sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Tecnologia Social auxilia melhoria de vida de comunidades

Uma parceria entre a Comunidade Remanescente de Quilombo Machadinha, no município de Quissamã (RJ), o assentamento Osvaldo de Oliveira, em Macaé (RJ) e o projeto de extensão universitária “Laboratório Interdisciplinar de Tecnologia Social” (Lits/UFRJ/Macaé), por meio da disciplina "Aprendizagem por projetos" dos cursos de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) campus Macaé, permitiu o desenvolvimento de maquinário e estrutura para a melhoria da produção de alimentos nessas comunidades. O financiamento do projeto vem de recursos do edital Programa de Apoio ao Empreendedorismo de Impacto Socioambiental do Rio de Janeiro, lançado pela FAPERJ no segundo semestre de 2018.

Ao lado dos moradores, o projeto envolveu a construção de uma casa de farinha e de maquinário no assentamento Osvaldo Oliveira – classificado como Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), modalidade prevista em portaria do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade produz mais de cinco toneladas de aipim por ano, mas uma parte se perdia por conta da dificuldade de distribuição do produto e da perecibilidade do alimento in natura. “A casa de farinha era um projeto que a comunidade já tinha em mente há muito tempo e com a disciplina oferecida, a equipe de professores, estudantes, assentados projetaram a casa e o maquinário. Agora estamos na fase de ajustes”, conta a professora Camila Rolim Laricchia, responsável pelo projeto e professora do departamento de Engenharia de Produção do campus Macaé da UFRJ. Também fazem parte da coordenação do projeto os professores Rute Costa, do departamento de Nutrição e Maurício Oliveira, do departamento de Engenharia Mecânica, ambos do mesmo campus.


 
A casa está sendo construída pelos moradores com tijolos ecológicos e a preparação da produção da farinha para venda está sendo acompanhada pela equipe de professoras e estudantes do curso de Nutrição, integrantes do projeto, para que esteja adequada com as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Tanto no assentamento em Macaé, quanto na comunidade quilombola, a proposta é desenvolver Tecnologia Social de baixo custo e que possam ser manuseadas coletivamente.

No assentamento Osvaldo de Oliveira foi preciso encontrar uma maneira de gerar energia diante da ausência de energia elétrica na área destinada à casa de farinha. A solução encontrada foi construir um triturador de aipim movido à pedaladas de bicicleta. Já em Machadinha, a proposta de fazer uma horta comunitária esbarrou na dificuldade do acesso à água. Nesse caso, o primeiro passo foi a construção de um poço artesiano, não só para permitir a irrigação da horta, como para consumo próprio.


Camila Laricchia (centro) discursa em apoio ao assentamento Osvaldo de Oliveira, após 1ª 'farinhada realizada', em 2019; à esq., o professor Maurício Oliveira (esq.) (Foto: Arquivo pessoal)


A energia para irrigação na comunidade quilombola virá de uma bomba movida à energia eólica, já construída pelos estudantes da disciplina, e a instalação acontecerá após o término do isolamento social indicado nos protocolos de segurança por conta da pandemia. Também está em processo de decisão coletiva os alimentos que serão plantados na horta em Machadinha, para que o plantio seja realizado assim que as chuvas de verão abrandarem a terra, momento que será possível preparar o solo para receber as sementes.

Em contato constante com as comunidades, as reuniões antes da pandemia do novo coronavírus eram realizadas presencialmente ora nas comunidades, ora nas instalações da Universidade. Entre uma reunião e outra, os alunos ficavam responsáveis por desenvolver os projetos acordados. Com a chegada do isolamento social, a falta de acesso à internet dificultou as reuniões com a comunidade de Machadinha, mas puderam ser continuadas com moradores do assentamento Osvaldo Oliveira.

A professora Camila Laricchia comenta a importância do financiamento nesse projeto, que aproxima a universidade de comunidades, além de fomentar ensino, extensão e pesquisa. “Esse edital é muito importante para essa área e para o fomento de Tecnologia Social. Se não fosse o edital, a casa de farinha ficaria muito aquém das necessidades da comunidade. E, com os recursos recebidos, também incentivamos o ensino, o aprendizado e o envolvimento dos estudantes, além de aprofundarmos a relação entre comunidade e universidade, pilar da extensão universitária”, finaliza a pesquisadora.






Autor: Juliana Passos
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 25/02/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4164.2.0

Projetos desenvolvidos na UFF colocam a Inteligência Artificial a serviço da Saúde

A Inteligência Artificial (IA) vem ganhando um espaço crescente na área da Saúde, com ferramentas de apoio aos profissionais e à otimização de processos. Novas alternativas como o aumento da demanda pelo atendimento virtual, a telemedicina e o monitoramento remoto de enfermos abrem boas perspectivas para esse segmento, em franca expansão. Seguindo essa tendência, a engenheira de Computação Débora Muchaluat Saade coordena, na Universidade Federal Fluminense (UFF), o desenvolvimento de soluções para as áreas de Saúde e Energia, usando a Inteligência Artificial.

“Trabalhamos com projetos de pesquisa aplicada, reunindo Redes de Computadores e Multimídia, que são subáreas da Computação, aplicadas a alguns problemas de Saúde e também de energia elétrica, com as chamadas smart grids, as redes elétricas inteligentes”, resumiu a professora titular do Departamento de Ciência da Computação da UFF. Ao longo de sua trajetória como professora e pesquisadora, ela já recebeu apoio da FAPERJ em diferentes etapas de seus estudos. Para o projeto Smart Health Net, foi contemplada, pela Fundação, no programa Cientista do Nosso Estado. Já o projeto eHealth Rio – uma rede de pesquisa que reúne diversas instituições fluminenses, além da UFF, como o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e também é coordenada por Débora –, ganhou apoio da FAPERJ por meio do programa Redes de Pesquisa em Saúde no Estado do Rio de Janeiro.




Terapia com auxílio da Inteligência Artificial: idosa testa, em laboratório na UFF, jogo imersivo
para estimular a memória (Fotos: Divulgação)


Uma das aplicabilidades de ambos os projetos na área de Saúde é colocar a Inteligência Artificial a serviço de terapias alternativas de tratamento para pacientes com doenças neurodegenerativas, relacionadas ao envelhecimento, como demência, Alzheimer e comprometimento cognitivo leve. Para isso, um dos objetivos é construir uma sala multimídia, no Ambulatório de Idosos da UFF, no campus Mequinho, localizado no Centro, em Niterói. “Estamos reunindo esforços para construir um espaço onde esses pacientes poderão ser estimulados com recursos multimídia imersivos, interativos e sensoriais, em um ambiente planejado para a realização de jogos virtuais e outras terapias para ajudar a ativar capacidades neurocognitivas, como a memória e a concentração. Trata-se de um sistema Multiple Sensorial Media (MulSeMedia), que integra conteúdo multimídia e efeitos sensoriais. São oferecidos efeitos que remetem às sensações de calor e frio, de vento e aromas”, contou.

Outra aplicabilidade dos projetos é pesquisar recursos de IA para desenvolver sistemas de suporte ao diagnóstico para médicos e profissionais de Saúde. “As tecnologias avançadas de IA para auxílio ao diagnóstico e à decisão médica estão na fronteira do conhecimento, e vêm sendo cada vez mais adotadas no mercado como importantes aliadas aos profissionais de Saúde. Com esse suporte, os prestadores de cuidados de Saúde podem se concentrar no paciente e na qualidade do atendimento”, disse Débora, que coordena na UFF o laboratório MídiaCom.


Débora Saade: para a engenheira da Computação e pesquisadora na UFF, são muitas as possibilidades para o uso da Inteligência Artificial na sociedade


Em parceria com profissionais do Centro de Referência e Atenção à Saúde do Idoso do Serviço de Geriatria do Hospital Universitário Antônio Pedro (Crasi/UFF), dirigido pela médica e professora Yolanda Boechat, ela desenvolveu um sistema computacional que emite uma segunda opinião para o médico, no diagnóstico de doenças neurodegenerativas associadas ao envelhecimento. “Essa é uma pesquisa que realizamos há vários anos. O protótipo desenvolvido não é um sistema estático. Ele é atualizado constantemente a partir das informações dos próprios médicos, para que possamos aperfeiçoá-lo. Quando o médico informa ao sistema os dados demográficos do paciente e os resultados dos seus testes neuropsicológicos, técnicas de IA indicam um possível diagnóstico, servindo como uma segunda opinião ou como um apoio para um médico que não é especialista”, detalhou. O sistema, que começou a ser desenvolvido em 2013, com apoio do edital Apoio ao Estudo de Temas Relacionados à Saúde e Cidadania de Pessoas Idosas (Pró-Idoso), lançado então pela FAPERJ, teve resultados promissores e segue para uma segunda aprovação do Comitê de Ética, visando testes na rotina clínica do Crasi/UFF. Na fase inicial do seu desenvolvimento, contou com a parceria do professor Jerson Laks, do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.

Os estudos de redes e sistemas inteligentes coordenados por Débora também vêm sendo aplicados na área de Energia, com novas soluções para as redes elétricas inteligentes. “As smart grids são uma tendência sem volta para modernizar as redes elétricas com tecnologias digitais. Existem novas especificações de equipamentos elétricos e protocolos para o intercâmbio de dados, que tornam a rede muito mais eficiente e facilitam o monitoramento da rede elétrica”, explicou. A solução, baseada no conceito de Redes Definidas por Software (em inglês, Software Defined Networks), foi o tema da tese da sua ex-aluna, Yona Lopes, quando esta cursou o doutorado sob sua orientação, tendo recebido bolsa da FAPERJ por meio do programa Doutorado Nota 10. Hoje, Yona é professora do Departamento de Engenharia Elétrica na UFF. Com base nesses estudos, a empresa distribuidora de energia elétrica Taesa está implantando uma solução SDN para teleproteção em uma linha de transmissão entre as subestações Samambaia e Serra da Mesa, no interior de Goiás, a cerca de 200 quilômetros de Brasília.

“São muitas as possibilidades de aplicações práticas da Inteligência Artificial, em todas as áreas do conhecimento”, destacou Débora. Para a pesquisadora, as inovações com base na IA devem se tornar cada vez mais comuns e fazer parte do cotidiano das pessoas nos próximos anos. “Há muitos trabalhos acadêmicos em âmbito internacional que visam ao desenvolvimento de soluções de IA. Elas vão auxiliar o trabalho de profissionais de diversas áreas e não acredito que os algoritmos substituirão as pessoas, mas serão importantes sistemas de apoio”, ponderou.






Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 25/02/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4158.2.5

Projeto de Educação Digital Inclusiva oferecerá conteúdo inédito sobre biodiversidade

O agravamento da crise ecológica está diretamente relacionado a outras crises, sobretudo a da saúde humana, como demonstrou a pandemia da Covid-19. Além de estabelecer restrições ao movimento de pessoas e de gerar uma série de consequências sociais, econômicas e de saúde no Brasil e no mundo, a pandemia revelou a importância do conhecimento científico sobre os ecossistemas e a biodiversidade, colocando em evidência a necessidade da conservação dos ambientes naturais para o futuro da humanidade.

