quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Residência Multiprofissional UERJ 2023: na Saúde, 75 vagas!

 

Residência Multiprofissional UERJ 2023: na Saúde, 75 vagas!

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) divulgou os editais dos Programas de Residência Multiprofissional e Profissional em Saúde.

São oferecidas 75 vagas no total, dentre elas as áreas de enfermagem, fisioterapia, nutrição, odontologia e psicologia. A residência terá duração de 2 ou 3 anos, com jornada de 60 horas semanais e o início será em 2023. O valor da bolsa é de  R$ 4.106,09.

Veja abaixo o detalhamento das vagas.

1 – Quadro de vagas:

Residência Profissional da Saúde na área de Fisioterapia

PROGRAMAVAGAS
Fisioterapia Cardiorrespiratória e Terapia Intensiva05
Fisioterapia Neuro-Ortopédica02
Fisioterapia em Pediatria e Neonatologia02

Residência em Nutrição

PROGRAMAVAGAS
Nutrição Clínica16

Residência Profissional da Saúde na área de Odontologia – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial

PROGRAMAVAGAS
Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial01

Residência em Psicologia Clínica Institucional

PROGRAMAVAGAS
Psicologia Clínica Institucional10

Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso

ÁREA PROFISSIONALVAGAS
Enfermagem02
Fisioterapia02
Nutrição02
Psicologia02

Residência Integrada e Multiprofissional em Saúde Mental

ÁREA PROFISSIONALVAGAS
Enfermagem03
Psicologia03

Também há vagas para as áreas de Fonoaudiologia (4), Serviço Social (21).

2 – Etapas de Seleção da Residência Multiprofissional da UERJ:

O processo seletivo da Residência Multiprofissional da UERJ será realizado em única etapa: Prova Objetiva ou Discursiva, sendo: para Prova Objetiva: 25 questões sobre o SUS, Saúde Coletiva e Saúde Mental e Conhecimentos Específicos; e para Prova Discursiva: 40 questões. 

As Provas Objetiva e Discursiva estão previstas para serem aplicadas no dia 16 de outubro de 2022, no Rio de Janeiro – RJ.

O processo seletivo é de responsabilidade do Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj), através da Coordenadoria de Gestão de Concursos e Processos Seletivos (Cogecon).


Quer ser aprovado em Residência? Torne-se o candidato mais preparado para as provas com os materiais de estudo da Sanar Saúde!


3 – Procedimentos para Inscrição:

As inscrições devem ser feitas entre os dias 16 de agosto  de 2022 e 15 de setembro de 2022 através do site http://www.cepuerj.uerj.br.

O valor da taxa de inscrição é de R$170,00.            

4 – Confira aqui os Editais de Residência Multiprofissional da UERJ!


Autor: Sanar
Fonte: Sanar
Sítio Online da Publicação: Sanar
Data: 15/08/2022
Publicação Original: https://www.sanarsaude.com/portal/residencias/artigos-noticias/residencia-uerj-2023-programas-edital-vagas-inscricao

O brasileiro que criou a abreugrafia, exame que salvou milhares de vidas da tuberculose



CRÉDITO,REVISTA BRASILEIRA DE TUBERCULOSE
Legenda da foto,

Manoel Dias de Abreu foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel por causa de seu invento


Ela é conhecida por vários nomes mundo afora. Roentgenfluorografia, na Alemanha; radiofotografia, na França; schermografia, na Itália; fotorradioscopia, na Espanha; fotofluorografia, na França e na Suécia; e microrradiografia, em Portugal. No Brasil, é chamada de abreugrafia e quem tem 50 anos ou mais deve ter feito uma para poder se matricular na escola ou ingressar num novo emprego.


O que poucos sabem é que este exame do pulmão, que começou a ser desenvolvido há 100 anos e revolucionou o diagnóstico e o tratamento da tuberculose, foi inventado pelo médico brasileiro Manoel Dias de Abreu — daí o seu nome — e que, por isso, ele foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel, em 1946, 1951 e 1953.


A abreugrafia nada mais é uma imagem de raios-x, no caso dos pulmões, como qualquer outra, mas com uma diferença essencial: a forma como ela é feita. Uma radiografia depende da fonte de raios-X, que são ondas eletromagnéticas de frequência muito alta geradas num tubo.


"O paciente é o 'alvo' dessa radiação", explica o físico Peter Schulz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Do outro lado dele está um filme, ou uma tela digital de sensores fotossensíveis, que registra a imagem."


Essa radiação é altamente penetrante, mas é menos ou mais absorvida, dependendo do tecido humano sobre o qual incide. Assim, é possível ver ossos e outras estruturas e órgãos dentro do corpo. O problema é que esse registro da imagem é caro.


"Todo mundo que já tirou uma radiografia do tórax ou abdômen sabe que ela é enorme, do mesmo tamanho do que foi radiografado", diz Schulz. "Então a pergunta sobre a qual Manuel de Abreu se debruçou foi: como realizar radiografias em larga escala, reduzindo o custo e o tempo, especificamente dos pulmões, pois no começo do século 20 a tuberculose era um problema de saúde pública muito grave?"


A ideia, que demorou mais de uma década para ser desenvolvida, consistia em fotografar com um filme comum, bem mais barato, pois a fotografia com câmeras portáteis já era uma prática disseminada no começo do século passado.


"Assim, a imagem dos raios-x atravessando a pessoa examinada era gerada em uma tela de material fluorescente, que fazia parte do aparelho", explica Schulz. "E essa imagem, agora em luz visível, era fotografada da mesma forma como fotografamos uma paisagem qualquer."


Segundo o médico radiologista Cesar Higa Nomura, presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), a abreugrafia era um método rápido e eficiente para diagnóstico de tuberculose com baixo custo, uma vez que os filmes fotográficos eram mais baratos que os radiográficos.


"Além disso, era um método portátil que permitiu o uso em larga escala", acrescenta. Enquanto um filme radiográfico tem um tamanho de 30 x 40 cm, os usados nas câmeras comuns — e na abreugrafia, portanto — medem apenas 35 mm ou 70 mm.



CRÉDITO,REVISTA BRASILEIRA DE TUBERCULOSE
Legenda da foto,

Profissionais de posto de saúde de Vitória prontos para realizar abreugrafia


Uma pergunta que pode surgir: mas se a imagem já aparecia na tela fluorescente, por que tirar uma foto? "O exame só com a imagem fluorescente pode ser bem mais demorado e os raios-X são ionizantes e, portanto, prejudiciais à saúde", responde Schulz. "E sem registro para checagem posterior. Com a fotografia, basta uma exposição rápida para obtê-la, pois a foto é examinada depois."


No caso da abreugrafia, a pequena foto passou a ser parte de uma carteirinha, que podia ser apresentada onde fosse necessário, como os certificados de vacinação contra a covid-19 atualmente. "Ela é uma convergência bastante engenhosa de tecnologias diferentes, convergência essa que não foi simples, necessitando de muitas etapas de desenvolvimento", diz o físico da Unicamp.

Formação no Rio e estudos na Europa


Abreu nasceu na cidade de São Paulo, no dia 4 de janeiro de 1892, terceiro filho do português da Província do Minho, Júlio Antunes de Abreu, e da paulista Mercedes da Rocha Dias, de Sorocaba.


Ele ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro com apenas 15 anos e se formou aos 21, em 1913. Pouco depois ele e a família — além dos pais, um irmão e uma irmã — partiram para Paris, onde Abreu pretendia continuar e aperfeiçoar seus estudos. Por causa da 1ª Guerra Mundial, no entanto, teve de ficar em Lisboa até 1915, quando enfim se mudou para a capital francesa, onde permaneceu por 8 anos.



CRÉDITO,ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA
Legenda da foto,

Abreu em sua pose preferida

Lá, Abreu trabalhou no Nouvel Hôpital de la Pitié, o hospital mais antigo de Paris, sob a chefia do também médico Nicolas Augustin Gilbert (1858-1927). O brasileiro era encarregado de fotografar peças cirúrgicas e, para isso, criou novas técnicas, usando raios-x, descobertos havia pouco tempo, mais precisamente em 8 de novembro de 1895, pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röentgen (1845-1923).


Nesse período, Abreu teve uma experiência que certamente o influenciou no desenvolvimento da abreugrafia mais tarde. Usando os raios-x, ele identificou um caso de tuberculose, que não havia sido detectado pelo seu experiente chefe com a percussão e a auscultação com o estetoscópio, método de diagnóstico usado então para examinar o pulmão. Em outro hospital, o Laennec, ele se aperfeiçoou na radiologia pulmonar e desenvolveu a densimetria (mensuração das diferentes densidades) do pulmão.


Foi nesse hospital que Abreu se convenceu de que a fotografia da tela fluorescente, o écran, nos exames feitos com raios-x, poderia ser uma forma barata de diagnosticar a tuberculose em massa. Ele até tentou, por volta de 1919, fazer a fotografia da tela, mas esbarrou em obstáculos técnicos. A luminosidade da fluorescência do écran era muito fraca, longe de ser suficiente para ficar marcada nos filmes com sais de prata das máquinas fotográficas comuns em tão mínima fração de segundo.


