freire, como ferramenta que faz avançar a luta por emancipação humana. Importante recordar que a educação popular e a pedagogia de Paulo Freire – de todas as freirianas e todos os freirianos – nasceram e se desenvolveram nas entranhas da luta pela terra em relação estreita com as camponesas e os camponeses exploradas/os e expropriados/as pelo latifúndio e pelo capitalismo.

Na organização interna e nas lutas concretas pela terra, luta por território, pelas relações de protagonismo que se estabelecem, um significativo processo pedagógico passa a ser tecido. Processo que busca romper as cercas do latifúndio, da ignorância e da privatização do conhecimento e, por outro lado, democratizar a terra e o conhecimento, afirmando assim a centralidade da luta pela terra e do trabalho coletivo nas lutas da CPT e do MST.

No livro Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire se refere constantemente à terra como matriz pedagógica que tem um grande potencial emancipatório.

A concepção que fez nascer a CPT afirma que a terra é dom (dávida) de Deus, pertence a Deus. Esta noção vem da Bíblia e está ali presente em diversas passagens. A Campanha da Fraternidade de 1986, com o tema “Fraternidade e terra” e o lema “Terra de Deus, terra de irmãos,” contribuiu para legitimar a atuação da CPT, do MST recém-criado, para fomentar o nascimento de centenas de movimentos populares camponeses e fortaleceu a mobilização popular para inscrever na Constituição de 1988 a prescrição de desapropriação de latifúndios que não cumprem a função social para fins de reforma agrária.

Mesmo pertencendo a Deus, a terra, expropriada do campesinato nas sociedades capitalistas, só se torna dos camponeses e das camponesas – sem dinheiro para comprá-la -, se for conquistada na luta coletiva. Assim se deu com os povos da Bíblia, em todos os povos do mundo e acontece atualmente no Brasil na luta dos Movimentos Populares do campo.

Para resgatar seus territórios invadidos por ‘brancos’ capitalistas, os indígenas lutam desde antes de Sepé Tiaruju até hoje; os negros lutam pela terra desde antes de Zumbi dos Palmares e Dandara, por meio dos quilombos, até aos quilombolas de hoje; os camponeses expulsos da terra lutam pelo resgate de suas terras desde antes de Antônio Conselheiro e Canudos, passando pelo Contestado, Ligas Camponesas, até hoje com o MST e tantos outros movimentos camponeses.

“A terra é de quem nela trabalha”, eis uma concepção defendida pela CPT desde sua origem há 48 anos. Na diversidade de visões sobre a terra podemos encontrar coincidências: com uma ou outra visão, mas as identidades serão diferentes. A terra é espaço disputado e é lócus sobre o qual se afirmam ou se destroem identidades.

Estima-se que cerca de sete milhões de pessoas negras foram arrancadas da África – pátria de origem, terra de liberdade -, e em navios negreiros trazidos à força para nosso país. Vendidos como mercadoria, ‘peça por peça’, foram usados e abusados como força de trabalho nos engenhos de açúcar, sobrevivendo nas senzalas, depois na mineração e ainda hoje perduram milhares de trabalhadores submetidos a situações análogas à escravidão.

No final do ano de 2014 o Brasil tinha 155,3 mil pessoas em situação análoga à escravidão, segundo o relatório Índice de Escravidão Global 2014, da Fundação Walk Free, divulgado dia 17/11/2014. De acordo com a organização, 0,078% dos brasileiros estão nesta condição. Pela primeira vez, segundo o levantamento, o número de pessoas resgatadas em situação de trabalho forçado no setor da construção civil (38% dos casos) foi maior que no setor rural do país. De acordo com a Fundação Walk Free, o Brasil atraiu bilhões de dólares em investimentos para a execução da Copa do Mundo de 2014, o que propiciou o aumento do número de casos em áreas urbanas.

O relatório também destaca que a exploração sexual concentrou um grande número de pessoas em situação de trabalho forçado por causa do grande fluxo de turismo nas doze cidades-sede da Copa do Mundo. O relatório da Fundação Walk Free ressaltou que a cidade de Fortaleza concentrou boa parte dos casos de abuso sexual de crianças por turistas. O documento ressalta que ainda há muitas crianças trabalhando como empregadas domésticas. Em 2013, segundo a organização, 258 mil pessoas entre 10 e 17 anos estavam trabalhando como trabalhadoras domésticas no Brasil. Segundo um dos autores do relatório Kevin Bales, também há preocupação com a participação de crianças no tráfico de drogas. De acordo com a Fundação Walk Free, outro dado relevante no país é o fato de muitos bolivianos e peruanos serem explorados na indústria têxtil.