Com esta justificativa, a bióloga Luciana Alvarenga obteve apoio da FAPERJ para projeto na Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), contemplado no edital Educação Digital Inclusiva – Apoio Instituições Públicas de Educação Superior. Desde 1998 ela se dedica a pesquisas em biologia e a partir de 2000 passou a contar com apoio regular da FAPERJ, como bolsista de mestrado, com dissertação sobre as tradicionais paneleiras de barro de Goiabeiras, bairro de Vitória, capital do Espírito Santo, e no doutorado em Artes Visuais. O uso da imagem sempre esteve presente nas suas pesquisas, mas foi através da sua atuação na sala de aula como docente que percebeu a carência de material ilustrativo que apoie os cursos de Biologia, em especial para os estudantes que não se dedicam à pesquisa. Sua tese discorreu sobre a relação da natureza com as manifestações culturais da comunidade de Itaúnas, distrito do município de Conceição da Barra (ES), que na década de 1940 foi soterrada pela areia movida pelo vento.






A pesquisadora ressalta pesquisas que apontam que ¾ dos patógenos emergentes que infectam os seres humanos surgiram de animais que, em geral, vivem em habitats que sofreram processos de degradação ambiental, em especial decorrentes de desmatamento e uso inadequado dos recursos naturais. “A existência de ambientes naturais saudáveis é condição fundamental para a manutenção de serviços ecossistêmicos essenciais para a qualidade de vida e a saúde humana”, garante a pesquisadora. Idealizadora da série “Parques do Brasil”, sobre essas Unidades de Conservação Federais, em seu novo projeto Luciana deverá apresentar ao final de 18 meses materiais e conteúdos inéditos no País, observados e filmados com equipamentos de alta resolução.






Ceratium sp, em amostra coletada na Baía da Guanabara. Este fitoplâncton é um bom indicador
biológico, responsável pela bioluminescência no mar (Foto: Paulo Iiboshi Hargreaves)


Um dos colaboradores do projeto é o Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, Paulo Salomon, coordenador do Laboratório de Biologia Marinha do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde serão produzidas imagens microscópicas inéditas no País. Luciana também está comemorando o salto de qualidade imagética, que será obtido com a aquisição de câmeras 4K. “Ecossistemas, por exemplo, é uma disciplina em que o uso da imagem em movimento pode propiciar melhores entendimentos sobre a dinâmica e as características de cada ambiente. A transição da vegetação da Caatinga para a Mata Atlântica, por exemplo, pode ser mais bem percebida quando observada do alto, com o uso de drone”, explica Luciana.

A equipe do projeto conta ainda com a colaboração da pesquisadora Lorelai Brilhante Kury, da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, que irá cuidar do conteúdo sobre as pesquisas em história das ciências nos séculos XVIII e XIX, abordando em particular temas relacionados à história natural, natureza e medicina. Marcelo Lopes Rheingantz, da UFRJ, será responsável pelo conteúdo sobre Biologia da Conservação e fragmentação dos biomas, e mostrará o projeto de reintrodução de espécies nativas da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro, entre elas o jabuti e os bugios. O projeto conta ainda com a participação dos biólogos Arthur Lima, do Laboratório de Biologia Marinha da UFRJ; Maron Galliez, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (campus Rio de Janeiro); e Jorge Luiz do Nascimento, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).


Dois exemplares de Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), no Parque Nacional das Emas (GO)


Essa proposta nasceu no âmbito do Convênio de Cooperação entre a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e o ICMBio. Seu principal objetivo é o desenvolvimento de produções audiovisuais inéditas e originais, de diferentes formatos, a fim de promover a popularização do conhecimento científico sobre a biodiversidade, enfatizando a relação do meio ambiente, a saúde e a qualidade de vida. “Tais estudos são fundamentais para o desenvolvimento da ciência e promoção do conhecimento científico, além de nortearem ações que garantam a manutenção dos ecossistemas e o equilíbrio ecológico e biogeoquímico, a manutenção de polinizadores para a agricultura, a variabilidade genética de espécies-chaves, a qualidade e a quantidade de recursos pesqueiros, além de um rico e inesgotável banco genético para o desenvolvimento da ciência, incluindo as ciências da saúde, entre outros serviços essenciais”, explica Luciana.

Segundo a pesquisadora, em tempos de pandemia, o uso da imagem em processos educativos se torna fundamental. O papel da produção audiovisual no contexto da educação e no acesso à informação por meios digitais e virtuais se torna essencial e novas práticas de ensino-aprendizagem são de extrema importância. “O recurso audiovisual é um excelente instrumento, tanto para o registro de dados pesquisáveis, quanto para a organização, interpretação e divulgação de conhecimentos científicos”, garante Luciana. Segundo ela, o projeto pretende estabelecer um processo contínuo de produção audiovisual destinado a fomentar e apoiar atividades de ensino-aprendizagem relacionadas à biodiversidade brasileira, em diferentes cursos de graduação e de pós-graduação.


Com o projeto, Luciana Alvarenga pretende suprir a carência de material ilustrativo que apoie os cursos de Biologia


A primeira etapa da proposta inclui a estruturação de um laboratório de produção e criação de conteúdos audiovisuais sobre a biodiversidade brasileira e a produção de uma série de vídeos apresentando conceitos, experimentos e metodologias sobre Ecossistemas terrestres e marinhos, Biologia da Conservação, Serviços Ecossistêmicos, Mudanças climáticas, História das Ciências, Saúde e Meio Ambiente, entre outras áreas correlatas. O projeto disponibilizará os conteúdos audiovisuais, visuais e de áudio em diferentes meios de comunicação como web, TV, rádio, aplicativos para celulares, entre outros. Dentre os produtos a serem entregues estão: uma sériede TV com seis episódios de meia hora de duração cada; 36 vídeos de cinco minutos; 50 vídeo-aulas, podcasts e mini ebooks. A série será exibida através da Rede Nacional de Comunicação Pública, os vídeos e todo o material produzido pelo projeto ficarão disponíveis no site Curta Biodiversidade (www.curtabiodiversidade.fiocruz.br). Através desse portal será realizado um processo contínuo de interação com pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação, desenvolvendo novas práticas digitais e inclusivas de ensino-aprendizagem. A série de TV será legendada em outros idiomas, visando a sua divulgação e exibição fora do País.







Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 25/02/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4169.2.7

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Cosmonautas passam por apuros em noite azarada na ISS


Imagem: Reprodução

Imagine-se em um dia azarado no qual seria inevitável pensar: "Por que é que eu saí da cama?" Agora, considere que você não teria nem como voltar para ela, pois, adivinhe, estaria flutuando no Universo. A tripulação da Estação Espacial Internacional sabe bem o que é isso, já que as coisas ficaram realmente complicadas por lá em determinada noite – e problemas surgiram em uma sequência semelhante à de peças de dominós enfileiradas caindo uma após a outra. Antes de qualquer coisa, nada de mais aconteceu e todos estão bem. Inclusive, chegaram a nosso planeta hoje.

Primeiramente, um banheiro localizado na seção russa das instalações parou de funcionar. Anatoly Ivanishin, cosmonauta, reportou o caso a controladores da Terra. Eles, por sua vez, suspeitaram que uma bolha de ar tinha se formado no sistema – e a questão foi resolvida sem a necessidade de que um encanador fosse para lá. Ainda assim, seria possível que Ivanishin utilizasse o compartimento da espaçonave Soyuz-MS-16, acoplada à ISS, para aliviar suas necessidades – ou mesmo aproveitasse para conhecer o "troninho" luxuoso de US$ 23 milhões de sua vizinha norte-americana.

Na pior das hipóteses, se não houvesse alternativa mesmo, fraldas estariam à sua disposição. Tudo bem, ele já está acostumado. Era com elas que contava na hora de passear à noite, com os pés no infinito. Agora, preocupante seria se faltasse oxigênio. É... Pois é!


Se não está fácil para você, imagine para Anatoly Ivanishin?
Fonte: Reprodução
 
Falta de problema? De jeito algum

Na mesma noite, o sistema russo de suprimento de oxigênio travou pela segunda vez em um intervalo de uma semana. A água utilizada para a produção do gás acabou. Certo, mais um conserto bem sucedido, mas convenhamos que, mesmo que exista um outro equipamento por lá, da NASA, capaz de sustentar a vida de seis pessoas, bater na porta do colega para poder respirar (principalmente quando, sei lá, existe uma certa rivalidade entre os envolvidos) é um tanto quanto deprimente. Caso o ar acabasse, alguns tanques espalhados os salvariam de apuros.

Passada a tensão, momento ideal para fazer um lanche e dormir. Isto é, se o forno especialmente construído para refeições espaciais não tivesse quebrado. Sim, o que estava ruim poderia piorar. E piorou.

Mais uns palavrões, mais problemas para resolver. Felizmente, deu tudo certo. Um porta-voz da agência espacial russa Roscosmos disse: "Todos os sistemas da estação estão operando normalmente. Não há perigo para a segurança da tripulação e da jornada da ISS."


"Oi, você, por acaso, me emprestaria o banheiro? E um pouco de oxigênio?"Fonte: Reprodução
Calma que tem mais!

Ah, um vazamento de ar foi localizado por Ivanishin na semana passada e corrigido. Ao observar a trajetória de um saquinho de chá flutuante dentro do módulo Zvezda, ele matou a charada e, utilizando um pouco de espuma de borracha, vedou o que precisava. Só não citamos isso antes porque essa história começou em 2019.

Se fosse por aqui, alguns xingamentos direcionados à imobiliária dariam conta da frustração ou, em um acesso de raiva, itens problemáticos seriam descartados e trocados por outros. Fazer isso fica um pouco mais difícil no vácuo.

De qualquer modo, Anatoly, seu colega Ivan Vagner e Chris Cassidy não precisarão aguentar mais essa rotina. Voltaram hoje para a Terra – e, como todos nós, terão outras tantas preocupações na cabeça, incluindo uma pandemia global.




Autor: Reinaldo Zaruvni
Fonte: via nexperts
Sítio Online da Publicação: tecmundo
Data: 22/02/2021
Publicação Original: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/205707-cosmonautas-passam-apuros-noite-azarada-iss.htm

Como o robô Perseverance envia imagens de Marte (e por que a primeira foi tão ruim)



CRÉDITO,NASA
Legenda da foto,

Primeira imagem de Marte enviada por Perseverance foi de baixa qualidade e em preto e branco


O robô Perseverance, que chegou à superfície de Marte na quinta-feira (19), pode ser considerado o suprassumo da tecnologia.


A sonda desenvolvida pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, viajou 480 milhões de quilômetros, entrou em Marte a uma velocidade de quase 20 mil km/h e, depois de oito meses, fez um pouso bem-sucedido no Planeta Vermelho.