Em 1922, ele voltou da França e se instalou no Rio de Janeiro. Ao chegar, encontrou a cidade tomada por uma epidemia de tuberculose, a ponto de ter dito, segundo texto do site a Associação Nacional dos Inventores: "Havia óbitos, não havia doentes, os quais ocultavam seu diagnóstico na espessa massa da população; os poucos doentes que havia, procuravam o dispensário na fase final da doença, quando o tratamento, o isolamento e as várias medidas profiláticas já eram inúteis".


Abreu retomou, então, as pesquisas para desenvolver o exame que mais tarde levaria seu nome. Em 1924 realizou uma segunda tentativa de obter a fotografia do écran, mas de novo não conseguiu, devido ao mesmo motivo, a baixa luminosidade da tela. Mas prosseguiu na luta contra a tuberculose e por sua influência e de José Plácido Barbosa da Silva, chefe da Inspetoria de Profilaxia contra a Tuberculose, foi criado o primeiro Serviço de Radiologia na cidade do Rio de Janeiro.



CRÉDITO,ROENTGEN
Legenda da foto,

Primeira abreugrafia registrada


Mais tarde. ao assumir a chefia do Serviço de Radiologia do Hospital Jesus, a pedido do médico e prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Pedro Ernesto do Rego Batista, Abreu buscou novamente criar a abreugrafia, em função da incidência de inúmeros casos de tuberculose entre as crianças radiografadas. Finalmente, em 1936, ele conseguiu obter a radiofotografia do écran, agora com nova tecnologia que dava maior fluorescência à tela.


Abreu batizou seu invento de roentgenfotografia, em homenagem ao descobridor dos raios x. O nome foi usado no Brasil até 1939, quando o presidente do 1º Congresso Brasileiro de Tuberculose, Ary Miranda, propôs a mudança para abreugrafia, em honra de seu inventor. A proposta foi aprovada por unanimidade.

Sucesso e popularização


Ainda em 1936 foi construído — pelos técnicos da Casa Lohner, uma subsidiária da Siemens instalada no Rio de Janeiro — o primeiro aparelho para a realização de abreugrafias em série na população, que foi instalado no Hospital Alemão, no Rio de Janeiro, em maio daquele ano.


"A invenção ganhou destaque internacional", diz o médico Fabiano Reis, do Departamento de Anestesiologia, Oncologia e Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. "A técnica rapidamente se disseminou e foi incorporada pelos serviços públicos de saúde do Brasil e de outros países." Na época, ela era 100 vezes mais barata que uma radiografia tradicional.


Schulz acrescenta que as leis de prevenção da tuberculose no Brasil e no Japão, por exemplo, levaram a que até 60% das populações fossem triadas por esse método. Além disso, segundo a Associação Nacional dos Inventores, foram criadas unidades móveis mundo afora com aparelhos de abreugrafia instalados em veículos, que realizavam as radiografias torácicas em locais públicos e em grandes indústrias. Na Alemanha, por exemplo, até o ano de 1938 o número de exames feitos já ultrapassava os 500 mil.


Antes disso, em março de 1937 foi criado o primeiro Serviço de Cadastro Torácico na cidade do Rio de Janeiro, no qual foi instalado um aparelho de abreugrafia mais aperfeiçoado. "Ali foram examinadas, de 8 a 21 de julho daquele ano, 758 pessoas aparentemente sadias, das quais 44 apresentavam lesões pulmonares", conta Reis.


"Ao se comprovar sua utilidade e importância, a nova técnica passou a ser adotada em grande escala em outros estados do Brasil e também na Europa e América do Sul."


A médica e mestre em Saúde Coletiva, Dilene Raimundo do Nascimento, da área de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), lembra que na época a abreugrafia só tinha vantagens. "Pelo seu custo baixo e pela facilidade de operar, tornou possível o exame em massa para o diagnóstico precoce da tuberculose", explica.


"O diagnóstico precoce da doença possibilitou iniciar o tratamento antes que fosse tarde demais, reduzindo assim o número de mortes."



CRÉDITO,REVISTA BRASILEIRA DE TUBERCULOSE
Legenda da foto,

Aparelho usado para fazer abreugrafia


De acordo com Nomura, a inovação de Abreu teve impacto grande na saúde pública brasileira da época, que lutava contra a tuberculose, com grande número de acometidos pela doença, diagnosticados em estágio avançado e crescente número de mortes. "Só no Rio de Janeiro no início da década de 1920 as estimativas apontavam cerca de 300 mortes por grupo de 100 mil pessoas", diz. A informação está no livro O Mestre da Sombras - Um raio-x histórico de Manoel de Abreu.


Com a diminuição progressiva da incidência da tuberculose e os progressos no seu tratamento, os programas de triagem em massa foram sendo interrompidos a partir anos 1970. "Afinal, no começo daquele século a incidência era de 150 casos por 100 mil habitantes (semelhante à covid-19 em algumas ondas em alguns países), mas em 1970 já era de apenas 5 casos por 100 mil", explica Schulz.


Por isso, em 1974, a Organização Mundial da Saúde (OMS) se pronunciou contra o uso da abreugrafia em massa, por expor desnecessariamente a população a doses de radiação. "Atualmente, o exame para detecção de tuberculose é feito pela pesquisa do bacilo de Koch no escarro", conta Reis. "Para rastreamento de algumas patologias pulmonares, são preconizados estudos tomográficos de baixa dosagem, que permitem detecção de eventuais lesões em seus estágios iniciais."


Apesar disso, a abreugrafia continua sendo lembrada, pelo menos no Brasil, onde o seu Dia Nacional é comemorado em 4 de janeiro, data do nascimento de seu inventor. A homenagem foi estipulada pelo presidente Juscelino Kubitschek, por meio do Decreto nº 42.984, de 3 de janeiro de 1958. Por uma ironia de destino, Abreu viria a morrer quatro anos depois, no dia 30 abril, por causa de uma doença do pulmão — no caso, câncer.








Autor: Evanildo da Silveira
Fonte: Vera Cruz (RS) para BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 30/08/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62695479

Pediatras no Brasil e nos EUA advertem contra dieta vegana até dois anos



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

Falta de vitaminas e minerais nos primeiros anos de vida pode ter repercussão durante toda a vida, apontam pesquisas


O caso da americana Sheila O'Leary, condenada à prisão perpétua nos Estados Unidos acusada de homicídio do próprio filho por desnutrição e desidratação após submetê-lo a uma alimentação apenas com frutas, vegetais crus e leite materno, gerou dúvidas entre os pais.


Será que é possível nutrir bebês e crianças exclusivamente com uma dieta vegana?


Entre sociedades médicas — como a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) — a recomendação é evitar uma alimentação sem nenhuma fonte de origem animal até os dois anos de vida.


Mas os especialistas admitem que, sim, até dá para excluir carnes, ovos, laticínios e outros produtos de origem animal das refeições dos pequenos — mas é preciso tomar um enorme cuidado para garantir um aporte adequado de nutrientes, vitaminas e minerais para eles.


Isso envolve escolher bem os ingredientes que vão à mesa e, em alguns casos, até partir para a suplementação com comprimidos e injeções.


Todo esse processo, inclusive, deve ser acompanhado de perto por profissionais de saúde, como pediatras e nutricionistas, para evitar problemas no desenvolvimento do corpo e da mente.


"Os dois primeiros anos de vida são um período crítico, em que o cérebro e o corpo da criança se desenvolvem bastante e precisam de uma grande variedade de nutrientes", explica a médica Fabíola Suano, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da SBP.


"Ou seja, uma carência nutricional nessa fase pode representar um risco para toda a vida", complementa.


A falta de alguns desses compostos que aparecem exclusivamente ou em mais abundância nos alimentos de origem animal, como a vitamina B12, o ferro e o cálcio, por exemplo, está relacionada a déficits no desenvolvimento dos ossos e dificuldades na formação de estruturas do cérebro importantíssimas para a memória, o aprendizado e o raciocínio.


Saiba a seguir quais são as principais recomendações dos especialistas e como pais e mães veganos podem garantir uma boa saúde ao filho, se desejarem mantê-lo longe de carnes, ovos, leites e afins durante a infância.

Polêmica à mesa

Entidades como a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam que o bebê seja alimentado exclusivamente com o leite materno até o sexto mês de vida.


Nesse ponto, a alimentação da mãe pode fazer toda a diferença: como os nutrientes primordiais chegam ao bebê através do leite materno, é importante que a mulher coma bem e tenha níveis adequados de vitaminas e minerais.


"Muitas vezes, a mãe que adota uma dieta vegana precisa tomar injeções de vitamina B12, para garantir que esse composto esteja no leite dela", exemplifica Suano, que também é professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).


Quando o aleitamento não é possível, a alternativa nesses casos é utilizar as fórmulas à base de proteína hidrolisada de arroz ou de proteína isolada de soja.


A amamentação, aliás, continua a ser recomendada até os dois anos de idade — nesse período, porém, vale introduzir aos poucos outros alimentos.


É justamente aí que muitos pais que adotam uma dieta vegetariana ou vegana ficam em dúvida: é possível excluir alguns ou todos os produtos de origem animal da alimentação dos filhos?


A mais recente diretriz da SBP sobre o tema, publicada em 2017, admite que "uma dieta vegetariana bem balanceada é capaz de promover crescimento e desenvolvimento na infância e na adolescência".


