sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Celeiro de inovação: programa Startup Rio exibe resultados no seu Demo Day

Evento realizado nesta terça-feira (25/09), no Centro de Convenções Sul América, reuniu dez das 39 startups contempladas pelo edital Startup Rio (http://startuprio.rj.gov.br) – um programa da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social (Sectids), desenvolvido em parceria com a FAPERJ. Após um período de um ano durante o qual receberam apoio para o desenvolvimento de seus projetos, elas tiveram a oportunidade de mostrar no palco do “Demo Day” – como são chamadas essas demonstrações – como transformaram suas ideias na área de Tecnologia Digital em produtos inovadores. Durante o dia, em programação paralela ao Rio Info, foi anunciada a prorrogação das inscrições para a edição 2019 do programa Startup Rio, que seriam encerradas nesta quinta-feira (27/09). O novo prazo para submissão de propostas vai até segunda (01/10).



Público lotou o auditório para acompanhar, no Demo Day, os pitches de 5 minutos das startups (Foto: Divulgação)


Para o subsecretário de Pesquisa, Ciência e Tecnologia da Sectids, Augusto C. Raupp, todo o espectro de atuação da Secretaria pode ser representado pelo programa Startup Rio, incluindo as ações das instituições vinculadas à Sectids. “Os insumos que alimentam o Startup Rio são alunos de universidades, de escolas técnicas e de ensino a distancia, além de cientistas, pesquisadores e pessoas que trabalham com desenvolvimento tecnológico, que recebem apoio da FAPERJ. Eles são spin off dessas iniciativas de política pública da Secretaria”, afirmou Raupp.

“Quando concebemos este programa em 2013, pensamos numa estratégia de governo que criasse alternativas para o desenvolvimento econômico e social fora da tradicional indústria de energia, predominante na economia do estado. Obviamente, fomos atropelados pela crise, e o que temos hoje é muito focado em tecnologias digitais, mas há outras áreas que pretendemos alcançar, mas não conseguimos desenvolver ainda por falta de capacidade de investimento da FAPERJ”, acrescentou. O subsecretário garantiu que o objetivo do Startup Rio é expandir seu apoio para outros segmentos com competências desenvolvidas e estocadas nas prateleiras das universidades. “O Startup Rio é muito mais que um programa, é um conceito de desenvolvimento econômico social. Espero que seja encarado assim para que transcenda o governo que termina este ano e seja um legado”, concluiu Raupp.

Ao agradecer a todos os colaboradores do programa, o assessor da Diretoria de Tecnologia da FAPERJ e coordenador do projeto Startup Rio, Marcos Neme, lembrou que o programa tem uma característica singular, pois parte de pessoas com ideias – e não de empresas já constituídas –, fazendo com que elas se transformem em empresas, numa velocidade crescente e em busca de resultados. “Acho que estamos conseguindo atingir a meta nesta fase final, apresentando startups que estão com um ótimo nível”, disse Neme. Segundo ele, o foco do Startup Rio é o público mais jovem, criativo e empreendedor. Ele lembrou que até mesmo o tema do Rio Info deste ano é a transformação digital. “Estamos passando para a vida da era digital. O papel das startups é trabalhar nessa transformação e o nosso papel é favorecer para que isso aconteça o mais rápido possível, no nosso país, no nosso estado”, afirmou.

O Programa Startup Rio é resultado de um acordo de cooperação entre a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social (Sectids), a FAPERJ, a Sociedade Núcleo de Apoio à Produção e Exportação de Software do Rio de Janeiro (Riosoft) e a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-RJ), com colaboração de parceiros como o Sebrae e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), entre outros. E o Demo Day é o evento de finalização desse apoio, a apresentação desse resultado prático.

Em um clima festivo e acelerado, bastante propício ao networking, dez startups tiveram cinco minutos cada para apresentarem seus Pitchs, a fim de conquistarem clientes e investidores de diferentes modalidades, como investidor-anjo, venture capital, private equity e capital semente para seus negócios crescerem. É uma oportunidade para os fundadores das startups se mostrarem ao ecossistema, conhecer e conversar com investidores, que decidirão se têm interesse em investir nos negócios desenvolvidos.

O Cyberlabs foi a primeira startup a apresentar o Insight, “a maneira mais inteligente de conhecer sua audiência”. O aplicativo é um aferidor de resultados de mídia externa, como os totens instalados nos relógios/termômetros de rua. Para a maioria dos segmentos do mercado publicitário, saber as informações sobre os clientes é fundamental. Perguntas como quem, em qual horário, como o produto foi acessado é ainda uma carência para anunciantes de mídia externa, um mercado que movimenta US$ 28 bilhões no mundo e representa 6% da publicidade mundial. Segundo estudos do setor, essa fatia poderia ser de 12%, mas o problema é que a mídia externa ainda não entrega métricas confiáveis, passível de aferição, principalmente se comparada à concorrência, em especial as redes sociais e a web em geral. A plataforma Insight resolve este problema, pois é online e consegue mensurar tudo relacionado ao público: atenção, audiência, faixa etária, fluxo e reação do público. Desenvolvido por uma equipe de 20 pessoas, o Insight utiliza a visão computacional, uma câmera que registra as informações: quantas pessoas, idade, gênero, emoção e tempo de atenção na tela, por exemplo, gerando relatório de gráficos detalhados. Sua acessibilidade é imensa, pois qualquer celular e até câmeras de segurança podem fazer essa leitura com o app. A tecnologia desenvolvida é escalável, com módulos independentes para cada necessidade de informação do cliente, que paga apenas pelo que lhe interessar. A plataforma está totalmente disponível na nuvem, sem custo de hardware nem de instalação. Segundo o diretor executivo da Cyberlabs, Oscar Evangelista, a empresa está em negociações avançadas com duas das maiores exibidoras de mídia exterior do Brasil, além de ser parceira em inteligência artificial de três dos maiores fornecedores de tecnologia do mundo (Intel, NVidia e IBM) e de dois provedores de nuvem muito confiáveis (Paperspace e Amazon). Eles oferecem um teste grátis pelo link: https://insight.cyberlabs.ai.