Foi uma façanha e tanto da engenharia espacial, mas por que um dispositivo tão sofisticado enviou suas primeiras imagens com qualidade tão baixa?


A Nasa compartilhou duas imagens do local onde o Perseverance aterrissou, na cratera Jazero em Marte: "Olá, mundo. Meu primeiro olhar em minha casa para sempre", disse a agência no Twitter.


De baixa qualidade e em preto e branco, os registros mostram o terreno da cratera.


Essas imagens foram as primeiras, de baixa resolução, mas logo depois a Nasa divulgou novas fotos, dessa vez, com maior qualidade e coloridas.



CRÉDITO,NASA
Legenda da foto,

Nasa também obteve uma foto do Perseverance enquanto pousava, visto do foguete que auxiliou na descida

Câmeras de condução


As duas primeiras imagens enviadas pelo Perseverance para a Terra foram obtidas pelas chamadas HazCams (do inglês 'Hazard Avoidance Cameras' ou Câmeras de Prevenção de Riscos), seis câmeras instaladas para monitorar o terreno.


Eles têm como função auxiliar os controladores a manejar o robô e contam com proteção extra para a entrada na atmosfera de Marte e pouso.


"As HazCams detectam perigos no caminho frontal e traseiro do robô, como grandes rochas, valas ou dunas de areia. Os engenheiros também usam as HazCams frontais para ver onde o braço robótico pode se mover para fazer medições, tirar fotos e coletar amostras de rocha e solo", explica a Nasa.


Ao chegar ao planeta, as tampas protetoras transparentes sobre essas câmeras ainda não haviam sido retiradas, o que afeta a resolução das imagens capturadas.



CRÉDITO,NASA
Legenda da foto,

Este registro mostra uma das rodas do Perseverance


"Essas primeiras imagens são versões de baixa resolução conhecidas como 'miniaturas'. As versões de alta resolução estarão disponíveis mais tarde", disse a agência na quinta-feira (18).


Foi o que aconteceu na sexta-feira. Conforme prometido, outras imagens, de maior qualidade e coloridas, foram disponibilizadas ao público.


O Perseverance não tem apenas as Hazcams, mas 23 câmeras.


Dessas, nove são para engenharia, sete para trabalhos científicos, bem como sete para gerenciamento (incluindo as seis Hazcams).


À medida em que mais dados forem processados no centro de controle da Terra, mais imagens vão ser transmitidas.

Envio de imagens


O Perseverance tem três antenas instaladas, cada uma com tecnologias e usos diferentes que servem de "ouvidos" e "voz" para o robô.


A antena de Frequência Ultra-Alta (UHF) é o elo de comunicação com a Terra.


Essa comunicação não é direta, mas seu sinal é enviado para orbitadores da NASA posicionados nas proximidades de Marte. De lá, os sinais são encaminhados para os centros de controle da missão na Terra.


"Em geral, um sinal de rádio leva entre cinco e 20 minutos para percorrer a distância entre Marte e a Terra", dependendo da posição dos dois planetas.



CRÉDITO,NASA
Legenda da foto,

Esta foi uma das primeiras imagens coloridas enviadas pelo Perseverance

Missão


O Perseverance buscará evidências de vidas passadas em Marte e coletará amostras de rochas que serão devolvidas à Terra em uma missão futura.


Ele também testará tecnologias pioneiras que serão a chave para uma futura presença humana no Planeta Vermelho.


É a busca mais ambiciosa da Nasa por vida em Marte desde os anos 1970.


"O foco mais recente da Nasa tem sido explorar ambientes antigos, porque os dados que temos sugerem que o planeta era mais habitável durante seu primeiro bilhão de anos", diz um dos líderes da missão, Ken Williford, à BBC.


O Perseverance carrega consigo instrumentos científicos que serão capazes de pesquisar vestígios químicos de vida nas rochas marcianas. Estes podem incluir compostos orgânicos, o que significa que contêm carbono.


O robô também poderá procurar sinais visuais de biologia, como comunidades microbianas fossilizadas.




Autor: BBC News Mundo
Fonte: BBC News Mundo
Sítio Online da Publicação: BBC News Mundo
Data: 21/02/2021

Os incríveis animais capazes de 'fazer' fotossíntese

 


CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

As sacoglossa, como esta Elysia ornata, sequestram os cloroplastos das algas para processar energia da luz solar


Aprendemos que, ao contrário dos animais, as plantas são capazes de gerar energia por meio da fotossíntese, a partir da luz solar.


O que não se sabia até recentemente é que existe um pequeno número de animais extraordinários que também são capazes de se beneficiar desse processo.


Nas plantas e algas, a fotossíntese é realizada em uma estrutura chamada cloroplasto, que contém clorofila, os pigmentos de coloração verde indispensáveis para a conversão da energia solar em energia química. Os animais, entretanto, não possuem essa organela.


Nos últimos anos, contudo, os cientistas descobriram espécies capazes de processar a luz solar realizando simbiose com as algas ou simplesmente "sequestrando" seus cloroplastos.

Elysia chlorotica


Uma delas é uma lesma ou lebre do mar — que é verde — e curiosamente parece uma folha: a Elysia chlorotica.




CRÉDITO,K.PELLETREAU ET AL. (PLOS ONE)
Legenda da foto,

A Elysia chlorotica é um exemplo emblemático de animal fotossintético


Ela é capaz de viver meses "alimentada" pela luz do sol, como se fosse uma planta.


"É o exemplo icônico de animal fotossintético", diz o professor Jordi Paps, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Bristol, na Inglaterra, à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.


"Obviamente todo mundo associa a fotossíntese a plantas ou algas, mas encontrar animais que direta ou indiretamente se beneficiam da fotossíntese é algo surpreendente."


A Elysia pertence a um grupo de moluscos gastrópodes, em que também se encontram os caracóis e lesmas de jardim.


"Ela faz parte de um grupo específico de lesmas-do-mar especializadas em roubar coisas de outros organismos", explica Paps.


Assim como outros membros desse grupo, "roubam" cloroplastos de algas para incorporá-los em suas células digestivas.



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

As lesmas do mar 'roubam' cloroplastos das algas e os incorporam ao seu sistema digestivo


"O que elas fazem é escravizar as algas para extrair os cloroplastos e se alimentar deles."


"Elas têm uma parte especial da célula onde armazenam esses cloroplastos, e como os cloroplastos não têm ideia de onde estão, são organelas e não pensam, continuam a fazer fotossíntese", explica o pesquisador.


Assim, dentro da lesma-do-mar, os cloroplastos produzem alimento a partir das matérias orgânicas da célula e da luz solar.


"Para a Elysia é estratégico: em vez de ter que ir buscar sempre a minha comida, tenho parte da minha comida internamente, que me fornece energia e matéria quando preciso", diz Paps.


Este roubo de cloroplastos é um processo chamado "cleptoplastia".



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

A Costasiella kuroshimae também é capaz de realizar cleptoplastia


Alguns estudos mostram que os cloroplastos podem realizar fotossíntese dentro da Elysia por até nove a 12 meses — e durante todo esse período continuam a nutrir o animal.


Resta saber como a lesma consegue manter esses cloroplastos por tanto tempo dentro de seu organismo.


A Elysia não é o único molusco gastrópode capaz de realizar cleptoplastia. Há muitos outros exemplos de lebres ou lesmas do mar que roubam cloroplastos de algas para fazer fotossíntese.

Corais


Há ainda outros animais que, para fazer a fotossíntese, não só roubam parte das algas, como as "sequestram" por completo.


"Esse é o caso de alguns corais", explica Paps.


"O que eles fazem é uma simbiose com as algas."


"As algas vivem dentro dos corais, e os corais oferecem proteção às algas de predadores e mudanças ambientais, e as algas produzem alimento para os corais, assim como os cloroplastos fazem com as lebres-do-mar", completa.



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

Os corais 'sequestram' algas inteiras para fazer simbiose


Foi observado que cada pólipo de coral abriga uma espécie de alga, e estas fornecem energia ao coral por meio da fotossíntese, auxiliando também em sua calcificação.


"O caso dos corais também é emblemático", afirma Paps.


"Porque o que estamos vendo agora com o branqueamento dos corais se deve às mudanças climáticas e à mudança nas condições químicas da água."


Essas mudanças estão fazendo com que as algas se afastem dos corais.


"Por alguma razão, quando as condições ficam hostis, as algas vão embora, abandonam o coral, e os corais morrem", explica o pesquisador.



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

Quando as algas se afastam dos corais, eles morrem


Também foi sugerido que há insetos, como a vespa oriental, que podem converter luz em eletricidade, e alguns pulgões podem tirar proveito da luz solar.


Mas os cientistas não conseguiram chegar a um consenso sobre se esses insetos são realmente "fotossintéticos".

O único vertebrado 'fotossintético'


Todas essas criaturas são seres muito distantes para nós. Mas há um vertebrado que é capaz de explorar a abundante fonte de energia do Sol para se alimentar: a salamandra manchada (Ambystima maculatum).


Esta salamandra, um anfíbio da família Ambustomatidae, também é capaz de manter uma relação simbiótica com as algas.



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

A salamandra manchada é o único exemplo de vertebrado que faz simbiose para realizar a fotossíntese


Nesse caso, são os embriões da salamandra que se beneficiam da fotossíntese.


Foi demonstrado que as algas vivem nos ovos dentro dos embriões, onde atuariam como usinas de energia internas que geram alimento para as salamandras.


A alga entra no ovo, e lá o embrião descarta a matéria com a qual a alga se alimenta e, por sua vez, a alga realiza fotossíntese e libera oxigênio que o embrião absorve.


Estudos mostram que embriões com muitas algas têm maior probabilidade de sobreviver e se desenvolver mais rápido do que aqueles com pouca ou nenhuma alga.


"Os ovos são capazes de se integrar às algas e se alimentam da comida produzida pelas algas para levar adiante o desenvolvimento embrionário", explica Paps.


"Assim, a salamandra é o único exemplo de vertebrado que faz simbiose. Isso se chama endossimbiose (simbiose interna), uma vez que as algas estão dentro do corpo do animal."



Autor: BBC News Mundo
Fonte: BBC News Mundo
Sítio Online da Publicação: BBC News MundoData: 19/02/2021
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-55919768

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A busca da USP por uma vacina nacional contra a covid-19

Atualmente, o Brasil tem duas vacinas contra o SARS-CoV-2 aprovadas para uso emergencial: a Coronavac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, e a AstraZeneca/Oxford, produzida pela Universidade de Oxford em parceria com a multinacional inglesa.

Para que um imunizante seja aprovado e esteja disponível no mercado, são necessários de dez a 15 anos de muita pesquisa e vários testes. A aprovação para uso emergencial das duas vacinas disponíveis foi feita em tempo recorde, mas ainda é possível que os imunizantes passem por melhorias.