O documento está alinhado com a posição de outras entidades do setor, como a Associação Dietética Americana e a Academia Americana de Pediatria.


"Entretanto, por serem mais vulneráveis a desenvolver deficiência de nutrientes, [essas crianças] devem ser adequadamente monitoradas e muitas vezes suplementadas, já que o risco é proporcional à menor variedade dos grupos alimentares consumidos", aponta o texto.


Já a dieta vegana especificamente, que corta todos os produtos de origem animal, é vista com ressalvas nesses primeiros dois anos de vida.


"É preciso conversar com a família e encontrar um meio termo. Se os pais não querem dar carne vermelha, será que não seria possível preparar um peixe ou um ovo?", sugere Suano.


"Se entre os seis meses e os dois anos a criança é submetida a uma dieta totalmente vegana, ela fica com uma diversidade alimentar e nutricional muito restrita", acredita a médica.


A pediatra ressalta que esse debate está longe de chegar a um consenso, mesmo entre os especialistas da área. "Algumas entidades dizem que, sim, é possível adotar o veganismo a partir dos seis meses de vida, enquanto outras consideram a prática arriscada e contraindicada", compara.



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

A amamentação deve ser exclusiva até os seis meses de vida


"Mas há ao menos uma unanimidade entre todas as associações: a família que optar por reduzir ou cortar completamente o consumo de carne, leite e ovo das crianças deve fazer um acompanhamento muito cuidadoso."


Essa orientação está, inclusive, em materiais publicados pela Sociedade Vegetariana Brasileira.


Como qualquer tipo de estilo de vida, eliminar os ingredientes de origem animal tem vantagens e desvantagens.


Por um lado, uma alimentação desse tipo está relacionada ao consumo de menos calorias e gorduras saturadas, o que diminui o risco de quadros como obesidade e doenças cardiovasculares na infância e ao longo da vida.


O maior teor de fibras alimentares, vindas dos vegetais, também representa uma ótima notícia para o funcionamento do sistema digestivo — apesar de isso poder interferir na absorção de alguns minerais.


Por outro, a ausência de carnes, ovos e laticínios no prato representa um risco de faltarem ferro, vitamina B12, cálcio e zinco no organismo.


A grande questão, explicam os especialistas, é que alguns desses micronutrientes são mais comuns nos produtos de origem animal — frutas, verduras e legumes até carregam uma boa quantidade deles, mas a biodisponibilidade (ou a porção que nosso corpo absorve daquilo) é mais baixa.

Como evitar problemas


É preciso considerar também que nem sempre uma dieta menos calórica ou com pouca gordura representa uma boa notícia. Afinal, as crianças precisam desses nutrientes na medida certa para crescer bem e com saúde.


Uma revisão de estudos feita no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, em São Paulo, apontou que crianças adeptas de uma dieta vegetariana tendem a ser mais baixas e magras, embora os valores médios de altura e peso delas ainda estejam dentro dos valores considerados normais.


Outra preocupação constante dos especialistas está na ausência de micronutrientes essenciais à saúde.


Um dos exemplos disso é o ferro, que constitui a hemoglobina, uma molécula presente nas células vermelhas do sangue responsáveis por transportar oxigênio para todas as partes do corpo. Ele também é essencial para a imunidade e para a fabricação dos neurotransmissores do cérebro.


A deficiência deste mineral está relacionada a "alterações do desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento do sistema imunológico e diminuição da capacidade de trabalho", lista o material da SBP.


Para garantir a presença do ferro na dieta, é possível partir para algumas estratégias simples, como deixar o feijão de molho por 12 horas. Isso diminui a presença de moléculas que afetam a biodisponibilidade desse mineral.


Outra ideia é consumir vegetais ricos nesse micronutriente, como lentilha, feijão e ervilha, junto com fontes de vitamina C, caso da laranja e do limão, o que aumenta a absorção do ferro pelo nosso organismo.



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

Deixar o feijão de molho e comer fontes de ferro junto com alimentos ricos em vitamina C garantem um maior consumo desse mineral


Já o cálcio, presente no leite e em alguns laticínios, é primordial para a formação dos ossos que dão sustentação ao corpo e garantem a locomoção.


Até é possível encontrar esse mineral em alguns vegetais, mas a biodisponibilidade dele também é uma barreira importante.


Para as crianças que fazem uma dieta completamente vegana, o caminho mais seguro é a suplementação do cálcio, que garante um aporte suficiente para o desenvolvimento do esqueleto.


A mesma recomendação vale para a vitamina B12, que só aparece nas carnes, nas vísceras e nos ovos.


Como ela é essencial para a circulação sanguínea e para a estrutura que recobre e protege os neurônios, médicos e nutricionistas prescrevem suplementos ou indicam o consumo de alimentos fortificados.


Outros micronutrientes que exigem uma atenção extra nesse contexto são o zinco, o iodo, a vitamina A, o ácido fólico, a vitamina D e o ômega 3.


Em alguns casos, será preciso reforçar o consumo de alguns alimentos fortificados ou ampliar a oferta de ingredientes de origem vegetal específicos, que trazem uma certa quantidade desses compostos.


Em outros, resta partir para a suplementação por meio de cápsulas, comprimidos e injeções.


No final das contas, uma pitada de bom senso e o acompanhamento de profissionais de saúde vai ser essencial para garantir um bom desenvolvimento da criança que faz uma dieta vegana ou vegetariana nesses primeiros anos de vida.


"Nós sabemos que o vegetarianismo e o veganismo cresceram muito nos últimos anos, seja pela busca de uma dieta mais saudável, seja pela preocupação com o meio ambiente", analisa Suano.


"E nós, como profissionais de saúde, precisamos conversar com as famílias, entender o ponto de vista delas e chegar a um meio termo satisfatório e saudável para todos os envolvidos", conclui a pediatra.







Autor: André Biernath - @andre_biernath
Fonte: BBC News Brasil em Londres
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 31/08/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-62736718

Transplante fecal é recomendado no Reino Unido para tratar infecções intestinais



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

A bactéria Clostridium difficile costuma resistir aos antibióticos disponíveis


O Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (Nice, na sigla em inglês) do Reino Unido acaba de recomendar o transplante de fezes como tratamento contra infecções intestinais.


Por ora, o método está indicado para quem teve dois ou mais quadros provocados pela bactéria Clostridium difficile, um micro-organismo que não é facilmente derrotado pelos antibióticos disponíveis atualmente.

Essa bactéria também pode causar uma infecção quando ocorre um desequilíbrio da microbiota intestinal — o conjunto de seres microscópicos que habitam o sistema digestivo e são muito importantes para nossa saúde.


E um dos fatores que gera esse desbalanço intestinal vantajoso para a C. difficile é justamente o uso de antibióticos.


Em resumo, o transplante fecal consiste em transferir para o organismo de um paciente as bactérias intestinais "do bem" que são encontradas nas fezes de um doador saudável.

O transplante pode acontecer por meio de uma endoscopia (em que os equipamentos e a amostra bacteriana são introduzidos pelo nariz ou pela boca), pela colonoscopia (quando o processo se inicia pelo ânus) ou por meio de pílulas preparadas em laboratório.


Ensaios clínicos publicados nos últimos anos mostram que essa terapia contra a C. difficile é mais eficaz e barata em comparação com os antibióticos, aos quais essa "superbactéria" pode se tornar resistente.


Por ora, o transplante fecal ainda é encarado como um método experimental no Brasil, usado apenas quando as outras opções terapêuticas não funcionaram como o esperado.

Sintomas comuns de uma infecção causada pelo C. difficile
Diarreia
Febre
Perda de apetite
Náusea
Dor de estômago


O Nice estima que entre 450 e 500 pessoas poderiam receber os transplantes fecais na Inglaterra, economizando milhares de libras ao reduzir a prescrição de antibióticos.


Um estudo feito em 2018 no Brasil estimou que, nas regiões Sul e Sudeste, são detectados por dia três casos de infecção por C. difficile a cada mil pacientes hospitalizados.


Mark Chapman, diretor de tecnologia médica do Nice, disse que "o uso deste tratamento também ajudará a reduzir a dependência de antibióticos".


"E isso, por sua vez, permite diminuir os riscos de resistência antimicrobiana", declarou.






Autor: bbc
Fonte: bbc
Sítio Online da Publicação: bbc
Data: 31/08/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-62736711

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Ministério da Saúde ativa Sala de Situação para combate do sarampo no País



- Foto: Erasmo Salomão/MS

Diante da circulação do sarampo no Brasil, o Ministério da Saúde ativou, nessa segunda-feira (8), a Sala de Situação para monitoramento da situação epidemiológica do País. Atualmente, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Amapá registram surto da doença.

A ação tem como objetivo definir e implementar estratégias para a interrupção da circulação do vírus do sarampo e eliminar a doença do território nacional, levando em consideração as atividades propostas no Plano de Ação para interrupção da Circulação do Vírus do Sarampo de 2022.

A Sala, coordenada pela Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI), é composta por membros da Coordenação-Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB), Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Secretaria de Atenção Primária à Saúde (APPS), Coordenação-Geral do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) e Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES).