Em outra apresentação, a Nextale mostrou que a experiência literária pode ser imersiva na palma da mão. Segundo Priscila Mana Vaz, a evolução no século XXI, totalmente digital, mudou a forma de as pessoas assistirem TV (Netflix) e sua relação com a música (Spotify). “Mas no mercado editorial nada mudou e as soluções oferecidas não são revolucionárias, pois o PDF é uma imagem, um livro impresso digitalizado e disponível na tela, mas estático”, explicou. O Nexbook, por sua vez, é uma experiência literária, verdadeiramente digital e imersiva. No exemplo projetado no telão, por trás do texto, o livro tem imagens dinâmicas, trilha sonora e efeitos especiais de som. Para driblar a concorrência das editoras, a Nextale foca no público jovem, de 14 a 24 anos, que representa 24 milhões de leitores no Brasil e movimenta R$ 1,5 bilhão/ano. “Nosso modelo é a venda unitária de livros no aplicativo, mas queremos migrar para um modelo de assinatura”, conta Priscila. Segundo ela, em agosto de 2017 o Nexbook era só uma ideia e após um ano fizeram o lançamento do app com três livros na loja. Sua equipe venceu um edital do Senai para desenvolver a plataforma, mas decidiu focar na elaboração dos livros. Até abril próximo, procura empresas que queiram investir, via Lei Rouanet, na expansão do catálogo. “Nossa meta é chegar em 2020 com 100 livros no catálogo, faturamento de R$ 100 mil mensais e 8.000 assinantes”, informou a jovem empreendedora.

Já Henrique Freitas, executivo de comunicação da Rolé Digital, que também passou pelo palco do Demo Day, apresentou um produto para quem gosta de viajar e compartilhar suas experiências. Segundo ele, o app responde a pergunta que todo viajante faz: “O que tem de bom para fazer lá?”. Em sua opinião, no mercado milionário do turismo, os guias de viagens, revistas, agências, sites, blogs etc. envelheceram diante da realidade atual, totalmente mobile (on line, on time, full time). Ele sentiu essa mudança do mercado na pele, pois é o idealizador do Rolé Carioca, projeto que promove passeios a pé por diversos bairros do Rio. Apesar de contar com mais de 300 pontos de interesse turístico, mapeados por professores de história, humanismo, arquitetura e turismo, e de já ter levado mais de 12 mil pessoas para passear em seis anos de existência, o Rolé Carioca acontece apenas uma vez por mês, deixando de atender milhares de pessoas.

Assim foi concebido o Rolé Digital, que, pelo celular, guia as pessoas pela cidade por meio de mapas interativos e áudio, disponibilizando no mundo mobile toda a experiência da empresa, mas com total autonomia do usuário. “É uma rede social para quem ama viajar, que incentiva a criação e o compartilhamento de roteiros personalizados, feitos pelos próprios usuários”, explica Freitas. É possível customizar roteiros por áreas de interesse. O modelo de negócio é freemium, no qual os usuários podem navegar pelos pontos avulsos, mas pagam uma taxa para terem acesso a todos os benefícios da plataforma, como os modelos prontos e a customização. Esta solução completa e simples de usar, antes mesmo de seu lançamento já conquistou dois parceiros de peso: o Rio Galeão, que disponibilizará um estande para a empresa; e a Timbici, que dará desconto aos usuários das bikes laranjinhas que baixarem o app. Freitas, que se auto define como empreendedor “serial”, espera ser a principal referência para o turismo no Rio, e, em 2019, pretende expandir o negócio para o todo o Brasil e exterior.





Ela explica que o modelo de negócio do esporte tradicional, presencial, acabou. “Na verdade, enriqueceu dezenas de instituições como Fifa, COI, times de elite de diversos esportes, que ganharam muito dinheiro com direitos televisivos. Mas a história mudou de lado com a entrada das OTTs, empresas que oferecem diferentes tipos de serviços e conteúdo na Internet. O dinheiro mudou de lado. A receita de PayTV – que engloba, por exemplo, a TV por assinatura, vídeos sob demanda e o universo multitelas – que era de 3%, em dez anos estará em 80%. Aquelas receitas avassaladoras”, explica a doutora em políticas públicas, estratégia e desenvolvimento. Para ela, isso significa disputar um mercado de audiência de telas totalmente fragmentadas, em inúmeras telas. Além disso, reforça a professora, o esporte irá disputar o mercado de entretenimento, que inclui teatro, TV, música, shows, ou seja, passará a disputar uma audiência que pode durar apenas dois minutos. Maureen também recomendou aos “startupeiros” que suas estratégias sejam globalizadas, pois o mercado doméstico é limitado. Ela deu o exemplo da “La Liga” (que reúne os melhores times do futebol espanhol), que possui mais fãs fora da Espanha do que dentro do próprio país. Ela conta que o último contrato da “La liga” foi ceder gratuitamente os direitos de transmissão dos jogos pelo Facebook para a Índia, onde há 50 milhões de fãs.No meio do programa de apresentação das startups, a pós-doutora em Inovação no Esporte Maureen Flores traçou um panorama sobre “O esporte do Futuro, Israel 2020”. Há dez anos a professora e colunista do jornal O Globo estuda o impacto da tecnologia no esporte. Segundo ela, o ecossistema do esporte no mundo se dá em vários países como Austrália, Holanda, Espanha, e Israel, onde startups estão se aglutinando ao redor de aceleradoras especializadas.” Isso porque, agora, Maureen explica, o capital internacional, principalmente o VC (venture capital) olha o esporte como um emergente vertical”. Segundo ela, isso significa que é um segmento da economia que apresenta soluções tecnológicas e um número de exits crescentes. Em sua opinião, as três principais inovações em esporte são: solução para performance (que faz fronteira com a indústria de fitness e da saúde); a integridade no esporte (governança, corrupção, doping etc.); e o engajamento do fã, que chama de “um verdadeiro pote de ouro no fim do arco íris”. Maureen está certa de que o fã é a catapulta do esporte para a indústria do entretenimento. “O esporte deve ser visto como um ativo rentável para a indústria do entretenimento ou não sobreviverá”, sentenciou.

Justificando o título de sua palestra, a pesquisadora falou da liderança de Israel – país com nenhuma tradição esportiva, mas com muita tradição em inovação – nesse mercado global. Segundo ela, o empreendedor de esporte em Israel, com talento e competência instalada em tratamento de imagem e inteligência artificial, tomou conta do nicho milionário do chamado “engajamento do fã” e entraram direto no setor de entretenimento, sem antes terem passado pelo esporte presencial. “A lição que os empreendedores israelenses podem nos dar é a meta de se tornarem o Sport Tech Nation 2020 com o ‘engajamento do fã’. Outra característica dos israelenses é serem empreendedores seriais, que criam e vendem suas empresas sucessivamente, sem deixarem de apoiar os que estão começando, pois, assim, vão formando uma rede de recursos (capital e conhecimentos) que os tornam imbatíveis em soluções globais e customizadas. Segundo Maureen, nessa estrutura de rede montada, o esporte tem uma força tão grande na economia que várias empresas não endêmicas abraçaram esse setor. Deu exemplo da Microsoft Sports, que oferece plataforma, consultoria e nuvem para todas as ligas de várias modalidades de esportes, além de ter montado uma aceleradora (a GSIC) que abre edital uma vez por ano e faz networking de startups. Outro líder global não endêmico, lembrou, é a Intel Sports, que patrocinou os Jogos Olímpicos e lançou uma nova solução focada no entretenimento, que oferece qualquer jogo em tempo real, realidade virtual, com conexão e interatividade. Outro exemplo, a Siemens, em parceria com o Bayern de Munique, mapeou o som de toda a arena do Allianz, com 75 mil fãs, fez um trabalho em 3D e lançou uma campanha para provar que o torcedor é o 12º jogador em campo. Já os descendentes dos fundadores da Adidas formaram uma aceleradora especializada em esporte, em Berlim. Resumindo, Maureen destacou os principais pontos que os empreendedores brasileiros devem estar antenados quando se trata de esporte: fronteira com a saúde, engajamento do fã, senso de urgência e globalização. “Não sei quais modalidades de esporte sobreviverão, mas certamente elas terão que sobreviver com e-sports”.