Autoridades, médicos e cientistas ressaltam a importância de termos um produto brasileiro com tecnologia 100% nacional, mesmo que isso demore anos. As razões vão desde a preocupação de que a covid-19 se torne uma doença sazonal até a dependência de importação de insumos, processo que atrasa a fabricação de vacinas no País.

A USP é uma das instituições que assumiram o compromisso de desenvolver uma vacina do zero. São sete projetos em andamento nos vários campi da Universidade. A vacina em spray nasal do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina (FMUSP); a vacina nanoparticulada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP); a vacina vetorizada da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA); as quatro plataformas vacinais em ensaios pré-clínicos do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB): a nanovacina, a vacina de subunidades, e as vacinas de DNA e de RNA.

As duas primeiras são as que se encontram em fase avançada. O grupo que desenvolve a vacina em spray nasal deve iniciar os testes toxicológicos em breve. Já a nanoparticulada, da FMRP, aguarda a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os ensaios clínicos de fase 1 e 2.

O Jornal da USP conversou com os líderes dessas pesquisas e, nesta reportagem, explica todos os detalhes.


SPRAY NASAL: A VACINA SEM DOR


A ideia de uma vacina contra a covid-19 indolor, bem aceita por crianças, gestantes e idosos, desenvolvida com tecnologia nacional e que ataca o vírus na porta de entrada para o organismo, pode virar uma realidade em breve. A produção do imunizante em formato de spray nasal começou em abril de 2020 e, atualmente, é liderada por Jorge Kalil Filho, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FMUSP).


Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o médico disse que a proposta do trabalho, desde o início, era estudar melhor a resposta imune contra o coronavírus para criar uma vacina baseada nos alvos da resposta imune mais eficientes.

“Tem duas formas de nós combatermos o vírus: não deixando ele entrar em uma célula, ou se ele entrou na célula e a infectou, ele pode ser morto por uma outra célula do sistema imune”, explica Kalil Filho. Para o estudo, então, coletou-se o sangue de pessoas contaminadas com o vírus e foi possível analisar os alvos da resposta de anticorpos e também da resposta celular. Essa investigação mais profunda do antígeno é o que diferencia a nova vacina das demais.


VACINA NANOPARTICULADA


Com diversas plataformas tecnológicas de vacinas já desenvolvidas e conhecimento adquirido ao longo de mais de 30 anos de trabalho com imunizantes, Célio Lopes Silva, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador do Laboratório de Vacinas Gênicas da FMRP, decidiu enviar um projeto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) assim que a pandemia foi declarada. A ideia inicial era produzir uma proteína recombinante a partir das proteínas S, do núcleo do capsídeo e da membrana (ver figura abaixo). Por meio de análises de bioinformática, os pesquisadores criaram um antígeno e tentaram expressar aquelas proteínas em culturas de bactérias e em baculovírus (vírus de insetos utilizados no controle biológico de pragas
agrícolas e também como ferramenta para expressão de diferentes proteínas, inclusive de antígenos virais), mas o resultado foi insatisfatório.

 

Estrutura viral do SARS-CoV-2

Fonte: Li G et al. Coronavirus infections and immune responses. J Med virol, 2020, 92(4):424-432





Autor: Fabiana Mariz
Fonte: Moisés Dorado/Jornal da USP
Sítio Online da Publicação: Jornal da USP
Data: 17/02/2021
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/a-busca-da-usp-por-uma-vacina-nacional-contra-a-covid-19/

Vídeo inédito mostra 'dança' de moléculas de DNA e descoberta pode ajudar a ciência

Pesquisadores britânicos revelaram as primeiras imagens em vídeo que mostram o movimento da hélice de DNA (ácido desoxirribonucleico) dentro de uma célula. Antes, apenas uma reprodução estática era possível ser feita com o uso de microscópios. A descoberta pode contribuir para prevenção e tratamento de doenças genéticas.

O estudo, publicado na Nature Communications, foi feito pelas pesquisadoras Alice LB Pyne, da Universidade de Sheffield, Agnes Noy, da Universidade de York, e Sarah A. Harris, da Universidade de Leeds, todas do Reino Unido, entre outros.

"É preciso ver para crer, mas com algo tão pequeno como o DNA, ver a estrutura helicoidal de toda a molécula de DNA foi extremamente desafiador. Os vídeos que desenvolvemos nos permitem observar a torção do DNA em um nível de detalhe nunca visto antes", comentou a cientista Alice Pyne.


Para observar essa "dança" do DNA, as cientistas utilizaram uma combinação de microscópio de força atômica de alta resolução com simulações em computador das dinâmicas moleculares. Isso permitiu, inclusive, analisar a posição de cada átomo.

A artigo apresentou destalhes dessa pesquisa que explica que cada célula do corpo humano contém dois metros de DNA e, para que ele caiba, o filamento precisa se torcer o tempo todo, em um processo que é chamado de superenrolamento. Antes, era possível apenas observar por imagens, então não se tinha a dimensão de quão dinâmico pode ser.

A expectativa é que a descoberta traga novas terapias genéticas ou ajude no desenvolvimento de intervenções médicas mais aprimoradas.




Autor: terra
Fonte: terra
Sítio Online da Publicação: terra
Data: 18/02/2021
Publicação Original: https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/video-inedito-mostra-danca-de-moleculas-de-dna-e-descoberta-pode-ajudar-a-ciencia,12101bc0106e6137d1eed157299945ca53fd93pz.html

Inteligência artificial passará a usar veias da mão em reconhecimento; entenda


Amazon cria sensor para realizar pagamentos com a palma da mãoFoto: Divulgação/Amazon


Tecnologias de reconhecimento fácil e leitura de impressão digital estão presentes em boa parte dos modelos mais recentes de smartphones, mas pesquisadores da Universidade de New South Wales, na Austrália, estudam a viabilidade dos atuais métodos biométricos de autenticidade serem substituídos pela identificação do usuário a partir das veias da mão.


"Os padrões das veias ficam sob a pele, portanto, não deixam nenhuma marca, ao contrário das impressões digitais. Elas também são mais seguras do que o reconhecimento facil, porque não estão disponíveis nas redes sociais, ao contrário das fotografias fáciais.


As veias não podem ser obtidas clandestinamente, ao contrário das íris", disse Syed Shah, pesquisador da Escola de Ciência da Computação e Engenharia da Universidade de New South Wales, à CNN.

Segundo Shah, os métodos atuais de verificação de identidade podem ser burlados facilmente por hackers.

Ela argumenta que as impressões digitais podem ser coletadas de uma superfície que alguém tocou e o reconhecimento facial pode ser violado utilizando imagens disponíveis do dono do dispositivo, ou lentes de contato que confundam os mecanismos de reconhecimento da íris.

"Portanto, acreditamos que uma abordagem baseada na veia será muito mais difícil de contornar", afirma.

De acordo com os pesquisadores que desenvolvem o estudo, o reconhecimento pelas veias da mão é capaz de identificar um indivíduo com mais 99% de precisão.

O estudo dos pesquisadores australianos foi publicado na IET Biometrics.

Os estudo foi realizado em um grupo de 35 participantes. A inteligência artificial utilizada é capaz de reconhecer características discriminatórias, que garantem a precisão do reconhecimento.

"O método é ainda mais seguro por conta da necessidade do usuário fazer o gesto de punho para que a veia seja reconhecida, o que torna difícil para um invasor obter padrões de veias furtivamente", explicou Shah.

Segundo os autores, a ferramenta estudada pode ser usada para autenticar indíviduos em dispositivos pessoais, no entanto, ainda requer tecnologia especial para a validação - a equipe da Universidade de New South Wales utilizou câmera 3D para desenvolver o estudo.

(Texto traduzido. Clique aqui para ler a versão original em inglês)




Autor: Amy Woodyatt
Fonte: CNN
Sítio Online da Publicação: CNN
Data: 17/02/2021
Publicação Original: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/2021/02/17/inteligencia-artificial-passara-a-usar-veias-da-mao-em-reconhecimento-entenda

Nova teoria: pode não ter sido um asteroide que causou extinção dos dinossauros


Os dinossauros podem ter sido mortos por um cometa em vez de um asteroideFoto: Geralt/ Pixabay


Em uma nova teoria publicada na última segunda-feira (15) na Scientific Reports, pesquisadores de Harvard questionam que tenha sido um asteroide o corpo espacial envolvido na extinção dos dinossauros.


Os cientistas defendem que foi, sim, um pedaço de um cometa que caiu na Terra há mais de 66 milhões de anos para criar a cratera Chicxulub

Localizada na Península de Yucatán, no México moderno, essa cratera se estende por cerca de 180 quilômetros. O impacto que criou Chicxulub está ligado ao evento de extinção do Cretáceo-Paleógeno, que matou os dinossauros e muitas outras espécies, de acordo com o estudo.

"Deve ter sido uma bela visão (a queda do cometa), mas a diversão acabou quando a rocha atingiu o solo", disse o co-autor do estudo Abraham Loeb, professor de ciências da Universidade de Harvard.

Loeb teoriza que um pedaço de um cometa foi o culpado pelo evento de extinção em massa, não um asteroide como muitos cientistas defendem. Segundo ele, o cometa se originou da Nuvem de Oort, um grupo de objetos gelados localizados na borda do sistema solar.

Um cometa é um pedaço de lixo espacial feito principalmente de gás congelado, enquanto um asteroide é um pedaço de rocha mais comumente encontrado no Cinturão de Asteroides, uma coleção de asteroides entre Marte e Júpiter, de acordo com o correspondente meteorológico da CNN, Chad Myers.

A probabilidade de um asteroide com um diâmetro de pelo menos 6,2 milhas causar um evento de impacto Chicxulub é de uma em cada 350 milhões de anos, de acordo com o estudo. Os cometas de longo período - cometas com uma órbita de mais de 200 anos - que são capazes do evento Chicxulub são significativamente mais raros, com um ocorrendo a cada 3,8 a 11 bilhões de anos, indicam os cientistas de Harvard.
O caminho provável do cometa


Os pesquisadores oferecem um cenário de como o cometa poderia ter vencido essas probabilidades de longo prazo.

Conforme o corpo espacial viajou da Nuvem de Oort para o centro do sistema solar, a força gravitacional de Júpiter poderia ter dado um impulso para que tivesse velocidade suficiente para chegar ao sol, de acordo com Loeb.

"Júpiter age como uma máquina de pinball", disse Loeb. "Quando algo chega perto disso, pode dar um chute."

Ao chegar ao sol, a força gravitacional do astro poderia ter quebrado o cometa em vários pedaços. Dividido em várias partes, é 10 vezes mais provável que o cometa atingisse a Terra quando os pedaços se afastassem do Sol, de acordo com Loeb.

Outros pesquisadores discordam

Outros pesquisadores não concordaram com as descobertas do novo estudo e ainda dizem que várias pistas apontam para um asteroide criando a cratera Chicxulub.