A equipe irá realizar parcerias com gestores estaduais e municipais, com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), Assessoria Especial de Assuntos Internacionais (AISA) e contará com o apoio e parceria da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A vacinação contra a doença também é prioridade do Ministério da Saúde. Nessa segunda-feira (8), a Pasta lançou a Campanha de Multivacinação de 2022. Mais de 40 mil postos de vacinação em todo Brasil estão abertos para a atualização da carteirinha com as 18 vacinas disponíveis para crianças e adolescentes menores de 15 anos. A dose da tríplice viral, que protege contra o sarampo, faz parte desses imunizantes do Calendário Nacional de Vacinação. O principal objetivo é aumentar as coberturas vacinais.

Ministério da Saúde
Categoria
Saúde e Vigilância Sanitária




Autor: gov

Ministério da Saúde promove "Dia D" contra Poliomielite e Multivacinação



- Foto: Marcos Lopes/MS

Opequeno Eduardo, de 4 anos, compareceu ao Dia “D” da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação, em Ouro Preto (MG), para reforçar a proteção contra a paralisia infantil. A mãe, Tâmara Marques, defende que atualizar a caderneta dos filhos é uma responsabilidade que garante que eles tenham a imunização necessária para evitar a reintrodução doenças no País. A campanha disponibiliza 18 vacinas do Calendário Nacional de Vacinação de crianças e adolescentes menores de 15 anos de idade.

Com mais de 14 milhões de crianças entre um e menores de 5 anos aptas a receber a vacina contra a poliomielite, a campanha se estende até o dia 9 de setembro para alcançar cobertura vacinal igual ou maior que 95% desse público, além de reafirmar o compromisso internacional assumido de manter o Brasil livre da doença. Os pequenos menores de um ano deverão ser vacinados conforme a situação vacinal encontrada para esquema primário. “É inaceitável que doenças tão antigas, como é o caso da poliomielite, ainda possam ameaçar as crianças do Brasil”, afirmou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Os mais de 5 mil municípios brasileiros estão mobilizados para o Dia “D” de vacinação, segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros. “Independente da data final da campanha, as vacinas estão disponíveis o ano inteiro. Nós não podemos permitir que doenças absolutamente imunopreviníveis retornem para atingir a população”, explica.

As vacinas disponíveis para a atualização são:Hepatite A e B;
Penta (DTP/Hib/Hep B);
Pneumocócica 10-valente;
VIP (Vacina Inativada Poliomielite);
VOP (Vacina Oral Poliomielite);
VRH (Vacina Rotavírus Humano);
Meningocócica C (conjugada);
Meningocócica ACWY (conjugada);
Febre amarela;
Tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba);
Tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba, varicela);
DTP (tríplice bacteriana);
dT/ Dupla Adulto (difteria e tétano);
dTpa adulto (difteria, tétano e coqueluche);
Varicela;
Pneumocócica 23-valente – Pneumo 23v;
HPV quadrivalente (papilomavírus humano);
BCG.

As campanhas vão coincidir com a vacinação contra Covid-19, que está em andamento. As vacinas Covid-19 poderão ser administradas de maneira simultânea ou com qualquer intervalo com as demais vacinas do Calendário Nacional de Vacinação, na população a partir de três anos de idade.

Giurla Martins e Karol Ribeiro
Ministério da Saúde
Categoria
Saúde e Vigilância Sanitária





Autor: gov
Fonte: gov
Sítio Online da Publicação: gov
Data: 20/08/2022
Publicação Original: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/agosto/ministerio-da-saude-promove-dia-d-contra-poliomielite-e-multivacinacao

Saúde poderá adquirir medicamentos e vacinas de forma mais célere contra varíola dos macacos

O Ministério da Saúde poderá solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a dispensa de registro de medicamentos e vacinas que já tenham sido aprovados no exterior, em condições específicas, para a prevenção ou tratamento da varíola dos macacos, também conhecida como monkeypox. Isso porque a agência aprovou, nesta sexta-feira (19), norma que prevê a dispensa do registro para importação. A resolução aprovada vai simplificar a análise documental e facilitar o acesso da população brasileira aos medicamentos ou vacinas.


O controle da varíola dos macacos é prioridade para o Ministério da Saúde, que realiza constante monitoramento da situação epidemiológica para orientar ações de vigilância e resposta à doença no Brasil. Com a evolução do cenário epidemiológico da doença no País, a pasta ativou o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE) com o objetivo de organizar a atuação do SUS para resposta coordenada à doença, com a elaboração do Plano Nacional de Contingência para Monkeypox.

Anterior à análise da Anvisa, o Ministério da Saúde havia entrado em tratativas para a aquisição de imunizantes. A previsão é que 50 mil doses sejam destinadas ao Brasil, de acordo com a solicitação feita à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Sobre a doença

A varíola dos macacos é uma zoonose viral (um vírus transmitido aos seres humanos a partir de determinados animais) com sintomas semelhantes aos observados no passado em pacientes com varíola, embora esteja se mostrando clinicamente menos grave.

Causada por um vírus, os sinais da enfermidade podem durar entre duas e quatro semanas. A transmissão ocorre principalmente pelo contato pessoal e direto com secreções respiratórias, lesões de pele de pessoas infectadas ou objetos contaminados. A transmissão por meio de gotículas requer contato mais próximo entre o paciente infectado e outras pessoas, por isso, trabalhadores da saúde, membros da família, parceiros e parceiras têm maior risco de contaminação.

Acesse a página sobre varíola dos macacos no portal do Ministério da Saúde e saiba tudo sobre a doença.

Nathan Victor
Ministério da Saúde

Categoria
Saúde e Vigilância Sanitária





Autor: gov

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Anvisa aprova liberação de vacina e medicamento contra monkeypox

Nesta quinta-feira (25), a Anvisa aprovou a dispensa de registro para a vacina Jynneos (ou Imvanex) ser importada pelo Ministério da Saúde para tratamento da monkeypox. O mesmo se aplica ao medicamento tecovirimat, para tratamento da doença.



O imunizante é destinado a adultos com idade igual ou superior a 18 anos e possui prazo de até 60 meses de validade, quando conservado entre -60°C a -40°C.


A dispensa temporária e excepcional se aplica somente ao Ministério da Saúde e terá validade de seis meses, desde que não seja expressamente revogada pela Anvisa.


Em seu voto, a diretora relatora Meiruze Freitas destacou que a monkeypox é causada por um vírus semelhante ao da varíola e que, portanto, é esperado que a vacina contra a varíola previna ou reduza a gravidade da infecção pela monkeypox. Contudo, a diretora ressaltou a necessidade da condução de estudos de monitoramento para a confirmação da efetividade da vacina para prevenção da monkeypox.


Para esta análise, a Anvisa avaliou o relatório de avaliação da agência americana Food and Drug Administration (FDA) para a vacina Jynneos, as informações públicas emitidas pela Agência Europeia de Medicamentos (European Medicines Agency – EMA) e pela agência do Reino Unido (National Health Service – NHS), a bula, os dizeres de rotulagem e os demais documentos apresentados pelo Ministério da Saúde.



A autorização passa ser válida a partir da publicação do extrato da ata da Diretoria Colegiada no portal da Anvisa. Adicionalmente, será publicado no Diário Oficial da União (DOU) um despacho com a decisão da Dicol.






Autor: Redação do Portal PEBMED
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 26/08/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/anvisa-aprova-liberacao-de-vacina-e-medicamento-contra-monkeypox/

Comunicação em alça fechada e a segurança do paciente

Para que a comunicação seja efetiva, é necessário que todas as partes envolvidas compreendam a mensagem a ser transmitida. Apesar de parecer um conceito simples, muitas vezes, na prática, é um objetivo difícil de ser alcançado, podendo resultar em consequências indesejáveis e mesmo prejudiciais, assim, a comunicação em alça fechada pode ser fundamental para que esse objetivo seja alcançado.



Considera-se que falhas na comunicação desempenhem um importante papel em casos de erros médicos, sendo o estabelecimento de comunicação efetiva uma das metas internacionais de Segurança do Paciente estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).


De forma semelhante, estima-se que a maioria dos pacientes retém somente cerca de metade das informações que recebem dos profissionais de saúde durante as consultas clínicas. Ao mesmo tempo, os pacientes podem sentir-se envergonhados e hesitantes em admitir que não compreenderam o que lhes foi dito.


Em situações traumáticas e/ou estressantes, a possibilidade de que informações importantes sejam perdidas aumenta. Além disso, outros fatores como nível educacional, a linguagem utilizada, a presença de ruídos ou outros elementos distratores, entre outros, podem contribuir para que ocorram falhas de comunicação. Nesse contexto, o profissional de saúde precisa, não somente transmitir sua mensagem de forma clara e empática, mas também assegurar-se de que foi compreendido. A comunicação em alça fechada é uma estratégia útil para verificar a compreensão dos pacientes.


Série Comunicação Médica: Comunicação em alça fechada

O que é Comunicação em Alça Fechada?

Trata-se de uma técnica simples, baseada em evidências, que permite a confirmação imediata do entendimento do interlocutor. Por esse método, após as explicações dadas pelo profissional de saúde, os pacientes são convidados a dizer, em suas próprias palavras, o que compreenderam. Com isso, há a possibilidade de identificar, corrigir e esclarecer quaisquer mal-entendidos ou dúvidas que possam estar presentes.