O Startup Rio oferece o Programa Avançado de Formação Empreendedora (Pafe), que oferece treinamentos, consultorias, técnicas de gestão, validação da ideia e construção de plano de negócios. Os participantes têm direito à utilização do espaço de coworking na sede do Startup Rio, na Rua do Catete 243, e supervisão individual de cada projeto pela equipe gestora do programa. Na segunda fase do programa, os projetos que completam o Pafe são reavaliados e no máximo 50 projetos recebem os recursos financeiros, além de supervisão da equipe do programa, serviços de mentoria e treinamento em desenvolvimento de produto, técnicas de vendas, construção de protótipo e gestão de empresas.




Autor: Faperj
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 27/09/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3631.2.2

Entrevista: professora e pesquisadora Eliete Bouskela, diretora Científica da FAPERJ


Eliete: para a dirigente, é preciso que os governos cumpram com suas responsabilidades para assegurar o desenvolvimento da Ciência (Foto: Lécio A. Ramos)


Boletim FAPERJ – A senhora é a primeira mulher a assumir o cargo de diretora Científica da FAPERJ, já tendo sido também a primeira mulher a ocupar a Diretoria de Tecnologia. A senhora considera este fato relevante e por quê?

Eliete Bouskela – Lamentavelmente é muito relevante. A expectativa que temos de um mundo mais civilizado é a de que as diferenças por gênero no trabalho desapareçam. Mas o fato é que há, ainda hoje, no Brasil e em outros países, uma má tradição cultural que ao invés de escolher pessoas por competência e capacidade para o exercício profissional adiciona critérios de cor e gênero para a tomada de decisão. A FAPERJ tem 38 anos de existência e somente agora tem a primeira mulher exercendo a direção científica. No Estado do Rio de Janeiro são, segundo o censo educacional INEP/MEC (2015), 33.420 docentes exercendo suas atividades em diferentes instituições de ensino e pesquisa, e as mulheres respondem por 44% deste universo, totalizando 14.831 docentes. O fato de somente agora uma mulher ocupar a Diretoria Científica de nossa agência de fomento à pesquisa não deixa de ser uma triste constatação de que temos que nos modificar. Preciso ainda destacar que o ambiente acadêmico é mais aberto no campo das ideias, o que nos faria esperar outras posturas em posições de gênero. Acho muito relevante minha assunção à Diretoria Científica, por processo de escolha do Conselho Superior da FAPERJ e nomeação do Governador do Estado, porque é mais um marco para a abertura civilizatória, onde mulheres e homens podem exercer funções dirigentes por conta de sua competência e capacidade e não por outras razões ideológicas que geraram graves atos de discriminação na humanidade. Gostaria de dizer a todas as mulheres cientistas que trabalham arduamente no desenvolvimento da Ciência em nosso Estado que um passo foi dado e espero que muitos outros sejam sequentes.

Boletim FAPERJ – Pesquisadora reconhecida na área de Fisiologia Cardiovascular, a senhora é também Professora Titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), membro Titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Academia Nacional de Medicina, da European Academy of Sciences and Arts, da The World Academy of Sciences e membro Associado Estrangeiro da Academia Francesa de Medicina. A senhora sempre manteve suas atividades acadêmicas de ensino e pesquisa e vivenciou a grave crise de financiamento nacional e estadual à pesquisa. 

O que a senhora tem a comentar sobre isto?

Eliete Bouskela – Em primeiro lugar, não há como manter e desenvolver a atividade científica sem recursos. Há uma certa representação no senso comum que para o desenvolvimento científico bastam cérebros. É claro que sem inteligência e formação não há pesquisador. Mas para que ele exerça a sua atividade são necessários recursos. Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e querido amigo, escreveu um excelente artigo sobre o financiamento de pesquisa, publicado no boletim da Agência Fapesp de Notícias, em 2017. Neste texto, ele, com o rigor de sempre, nos diz de uma redução de cerca de 40% no investimento de Ciência e Tecnologia no Brasil, e denuncia uma participação pífia de nossa área no PIB nacional. Aqui, em nosso Estado, sofremos uma crise sem precedentes em nossa história que comprometeu o funcionamento de nossas instituições estaduais de ensino e pesquisa, e atingiu de maneira trágica a nossa Fundação de Amparo à Pesquisa, mesmo com a salvaguarda constitucional. Não podemos continuar esta curva de descenso, porque as consequências serão graves e afetarão, de maneira definitiva e estrutural, toda a produção acadêmica do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro.

Não é da competência da Diretoria Científica o gerenciamento dos recursos orçamentários, isto cabe à presidência da Fundação e ao Governo do Estado. Entretanto, tenho o dever ético e responsável de alertar aos dirigentes das graves consequências que provocam a falta de recursos em nossas atividades. Interromper um experimento por falta de insumos, instrumentos que sem manutenção deixam de funcionar, estruturas físicas laboratoriais com problemas na rede elétrica e hidráulica, ciências humanas e sociais sem gente para o desenvolvimento de suas pesquisas, colocam em risco a produção de conhecimento, os nossos acervos acadêmicos e científicos e a vida das pessoas.

Houve, neste ano de 2018, em nossa FAPERJ, uma interrupção na curva de descenso, e um pequeno crédito a maior em nosso desempenho econômico. É pouco, mas nos alenta um futuro melhor. Nossa comunidade de pesquisadores é ativa e foi fundamental para, pelo menos, interromper o atraso no pagamento das bolsas, e tenho a esperança de que ainda este ano consigamos diminuir o passivo de atraso nos chamados “Auxílios”, que vêm sendo afetados de maneira significativa desde 2015. O Secretário Estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social, Gabriell Carvalho Neves Franco dos Santos, vem agindo junto aos órgãos econômicos do governo para, se não resolver integralmente o passivo da FAPERJ, mitigar o dano. A postura de nossa comunidade é decisiva para que governos cumpram com suas responsabilidades para o desenvolvimento da Ciência.