Mais da metade dos 100 mil imigrantes bolivianos que entraram no Brasil de forma irregular e são facilmente manipulados por meio da violência, das ameaças de deportação e da servidão por dívida, segundo a pesquisa.2 Lamentavelmente, a chaga do trabalho escravo contemporâneo continua aberta, conforme atesta a Campanha Permanente pela erradicação do trabalho escravo. E o estado de Minas Gerais está sendo nos últimos anos o estado campeão em trabalho escravo, o que é uma vergonha brutal para o povo mineiro.

Referências

SANTOS, Boaventura de Souza. Para além do Pensamento Abissal: Das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Cortez Editora, 2010.

14/03/2023

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 – “Firmes e fortes na luta. Não arredamos o pé do nosso território” (Xukuru-Kariri, em Brumadinho/MG)

https://www.youtube.com/watch?v=HUOyufZawow

2 – “Indígenas sem território sofrem muito. Na luta, esperança p humanidade” (Xukuru-Kariri, Brumadinho)

https://www.youtube.com/watch?v=g9rh_voAji0

3 – Pedro, Alenice e Dep. Bella Gonçalves: Ministro Sílvio Almeida, Rodoanel e anulação da Resolução, JÁ

https://www.youtube.com/watch?v=QppCrevUi8s

4 – Ministro do Lula, Sílvio Almeida, de DH em reunião com Mov. de luta contra Rodoanel e Resolução Zema

https://www.youtube.com/watch?v=Wv32RfGdSp0

5 – Ministro do Lula, Sílvio Almeida, dos Direitos Humanos, ouve os clamores contra o Rodoanel na RMBH

https://www.youtube.com/watch?v=TZSIF8akfck

6 – Lula e Ministros, o Rodoanel na RMBH será Rodominério, sem Consulta Prévia e sem licenciamento. V.2

https://www.youtube.com/watch?v=SxjCUHtmtz0

7 – No colo do Lula lutas contra o Rodoanel e pela Anulação da Resolução do Zema, q viola Convenção 169

https://www.youtube.com/watch?v=1pU846ExwHI

8 – “1º livro que li foi meu avô. Luta pelo Território é luta pela vida de todes” (Dep. Célia Xakriabá)

https://www.youtube.com/watch?v=Z7QljUiLYe0

9 – Dep. Célia Xakriabá (PSOL/MG) na UFMG: “Indigenizar a cidade e a Política. Aquilombar, sim! Mística!

https://www.youtube.com/watch?v=OieMBsZhr-g


1 Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG; colunista dos sites www.domtotal.com , www.brasildefatomg.com.br , www.revistaconsciencia.com , www.racismoambiental.net.br e outros. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.brwww.freigilvander.blogspot.com.brwww.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III


2 Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2014-11/no-brasil-situacao-analoga-escravidao-atinge-1553-mil-pessoas

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Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 17/03/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/03/17/cpt-e-mst-lutam-pela-terra-por-educacao-do-campo-e-pelo-fim-do-trabalho-escravo/

Emissões por desmatamento e degradação superam as taxas de regeneração florestal


Colniza, MT, Brasil: Área degradada no município de Colniza, noroeste do Mato Grosso. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Emissões por desmatamento e degradação superam as taxas de regeneração florestal
Um estudo global descobriu que o desmatamento e as florestas perdidas ou danificadas devido a mudanças humanas e ambientais, como incêndios e extração de madeira, estão superando rapidamente as taxas atuais de regeneração florestal.

University of Bristol*

As florestas tropicais são ecossistemas vitais na luta contra as emergências climáticas e ecológicas.


A pesquisa, publicada na Nature e liderada pela Universidade de Bristol, destaca o potencial de armazenamento de carbono e os limites atuais da regeneração florestal para lidar com essas crises.

As descobertas mostraram que florestas degradadas se recuperando de distúrbios humanos e florestas secundárias crescendo em áreas previamente desmatadas estão removendo anualmente pelo menos 107 milhões de toneladas de carbono da atmosfera nos trópicos.

A equipe de pesquisadores internacionais quantificou as taxas de recuperação do estoque de carbono acima do solo usando dados de satélite nas três maiores florestas tropicais do mundo.

