segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Tatuís e Maria-Farinha como modelos para medir impacto provocado por seres humanos em praias

Pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) em parceria com cientistas do México, Itália, África do Sul e do Uruguai têm procurado estabelecer uma correlação entre causas e efeitos provocados por distúrbios humanos sobre animais que habitam praias.

Os efeitos das atividades humanas são cada vez mais evidentes nas praias, que experimentam intensa atividade turística e recreativa. O uso excessivo e a superexploração dos recursos naturais podem colapsar as características que atraem as pessoas para esses locais. É o chamado “paradoxo do turismo ambiental”.

O pesquisador Leonardo Lopes Costa, da Uenf e apoiado pela FAPERJ, explica que as praias estão entre os ativos naturais mais importantes para fins recreativos. Em virtude desse valioso potencial turístico e de recreação, as praias também sofrem e muito com os estressores humanos. Segundo ele, hoje sabe-se que as praias acabam sofrendo um triplo golpe: uso excessivo, urbanização e mudanças climáticas.

Costa conta que uma forma eficiente de estudar os estressores humanos em praias é a partir do monitoramento da vida costeira, incluindo animais que habitam as areias. Para determinar o impacto humano sobre as espécies costeiras, Leonardo e seus parceiros nacionais e estrangeiros têm estudado crustáceos como a maria-farinha, os tatuís, e outros.

Para medir esses estressores na ecologia das praias, Costa e pesquisadores da Universidade Autônoma do México e da Universidade Federal Fluminense resolveram, por exemplo, estudar mais a fundo as mudanças nas populações e no comportamento da maria-farinha. As análises focaram nas tocas desses caranguejos medidas em praias de todo o mundo. Os resultados deste estudo foram publicados, neste ano, na revista científica Hydrobiologia.


Coleta de sedimento para triagem de invertebrados bentônicos e posterior análise de microplasticos em seus tecidos (Foto: Divulgação/Uenf)

Foram estudados o diâmetro da abertura de tocas de 78 praias globalmente e mais de 1.100 caranguejos coletados em praias brasileiras e mexicanas. Costa e a equipe perceberam que as praias com alta perturbação humana têm tocas com diâmetros menores.

"Quanto maior o número de estressores agindo nas praias, maiores são os efeitos negativos no diâmetro da toca. A condição corporal dos caranguejos fantasmas foi menor nas praias com alta perturbação no Brasil e no Caribe Mexicano. Este resultado desafia a hipótese, até então bem aceita, de que a maria-farinha é menor em praias perturbadas simplesmente porque os indivíduos morrem antes de atingir a idade adulta. Na verdade, os animais são menores nas praias perturbadas porque comem menos e investem menos no crescimento, já que gastam quase toda a sua energia para sobreviver", afirma Leonardo.

Outro trabalho publicado por Leonardo e colaboradores do Brasil, Uruguai, África do Sul e Itália demonstrou que a resposta desses crustáceos e de outras espécies aos impactos humanos depende do tipo de praia. Nas praias naturalmente mais severas, com ondas mais fortes, certos animais sofrem mais com o pisoteio, perda de habitat e tráfego de veículos na areia. Os autores acreditam na hipótese da severidade acumulada para explicar esse padrão.

"Um dos maiores desafios agora para os cientistas e gestores de praia é compreender as reais causas e consequências da perda da biodiversidade das praias para agir com medidas de mitigação realmente eficazes. Assim, evita-se a extinção de muitas espécies e a perda da qualidade dos ecossistemas costeiros", disse Leonardo.





Autor: Claudia Jurberg
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 28/07/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=155.7.5

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