Boletim FAPERJ – Mas muitos pesquisadores gostariam de saber mais sobre a aplicação dos recursos da FAPERJ, inclusive para poderem de maneira sinérgica colaborar com o bom convencimento dos dirigentes públicos. A senhora considera isto pertinente?

Eliete Bouskela – Tenho a convicção republicana de que a transparência dos atos públicos é uma obrigação a ser cumprida. No nosso caso, mais ainda. Somos uma comunidade de cientistas e intelectuais que pensam e que não são manipuláveis por ideologias fantasiosas. A adesão e o comprometimento de nossos pares serão proporcionais à transparência dos atos da FAPERJ. Vou ainda este ano apresentar aos pesquisadores ferramentas públicas de divulgação de todos os financiamentos da FAPERJ, quem recebeu e quanto, que projetos e Auxílios, com seus respectivos valores, ainda estão em débito, e assim por diante. Considero que algumas aproximações são fundamentais para a difusão e controle de nossos atos. Vou me reunir de maneira sistemática com o Fórum de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação em nosso Estado e teremos uma agenda permanente de acompanhamento e desenvolvimento. Orientei toda a minha assessoria e a todos os novos Coordenadores de Área a serem solícitos na prestação de informação aos nossos pesquisadores. Quero que nossos cientistas e intelectuais do Rio de Janeiro sintam que a FAPERJ é um bem de Estado e, por isto, de posse pública, e é desta maneira, com unidade e comprometimento, que faremos a diferença.

Boletim FAPERJ – Muitos pesquisadores se queixam da burocracia da FAPERJ. Isto não prejudica esta proximidade que a senhora tanto almeja com a comunidade científica?

Eliete Bouskela – Claro que sim. Procedimentos burocráticos que se superpõem e que exigem um tempo precioso do pesquisador é um mal a ser combatido. Nossa cultura ibérica de Estado é extremamente burocrática e, se não vigiarmos, privilegiamos o meio e não a atividade fim. A burocracia deve estar consonante com sua responsabilidade de controle, transparência e eficácia. Quando os procedimentos burocráticos aumentam não há controle, transparência e eficácia. Constituí um grupo de trabalho em minha assessoria para imediatamente reduzir custos burocráticos (de tempo e de esforço) e já em pouco tempo de exercício na Diretoria Científica desobriguei que bolsistas de Mestrado e Doutorado tenham que apresentar relatório parcial da atividade. Agora, somente no final da bolsa que deverá ser apresentado o relatório, cujo resultado principal é a sua aprovação na dissertação ou tese, porque esta é a finalidade da bolsa. Cito este exemplo para apresentar uma metodologia de que é a finalidade que desenha a exigência burocrática e não ao contrário.

Nós, cientistas e intelectuais, temos uma grave dificuldade com procedimentos burocráticos, e se eles estão mal dimensionados, provocam resistências e insolvências na FAPERJ. É preciso que todos nós tenhamos a consciência de que deverá haver controle, afinal, é dinheiro público e de todos, mas convenhamos um pouco de bom senso não faz mal a ninguém. A finalidade da FAPERJ é apoiar projetos consistentes e que sejam bem desenvolvidos; e não multiplicar procedimentos burocráticos desnecessários.

Boletim FAPERJ – Voltando à questão destas redes civis de apoio ao desenvolvimento de Ciência e Tecnologia em nosso Estado, a senhora já disse que uma destas redes civis é composta pela comunidade científica e de intelectuais. É possível pensar em outras redes?

Eliete Bouskela – Não só é possível pensar em outras redes civis de apoio ao desenvolvimento da Ciência e Tecnologia como devemos estimular que sejam criadas, dentro das finalidades da instituição. Nós temos um edital denominado “Prioridade Rio”, que teve diferentes versões e que era centrado em estudos e projetos e provimento de soluções para temas sociais prioritários. Este edital, em minha opinião, deve ser reaberto e em outras bases. Vou propor ao Conselho Superior que estes temas sejam definidos em ampla participação social, adaptando o modelo das conferências temáticas que foram realizadas por todo o Brasil. Que cidadãos de todo o Estado do Rio, com ampla participação social e de todos os municípios de nosso Estado, decidam os temas e áreas prioritárias com objetos mais concretos, e que isto signifique uma real demanda para nossos cientistas e intelectuais. Este edital pode ser uma ponte, um diálogo muito profícuo entre a sociedade civil, cientistas e intelectuais e gerar uma nova rede civil de apoio ao desenvolvimento da Ciência e Tecnologia e nos aproximar. Não queremos ocupar o lugar democrático dos dirigentes públicos, mas todos nós sabemos que o conhecimento que produzimos pode desenvolver novas soluções para antigos problemas. Mas não devemos fazer sem escutar as cidadãs e cidadãos de nosso Estado. Acho que isto constituirá uma aliança significativa e forte com a população e proporcionará mais cidadania.

Vou também promover um encontro mensal entre instituições temáticas e cientistas na FAPERJ, em workshops de menor número de participantes, e para isto contarei com as Coordenações de Área. Por exemplo, um workshop com membros do Judiciário e cientistas, um outro com sindicalistas, um outro com empresários, um outro com dirigentes de instituições públicas e privadas de Ensino Superior, e assim sucessivamente. Considero que este também pode ser um bom caminho para a constituição destas Redes Civis.

Em relação aos entes de Governo, é preciso que saibam melhor o que fazemos para além de nossos custos. Assim, a Assembleia Legislativa, o Ministério Público e a Defensoria, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, e os órgãos da administração direta e indireta têm que ser aproximados e, meu papel, neste caso, como Diretora Científica, é demonstrar a pungência e força de nossos pesquisadores e a qualidade de nossos trabalhos. Pretendo recuperar a capacidade de Difusão Científica de nossa Fundação. Temos tantos intelectuais e pesquisadores que têm esta questão como tema de sua atividade. É preciso convocá-los.

Boletim FAPERJ – Esta sua disposição de convidar pesquisadores e intelectuais de nosso Estado para auxiliarem na tomada de decisões será uma prática?