Embora os resultados demonstrem o importante valor de carbono da conservação de florestas em recuperação nos trópicos, a quantidade total de carbono absorvida no crescimento da floresta acima do solo foi suficiente apenas para contrabalançar cerca de um quarto (26%) das atuais emissões de carbono do desmatamento e degradação tropical .

A autora principal, Viola Heinrich, que recentemente obteve um PhD em geografia física na Escola de Ciências Geográficas da Universidade de Bristol, disse: “Nosso estudo fornece as primeiras estimativas pantropicais da absorção de carbono acima do solo em florestas tropicais recuperadas da degradação e desmatamento.

“Embora a proteção de florestas tropicais antigas continue sendo a prioridade, demonstramos o valor do manejo sustentável de áreas florestais que podem se recuperar de distúrbios humanos.”

Cientistas ambientais da Universidade de Bristol trabalharam com especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil, que incluiu colaborações com cientistas de todo o Reino Unido, Europa e EUA.

A equipe usou conjuntos de dados de satélite que podem distinguir o desmatamento de outros distúrbios induzidos pelo homem, como extração de madeira e incêndios, para determinar os tipos de florestas que estão crescendo. Combinado com informações sobre carbono acima do solo da Agência Espacial Européia e variáveis ambientais, a equipe modelou os padrões espaciais de regeneração florestal na Amazônia, África Central e Bornéu.

Eles descobriram que o tipo de perturbação humana em Bornéu resultou nas maiores reduções de carbono em florestas degradadas, principalmente devido ao corte intensivo de árvores economicamente valiosas, em comparação com a Amazônia e a África Central. Além disso, o clima e o ambiente em Bornéu também resultam no acúmulo de carbono cerca de 50% mais rápido do que nas outras regiões.

“Os modelos de recuperação de carbono que desenvolvemos podem informar cientistas e formuladores de políticas sobre o potencial de armazenamento de carbono de florestas secundárias e degradadas se forem protegidas e recuperadas”, disse Viola, agora pesquisador associado da Universidade de Exeter.

A equipe também descobriu que um terço das florestas degradadas pela exploração madeireira ou pelo fogo foram posteriormente completamente desmatadas, enfatizando a vulnerabilidade do sumidouro de carbono nessas florestas em recuperação.

“As florestas tropicais fornecem muitos recursos diretos vitais para milhões de pessoas e animais. Em larga escala, precisamos proteger e restaurar as florestas tropicais por seu valor climático e de carbono. Na escala local, as pessoas precisam poder continuar a usar as florestas de forma sustentável”, acrescentou Viola.

O coautor Dr. Jo House, Leitor em Ciência e Política Ambiental da Universidade de Bristol, autor de muitas avaliações internacionais sobre mudanças climáticas e florestas, disse: “Os países repetidamente fizeram promessas de reduzir o desmatamento e a degradação florestal e restaurar áreas desmatadas.

“Esta é a maneira mais econômica e imediatamente disponível para remover o carbono da atmosfera, juntamente com muitos co-benefícios, como biodiversidade, controle de enchentes e proteção dos meios de subsistência dos povos indígenas. No entanto, as metas são repetidamente perdidas devido à falta de apoio coordenado internacional sério e vontade política. Nossa pesquisa demonstra que o tempo está se esgotando”.

Na COP27, organizada pelo Egito em novembro passado, Brasil, Indonésia e Congo firmaram uma aliança Sul-Sul para proteger as florestas tropicais. Janeiro de 2023 viu a posse do novo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu desfazer os danos causados ??pelas políticas anteriores e voltar a proteger e restaurar a Amazônia.

O coautor Dr. Luiz Aragão, Chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no Brasil, disse: “Focar na proteção e restauração de florestas tropicais secundárias e degradadas é uma solução eficiente para a construção de mecanismos robustos para o desenvolvimento sustentável dos países tropicais. Isso agrega valor monetário para os serviços ambientais locais e globais fornecidos por essas florestas, por sua vez, beneficiando as populações locais econômica e socialmente.”

A equipe agora planeja desenvolver essa pesquisa, melhorando as estimativas de perdas e ganhos de carbono de diferentes tipos e intensidades de perturbação florestal nos trópicos.

Referência:


Heinrich, V.H.A., Vancutsem, C., Dalagnol, R. et al. The carbon sink of secondary and degraded humid tropical forests. Nature 615, 436–442 (2023). https://doi.org/10.1038/s41586-022-05679-w


Henrique Cortez *, tradução e edição.