Pesquisas sugerem que o uso dessa ferramenta é útil no engajamento de pacientes e seus familiares, aumentando a satisfação e contribuindo para a construção de vínculos de confiança. Além disso, é considerado efetivo independente de características demográficas, como sexo, idade, status socioeconômico, renda e grau de escolaridade. Por esses motivos, diversas agências internacionais relacionadas à qualidade em saúde, como a The Joint Commission, vêm recomendando sua utilização.


Como aplicar essa técnica na Prática?

A técnica é dividida em quatro estágios. No primeiro, a informação é transmitida pelo profissional de forma calma e clara, evitando-se uso de linguagem técnica e fazendo contato visual com o paciente e/ou familiares. Em seguida, pede-se ao paciente para que, por meio de suas próprias palavras, reconte o que lhe foi transmitido. Se dúvidas, mal-entendidos ou inseguranças forem percebidos, estes podem ser esclarecidos no terceiro estágio.


Nessa etapa do processo, o primeiro e o segundo estágios devem ser repetidos quantas vezes for necessário, tendo o profissional o cuidado de não utilizar expressões que responsabilizam o paciente pela não compreensão do discurso. Quando o profissional percebe que a informação foi transmitida de forma satisfatória, alcança-se o quarto estágio.


Exemplos de frases que podem ser utilizadas como facilitadores nesse processo são:


Para que eu tenha certeza de que eu me expressei adequadamente, pode me dizer nas suas próprias palavras o que o Sr(a). entendeu sobre o que discutimos?

O que o Sr(a). vai dizer para sua família sobre o que falamos hoje?

Usando suas próprias palavras, diga-me como o Sr(a). fará seu tratamento em casa?

Falamos sobre muitas coisas hoje, então gostaria de ter certeza de que eu as expliquei bem. Pode me dizer o que entendeu e quais nossos passos daqui para a frente?

Revisei seus exames e prontuário, mas gostaria de ouvir o que mais você pensa sobre o que está acontecendo. O Sr(a). poderia me contar o que está entendendo de tudo isso?

Mensagem final

A técnica de comunicação em alça fechada pode ser utilizada em diversas situações de comunicação entre profissionais de saúde e usuários. Consultas ambulatoriais, instruções para alta, conferências familiares e comunicação de más notícias são situações onde a aplicação da ferramenta se mostrou associada a maior adesão, menores taxas de readmissão e maior sensação de segurança.


Além de adequação da linguagem utilizada, é preciso que o profissional esteja atento a alguns detalhes, especialmente à linguagem não verbal (olhar o interlocutor nos olhos, manter postura relaxada, evitar olhar no relógio e/ou celular), para que pacientes e familiares se sintam acolhidos e participem satisfatoriamente de seu processo de cuidado.






Autor: Isabel Cristina Melo Mendes
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 26/08/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/serie-comunicacao-medica-comunicacao-em-alca-fechada/

ESC 2022: Confira a cobertura completa do congresso da European Society of Cardiology

O congresso da European Society of Cardiology (ESC 2022) está acontecendo entre os dias 26 e 29 de agosto, em Barcelona, na Espanha. Nossa equipe médica está presente no evento para trazer em tempo real todas as novidades apresentadas para o Portal PEBMED. Confira!




ESC 2022

Podemos prever o risco de mortalidade em 30 dias em pacientes com endocardite infecciosa?

Durante o congresso, uma nova calculadora de risco, chamada Score EURO-ENDO, foi apresentada pelo cardiologista Jordi Lozano Torres, do Hospital Universitário Vall d’Hebron, na Espanha. A Score EURO-ENDO visa prever a mortalidade em EI do lado esquerdo em 30 dias. Saiba mais.


Inibidores de neprilisina são seguros para a função cognitiva de pacientes com IC crônica?

O estudo PERSPECTIVE, apresentado no congresso, avaliou a eficácia e segurança do sacubitril/valsartana na função cognitiva de pacientes com insuficiência cardíaca (IC) crônica e fração de ejeção preservada. Confira.


Estudo TIME aponta se há diferenças na realização de tratamento de hipertensão de manhã e de noite

O estudo apresentado no ESC 2022 teve o objetivo de tentar estabelecer um melhor horário para tomar a medicação e avaliar se o uso a noite seria melhor. Veja mais.


Eficácia medicamentosa pós-IAM é maior com três medicamentos em modo conjunto ou separado?

O estudo SECURE teve como objetivo avaliar se a ocorrência de eventos cardiovasculares em pacientes que fizeram uso de um único comprimido com associação de três medicamentos comparado ao uso dos medicamentos separadamente seria menor. Saiba mais.


Highlights do primeiro dia de Congresso [vídeo]

Neste vídeo especial da PEBMED, com apoio da Pfizer, você verá o que de mais importante aconteceu e marcou o primeiro dia do ESC 2022. Assista aqui.


Diretriz sobre arritmias ventriculares e morte súbita

Esta foi uma atualização da diretriz anterior, de 2015, e foi adaptada para facilitar seu uso na prática do dia a dia. Inicia-se com a avaliação diagnóstica do paciente, incluindo as indicações de quando utilizar testes provocativos e testes genéticos e quando avaliar familiares de primeiro grau de pacientes com doenças genéticas relacionadas as arritmias ventriculares. Veja mais detalhes.


Diretriz sobre cardio-oncologia

Neste último congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia foi publicada a primeira diretriz de cardio-oncologia desta Sociedade. Esta é uma área relativamente nova dentro da cardiologia e com evidências ainda limitadas, sendo que essa diretriz foi realizada em grande parte com base em consenso de especialistas. Veja aqui.


O uso de acetazolamida leva a maior sucesso na melhora da congestão em pacientes com IC?

O estudo ADVOR, apresentado no Congresso europeu (ESC 2022), teve como objetivo avaliar se a utilização de acetazolamida associada à terapia padrão com diuréticos de alça via endovenosa levaria a maior sucesso na melhora da congestão em pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Saiba mais.


Resultado do seguimento de 5 anos de um estudo de rastreamento de doenças cardiovasculares

Foi feito um estudo randomizado com rastreamento de doenças cardiovasculares na população de homens da Dinamarca. O objetivo do estudo era avaliar se haveria repercussão em mortalidade geral. Confira aqui.


Estudo compara altas doses com dose padrão da vacina contra influenza

Confira alguns resultados do estudo DANFLU-1, um novo desenho com o intuito de comparar altas doses com dose padrão da vacina contra influenza. Veja mais.


Comparadas estratégias restritiva e liberal em oxigenioterapia e pressão arterial no contexto pós PCR

Ter como meta uma PA maior no contexto pós PCR não se traduz em redução de risco de morte ou disfunção neurológica grave. Foi o que avaliou o estudo BOX. Saiba mais.


Tratamento medicamentoso e ICP para DAC e inovações tecnológicas na ECO

Conheça as novidades científicas apresentadas no ESC 2022 sobre os trials: REVIVED-BCIS2, ALL-HEART e EchoNet-RCT. Confira aqui.


Inibidores de SGLT2 – os novos caminhos para tratar Insuficiência Cardíaca

Conheça as novidades apresentadas no ESC 2022 para o trial DELIVER e as metanálises DELIVER+DAPA-HF e DELIVER+EPEROR-Preserved. Leia mais.


Estudo INVICTUS compara uso de rivaroxabana e antagonista de vitamina K para doença valvar reumática

Os resultados desse estudo surpreenderam pesquisadores durante a apresentação no congresso da European Society of Cardiology. To dos os pacientes analisados tinham estenose mitral. Leia a matéria.


Qual a relação dose-resposta do milvexian em pacientes com AVC isquêmico ou AIT?

O estudo AXIOMATIC SSP testou a medicação milvexian em pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) ou acidente isquêmico transitório (AIT) para chegar ao melhor tempo de resposta de diferentes dosagens. Veja os resultados.


Qual a melhor dosagem de asundexian no pós-infarto agudo do miocárdio?

Medicação tem potencial de reduzir eventos isquêmicos no pós-IAM sem impactar em sangramento. Estudo PACIFIC AMI então analisou três dosagens diferentes pelo período de seis a 12 meses. Confira os resultados apresentados.






Autor: pebmed
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 27/08/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/esc-2022-confira-a-cobertura-completa-do-congresso-da-european-society-of-cardiology/

ESC 2022: Inibidores de SGLT2 – os novos caminhos para tratar Insuficiência Cardíaca

A PEBMED, com apoio da Pfizer, trará conteúdos exclusivos sobre o European Society of Cardiology (ESC) 2022, que acontece de 26 a 29 de agosto, em Barcelona. Confira agora as novidades do trial DELIVER, que foram apresentadas hoje, no segundo dia do ESC 2022:




A insuficiência cardíaca (IC) afeta aproximadamente 64 milhões de pessoas no mundo, sendo cerca de 55% pacientes com fração de ejeção preservada (ICFEP, FEVE > ou = 50%). Este grupo de pacientes apresenta, também, desfechos clínicos ruins e tem pouquíssimas opções terapêuticas até o momento. Os guidelines atuais recomendam os inibidores de SGLT2 apenas para IC de fração de ejeção reduzida (ICFER, FEVE < ou = 40%).