Eliete Bouskela – Claro que sim. Todos os teóricos de ciência, independentes de sua filiação teórica, afirmam sobre o processo de especialização do conhecimento. Não sou capaz, e posso afirmar com certeza de que ninguém é, de dominar todas as áreas de conhecimento. As Coordenações de Área da FAPERJ são um ente precioso para assessorar a tomada de decisões. Uma consulta prévia em câmaras temáticas e solicitação de apoio da expertise desta excepcional comunidade científica que temos é um ato de inteligência e correção. Neste grave momento em que vivemos, não é adequado abdicarmos do que temos e somos. Nós, cientistas e intelectuais, acreditamos que o conhecimento científico é um acelerador de processos civilizatórios e principalmente de impedimento de retornos a barbárie. Em um mundo complicado que estamos vivendo, com fundamentalismos de toda ordem, é mais do que necessário nos lembrarmos de nossos valores humanitários. E um deles é manter, dentro de todas as instituições, o compartilhamento, o diálogo e a cooperação.

Boletim FAPERJ – A senhora foi escolhida para ocupar a Diretoria Científica em votação no Conselho Superior da FAPERJ, tendo sido a mais votada entre todos os candidatos, em um processo novo que permitiu pela primeira vez que cientistas apresentassem suas candidaturas. O que a senhora tem a dizer sobre isto?

Eliete Bouskela – Agradeço a confiança de meus pares que me elegeram com o maior número de votos no Conselho Superior. Isto significa responsabilidade e compromisso de minha parte.

Boletim FAPERJ – Que palavras a senhora gostaria de dirigir à comunidade científica do Estado do Rio de Janeiro?

Eliete Bouskela – Esperança e Trabalho. Espero novos tempos sem descontinuidade de financiamento e trabalharei, com muitos, para que o Estado do Rio de Janeiro seja um território comprometido com o desenvolvimento da ciência.




Autor: Ascom FAPERJ
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 27/09/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3612.2.5

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Plantas usam açúcar produzido na fotossíntese para saber a hora



Ao perceber a quantidade de energia (açúcar) que possui, planta tem noção da passagem do tempo e pode organizar suas atividades ao longo do dia, antecipando-se à chegada do sol para fazer fotossíntese logo ao amanhecer, podendo crescer mais e melhor – Foto: Jucember/Wikimedia Commons


Uma pesquisa com a participação do Instituto de Química (IQ) da USP revela que as plantas usam o açúcar produzido na fotossíntese para regular seu relógio biológico. Os cientistas descobriram os caminhos utilizados pelas células vegetais para ajustar os horários de atividade das plantas (crescimento, metabolismo e armazenamento) à quantidade disponível de açúcar, ou seja, de energia. Assim, quando a disponibilidade é menor, a planta reduz seu ritmo de atividade. Os resultados contribuirão em estudos visando a aumentar a produtividade de cultivos como o da cana.

“O objetivo do trabalho é tentar entender como a percepção interna da quantidade de energia (açúcar) que a planta tem influencia a maneira como é percebida a passagem do tempo durante o dia”, diz o professor do IQ Carlos Hotta, que integrou o grupo de pesquisa. “Isso é importante porque é o modo das plantas se organizarem ao longo do dia, antecipando-se à chegada do Sol para poder fazer fotossíntese logo ao amanhecer. Plantas que usam o relógio biológico crescem mais e melhor.”


Professor Carlos Hotta: nível de açúcar indica situações de escassez energética – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Na fotossíntese, as células das plantas capturam a luz solar, convertendo a energia do Sol em energia química e juntando gás carbônico e água para formar açúcares. “O estudo mostra que perceber o nível de açúcar é um modo da planta saber a quantidade de energia que possui, inclusive em situações de estresse, como casos de escassez”, aponta o professor. “Foi analisado como o relógio biológico da Arabidopsis thaliana, organismo modelo para estudos sobre plantas, responde à adição de açúcar”. A Arabidopsis é uma planta herbácea da família das Brassicaceae, a mesma do brócolis, da canola, da mostarda e do repolho.
Sinalização

A pesquisa descobriu que as plantas possuem moléculas que atuam como vias de sinalização, no caso a via do SnRK1, que mede o nível energético da planta, e se conecta a um fator de transcrição, o bZIP63. “O fator de transcrição é um tipo de proteína que funciona como ‘interruptor molecular’, atuando diretamente no DNA, ‘ligando’ e ‘desligando’ genes”, a partir das informações da via de sinalização, conta o pesquisador. “Há evidências de que um dos genes em que o bZIP63 atua é do relógio biológico, chamado de PRR7, o que faz com que a planta, conforme a energia disponível, altere os horários em que desempenha determinadas funções.”



Quatis se automedicam e transmitem o comportamento entre gerações

Quando há menos energia, a via que sinaliza o estresse energético está mais ativa, mas quando o açúcar é abundante, ela permanece inativada, o que inibe o fator de transcrição. “Pesquisas anteriores sobre o relógio biológico avaliavam as plantas quando havia muita energia disponível, por isso a via não era percebida”, diz Hotta. “Quando começou-se a olhar para as plantas em condições de baixa energia, foi possível notar que essa via é essencial para a planta se reorganizar diante do estresse energético, mudar seu modo de vida e sobreviver”.


Amostras de Arabidopsis thaliana: via de sinalização que orienta o relógio biológico só foi percebida pelos cientistas quando a planta está em condições de baixa energia – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Os resultados da pesquisa são descritos no artigo “Circadian Entrainment in Arabidopsis by the Sugar-Responsive Transcription Factor bZIP63”, publicado em 2 de agosto na revista científicaCurrent Biology. “O estudo comprovou como os dois mecanismos moleculares impactam e regulam o funcionamento da planta”, ressalta o professor. “O próximo passo é investigar que funções são reguladas. Uma das hipóteses é de que possivelmente os mecanismos influenciem na forma que a planta armazena amido durante a noite.”




Produtividade

Hotta aponta que as descobertas do estudo poderão ser importantes em pesquisas sobre cultivos como o da cana-de-açúcar. “Saber que o açúcar é essencial para o relógio biológico muda a percepção sobre a sua função em plantas que acumulam muito açúcar, a cana, por exemplo”, observa. “Entender que o relógio biológico está associado à produtividade da planta ajuda a buscar formas de torná-la mais produtiva.”
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Pesquisadores descobrem detalhe que permite a fecundação das plantas

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Fisiologia Molecular de Plantas do IQ, em colaboração com os pesquisadores Michel Vincentz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Alex Webb, da University of Cambridge, e Antony Dodd, da University of Bristol (Reino Unido). “Houve uma convergência dos estudos, facilitada pelas políticas de internacionalização da ciência adotadas no Brasil”, destaca o professor. “Na Unicamp, era pesquisada a influência do estresse energético no relógio biológico, enquanto os europeus estudavam as reações do relógio biológico ao estresse”. O trabalho teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Mais informações: e-mail hotta@iq.usp.br, com Carlos Hotta



Autor: Jornal da USP
Fonte: Jornal da USP
Sítio Online da Publicação: Jornal da USP
Data: 24/09/2018
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/plantas-usam-acucar-produzido-na-fotossintese-para-saber-a-hora/

Acidificação do oceano pode reduzir a pesca de vieiras

Todos os anos, os pescadores colhem mais de US $ 500 milhões em vieiras do Atlântico, a partir das águas da costa leste dos Estados Unidos.