Uma evidência é o Iridium - junto com um punhado de outros elementos químicos - encontrado espalhado ao redor do planeta após o impacto, disse David Kring, principal cientista do Instituto Lunar e Planetário em Houston, que não esteve envolvido no estudo do cometa.

Kring disse que as proporções desses elementos são as mesmas proporções vistas em amostras de meteoritos de asteroides.

O pedaço do cometa também teria sido pequeno demais para fazer uma cratera desse tamanho, disse Natalia Artemieva, cientista sênior do Instituto de Ciência Planetária, que também não esteve envolvida no estudo.

A pesquisa estimou o tamanho do pedaço do cometa em cerca de 6,4 km de largura, e Artemieva argumentou que o corpo espacial precisaria ter pelo menos 12 km de largura para fazer uma cratera do tamanho de Chicxulub.

Com o pequeno pedaço do cometa, disse ela, "é absolutamente impossível", e o tamanho da cratera do impacto seria pelo menos metade do tamanho.

Kring também observou que a frequência com que um asteroide ou cometa atinge a Terra para criar tal impacto é estatisticamente insignificante.

Não importa se é aproximadamente "uma vez a cada 350 milhões de anos e tivemos um evento há 66 milhões de anos", porque estatisticamente, essa seria a única ocorrência no intervalo de tempo de 350 milhões de anos, disse ele.

Os pesquisadores também têm uma infinidade de amostras de asteroides para estudar em comparação com cometas, disse Kring.

"Não há absolutamente nenhuma evidência que prove que seu modelo está incorreto, mas por outro lado, há muitas evidências que ainda apontam para um asteroide como o causador de impacto mais provável", disse Kring.

Loeb disse que está interessado em procurar por pedaços de cometa remanescentes da separação para verificar sua teoria.





Autor: Megan Marples
Fonte: CNN
Sítio Online da Publicação: CNN
Data: 18/02/2021
Publicação Original: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/2021/02/18/nova-teoria-pode-nao-ter-sido-um-asteroide-que-causou-extincao-dos-dinossauros

Cientistas resolvem o mistério de gigantesca cratera na Sibéria

As mudanças climáticas foram as responsáveis pelo aparecimento súbito de uma imensa cratera com 20 metros de largura e 30 metros de profundidade na península de Yamal, na tundra siberiana.

A cratera, que ficou conhecida como C17, foi descoberta em setembro de 2020 e não é única: outras 16 foram encontradas na região entre as penínsulas de Yamal e Gyda. Segundo os cientistas, elas acontecem quando o solo permanentemente congelado da região, chamado de permafrost, começa a se descongelar devido ao aumento de temperatura registrado na região nos últimos anos.


A permafrost é um imenso reservatório natural do gás metano. Com o degelo o gás acumulado em cavidades subterrâneas se expande, sem ter para onde escapar, até o solo descongelado sobre ele não resistir à pressão. O resultado é uma explosão e uma imensa cratera.

Segundo Evgeny Chuvilin, pesquisador sênior do Centro para Recuperação de Hidrocarbonetos do Instituto de Ciência e Tecnologia Skolkovo, em Moscou, a C17 está “unicamente bem preservada, já que a água da superfície ainda não tinha se acumulado dentro dela quando a estudamos, o que nos permitiu estudar uma cratera fresca, intocada pela degradação”.


Imagens da cratera C17, na tundra siberiana, feitas por um drone. Imagem: Bogoyavlensky, V.; Bogoyavlensky, I.; Nikonov, R.; Kargina, T.; Chuvilin, E.; Bukhanov, B.; Umnikov, A.

Esta também foi a primeira vez que os cientistas conseguiram mandar um drone para dentro de uma cratera, descendo de 10 a 15 metros abaixo da superfície para mapear o seu interior em três dimensões.

Igor Bogoyavlensky, do Instituto de Pesquisa de Óleo e Gás da Academia Russa de Ciências, foi quem pilotou o drone. Ele teve que se deitar na borda da cratera e pendurar seus braços e o controle sobre o fosso para conseguir manter contato com a aeronave. “Três vezes ficamos perto de perder ela, mas conseguimos capturar os dados para o modelo 3D”, disse à CNN.


Embora saibam o mecanismo que criou a cratera, os cientistas ainda não sabem a origem do gás metano. Ele pode ter vindo de camadas profundas da crosta terrestre, de depósitos mais próximos da superfície, ou de uma mistura dos dois.

Crateras imensas não são as únicas surpresas que estão sendo encontradas por causa do degelo da permafrost na Sibéria. Em janeiro um rinoceronte lanoso da Era do Gelo foi encontrado próximo a um rio da região de Yakutia com todos os seus membros, alguns de seus órgãos, suas presas e até mesmo sua lã intactos.

Fonte: CNN





Autor: olhar digital
Fonte: CNN
Sítio Online da Publicação: olhar digital
Data: 1702/21
Publicação Original: https://olhardigital.com.br/2021/02/17/ciencia-e-espaco/cientistas-resolvem-o-misterio-de-gigantesca-cratera-na-siberia/

Pesquisadores descobrem DNA mais antigo do mundo em mamutes da Sibéria; veja VÍDEO




VÍDEO: Pesquisadores descobrem DNA mais antigo do mundo em mamutes na Sibéria



Cientistas de 9 países descobriram o DNA mais antigo do mundo em dentes de mamutes achados na Sibéria: um dos fósseis pode ter até 1,65 milhão de anos. A descoberta acaba de ser publicada nesta quarta-feira (17) na revista científica "Nature", uma das mais importantes do mundo.


Liderados por instituições de pesquisa da Suécia, os paleontólogos dataram os molares de 3 fósseis, que haviam sido descobertos e escavados na década de 70. O material era mantido no Instituto Geológico da Academia Russa de Ciências.


Os fósseis foram batizados com os nomes dos lugares onde foram achados: Krestovka é o mais velho e pode ter até 1,65 milhão de anos; Adycha, aproximadamente 1,34 milhão; e o espécime mais novo, Chukochya, teve a idade calculada em até 870 mil anos.



“Este DNA é incrivelmente antigo. As amostras são mil vezes mais antigas do que os vestígios de vikings e até anteriores à existência de humanos e neandertais”, diz o autor sênior Love Dalén, professor de genética evolutiva no Centro de Paleogenética de Estocolmo.




Pesquisadores descobrem DNA mais antigo do mundo em mamutes da Sibéria. Na foto, o dente de mamute Krestovka, de mais de um milhão de anos. — Foto: Universidade de Estocolmo



Os pesquisadores tiveram que sequenciar vários pedaços de DNA para chegar à idade aproximada dos fósseis. Uma das constatações é que um deles, o Krestovka, era de uma linhagem antes desconhecida de mamutes.



"E eis que o mamute-columbiano, uma das espécies mais icônicas da Era do Gelo na América do Norte, é um híbrido entre o mamute-lanoso e o recém-descoberto mamute Krestovka", explica Love Dalén.




Outro achado foi que o espécime mais novo, Chukochya, é de um dos primeiros mamutes-lanosos (Mammuthus primigenius) conhecidos.


Pesquisadores descobrem DNA mais antigo do mundo em mamutes da Sibéria. Na foto, o dente de mamute Chukochya, de 870 mil anos. — Foto: Universidade de Estocolmo



"Isso foi uma completa surpresa para nós. Todos os estudos anteriores indicavam que havia apenas uma espécie de mamute na Sibéria naquela época, chamado de mamute-da-estepe", explica o primeiro autor da pesquisa, Tom van der Valk.




Já o dente Adycha, de mais de um milhão de anos, parece ter sido de um ancestral do mamute-lanoso.


Com o DNA, os pesquisadores perceberam que adaptações ao frio que os mamutes-lanosos tinham – como pelos, regulação de temperatura, depósitos de gordura e ritmos circadianos adaptados – apareceram muito antes do surgimento deles. Seus ancestrais passaram por essas mutações lentamente ao longo do tempo.


Pesquisadores descobrem DNA mais antigo do mundo em mamutes da Sibéria. Na foto, o dente de mamute Adycha, de mais de um milhão de anos. — Foto: Universidade de Estocolmo




"Acho que usar DNA antigo dessa forma é um pouco como viajar no tempo, usar uma máquina do tempo. E voltar um milhão de anos – que é muito, muito longe no tempo – nos permite estudar a evolução como ocorreu – e é muito animador", diz Dalén.






Descobertas mais antigas são possíveis




Ilustração mostra mamutes-da-estepe — Foto: Universidade de Estocolmo


A descoberta anterior de DNA mais antigo do mundo era de material que datava de até 780 mil anos atrás. Os pesquisadores da Suécia acreditam que ainda é possível ir mais além: recuperar material genético de até 2,6 milhões de anos atrás – graças ao congelamento dos fósseis, que ajuda a preservar o DNA.



"Ainda não atingimos o limite. Um palpite bem fundamentado seria que poderíamos recuperar o DNA de 2 milhões de anos de idade e, possivelmente, 2,6 milhões. Antes disso, não havia permafrost [solo congelado] onde o DNA antigo pudesse ser preservado", opina outro autor, Anders Götherström.




Autor: G1 News
Fonte: G1 News
Sítio Online da Publicação: G1 News
Data: 1702/21
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2021/02/17/pesquisadores-descobrem-dna-mais-antigo-do-mundo-em-mamutes-da-siberia-veja-video.ghtml

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Suco de Laranja e a Necessidade de um Mercado Sustentável de Frutas



Suco de Laranja e a Necessidade de um Mercado Sustentável de Frutas

Jose Rodrigues Filho *
Maria da Guia Rodrigues Pessoa **
Robson Rogério Pessoa Coelho ***

O Brasil e o mundo são carentes de educação alimentar e alimentos, o que fragiliza a saúde e a vida de muitos.
Como um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, temos um bom percentual de brasileiros passando fome. Exportamos as frutas de boa qualidade e muitas vezes comemos o que sobra. Não estamos vivenciando um mercado sustentável, que já prejudica as gerações atuais e sem pensar nas gerações futuras.

Num mundo com possibilidades de grandes pandemias, como no momento, temos que pensar numa educação alimentar sustentável e, também, num mercado sustentável de alimentos – não este que está aí.

Pesquisa realizada na Europa recentemente mostrou que menos de 40% dos profissionais de saúde conheciam o conteúdo dos sucos de frutas. Foi mostrado que profissionais médicos tinham menos de 24 horas de treinamento em nutrição durante seus anos de estudo, quando comparado com o alto conhecimento dos que tinham formação em nutrição. A população mundial gradualmente está mudando de um sistema de saúde de cura para um modelo de cuidados, onde a educação e segurança alimentar é de fundamental importância, principalmente nas empresas produtoras de alimentos. Percebe-se, assim, o desconhecimento da grande maioria da população sobre o conteúdo dos alimentos.