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Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 17/03/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/03/17/emissoes-por-desmatamento-e-degradacao-superam-as-taxas-de-regeneracao-florestal/

quinta-feira, 16 de março de 2023

Por que o ‘‘robô’’ do INSS nega 75% das aposentadorias e benefícios?

Por que o ‘‘robô’’ do INSS nega 75% das aposentadorias e benefícios? análise de Priscila Arraes Reino
Se a inteligência artificial está cada vez mais presente em nossa vida, por que o robô do INSS não funciona a favor das pessoas que trabalham e recolhem para a previdência?



Deveria ser assim, e eu acredito que você concorde comigo. Mas o que nós previdenciaristas constatamos diariamente, é confirmado pelos próprios números da previdência: 3 entre 4 pedidos de aposentadoria são negados pelo INSS.

Depois de quase um ano de implantação no sistema do INSS, o que está acontecendo na prática é que o robô do INSS tira os brasileiros da fila de pedidos para colocar em outra fila, a de recursos.

Enquanto a fila de requerimentos de benefícios caiu 25%, a fila de recursos e revisões aumentou 32%.


A tendência é de alta e chega a ser cruel com as pessoas que aguardam aposentadoria porque, dessa fila, os segurados demoram ainda mais para sair.

A espera por uma resposta do INSS para rever um pedido negado é em média 589 dias. Isso mesmo: quase dois anos.

Situações assim poderiam ser evitadas, pois na maioria das vezes essas pessoas já cumpriram os requisitos para receber o que lhes é de direito, mas caíram na armadilha do robô.

Vou te explicar como funciona o site do Meu INSS, onde o calvário de uma aposentadoria ou benefício negado começa.

Quando o segurado entra no site do Meu INSS fazendo um pedido de benefício responde a várias perguntas, com as opções “sim” ou “não”. A inteligência artificial analisa suas respostas e dá o encaminhamento.

De forma automática, a inteligência artificial utiliza os dados existentes nas bases da administração pública. Boa parte deles possui imprecisões e precisam ser corrigidos a tempo, do contrário os pedidos são indeferidos.

A base de dados utilizada pelo robô é o extrato previdenciário CNIS, Cadastro Nacional de Informações Sociais do INSS. Se nesse documento existe algum erro (e quase sempre existe), aí começam os problemas.

O exemplo mais comum é ter vínculo em aberto, com data de início e sem data fim. Neste caso, o INSS vai desconsiderar esse tempo de trabalho e contribuição, com duas consequências:

pode faltar tempo para fechar os requisitos de acesso a uma aposentadoria ou benefício.

pode acontecer do benefício ser concedido com valor mais baixo do que deveria.

Além disso, robô não analisa o tempo real de contribuição do segurado nessas situações:

de quem trabalhou com atividades expostas a agentes nocivos e recebeu insalubridade


prestou serviço militar e poderia incluir esse tempo para fins de benefícios previdenciários


se tornou uma pessoa de deficiência e pode usar a condição PcD para melhorar o benefício


trabalhou como professor ou professora


poderia contar com a reafirmação da DER (Data de Entrada do Requerimento)


poderia contar com reconhecimento de ações trabalhistas ganhas


ou inclusão de tempo sem carteira assinada, ou tempo rural.

O robô só funciona para aquele segurado com os dados completamente regularizados, que não tem indicação no CNIS, não possui tempo diferenciado ou especial.

Se você é um dos segurados que sempre trabalhou na mesma empresa, com todos os recolhimentos contabilizados, sem falhas, atrasos ou lacunas, se não tem nenhuma situação que uma máquina não consiga realizar, pode ficar tranquilo.

Do contrário, o recomendável é que você conte com a ajuda de um especialista previdenciário para não entrar na triste estatística dos 75% de requerimentos negados pelo INSS.

A situação pode ser resolvida em uma consulta previdenciária ou com o planejamento de aposentadoria para ter a segurança de qual é o momento certo para se aposentar e quais providências podem ser tomadas para melhorar o valor do benefício.

Priscila Arraes Reino, advogada especialista em direito previdenciário e direito trabalhista, palestrante e sócia do escritório Arraes e Centeno.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394







Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 15/03/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/03/15/por-que-o-robo-do-inss-nega-75-das-aposentadorias-e-beneficios/