Um novo modelo criado por cientistas da Instituição Oceanográfica Woods Hole (WHOI), no entanto, prevê que essas pescarias possam estar potencialmente em perigo. À medida que os níveis de dióxido de carbono aumentam na atmosfera da Terra, os oceanos superiores se tornam cada vez mais ácidos – uma condição que poderia reduzir a população de vieiras em mais de 50% nos próximos 30 a 80 anos, no pior cenário possível. A forte gestão da pesca e os esforços para reduzir as emissões de CO2, no entanto, podem retardar ou mesmo impedir essa tendência.


Diagrama conceitual do modelo que vincula a dinâmica da população de vieiras marinhas, (rosa) possíveis mudanças climáticas e impactos da acidificação dos oceanos (amarelo) e desenvolvimento econômico e estratégias de manejo. (Ilustração de Natalie Renier, Woods Hole Oceanographic Institution)



O modelo, publicado na revista PLoS One, combina dados existentes e modelos de quatro fatores principais: cenários futuros de mudanças climáticas, impactos da acidificação dos oceanos, políticas de gestão de pesca e custos de combustível para os pescadores.

“O que é novo no nosso trabalho é que ele reúne modelos de ambientes oceânicos em mudança, assim como respostas humanas”, diz Jennie Rheuban, principal autora do estudo. “Combina a tomada de decisões socioeconômicas, a química dos oceanos, o dióxido de carbono atmosférico, o desenvolvimento econômico e o gerenciamento da pesca. Tentamos criar uma visão holística de como as mudanças ambientais podem afetar os diferentes aspectos da pesca de vieiras marinhas ”, observa ela.

Como os oceanos podem absorver mais de um quarto de todo o excesso de dióxido de carbono na atmosfera, as emissões de carbono dos combustíveis fósseis também podem causar uma queda no pH dos oceanos. Essa acidez pode corroer as cascas de carbonato de cálcio que são feitas pelos moluscos como ostras e vieiras, e até mesmo impedir que suas larvas formem conchas.

Segundo Rheuban, não existem estudos publicados que possam mostrar os efeitos específicos da acidificação oceânica no vieira do Atlântico. Para estimar seu impacto no modelo, ela e seus colegas incorporaram uma série de efeitos com base em estudos de espécies de moluscos relacionados. Combinado com as estimativas da mudança da química da água, este novo modelo permite que os cientistas explorem como os impactos plausíveis da acidificação dos oceanos podem mudar o futuro da população de vieiras.

Rheuban e seus colegas testaram quatro níveis diferentes de impacto em cada um dos quatro fatores diferentes que influenciaram o modelo, criando, em última instância, 256 combinações de cenários diferentes. Um grupo de cenários examina possíveis caminhos de como a acidificação oceânica pode impactar a biologia de vieiras. Outro examina diferentes níveis de CO2 atmosférico, incluindo um futuro em que as emissões continuam a subir rapidamente, e outro onde elas caem devido à política agressiva de mudança climática. Um terceiro conjunto inclui uma série de custos futuros de combustível, que estão relacionados às políticas de mudanças climáticas. Os custos mais elevados de combustível, observa Rheuban, podem levar a menos dias de pesca ativa, reduzindo o estresse na própria pesca, mas também reduzindo a rentabilidade e as receitas da indústria. O quarto e último conjunto envolve diferentes técnicas federais de manejo pesqueiro.

A pesca para alguns moluscos, como ostras, moluscos e vieiras, são reguladas por governos estaduais ou locais, cada um seguindo seu próprio conjunto de regras. As pescarias de vieiras-marinhas, no entanto, estão localizadas bem em alto mar em uma região que se estende da Virgínia até o Maine, portanto são reguladas principalmente pelo governo federal. Com apenas um conjunto de regras cobrindo a maioria dos pescadores de vieiras, é possível encaixá-las no modelo.

“A atual pesca de vieiras é hoje tão saudável e valiosa, em parte porque é muito bem administrada”, diz Scott Doney, co-autor da WHOI e da Universidade da Virgínia. “Também usamos o modelo para perguntar se as abordagens de gerenciamento poderiam compensar os impactos negativos da acidificação oceânica”.

Em todos os cenários possíveis do modelo, altos níveis de CO2 na atmosfera consistentemente levaram ao aumento da acidificação dos oceanos e menos vieiras, apesar de introduzir regras de manejo mais rigorosas ou até fechar parte da pescaria por completo.

“O modelo destaca os riscos potenciais para as vieiras e provavelmente outras áreas de pesca comerciais de marisco das emissões de carbono para a atmosfera”, acrescenta Doney.

Ao longo dos próximos 100 anos, sob o pior dos impactos da acidificação oceânica, o cenário de “business as usual” do modelo mostra um declínio de mais de 50%, enquanto um cenário com política climática proativa mostra apenas uma redução de 13%.

“O modelo mostra que as reduções nas emissões de combustíveis fósseis devido à política climática podem ter um grande impacto na pesca de vieiras”, conclui Rheuban.

Também colaborando no estudo estavam Scott C. Doney, da WHOI, e a Universidade da Virgínia, Sarah R. Cooley, da Ocean Conservancy, e Deborah R. Hart, do Centro de Ciências Pesqueiras do Nordeste da NOAA. A pesquisa foi apoiada pelo NOAA Grant # NA12NOS4780145 e pela WestWind Foundation.


Referência:

Projected impacts of future climate change, ocean acidification, and management on the US Atlantic sea scallop (Placopecten magellanicus) fishery
Jennie E. Rheuban , Scott C. Doney, Sarah R. Cooley, Deborah R. Hart
PLoS One. Published: September 21, 2018
https://doi.org/10.1371/journal.pone.0203536

Por Henrique Cortez, EcoDebate, com informações da Woods Hole Oceanographic Institution

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2018




Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 24/09/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/09/24/acidificacao-do-oceano-pode-reduzir-a-pesca-de-vieiras/

Decrescimento demoeconômico da Bulgária: do déficit ao superávit ambiental, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Bulgária se tornou um exemplo de país que saiu do déficit ambiental para o superávit ambiental, por meio do decrescimento demoeconômico.

O gráfico abaixo mostra que a Bulgária tinha um déficit ambiental de 47% em 1997 e passou a ter superávit ambiental de 5% em 2014, conforme os últimos dados da Global Footprint Network.