Estamos vendo no momento o suco de laranja tomar as páginas de revistas científicas, mostrando sua importância para o tratamento do COVID-19 (1-2). Muitos, como eu, via no suco de laranja apenas a vitamina C. As laranjas doces chamadas cientificamente de Citrus Sinensis são ricas em hesperidina, que é um antibacteriano, anti-inflamatório e antioxidante potente. A atividade antiviral da hesperidina é sugerida para medicamentos. Este componente químico não está em todas as laranjas, mas faz parte da composição de laranjas como a pera, bahia, além das clementinas e tangerinas. Assim, um copo de suco de laranja por dia aumenta a nossa imunidade, podendo proteger nosso pulmão contra uma carga viral do coronavírus, graças a hesperidina. A natureza tem de tudo para nos proteger a um custo baixo.

Na Europa, por exemplo, todos os sucos vendidos são regularmente auditados para se averiguar a segurança e composição durante o processo de produção. Com isto fica assegurado que os sucos de laranja fabricados e vendidos nos supermercados contêm um bom teor de hesperidina, se forem 100% suco de laranja e não simplesmente bebidas açucaradas, como no passado. No Brasil já se avançou muito na fiscalização, mas muito precisa ainda ser feito, quando se observa que em muitos alimentos se esconde o conteúdo de açúcar. Chupar a laranja e comer o bagaço, que contém um elevado teor de hesperidina, é uma boa opção. Lembrar, ainda, que a casca destas laranjas é rica em hesperidina e outros componentes químicos.

Em média um copo de 150ml de suco de laranja puro oferece 67,5 mg de vitamina C, que é mais de 80% do valor de referência nutricional, recomendado diariamente para a saúde. Outros valores de referência são mencionados para o folato e potássio, mas desconhecidos da maioria dos profissionais de saúde. É possível que o consumo de suco de laranja e de hesperidina seja baixo tanto na Europa como no Brasil. Já existem muitas pesquisas realizadas mostrando os nutrientes e riqueza de outros alimentos para a saúde e tratamento de doenças, mas desconhecidas dos consumidores. O conhecimento destas informações pode ampliar em muito um mercado sustentável de frutas no Brasil.

A agroindústria no Brasil tem tudo para tornar o país um grande produtor de alimentos de qualidade, visando ser um mercado sustentável fortalecendo a boa saúde dos consumidores, que já se preocupam não só com os nutrientes alimentares, mas com aditivos químicos, agrotóxicos e açucares bastante prejudiciais à saúde. Consumir já é uma grande preocupação da geração atual e, nesta era dos micróbios, bactérias, fungos e vírus, precisamos de muitas inovações para construir uma estrutura formada de plantas, frutas e alimentos para a melhoria da saúde humana. Neste caso, a segurança e educação alimentar devem ser a prioridade urgente desta nação.

Por fim, observou-se que os consumidores conhecem muito pouco do conteúdo das frutas como produtos que oferecem um grande potencial de mercado. A inovação é um importante conceito no setor agrícola que contribui para o alcance de sustentabilidade numa perspectiva econômica, social e ambiental. As informações aqui colocadas podem ser úteis aos especialistas da indústria de frutas e stakeholders interessados em investir em inovação e desenvolvimento de produtos alimentares.

1.Haggad, Y.A et al. Is hesperidin essential for prophylaxis and treatment of COVID-19 infection? Medical Hypotheses, n.144, 2020.
2.Bellavite, P & Donzelli, A. Hesperidin and SARS-COV-2: New Light on the Healthy Function of Citrus Fruits, Antioxidants, n.9, 2020.

*Jose Rodrigues Filho é professor da Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador nas Universidades de Johns Hopkins e Harvard. Recentemente foi professor visitante na McMaster University, Canadá. https://jrodriguesfilho.blogspot.com/
** Maria da Guia Rodrigues Pessoa é nutricionista, com experiência executiva em Gestão de Alimentos, Marketing e Pesquisa em Dietas Sustentáveis.
*** Robson Rogério Pessoa Coelho é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Doutor em Engenharia de Alimentos e experiência em Armazenamento de Alimentos.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/02/2021




Autor: Jose Rodrigues Filho
Maria da Guia Rodrigues Pessoa
Robson Rogério Pessoa Coelho
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 12/02/21
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/02/12/suco-de-laranja-e-a-necessidade-de-um-mercado-sustentavel-de-frutas/

Crises sanitária e hídrica são faces da exploração do meio ambiente




Crises sanitária e hídrica são faces da exploração do meio ambiente

Tanto a covid-19 no mundo quanto o fenômeno da geosmina no Rio de Janeiro não podem ser vistos de forma dissociada


Nas palavras de Alexandre Pessoa, engenheiro sanitarista e professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), a crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19 e a crise hídrica são algumas das faces da crise ambiental que o mundo vive.

No Brasil, essa crise do meio ambiente é representada pelos “grandes impactos socioambientais decorrentes de desmatamento, garimpo ilegal na Amazônia, o tráfico de animais, os incêndios no Pantanal, e mesmo o avanço das monoculturas que são hidro intensivas, consomem muita água e poluem o ambiente com a utilização ampla de agrotóxicos”, como aponta Pessoa.
Crise sanitária

Ainda em 2016, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) apontou os surtos de doenças transmitidas entre animais e seres humanos, conhecidas como doenças zoonóticas, como uma doença global. De fato, a cada três doenças infecciosas que surgem anualmente, 75% são zoonóticas. Um exemplo é a covid-19.

Com a degradação do meio ambiente e das barreiras naturais de proteção entre animais e seres humanos, a transmissão entre ambos se faz mais presente. Foi isso que possibilitou o surgimento da SARS-CoV-2 da forma como se apresentou aos seres humanos.

Segundo Pessoa, o manejo exploratório dos recursos naturais “torna as populações mais vulneráveis ao que chamamos de doenças emergentes, são as novas doenças. Inclusive, aumenta os riscos de futuras epidemias decorrentes da maior circulação de vírus silvestres”.
Crise hídrica

Uma outra faceta da crise ambiental é a crise hídrica, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. No Brasil, o cenário vivido pelos cariocas é o que melhor representa, de acordo com Pessoa, a crise hídrica quando o assunto é qualidade, devido à concentração de geosmina no Rio Guandu, que fornece a maior parcela de água para a população do Rio de Janeiro.

Um boletim da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) mostrou que a concentração de geosmina na água tratada do Guandu bateu o recorde deste ano. “A causa da geosmina, como é sabido, é decorrente da proliferação acelerada de de cianobactérias, que produzem diversos metabólitos, substâncias que vão para os mananciais e conferem gosto e odor”, afirma o pesquisador. Por sua vez, as cianobactérias se proliferam em ambientes aquáticos poluídos por esgotos e efluentes industriais.

“Proteger a natureza e os rios é proteger as populações humanas. A constituição diz que a saúde é direitos de todos e dever do Estado. Portanto, diante da covid e da insegurança hídrica, é função do Estado promover a proteção social, porque as mortes são evitáveis”, conclui Pessoa.

Ouça a entrevista na íntegra em https://soundcloud.com/epsjv_fiocruz/crises-sanitaria-e-hidrica-sao-faces-da-exploracao-do-meio-ambiente-diz-pesquisador

Edição: Camila Maciel

Por: Ana Paula Evangelista, EPSJV/Fiocruz

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/02/202




Autor: Ana Paula Evangelista
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 13/02/21
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/02/13/crises-sanitaria-e-hidrica-sao-faces-da-exploracao-do-meio-ambiente/

TDAH saiba o que é e como identificar






O transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurobiológico crônico que afeta de 3% a 5% das crianças em idade escolar, sendo a sua prevalência maior em meninos. Os sinais se manifestam logo na infância, antes dos sete anos, mas podem perdurar por toda a vida.

“Os principais sintomas são a falta de atenção da criança para tarefas rotineiras, a dificuldade de manter o foco, para estudar ou sentar para assistir a TV, por exemplo, e a prevalência de atitudes impulsivas”, afirma a psicóloga Telma Oliveira, especialista em terapia sistêmica.

Tais comportamentos podem prejudicar o aproveitamento escolar da criança que possui o TDAH. “O transtorno é diagnosticado pelo neuropediatra e controlado com fármacos, para melhor qualidade de vida faz se necessário o acompanhamento de um profissional responsável, como o psicólogo(a). Ele saberá direcionar o tipo de tratamento e o que deve ser feito para lidar com a criança que possui esta síndrome, esclareceu a especialista.

Segundo a psicóloga, entre os riscos do transtorno, estão desenvolvimento de comorbidades, que são os distúrbios psiquiátricos como a ansiedade e depressão. “Durante a adolescência, o risco maior está no uso abusivo do álcool e de outras drogas, quando ligado a esses sintomas também têm o reflexo negativo no convívio social e familiar, assim como no desempenho escolar ou em outras atividades, pode ser que o diagnóstico seja feito. Esses sintomas podem se manifestar em diferentes graus de comprometimento e intensidade”.

Acho que meu filho tem TDAH. O que devo fazer?

Hiperatividade e comportamento impulsivo são atitudes comuns em algumas crianças, especialmente quando são contrariadas ou quando estão fora do seu ambiente doméstico. No caso da desatenção predominante, os pacientes apresentam dificuldade maior de concentração e de seguir instruções. “Em geral, são crianças que saltam de uma tarefa inacabada para outra repentinamente, sem terminar o que começaram. Costumam se distrair com facilidade e até mesmo esquecer onde colocaram seus pertences”, pontua a psicóloga.

Ainda de acordo com Telma, com o passar dos anos, os pacientes podem evoluir para problemas na vida profissional como cometer erros por absoluto descuidado e distração, o que pode prejudicar o processo de aprendizagem. “Nos casos em que prevalece a hiperatividade, os portadores do distúrbio são inquietos, agitados e falam muito. Se é a impulsividade que se destaca os sinais mais marcantes são a impaciência, o agir sem pensar, a dificuldade para ouvir as perguntas até o fim e a precipitação para falar”.

Quanto ao tratamento, a existência ou não de comorbidades ou outras doenças associadas, podem definir os próximos passos. “Basicamente, a psicoterapia, que é o acompanhamento com um psicólogo e por vezes a prescrição de metilfenidato (ritalina), um medicamento psicoestimulante é o mais indicado após o diagnóstico desse transtorno. Existem casos em que as crianças podem exigir os cuidados de equipe multidisciplinar, em função dos desajustes pedagógicos e comportamentais associados ao TDAH”, citou a terapeuta sistêmica.

Ela acrescenta que os efeitos benéficos da medicação geralmente aparecem em poucas semanas. “Pode ocorrer reações adversas como a falta de apetite, insônia e dores abdominais, enquanto o organismo ainda não desenvolveu tolerância a esses compostos. O acompanhamento com um psicólogo é necessário, já que representa um caminho eficaz para a recuperação da autoestima da criança, que pode ser comprometida por sentimentos de tristeza e frustação por não saberem lidar corretamente com as situações rotineiras”, finaliza.