Acompanhe a cobertura completa do ESC 2022


Trial DELIVER

Nesse contexto, os trial DELIVER, publicado hoje no New England Journal of Medicine, buscou avaliar a dapaglifozina para pacientes hospitalizados e recentemente hospitalizados por IC com FEVE > 40%. 6263 pacientes >= 40 anos, em classe funcional NYHA II-IV com FEVE > 40% (incluindo aqueles com FEVE remodelada/revertida) foram randomizados, para receber dapaglifozina 10 mg/dia ou placebo com seguimento médio de 2,3 anos. O desfecho primário foi morte cardiovascular ou piora da IC. Desfechos secundários foram morte cardiovascular, complicações da IC, qualidade de vida, morte cardiovascular e morte por todas as causas.

O resultado foi “delivered”, como os cientistas disseram no ESC 2022. Houve redução do desfecho primário de 12% (HR 0,82 [IC95% 0,73- 0,92, p < 0,0008, NNT 32). Os desfechos secundários também tiveram redução, especialmente qualidade de vida IR 2,4 [IC95% 1,5-3,4, p < 0,001). Efeitos adversos como desidratação, cetoacidose diabética, disfunção renal ou descontinuação da droga foram similares entre grupo controle e placebo para pacientes recentemente hospitalizados.


ESC 2022: Tratamento medicamentoso e ICP para DAC e inovações tecnológicas na ECO


Metanálise DELIVER+DAPA-HF

A metanálise Deliver + DAPA-HF, também publicada hoje na revista Nature Medicine, seguiu avaliando o impacto da dapaglifozina junto ao estudo DAPA-HF, que randomizou 4.744 pacientes com ICFER também para receber dapaglifozina 10 mg/dia ou placebo com seguimento medio de 22 meses, tendo um pool de mais de 11.000 pacientes com IC. Os desfechos pré-especificados foram: morte cardiovascular, morte por todas as causas, hospitalização por IC e MACE (morte cardiovascular, IAM, AVC). Houve redução de 14% de morte cardiovascular (HR 0,86 [95% CI 0.76-0,97], p 0,01), 29% de hospitalizações por IC (HR 0,71 [95% CI 0.65-0,78], p <0,001), 10% de morte, infarto agudo e AVC (HR 0,9 [95% CI 0,81-1,0], p 0,045).

Veja os highlights do primeiro dia do ESC 2022


Metanálise DELIVER+EPEROR-Preserved

Na mesma linha de investigação, a metanálise DELIVER + EMPEROR-Preserved, usou o trial EMPEROR-Preserved, publicado no New England Journal of Medicine e no ESC 2021, para avaliar o impacto tanto da dapa quanto da empaglifozina em pacientes com ICFEP.


Relembrando o EMPEROR-Preserved, um ensaio clínico, multicêntrico, duplo-cego que envolveu quase 6.000 pacientes > = 18 anos, em classe funcional NYHA II-IV, FEVE > 40% e NT-proBNP > = 300 pg (> = 900 pg em portadores de fibrilação atrial) que foram randomizados para receber empaglifozina 10 mg ou placebo. O desfecho primário foi morte cardiovascular ou hospitalização por IC. Desfechos secundários incluíram hospitalização por IC e taxa de declínio da filtração glomerular. O desfecho primário ocorreu em 415 (13.8%) vs 511 (17.1%), ou seja, 6.9 vs 8.7 eventos por 100 pacientes-ano (risco relativo de 0.79; 0.69 – 0.90 com P < 0.001) comparando-se empaglifozina com placebo, respectivamente. A hospitalização por IC foi 8.6 vs 11.8% com significância estatística (P < 0,001), já morte cardiovascular foi 7.3% vs 8.2% sem significância estatística.


Relembre os resultados do EMPEROR-Preserved apresentados no ESC 2021


Com a metanálise DELIVER+EMPEROR-Preserved foi possível avaliar mais de 12.000 pacientes com FEVE > 40% usando dois ISGLT2 diferentes, com desfecho primário também sendo morte cardiovascular e hospitalização por IC. O resultado foi redução de 20% do desfecho primário (HR 0,8 [IC95% 0,73-0,87], p<0,0001), não havendo diferenças estatísticas nos diversos subgrupos de idade, diabetes, sexos, FEVEs, função renal, etc.


Além disso, na metanálise com 5 estudos (DAPA-HF, DELIVER, EMPEROR-preserved, EMPEROR-Reduced e SOLOIST-WHT) houve redução de 23% do desfecho primário (IR 0,77 [IC95% 0,72-0,82, p <0,0001), 28% de hospitalizações por IC, p <0,0001) e redução de 13% de mortes cardiovasculares (IR 0,87 [IC95% 0,79-0,95, p <0,002).


Dessa forma, ficou evidente que os inibidores de SGLT2 têm impacto em reduzir desfechos clínicos cardiovasculares para todos os pacientes com IC (ICFER ou ICFEP), desde que não tenham contraindicação da classe de droga.






Autor: Sara Del Vecchio Ziotti
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 27/08/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/esc-2022-inibidores-de-sglt2-os-novos-caminhos-para-tratar-insuficiencia-cardiaca/

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Livro desvenda as relações do mercado de alimentos sob a ótica dos direitos humanos

Há décadas pesquisadores, ambientalistas, jornalistas - dentre outras categorias – e, mais recentemente, a sociedade como um todo vêm estudando e questionando o uso indiscriminado de defensivos agrícolas no País. A simples busca do termo ‘uso de pesticidas no Brasil’ na internet resulta em mais de 1,9 milhão de citações. Mas olhar essa prática pelo viés dos direitos humanos é novidade. Esse é o conteúdo do livro “O que está por trás do que comemos? O mercado de alimentos sob a ótica dos direitos humanos”, que será lançado pela Appris Editora, dia 17 de agosto, às 19h, na Livraria da Travessa (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Store 205 A - Leblon). A obra é baseada na tese de doutorado da pesquisadora Ana Luiza da Gama e Souza, sob orientação da professora Leticia Veloso, do Programa de Mestrado e Doutorado em Sistemas de Gestão Sustentáveis da Universidade Federal Fluminense (PPSIG/UFF).

Doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Sociologia e Direito pela UFF, a Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, coordena o Observatório de Direitos Humanos, que integra a Rede de Pesquisa em Direitos Humanos, Paz, Inseguranças, Sustentabilidade e Atores Globais. Aninha, como é carinhosamente tratada pelos amigos, também integra a Global Business and Human Rights Scholars Association, da Research Data Alliance, e o Instituto Nacional de Pesquisa e Promoção em Direitos Humanos. (INPPDH).

Mas como tratar do tema alimentação sob a ótica dos direitos humanos? Adepta da alimentação saudável e curiosa sobre a origem dos produtos que consome, Ana explica que só descobriu a ferramenta que poderia dar suporte à sua pesquisa em seu segundo doutorado. A Sociologia Econômica permite realizar uma ‘radiografia’ empírica do mercado de insumos agrícolas, avaliando suas práticas por meio das ciências sociais, uma abordagem pouco difundida no Brasil. “Consegui observar o mercado empiricamente a partir da prática dos atores”, explica Ana. Na opinião da orientadora Leticia Veloso, ao assinar a apresentação do livro, “ao tratar essa questão, a autora não o faz em termos daquilo que comemos ou dos modos de se alimentar, mas de como a maioria dos alimentos são hoje produzidos (...) e desenrola a complicada trama de relações, mercados e esco­lhas políticas que geram o que a autora aptamente denomina de violações de direitos humanos”.

Segundo Ana, sua pesquisa interdisciplinar em direitos humanos e empresas, com foco no mercado de alimentos, constatou que uso de pesticidas no Brasil vem aumentando, nas últimas décadas, causando um número considerável de doenças e até mesmo óbitos, além da contaminação persistente do meio ambiente. Ela acredita que tal prática está por trás das graves violações dos direitos humanos no Brasil, em especial ao direito à saúde, à alimentação e à sustentabilidade ambiental, que decorrem da utilização de pesticidas na agricultura.

“Considero tais práticas apenas como ações e estra­tégias dos atores, independentemente de suas razões políticas, para que não haja qualquer sentido ideológico”, esclarece a autora. Enquanto conceitos como o de ‘capitalismo’, entre outros, são utilizados como alusão aos arranjos econômicos pós-industrialização, um juízo minimamente crítico a respeito de algumas dessas práticas ou de um conjunto delas, de viés moral e ético, pode ser conferido no último capítulo. “Partimos do conceito sociológico de campo econômico para compreender as mudanças nas práticas de agricultura e as dinâmicas de poder intrinca­das e imbricadas dos atores no mercado de alimentos que possibilitaram o entrelaçamento de alimentos com as biotecnologias e a química”, explica a socióloga.


Combate à erva daninha em lavoura de trigo é uma das práticas que afetam a saúde das pessoas e o meio ambiente (Foto: Erich Westendarp/Pixabay)

Em um mercado que ela denomina agro-bioquímico-tecnológico ali­mentar, existe um acordo entre as indústrias de fertilizantes e defensivos químicos e as empresas produtoras de sementes e que se dedicam à biotecnologia para agregar melhoramento ou modificações genéticas que alterem as características em plantas. No capítulo 1, Ana discorre sobre as práticas agrícolas, desde a domesticação até a produção de sementes híbridas, um processo de aprimoramento genético que agrega caraterísticas desejáveis de sabor, coloração, e resistência à pragas, mas que inviabiliza seu replantio. Segundo a pesquisadora, a tecnologia de modificação genética pela inserção da bactéria Bt nas sementes de plantas foi uma inovação fundamental para a integração entre o setor de sementes e químico, por permitir que a planta seja geneticamente resistente a pesticidas, como o glifosato. “Não fosse por essa modificação genética, a utilização do glifosato mataria toda a lavoura”, esclarece Ana.