A pegada ecológica per capita da Bulgária era de 3,43 hectares globais (gha) em 1997, para uma biocapacidade per capita de 2,33 gha (déficit de 47%). Mas ao longo dos quase 20 anos seguintes, a pegada ecológica que havia subido até 2008, caiu para 3,17 gha em 2014, enquanto a biocapacidade per capita subiu para 3,34 gha (superávit de 5%). Isto foi possível devido ao decrescimento das atividades antrópicas mais poluidoras e ao decrescimento demográfico.

O gráfico abaixo, da Divisão de População da ONU (revisão 2017), mostra que a população da Bulgária era de 7,251 milhões de habitantes em 1950, subiu até o pico de 8,975 milhões de habitantes em 1985 e chegou a 8,212 milhões em 1997 e a 7,222 milhões em 2014. Ou seja, a população da Bulgária atual é menor do que aquela de 1950 e menor do que a de 1997. No cenário de projeção médio, a população búlgara pode ficar com menos de 4 milhões de habitantes em 2100.

O impacto do decrescimento demográfico sobre o meio ambiente foi amplamente favorável, pois a redução do número de habitantes possibilitou o aumento da biocapacidade per capita. Como houve também redução do padrão de consumo, a Bulgária se tornou um caso exemplar de superação do déficit ambiental.







O gráfico abaixo, com dados do FMI, mostra que a população búlgara diminui todos os anos desde 1985, enquanto o PIB teve momentos de crescimento e queda. Nas décadas de 1980 e 2000 houve crescimento da atividade econômica. Mas na década de 1990 houve uma grande recessão e a década de 2010 tem apresentado baixo crescimento do PIB. O mais importante a notar é que, depois da crise econômica de 2009, a Bulgária passou a consumir menos combustíveis fósseis, o que foi fundamental para a redução da pegada ecológica.







A renda per capita da Bulgária (em poder de paridade de compra – ppp) caiu na década de 1990, mas subiu nos anos 2000, sendo que estava perto de US$ 18 mil em 2014, bem acima dos níveis da década de 1980 (acima da renda per capita brasileira), conforme o gráfico seguinte. Ou seja, o decrescimento demoeconômico da Bulgária ocorreu sem piora do padrão de vida.







Mesmo sendo um país pequeno, a Bulgária se tornou um exemplo de redução da pegada ecológica com aumento da biocapacidade e transformação do déficit em superávit ambiental. Ao contrário do que pensam os setores pronatalistas da sociedade e que sonham com a “Pátria grande”, a redução da população foi um elemento essencial para o sucesso da sustentabilidade ecológica. E o mais interessante é que o decrescimento demoeconômico ocorreu em um quadro de aumento da renda per capita.

Essa possibilidade já havia sido antecipada no livro “O Declínio Próspero” de H. T. Odum, conforme pode ser consultado em Ortega (2015). O livro coloca a possibilidade de um declínio no padrão de consumo com prosperidade e com reversão da degradação ambiental.

Este exemplo da Bulgária deveria servir para orientar o debate público brasileiro, neste momento de eleições gerais, quando a totalidade dos candidatos simplesmente repetem o mantra do crescimento econômico como solução de todos os males do país, mas que terá uma impacto ambiental devastador. O Brasil pode pensar uma situação de prosperidade sem crescimento ou com decrescimento do impacto ambiental.

Referências:

Enrique Ortega. “O Declínio Próspero: Princípios e Políticas” de Howard e Elisabeth Odum, Laboratório de Engenharia Ecológica da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, 2015 http://www.unicamp.br/fea/ortega/declinio/



José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2018






Autor: José Eustáquio Diniz Alves
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 24/09/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/09/24/decrescimento-demoeconomico-da-bulgaria-do-deficit-ao-superavit-ambiental-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Expectativas mágicas, artigo de Montserrat Martins

O que há por trás da “guerra civil moral” nas redes sociais, em que as pessoas acusam os candidatos dos outros e promovem os seus? O grande paradoxo das defesas apaixonadas que os eleitores fazem, é que esperam um “produto” que, caso eleito, talvez não seja o que imaginam. O candidato militar tem condições de restaurar as condições de vida que tínhamos nos governos militares? Ou o candidato lulista, de reviver o período favorável à economia daquela época? Ou os demais candidatos que prometem “unir o país” tem condições de cumprir essa promessa?

Os governos militares, por exemplo, foram nacionalistas, se valeram do Estado para investir em infra-estrutura e tinham um Código Florestal que protegia o ambiente. Antes daquela época, já Rondon fora um militar com conceitos avançados de sustentabilidade. Bolsonaro, ao contrário, se diz claramente contra os órgãos estatais e contra áreas de preservação ambiental. Se a área de segurança fosse simples, a intervenção federal no Rio já tinha resolvido. Os governos dos militares, ao contrário do atual, acreditavam em projetos sociais, como o BNH, de habitação.

O candidato lulista deu uma declaração de que “golpe é uma palavra muito forte”, feita para restaurar alianças eleitorais com partidos que apoiaram o impeachment. Quando o governo Lula conseguiu manter a economia aquecida, tinha um vice-presidente empresário (José Alencar) e contava com uma ampla coalizão centrista, que ruiu com sua sucessora. Hoje, Haddad tem uma base estreita, que terá dificuldades de ampliar.

Outros candidatos, não sendo do PT nem Bolsonaro, já falaram em unir o país, mas dificilmente conseguiriam isso. Ciro já disse que desejava cativar os eleitores de Bolsonaro e talvez por isso goste de dar declarações fortes, populistas, mas acabou tão alinhado com o PT que ficou de um lado da equação. Marina Silva foi considerada “de direita” quando apoiou o impeachment da Dilma e a Lava Jato, mas sofre os mesmos ataques da direita por ser uma “ex-ministra do Lula”. Geraldo Alckmin poderia, nesse contexto, tentar passar uma imagem mais equilibrada, de gestor, mas sua linha de propaganda na TV se concentrou em atacar todos ao invés de tentar promover as próprias qualidades.

Nos bastidores da política, se sabe que ser Presidente não dá poderes a ninguém de resolver os problemas do país num golpe de caneta, mas é preciso alimentar a esperança dos eleitores. Sim, é muito importante quem será eleito – não só para o governo mas também para a Câmara Federal e o Senado – mas o que acontecerá depois disso é uma grande incógnita.

A única certeza é a decepção dos eleitores que alimentam expectativas mágicas.