Fonte: Telma Oliveira é psicóloga especialista em gestão de pessoas, psicologia médica e neuropsicologia, Contagem – MG.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 15/02/2021




Autor: Deborah Ribeiro
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 15/02/21
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/02/15/tdah-saiba-o-que-e-e-como-identificar/

Pesquisa sobre mecanismos de defesa das plantas contra ataque de insetos ajudam a agregar resistência a sementes comestíveis

Ao observar a natureza é possível constatar que algumas plantas são atacadas por determinados insetos, outras não. Algumas plantas possuem mecanismos de defesa tão eficazes que podem “emprestar” essa vantagem a outras plantas, em especial sementes utilizadas no consumo humano ou animal, como feijões, milho etc. Estudar os mecanismos de defesa das plantas é a linha de pesquisa que percorre a doutora em Biociências e Biotecnologia Antônia Elenir Amâncio Oliveira, do Laboratório de Química e Função de Proteínas e Peptídeos da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Seu trabalho “Influência da domesticação das plantas nas defesas naturais das sementes: estudo comparativo dos mecanismos de defesa de espécies cultivadas e selvagens contra insetos-praga da agricultura” (doi.org/10.1016/j.pestbp.2021.104782) busca entender os mecanismos naturais de defesa das plantas. São estudos que podem contribuir para a diminuição das perdas durante no período pós-colheita das sementes, ou seja, durante o armazenamento, perdas que chegam a até 70%. Dessa forma, a pesquisa também contribui para diminuir o uso de inseticidas por parte dos agricultores.

“A população mundial cresce a uma velocidade e proporção bem maiores do que a produção de alimentos. Como não podemos nos dar ao luxo de perder os alimentos estocados, usamos inseticidas que, muitas vezes, são extremamente danosos ao meio ambiente e ao ser humano”, diz a pesquisadora. Filha de agricultor, Antônia nasceu em Quixadá, município localizado no sertão central do Ceará, e conviveu desde cedo com as dificuldades enfrentadas pela lida do pai nas lavouras de feijão, uma das poucas que resistem à seca extrema do sertão. “O homem do campo é um apaixonado pelo que faz, mas, em sua maioria, se não estiver associado a uma cooperativa, é um sobrevivente”, afirma Antônia, explicando que a última geração de lavradores da família terminou com seu pai, falecido há cinco anos, já que nem ela e nem os irmãos permaneceram no campo.

Contemplada no programa Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, a pesquisadora desenvolveu um projeto guarda-chuva que tenta incluir todos os trabalhos sobre o assunto que vêm sendo desenvolvidos no seu grupo. No seu caso, foram integradas duas vertentes: a primeira voltada para o estudo de sementes de feijão. Em colaboração com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio-Norte, são estudadas cultivares de feijão-de-corda ou caupi (Vigna unguiculata), o preferido no cardápio do Nordeste. Alguns resultados desse estudo já foram publicados em artigos, nos quais são descritos dentre nove cultivares de feijão, melhorados pela Embrapa, três que apresentavam compostos tóxicos para repelir insetos. Um desses cultivares foi escolhido para o aprofundamento das pesquisas e os resultados obtidos acabam de ser publicados.




Com o grupo de pesquisa da Uenf, Antônia desenvolve um programa de melhoramento do feijão comum, o mais consumido no Sudeste


Em colaboração com um grupo de pesquisa do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Uenf, que desenvolve um programa de melhoramento do feijão comum (Phaseolus vulgaris), o mais consumido no Sudeste, entre eles o preto e carioquinha, o trabalho visa a identificação de cultivares resistentes a insetos.

Na outra vertente do seu trabalho, Antônia estuda a toxicidade de algumas sementes de espécies nativas para insetos e que, portanto, possuem repelentes naturais. “As pragas selecionam alimentos que não as fazem mal”, sendo assim, existem plantas hospedeiras de determinadas pragas. “O que tentamos identificar é o que uma semente possui que faz com que o inseto não queira comê-la”, esclarece Antônia, que se graduou em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Ceará (UFC). De acordo com ela, o problema é que quando o homem domestica uma espécie para transformá-la em adequada para a alimentação, naturalmente já selecionou uma semente que não é tóxica, fazendo com que, muitas vezes, ela perca sua defesa contra insetos. No entanto, em busca da produção em larga escala, que seja suficiente para alimentar a população, os grãos e sementes passam pela estocagem, fase em que insetos, como gorgulhos ou carunchos mais atacam as sementes.

Por isso, a pesquisadora diz que o objetivo desses projetos é estudar sementes que sejam comestíveis, mas que possuam defesas naturais contra o ataque de insetos. A pesquisadora ressalta, entretanto, que a caracterização da suscetibilidade ou resistência da semente ao ataque de pragas é apenas uma das características desejáveis em uma semente, que ainda precisa agregar outros atributos como alta produtividade, não ser muito exigente em termos nutricionais de solo etc. No geral, acrescenta, há outras características igualmente importantes, que deverão ser observadas antes que essas culturas sejam consideradas adequadas para a produção em larga escala.

Antônia explica que são nas sementes de plantas nativas que se encontram as maiores concentrações de compostos tóxicos. Ela dá o exemplo da semente da Aroeira, também conhecida como pimenta-rosa, cuja utilização na gastronomia ganhou espaço nos últimos anos. De acordo com ela, os resultados preliminares do seu grupo de estudo mostram que essas sementes são ricas em compostos tóxicos para esse tipo de inseto-praga. “E como ela já é usada na alimentação, significa que não tem consideráveis efeitos tóxicos para o ser humano”, garante Antônia, acrescentando que outras espécies também vêm apresentando dados promissores, como a Albizia lebbeck, planta ornamental que possui um composto chamado quitinase, que ataca a quitina, um carboidrato existente em fungos e insetos, mas que não afeta o ser humano. “Ao isolarmos esses compostos, podemos conhecer as suas propriedades e sabermos se eles são adequados para, no futuro, serem usados para a obtenção de plantas comerciais com sementes mais resistentes. Inibidores de tripsina são uma das proteínas mais conhecidos como tendo ação inseticida. Entretanto, como a tripsina é uma enzima do nosso sistema digestivo, a presença de altas concentrações desses inibidores em sementes, que são consumidas cruas, não é desejável. Já a presença desses inibidores em sementes que serão consumidas após cozimento, não apresenta risco, pois o calor inativa a atividade desses inibidores. “Por isso precisamos conhecer os compostos tóxicos, isolar e testar separadamente sobre os insetos, conhecer suas propriedades e características, para só depois classificá-los como tendo potencial biotecnológico”, explica a pesquisadora.



Antônia: ao isolarmos compostos, conhecemos suas propriedades e sabemos se servirão para a obtenção
de plantas comerciais com sementes mais resistentes


Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) de 2019, o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. No País, o uso de inseticidas ainda é o principal método de combate à infestação por insetos em lavouras. No entanto, o uso desses defensivos sintéticos vem sendo questionado, não só por seu alto custo, quanto pelo aumento e seleção de pragas resistentes devido ao uso indiscriminado dos pesticidas, que também tem causado contaminação alimentar e acúmulo de resíduos tóxicos no ambiente, incluindo corpos hídricos. É justamente para minimizar o uso de pesticidas na produção agrícola que pesquisadores vêm se dedicando à produção de genótipos e cultivares de plantas naturalmente mais resistentes a infestações por pragas e aprofundando os conhecimentos sobre as bases moleculares das interações inseto-planta.

Antônia espera que suas pesquisas resultem em dados robustos, com o estudo comparativo das defesas constitutivas de sementes quiescentes cultivadas, de aproximadamente 60 genótipos – 28 genótipos de Phaseolus vulgaris e 32 genótipos de Vigna unguiculata – e com sementes quiescentes selvagens de 12 espécies de plantas nativas do Brasil. E que esses dados forneçam evidências de que os processos de domesticação das plantas têm gerado sementes com menor capacidade defensiva, consequentemente mais susceptíveis a infestação por insetos. O estudo também pretende identificar genótipos de feijão-de-corda e feijão comum resistentes ou menos susceptíveis a infestação por seus insetos-praga.

A pesquisadora destaca a importância da divulgação científica para que a população entenda a necessidade constante de investimentos e incentivos em ciências e tecnologias. Antônia lembra que embora seu pai tivesse orgulho das suas conquistas como pesquisadora, ele não compreendia, assim como muitas outras pessoas, o porquê de se estudar o mesmo assunto há 20 anos. Para explicar porque seu estudo não chegava ao término, a filha esclarecia que precisava estar constantemente desenvolvendo pesquisas porque os insetos, após algumas gerações, também podem desenvolver resistência ao composto tóxico presente na semente. “É um pouco semelhante ao que está acontecendo nessa pandemia do novo coronavírus. Os cientistas desenvolveram, em tempo recorde, vacinas eficientes contra variantes de Sars-CoV-19, mas já existem novas variantes sobre as quais ainda não conhecemos a eficiência dessas vacinas”, compara Antônia. A pesquisadora destaca ainda a importância da cooperação entre instituições para o progresso da ciência e destaca a colaboração de pesquisadores da Uenf, Embrapa Meio-Norte e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como indispensáveis para a realização desse trabalho.




Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 11/02/21
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4165.2.5

Mulheres e Meninas na Ciência: desafios para a promoção da igualdade de gênero


Em sentido horário, a partir da esquerda, no alto: as cientistas Eliete Bouskela, Nísia Trindade, Denise Carvalho, Gabriela Leal, Letícia Oliveira e Jacqueline Leta (Fotos: Divulgação)


Em 2015, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi criada no contexto do objetivo de “igualdade de gênero”, um dos objetivos estipulados na Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável da ONU, que reúne metas globais para promover melhorias nas condições de vida e de conservação do planeta. Nas carreiras científicas, os dados reforçam a presença de uma lacuna de gênero. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), hoje, menos de 30% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres, e apenas cerca de 30% de todas as alunas selecionam no ensino superior áreas relacionadas à Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática.

No Brasil, as mulheres ocupam apenas 17% das posições na Academia Brasileira de Ciências (ABC). “É muito importante a celebração do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência e a FAPERJ tem feito o seu dever de casa para estimular a participação feminina na Ciência. Conseguimos que mulheres que tiveram filhos tivessem um ano extra na avaliação curricular, e também a extensão da duração das bolsas. É claro que ainda estamos longe da igualdade: na Academia Brasileira de Ciências temos 101 meninas e 470 meninos, Mas é importante frisar que este número cresce a cada ano. Este é um problema que ocorre em todos os países e a igualdade desejada demanda tempo e luta de cada uma de nós que conseguiu entrar para o grupo de mulheres cientistas”, disse a diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela, que é médica, acadêmica da ABC e da Academia Nacional de Medicina, e pesquisadora e professora titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

À frente de uma das instituições brasileiras de maior destaque no contexto da pandemia causada pelo novo coronavírus, pelo desenvolvimento de soluções como a produção da vacina, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima é a primeira mulher eleita presidente dessa tradicional instituição. Ela destaca a importância de situar o papel das mulheres nas atividades científicas. “Entendemos que houve um avanço em muitas áreas do conhecimento, mas sabemos que esse avanço é pequeno diante do que precisamos em nossa sociedade para que ela possa ser efetivamente mais justa. Na Fiocruz, desde 2019, realizamos ações com o objetivo de propor medidas de incentivo ao protagonismo das mulheres na ciência. Esse protagonismo existe em algumas áreas, mas ele não é correspondido com sua devida valorização, como é o caso da Fiocruz. Em 120 anos, completados no ano passado, sou a primeira mulher a dirigir a instituição, e esse é um fato ilustrativo dessas dificuldades”, refletiu.

