Para que um imunizante seja aprovado e esteja disponível no mercado, são necessários de dez a 15 anos de muita pesquisa e vários testes. A aprovação para uso emergencial das duas vacinas disponíveis foi feita em tempo recorde, mas ainda é possível que os imunizantes passem por melhorias.
Autoridades, médicos e cientistas ressaltam a importância de termos um produto brasileiro com tecnologia 100% nacional, mesmo que isso demore anos. As razões vão desde a preocupação de que a covid-19 se torne uma doença sazonal até a dependência de importação de insumos, processo que atrasa a fabricação de vacinas no País.
A USP é uma das instituições que assumiram o compromisso de desenvolver uma vacina do zero. São sete projetos em andamento nos vários campi da Universidade. A vacina em spray nasal do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina (FMUSP); a vacina nanoparticulada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP); a vacina vetorizada da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA); as quatro plataformas vacinais em ensaios pré-clínicos do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB): a nanovacina, a vacina de subunidades, e as vacinas de DNA e de RNA.
As duas primeiras são as que se encontram em fase avançada. O grupo que desenvolve a vacina em spray nasal deve iniciar os testes toxicológicos em breve. Já a nanoparticulada, da FMRP, aguarda a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os ensaios clínicos de fase 1 e 2.
O Jornal da USP conversou com os líderes dessas pesquisas e, nesta reportagem, explica todos os detalhes.
SPRAY NASAL: A VACINA SEM DOR
A ideia de uma vacina contra a covid-19 indolor, bem aceita por crianças, gestantes e idosos, desenvolvida com tecnologia nacional e que ataca o vírus na porta de entrada para o organismo, pode virar uma realidade em breve. A produção do imunizante em formato de spray nasal começou em abril de 2020 e, atualmente, é liderada por Jorge Kalil Filho, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FMUSP).
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o médico disse que a proposta do trabalho, desde o início, era estudar melhor a resposta imune contra o coronavírus para criar uma vacina baseada nos alvos da resposta imune mais eficientes.
“Tem duas formas de nós combatermos o vírus: não deixando ele entrar em uma célula, ou se ele entrou na célula e a infectou, ele pode ser morto por uma outra célula do sistema imune”, explica Kalil Filho. Para o estudo, então, coletou-se o sangue de pessoas contaminadas com o vírus e foi possível analisar os alvos da resposta de anticorpos e também da resposta celular. Essa investigação mais profunda do antígeno é o que diferencia a nova vacina das demais.
VACINA NANOPARTICULADA
Com diversas plataformas tecnológicas de vacinas já desenvolvidas e conhecimento adquirido ao longo de mais de 30 anos de trabalho com imunizantes, Célio Lopes Silva, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador do Laboratório de Vacinas Gênicas da FMRP, decidiu enviar um projeto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) assim que a pandemia foi declarada. A ideia inicial era produzir uma proteína recombinante a partir das proteínas S, do núcleo do capsídeo e da membrana (ver figura abaixo). Por meio de análises de bioinformática, os pesquisadores criaram um antígeno e tentaram expressar aquelas proteínas em culturas de bactérias e em baculovírus (vírus de insetos utilizados no controle biológico de pragas
agrícolas e também como ferramenta para expressão de diferentes proteínas, inclusive de antígenos virais), mas o resultado foi insatisfatório.
Com diversas plataformas tecnológicas de vacinas já desenvolvidas e conhecimento adquirido ao longo de mais de 30 anos de trabalho com imunizantes, Célio Lopes Silva, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador do Laboratório de Vacinas Gênicas da FMRP, decidiu enviar um projeto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) assim que a pandemia foi declarada. A ideia inicial era produzir uma proteína recombinante a partir das proteínas S, do núcleo do capsídeo e da membrana (ver figura abaixo). Por meio de análises de bioinformática, os pesquisadores criaram um antígeno e tentaram expressar aquelas proteínas em culturas de bactérias e em baculovírus (vírus de insetos utilizados no controle biológico de pragas
agrícolas e também como ferramenta para expressão de diferentes proteínas, inclusive de antígenos virais), mas o resultado foi insatisfatório.
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