No capítulo 2, a pesquisadora trata das transformações econômicas, ainda no século XX, que possibilitaram a emergência das multinacionais, via globalização, a fragmentação dos mercados e sua nova configuração, que se espalha mundialmente em redes de produção que dificultam a exigência de responsabilização e governança. “Embora a responsabilidade social corporativa seja um horizonte ético de governança nas cadeias globais, a pouca rastreabilidade dos nós dessas cadeias dificulta ou impossibilita a prestação de contas sobre danos que advenham de suas atividades”, afirma Ana.

O capítulo 3 examina o processo ao longo de décadas que foi configurando o mercado de forma a facilitar a concentração dos alimentos nas mãos de poucos, e suas consequências como estratégia de poder no ambiente e na vida humana. Mostra que a concen­tração de poder nesse campo possibilita o aumento de influência política, em âmbitos nacionais e internacionais, assim como as tomadas de decisão em âmbito local, como o afrouxamento de padrões restritivos de pesticidas. As fusões posteriores ao surgimento das multinacionais, especificamente a fusão do setor de alimentos ao químico, integraram a tecnologia como dinâmica de poder, visto que o campo agro-bioquímico-alimentar possui controle sobre si mesmo e exerce poder sobre as empresas que estão sobre seu controle, via biotecnologia e financeirização privada.

O último capítulo aborda o desdobramento dos capítulos anteriores em termos de saúde e direitos humanos. “Sendo o Brasil um dos maiores países em agronegócios, a diversidade pro­dutiva é atraente ao mercado internacional, e tal atrativo incentiva o uso de tecnologia para a produção com pesticidas”, diz a socióloga. Segundo ela, com a atual desregulamentação brasileira do controle de pesticidas, os níveis de exposição e toxicidade por esses aditivos aumentaram velozmente, produzindo efeitos severos à saúde, incluindo doenças oncológicas e óbitos. Ela destaca o fato de que embora a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenham desenvolvido códigos de conduta para distribuição de pesticidas, entre outras recomendações e convenções sobre segurança alimentar, o monitoramento do cumprimento de tais obrigações depende, entre outros fatores, de indicadores eficientes dos padrões de toxicidade das substâncias químicas, cujo desacordo deixa em aberto o risco à saúde.


Ana Luiza da Gama e Souza acredita que o importante é o mapeamento das boas práticas
(Foto: Arquivo pessoal)

Ana acredita que o mais importante é o mapeamento das boas práticas, objeto de estudo que desenvolve paralelamente na busca por contribuições de empresas para garantir os direitos humanos. Como exemplos de boas práticas, Ana cita o sistema agroflorestal de cultivo; o controle biológico de pragas, que vem sendo adotado inclusive em grandes lavouras; e o próprio esforço da Ciência e startups em desenvolver práticas alternativas para a agricultura. A pesquisadora acredita que cada vez mais é preciso estimular o Estado e as organizações da sociedade civil a criarem leis que regulem o mercado. Há ainda o desafio da regulação de empresas globais, que, embora sejam encorajadas a desenvolverem iniciativas, em termos de direitos humanos, como práticas corporativas que agregam valor às suas marcas, também são levadas a se responsabilizarem, em termos jurídicos, pelos danos que promovem. O aspecto jurídico dessa questão é tão importante que será o foco do próximo livro da pesquisadora. Nele, Ana espera debruçar sobre os Princípios de Ruggie (Princípios Orientadores das Nações Unidas idealizados para guiar a prática das empresas segundo as normas básicas de respeito e garantia dos direitos humanos no ambiente empresarial, sob os pilares de ‘proteger, respeitar e reparar’) para defender a ampliação da responsabilidade pública no cumprimento de direitos diante do poder crescente do mercado agro-bioquímico-tecnológico alimentar.




Autor: Paula Guatimosim
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 12/08/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=161.7.7

Pesquisa na UFF revela importância da Biblioteca Nacional na reconstrução do bicentenário da Independência

Contemplado no edital Apoio a Projetos no Âmbito do Bicentenário da Independência do Brasil, da FAPERJ, o projeto “A Biblioteca Nacional e a Construção do Brasil: 200 Anos da Independência Feita entre Documentos e Símbolos” busca compreender a atuação da Biblioteca Nacional na construção do imaginário nacional brasileiro desde a Independência do País. No dia 7 de setembro próximo, o País comemora o Bicentenário da Independência.

O professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação e do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense (PPGCI/UFF), Carlos Henrique Juvêncio, tem uma relação estreita com a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), onde iniciou como estagiário, permaneceu por seis anos e baseou toda a sua formação. Tanto seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) quanto sua dissertação de mestrado e tese de doutorado em Ciência da Informação na Universidade de Brasília (UnB) foram sobre ou usando informações da Biblioteca Nacional.

Apesar da familiaridade com esse acervo – estimado em mais de nove milhões de itens –, Carlos Henrique Juvêncio precisava eleger objetos de estudo que pudessem reconstruir os 200 anos passados desde a Independência do Brasil. Seus estudos em Bibliografia o levaram a eleger os Anais da Biblioteca Nacional como uma das fontes de pesquisa, cujas primeiras edições surgem com as ideias republicanas.

Outra fonte de pesquisa são os ricos patrimônios documentais e símbolos nacionais (semióforos) das exposições realizadas pela instituição em efemérides, as quais auxiliaram na construção do ideário nacional. Uma das mais importantes e até hoje um dos documentos mais consultados da biblioteca, é o Catálogo da Exposição de História do Brasil, de 1881, que reúne toda a iconografia e bibliografia existentes sobre o país, em quase quatro séculos de história, no acervo da Biblioteca Nacional. Com mais de 1.700 páginas, o catálogo da exposição, impresso em três grossos volumes, é composto pelo registro de 20.337 itens, entre obras avulsas, dossiês, coleções e outros conjuntos documentais. Outras mostras compiladas são a Exposição de 1908, em comemoração ao centenário da abertura dos portos brasileiros e da chegada da Família Real ao Brasil, que inclui obras de Camões; do Centenário da Independência, em 1922; e dos 500 anos do Descobrimento, em 2000.


Carlos Henrique: a documentação da Biblioteca Nacional foi usada para a delimitação das fronteiras do Brasil (Foto: arquivo pessoal)

Por fim, em uma dimensão maior e de interesse mundial, a pesquisa elegeu os conjuntos documentais reconhecidos como legado e ‘memória do mundo’ pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Fortemente atrelados à ideia de construção nacional e à memória mundial, os acervos escolhidos incluem desde Documentos da Guerra do Paraguai à herança imperial, contada por meio da Coleção do Imperador Pedro II, chamada Teresa Cristina Maria, ao Arquivo de Lima Barreto, escritor negro autor de “Triste fim de Policarpo Quaresma” e observador e crítico ferrenho da aristocracia e das desigualdades sociais. Além disso, pontua Carlos Henrique, “Uma das curiosidades que observamos é de como a documentação geral do acervo da Biblioteca Nacional foi usada para a delimitação das fronteiras do Brasil, no início do século XX, sendo muito utilizada pelo Barão do Rio Branco”.

O doutor em Ciência da Informação espera que essa pesquisa bibliográfico-documental ajude a afirmar que a Biblioteca Nacional não é apenas uma fonte de informação, mas partícipe ativa na estruturação de narrativas da memória nacional, sendo um meio para sua construção e manutenção, sobretudo a partir da sua compreensão como um lugar de memória. Para o pesquisador, é necessário explorar o papel das bibliotecas nacionais na concepção dos estados-nação, identificando a sua missão e relação com a construção da memória nacional, observando, inclusive, o seu aspecto arquitetônico como algo importante no imaginário nacional, como pode ser visto nesta coleção de fotos históricas.

A fim de preencher a lacuna de uma obra sobre a Biblioteca Nacional “a casa da documentação brasileira, o semióforo nacional” a pesquisa de Juvêncio se desdobrará na publicação de artigos e um livro. Ele, que também recebe apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas por meio do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, também destaca a importância do lançamento de editais específicos por parte da Fundação, que, em sua opinião, ampliam a inclusão de uma parcela de pesquisadores que não têm acesso às chamadas regulares.




Autor: Paula Guatimosim
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 18/08/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=157.7.8

Entrevista: Clarissa Damaso traça um panorama sobre o surto de monkeypox

Diante do surto de monkeypox – termo mais adequado que "varíola dos macacos" e recomendado pelas autoridades sanitárias –, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de emergência de saúde pública de importância internacional, em anúncio feito no último dia 23 de julho. No momento, são 35.621 casos confirmados em 92 países. O Brasil tem 2.893 mil casos confirmados da varíola dos macacos, em 22 estados, de acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados nesta terça-feira, 16 de agosto. O estado de São Paulo concentra o maior número de casos (2.019), seguido por Rio de Janeiro (342) e Minas Gerais (133). A virologista Clarissa Damaso, uma das maiores referências do País em pesquisas sobre varíola, fala sobre a evolução histórica da doença e as formas de transmissão, tratamento e prevenção disponíveis. Ela, que desenvolve seus estudos com apoio da FAPERJ, por meio do programa Cientista do Nosso Estado (CNE), é pesquisadora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ), onde chefia o Laboratório de Biologia Molecular de Vírus. Clarissa é ainda a única representante do Brasil, entre homens e mulheres, a integrar o Comitê Assessor da Organização Mundial da Saúde para Pesquisa com o Vírus da Varíola (ACVVR/OMS).