Nísia ressaltou ainda que o propósito da Fiocruz é abrir oportunidades em prol da equidade de gênero também na ciência. “Por essa razão, realizamos o programa Mais Meninas na Fiocruz, que permitiu o contato de jovens meninas com pesquisadoras da nossa instituição em um caminho de aprendizado. Essa atividade se dá dentro de uma visão integrada da instituição, presente em todas as regiões do País. Em tempos de Covid-19, a presença das mulheres na ciência se faz visível na Fiocruz. A programação das atividades do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, organizadas pela Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação, revela a importância das pesquisadoras. É importante marcar o protagonismo, mas também se faz necessário lembrar os desafios e os obstáculos que tanto as meninas que podem ter a ciência como opção, como as mulheres pesquisadoras, podem enfrentar em nossa sociedade”, ressaltou.

Tendo a questão da participação feminina na Ciência como um dos temas recorrentes de pesquisa ao longo de sua trajetória profissional, a bióloga Jacqueline Leta, professora do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), traçou um panorama da desigualdade de gênero na sociedade. “Existem dois blocos de desigualdade de gênero: a desigualdade horizontal, que diz respeito à baixa participação feminina em algumas áreas do conhecimento, como as carreiras científicas e tecnológicas; e a desigualdade vertical, relacionada à baixa ocupação por mulheres de cargos de decisão e poder, hierarquicamente mais altos nas instituições. Em geral, as mulheres ocupam áreas de menor prestigio e remuneração, ao contrário dos homens. Na Europa, as mulheres ocupam apenas 25% dos cargos de professor titular, considerado o topo da carreira acadêmica, de acordo com o relatório She Figures, da Comissão Europeia, de 2018. No Brasil, esse número certamente é inferior. Em algumas carreiras, as mulheres já são maioria no início da faculdade, nos cursos de graduação. Mas ao longo da pós-graduação esse número vai caindo, numa relação inversa, comparando com os homens”, contextualizou.

A tripla jornada que muitas assumem por razões culturais – acumulando as responsabilidades do trabalho, da casa e da família – e a maternidade são considerados desafios para a promoção da igualdade de gênero, inclusive nas carreiras científicas. Na atual pandemia, o isolamento social torna esses desafios mais visíveis. Segundo a pesquisa Unequal effects of the Covid-19 pandemic on scientists, publicada no periódico Natural Human Behaviour, as mulheres pesquisadoras com filhos pequenos, especialmente, sofreram o maior impacto nesse período, com nítida redução nas suas atividades de pesquisa. "Esse trabalho fez uma enquete com mais de quatro mil cientistas e acadêmicos, a partir de questionários online, e mostrou que a pesquisa foi a tarefa com maior redução de carga horária. E as pesquisadoras que são mães com filhos pequenos foram o grupo que mais relataram maior redução no tempo dedicado às suas pesquisas", apontou Jacqueline, que trabalha no Departamento de Educação, Gestão & Difusão em Ciências do IBqM/UFRJ. “Outros dados que mostram como a pandemia vem afetando especialmente a participação de mulheres na pesquisa é a redução de submissão de trabalhos assinados por autoras mulheres nas revistas científicas, como destaca o artigo publicado na revista Dados, editada pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, e também a redução de trabalhos depositados em repositórios de pré-prints, como mostra o artigo Are women publishing less during the pandemic? Here’s what the data say, publicado na Nature”, citou.

O movimento Parent in Science, uma rede de apoio a mães e pais cientistas, confirma que no Brasil cientistas mães e negras foram as mais impactadas pela pandemia, como revelou o artigo Gender, race and parenthood impact academic productivity during the Covid-19 pandemic: from survey to action, publicado em pré-print no periódico bioRxiv, em julho de 2020. Componente do núcleo central do Parent in Science no Brasil, e do grupo de trabalho Mulheres na Ciência da Universidade Federal Fluminense (UFF), a neurocientista Letícia Oliveira está mobilizada para ajudar a reduzir os impactos da maternidade na produção científica de mulheres pesquisadoras. “No site do Parent in Science está em destaque a campanha que estamos fazendo para arrecadar fundos para alunas de pós-graduação que são mães e estão com dificuldades financeiras para concluir seus estudos. Lançamos essa campanha em 22 de janeiro e já temos quase 600 inscrições de mães pedindo esse auxílio. Queremos impedir desistências de mães pesquisadoras em meio a seus cursos de pós-graduação”, contou. A pesquisadora comenta que estão arrecadando fundos para campanha e qualquer pessoa pode ajudar (fazendo um Pix para parentinscience@gmail.com ou contribuindo com a Vakinha: http://vaka.me/1718423). Ela é uma das ganhadoras da primeira edição do 25º Prêmio Mulheres na Ciência: América Latina promovido pela 3M. A premiação, virtual, ocorre na noite desta quinta-feira, Dia Internacional das Mulheres e das Meninas na Ciência.

Mãe de uma menina chamada Sofia, hoje com 15 anos, Leticia acredita que as políticas de apoio à maternidade dirigidas às pesquisadoras são um ponto fundamental para promover a equidade de gênero na Ciência. “A FAPERJ foi uma das primeiras Fundações de Amparo à Pesquisa do Brasil a incluir políticas de apoio à maternidade nos seus editais, com a ampliação do tempo para avaliação do curriculum lattes das pesquisadoras, nos seus dois principais programas: o Cientista e o Jovem Cientista do Nosso Estado”, lembrou. “A chave para que a mulher sobreviva na Ciência é a criação de políticas de apoio governamental, não só para a maternidade, mas para também para que ocupemos espaços de poder. Redes de apoio, como a Parent in Science, também são muito importantes para se aprender a trabalhar essas questões de maneira colaborativa, com outras mulheres. Segundo dados da revista Gênero e número, quando somadas, as mulheres pretas e pardas com doutorado, que formam o grupo das negras, não chegam a 3% do total de docentes na pós-graduação brasileira. A Ciência tem que ser mais colaborativa e inclusiva”, completou.




O despertar da vocação científica nas meninas esbarra em obstáculos diversos: promover a pluralidade de gênero e etnia nas carreiras científicas é um dos objetivos da Agenda 2030 da ONU (Foto: Karin Schermbrucker/Unicef)


Por sua vez, a jovem pesquisadora Gabriela Ramos Leal, de 34 anos, médica veterinária e ganhadora do concurso internacional de divulgação científica FameLab, organizado pelo British Council, destacou que para despertar mais vocações entre as meninas para as carreiras científicas é necessário quebrar os estereótipos de gênero que ligam a ciência à masculinidade. Ela enfatiza que é preciso apresentar às meninas modelos positivos de mulheres pesquisadoras, como engenheiras e astronautas, e com diversas origens étnicas e tons de pele. “Temos muita dificuldade de comunicar para as crianças o que é ser cientista. A imagem que elas têm da profissão é de um homem velho e branco, usando jaleco. É preciso também mostrar figuras femininas, jovens e negras, de cientistas, para que elas se identifiquem e procurem as carreiras científicas. Os cientistas têm que ter todas as idades, gêneros e cores”, disse Gabriela, que é bolsista do programa Pós-Doutorado Nota 10 da FAPERJ e desenvolve seus estudos sobre reprodução animal na Faculdade de Medicina Veterinária da UFF.

Já a médica Denise Pires de Carvalho, primeira mulher a ocupar o cargo de reitora na UFRJ, lembrou que existe um fenômeno chamado “fenômeno da tesoura” ou “teto de vidro”, que impede as mulheres de se destacarem hierarquicamente, ao longo da carreira. “Este é um fenômeno histórico, produto da organização da nossa sociedade há muitos séculos. Este resgate precisa ser feito, para que haja igualdade de gêneros. O CNPq analisa as pesquisadoras ao longo de suas carreiras e há muito menos pesquisadoras com o nível máximo, que é o nível 1A, do que há no início da carreira. Então, se nós pegarmos as estudantes por gênero que estão na iniciação científica, há, inclusive, predominância feminina, e isso vai caindo quando nós olhamos para a carreira quando essas pesquisadoras se tornam professoras e concorrem a bolsas de produtividade em pesquisa. Aí, já começa o efeito tesoura. Então, há menos mulheres pesquisadoras nível 2 do que homens, e esse número vai diminuindo conforme o nível da bolsa de produtividade aumenta, claramente mostrando que há um viés, o viés de gênero, e que não é explicado pela produção intelectual, porque há estudos que mostram que 70% das produções intelectuais de produção científica nacional são lideradas por mulheres”, explicou.

“Se há igualdade, ou até predomínio feminino na iniciação científica, era natural que houvesse igualdade no topo da carreira", prossegue Denise. "Isso mostra o chamado teto de vidro, que impede que as mulheres cheguem ao nível de pesquisador 1A, que é o nível máximo, e que cheguem a ocupar um posto como membro na Academia Brasileira de Ciências, na Academia Nacional de Medicina, por exemplo. Se nós olharmos a Academia Brasileira de Ciências por área, é mais dramática a situação das mulheres nas áreas tecnológicas, assim como é muito mais dramático o cenário na Academia Nacional de Engenharia como um todo, porque há uma tendência da área biomédica a ter um percentual um pouco maior de mulheres. E nos postos de destaque, as mulheres são minoria, o que não é explicado pelo número de profissionais. Embora as mulheres sejam maioria em dada carreira, as posições de destaque são ocupadas por homens”, completou Denise, que é professora titular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ).

Ela destacou ainda a necessidade de mais políticas que fomentem e concretizem a igualdade de gênero e citou algumas ações em curso com esse objetivo na UFRJ. “Aqui na UFRJ, a Reitoria instituiu um grupo de trabalho de parentalidade e equidade que pretende cuidar com muita sensibilidade, por exemplo, das mães que estão no início das carreiras. Quando elas aplicam para editais, como edital de bolsa de iniciação científica, ou pretendem ser orientadoras de pós-graduação dos programas de pós-graduação, precisamos implantar políticas que permitam que essas mulheres ocupem esses espaços. Por exemplo, no edital Pibic [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica], a gente dá uma pontuação a mais para quem foi mãe nos últimos três anos, muito semelhante ao que a FAPERJ vem fazendo nos diversos editais, e que é muito justo e que fará, num prazo mais curto, um estímulo à igualdade de condições”, concluiu.





Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 11/02/21
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4163.2.4