Clarissa Damaso: única pesquisadora brasileira que integra o Comitê Assessor da OMS para Pesquisa com Vírus da Varíola destaca a importância de investimentos contínuos em Ciência para ações emergenciais de combate a doenças, como monkeypox (Foto: Divulgação/UFRJ)

Doença causada pelo vírus monkeypox, ela é transmitida por meio do contato pessoal e direto com secreções respiratórias, lesões de pele de pessoas infectadas ou objetos contaminados. Por isso, trabalhadores da saúde, membros da família, parceiros e parceiras têm maior risco de contágio. Seus sintomas, que duram entre duas e quatro semanas, são lesões na pele, febre súbita, forte e intensa dor de cabeça, náusea, exaustão, cansaço e o aparecimento de gânglios na região do pescoço (adenomegalia). Entre as ações do Ministério da Saúde para conter o surto, está o fortalecimento da rede de diagnósticos do Brasil, para processamento e análise das amostras. Atualmente, oito laboratórios estão estruturados para fazer a testagem, sendo: quatro Laboratórios de Referência Nacional – Fiocruz RJ, Fiocruz AM, UFRJ e Instituto Evandro Chagas (IEC) – e quatro Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) em Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul.

No Rio de Janeiro, a diretoria da FAPERJ discute a elaboração de um edital emergencial, para fomentar redes de pesquisas que possam somar esforços no combate à propagação da doença. O objetivo é apoiar pesquisas em rede que possam contribuir com soluções para os casos de varíola dos macacos, como por exemplo diagnósticos mais baratos e mais rápidos e estudos sobre os mecanismos de transmissão da doença. Para isso, a estrutura de redes de pesquisa já apoiadas pela FAPERJ também está sendo aproveitada, por meio de diversos editais, que já se debruçam sobre o estudo de doenças negligenciadas, emergentes e infecciosas, para que se concentrem também em estudos para o combate à varíola dos macacos.

Clarissa Damaso: É uma doença viral, causada pelo vírus monkeypox, que foi detectada pela primeira vez em 1958, em macacos usados para pesquisa em um laboratório na Dinamarca. Em seguida ocorreram casos em outras colônias de roedores nos Estados Unidos na década de 1960. O nome da doença vem daí. Mas o primeiro caso de monkeypox encontrado em humanos veio a ser detectado em 1970, em crianças na República Democrática do Congo, na África. Nas décadas de 1980 e 1990, o número de casos veio subindo lentamente, mas como eles só ocorriam na África não havia estatísticas certeiras e infelizmente a doença foi negligenciada pela indústria farmacêutica. Certamente havia casos na África subnotificados, pois clinicamente ela é uma doença semelhante à varíola normal, causada por outro vírus, o vírus da varíola. Até o diagnóstico clínico era confuso. Em 2003 houve o primeiro surto em humanos fora do continente africano. Foi um surto em 11 estados americanos causados pelo vírus monkeypox encontrado em roedores importados da África, vendidos em petshop no Texas, que deixou cerca de 50 pessoas infectadas e durou cerca de um ano. A partir daí tivemos casos esporádicos no mundo associados à viagem para a África, mas nunca houve um surto maior de transmissão secundária, ou seja, de uma pessoa para outra, de forma tão contínua quanto presenciamos agora.

Qual o reflexo do fim da vacinação contra a varíola comum para a prevenção do atual surto de varíola dos macacos?

Havia campanhas internacionais de vacinação contra a varíola comum até meados dos anos 1970, quando essa doença foi erradicada em todo o mundo. Cabe destacar que a varíola foi a única doença até hoje erradicada internacionalmente graças à vacinação. No Brasil, até 1979 ainda existia disponibilidade de vacina antivariólica. O que sabemos é que a vacinação contra a varíola comum também funcionava e funciona, consequentemente, para a prevenção do monkeypox, por serem os vírus causadores de ambas as doenças pertencentes ao mesmo gênero. A vacina contra a varíola oferece proteção cruzada contra outros vírus do gênero Orthopoxvirus. O grande desafio é que, como a varíola comum foi erradicada internacionalmente, não temos mais em nenhum país vacinas disponíveis em escala industrial para aplicarmos no atual surto de monkeypox. Só os países que possuem programas estratégicos em biodefesa contra varíola, como Estados Unidos e Rússia, entre outros, têm essas vacinas armazenadas, mas com poucas doses, apenas para uso como estoques estratégicos em programas de biodefesa. Eles só podem desenvolver pesquisas com o vírus da varíola controladas pelo Comitê Assessor da Organização Mundial da Saúde para Pesquisa com o Vírus da Varíola (ACVVR/OMS), do qual eu faço parte. O Comitê tem que aprovar as pesquisas, se fazem sentido, se é preciso mesmo utilizar o vírus e controla o número de estoques de vírus da varíola, para não correr o risco dessa doença já erradicada voltar e se espalhar. Cerca de 30 pesquisadores no mundo integram o Comitê, e eu participo deste trabalho desde 2009. No caso da varíola dos macacos, o laboratório dinamarquês Bavarian Nordic tem recebido muitas encomendas internacionais, pois é o único que fabrica uma vacina já aprovada contra a varíola dos macacos. De qualquer forma, a capacidade dos laboratórios para suprir o abastecimento de vacinas em escala global vai demorar.

Nesse cenário, qual a melhor forma de evitar o contágio da doença?

A principal forma de proteção ainda é evitar contato direto com pessoas infectadas. Lembrando que a principal forma de transmissão ocorre através do contato pele a pele com as lesões, pessoal, ou através do contato com objetos pessoais de um paciente que está infectado com monkeypox.

Quais as formas de tratamento contra a varíola dos macacos?

O tratamento é realizado com antivirais, baseado no controle dos sintomas, ou seja, de acordo com os desconfortos que o paciente pode apresentar, como febre, dor e coceira nas lesões. Os sintomas costumam desaparecer após três ou quatro semanas. O alerta é para gestantes, crianças e pacientes imunossuprimidos, como pessoas com HIV, em tratamento de câncer ou quem passou por um transplante. De qualquer forma, é necessário isolamento obrigatório para conter a disseminação do vírus. Segundo a OMS, o tempo médio de incubação da doença é de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias. Apenas após as lesões cicatrizarem e a avaliação clínica de profissionais de saúde é que a pessoa está liberada para retomar as atividades e interações.

Qual o principal enfoque do seu grupo de pesquisa, no Laboratório de Biologia Molecular de Vírus, no IBCCF/UFRJ?

Nós estudamos a diversidade genotípica dos vírus da família Poxviridae brasileiros, isolados de animais, e a diversidade dos genomas das vacinas antivariólicas antigas, históricas. Interessante destacar que a primeira vacina desenvolvida na História da Ciência foi a vacina contra a varíola, em 1796, na Inglaterra, por Edward Jenner (1749-1823). Nessa época, a doença matava cerca de 400 mil pessoas por ano. Depois os pesquisadores passaram a desenvolver a vacina viva, que era administrada intradermicamente, e continha o vírus Vaccinia. Daí a origem da palavra vacina. No Laboratório de Biologia Molecular de Vírus, sequenciamos vacinas encontradas em acervos de museus de ciência, de vários locais, e em coleções particulares, as sequenciamos e analisamos. Boa parte das vacinas antigas que sequenciamos foram feitas com horsepox, outro vírus, da mesma família, já extinto hoje. Essa expertise que adquirimos com todos esses estudos sobre essa família de vírus atualmente vem sendo empregado para ajudar no diagnóstico da monkeypox, conforme requisitado pelo Ministério da Saúde. A UFRJ está participando intensamente da testagem e diagnóstico da doença. Minha experiência no Comitê de diagnóstico para monkeypox da OMS também foi muito útil para a elaboração de um protocolo para a coleta do material em pacientes com casos suspeitos.

A FAPERJ autorizou o uso de recursos já destinados para grupos de pesquisa para estudos sobre a varíola dos macacos e planeja o lançamento de um edital de fomento específico para a doença. Como o estado do Rio de Janeiro está se preparando para contornar a propagação da doença?

Vejo esse lançamento de edital com muitos bons olhos, pois não sabemos o quanto precisamos investir em pesquisa, o que virá. Se há investimento, é possível formar pessoas com conhecimento específico dentro de um tema. Nunca imaginamos que monkeypox seria um tema preocupante no Brasil. Se hoje temos um grupo de pesquisa apto a ajudar, isso é fruto do conhecimento de pessoas que receberam ao longo dos anos fomento às suas pesquisas. Tenho recebido auxílio da FAPERJ, sou Cientista do Nosso Estado desde 2013 e pesquisadora Nível 1-C do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A boa ciência se faz com investimentos em recursos humanos.







Autor: Débora Motta
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 18/08/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=166.7.9#topo