Montserrat Martins, Colunista do EcoDebate, é Psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2018




Autor: Montserrat Martins
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 24/09/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/09/24/expectativas-magicas-artigo-de-montserrat-martins/

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Mapeamento genético traça a evolução do bacilo causador da hanseníase

A partir de registros documentais, já era sabido que as evidências da existência da hanseníase são milenares – até a Bíblia traz referências que são associadas à doença. Usando técnicas da genômica (capaz de analisar e comparar dados do código genético), um estudo envolvendo mais de 30 pesquisadores de 13 países conseguiu mapear a evolução do bacilo Mycobacterium leprae, causador da doença. No Brasil, participaram o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e mais três instituições parceiras. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que mais de 200 mil novos casos são detectados no mundo a cada ano. Somente no Brasil, segundo país com maior número de registros, foram aproximadamente 152 mil novas notificações no período de 2012 a 2016. No topo do ranking, a Índia conta mais de 100 mil novos infectados anualmente.

Com este, que é o maior e mais abrangente estudo sobre sequenciamento do genoma de amostras de M. leprae já realizado, foi possível entender a evolução e dispersão global do microrganismo e ter uma visão ampliada sobre um aspecto que gera preocupação crescente entre os cientistas: a resistência aos antibióticos adotados no tratamento da doença. Durante as investigações, também foram identificadas novas linhagens do bacilo e mutações até então desconhecidas. Os Laboratórios de Hanseníase e de Biologia Molecular Aplicada a Micobactérias do IOC integram o estudo, que foi publicado na conceituada revista Nature Communications, do grupo Nature. No Brasil, também participam as universidades federais de Goiás, Pará e Brasília. A iniciativa é liderada pelo cientista Stewart Cole, do Global Health Institute (Suíça).

O primeiro desafio do estudo foi desenvolver métodos para isolamento e purificação do DNA do bacilo que permitissem que as sequências completas do genoma fossem obtidas diretamente de amostras de biópsia de pele humana. Foram contempladas 154 amostras, representativas de 25 países. Do Brasil, foram analisados 34 genomas, representativos de cinco estados – Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Ceará e Maranhão. As amostras provenientes do Rio são de pacientes atendidos no Ambulatório Souza Araújo, unidade assistencial ligada ao Laboratório de Hanseníase que presta atendimento no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e atua como referência de nível nacional junto ao Ministério da Saúde.

Após comparação dos genomas obtidos a partir das amostras, foi possível estudar as associações geográficas entre elas e delinear possíveis rotas de disseminação da hanseníase. Com isso, chegou-se a uma árvore filogenética (algo parecido com uma árvore genealógica, capaz de indicar derivações ao longo do tempo), resultando em 13 linhagens em circulação no mundo. O achado inclui a identificação de uma linhagem inédita, chamada de 3K-1, de origem asiática.


Distribuição geográfica das amostras de M. leprae utilizadas no estudo (Imagem: Nature Communications)

No Brasil, foi identificada a circulação de cinco linhagens, com predomínio de cepas – algo como variações internas das linhagens – originárias da Europa e da África. Também há registro da circulação de uma linhagem proveniente da Ásia. “Este resultado está em sintonia com a história do nosso país. Vimos que linhagens da micobactéria foram introduzidas em território nacional há mais de 500 anos”, comenta Milton Ozório Moraes, chefe do Laboratório de Hanseníase e integrante do estudo. Na pesquisa, uma curiosidade: uma das variações em circulação no Brasil deriva diretamente de cepas que circularam na Europa na Idade Média. Com isso, é a variação do bacilo atualmente em circulação nas Américas com origem mais antiga.

Uma das diferenças mais destacadas no âmbito do país foi a alta frequência da variação SNP tipo 3 na região Sudeste, enquanto a variação SNP tipo 4 predomina no Norte e Nordeste. “Isto se deve à introdução da hanseníase por populações diferentes: a variação SNP tipo 3 é mais amplamente encontrado na Europa, enquanto a SNP tipo 4 é mais representativa da população da África Ocidental. A migração da Europa e o tráfico de escravos com pontos de entrada distintos está na base dessas diferenças”, relata o pesquisador Philip Suffys, chefe do Laboratório de Biologia Molecular Aplicada a Micobactérias do IOC.

Mutações à vista
Com tratamento bem estabelecido desde a década de 1980, o bacilo causador da hanseníase é, na maioria dos casos, combatido com um coquetel de medicamentos. Se realizada precocemente, a terapia é capaz de prevenir tanto as lesões irreversíveis da doença e, no momento em que a medicação é iniciada, a transmissão do agravo é interrompida. No entanto, o aumento da resistência do M. leprae aos fármacos tradicionalmente utilizados é um desafio em ascensão. “Não existem dados que permitam precisar exatamente qual o índice de resistência a medicamentos no Brasil ou no mundo. Com base em artigos científicos publicados e informações enviadas por centros de referência de diversos países, foi estimada uma taxa de 8% de resistência aos antibióticos nos casos de recidiva da infecção, ou seja, quando a doença retorna após o fim do tratamento. Porém, esse percentual é calculado com base em um número pequeno de casos, investigados apenas em alguns países, incluindo o Brasil”, pondera Milton. Há, ainda, situações de multirresistência, em que o M. leprae apresenta resistência a mais de um dos compostos usados na terapia.

A pesquisa atual possibilitou a identificação de 260 mutações em genes do bacilo, algumas associadas diretamente à resistência aos medicamentos. Oito sequências genéticas, sendo duas obtidas a partir de amostras brasileiras, foram caracterizadas como "hipermutadas", uma vez que sua composição sofreu modificações expressivas. Possivelmente, estão associadas à resistência a medicamentos.

No Brasil, uma rede de vigilância está atenta aos casos de hanseníase resistente aos antibióticos. Formada por centros de referência, essa rede analisa amostras de pacientes na busca de genes que já são conhecidos por sua associação com a falta de sensibilidade aos medicamentos. O IOC é um desses centros, numa ação conjunta dos Laboratórios de Hanseníase e de Biologia Molecular Aplicada a Micobactérias.

Philip conta que, além de aperfeiçoar o conhecimento sobre a filogeografia de M. leprae, o estudo ampliou o conhecimento sobre os mecanismos de resistência a antibióticos, descrevendo mutações que podem se tornar possíveis alvos para métodos de detecção rápida da resistência. “Ao mesmo tempo em que abre caminho para desenvolvimento de novas tecnologias para detecção de genótipos e resistência, o estudo também mostra a existência de cepas de M. leprae chamadas de extensivamente resistentes a drogas, situação já amplamente descrita na tuberculose”, conta o pesquisador. Uma vez que seja possível detectar precocemente a resistência a medicamentos convencionalmente utilizados para tratamento da hanseníase, podem ser prescritos esquemas de tratamento mais adequados e reduzindo a disseminação de cepas resistentes.

Estudos continuam
O grupo de especialistas brasileiros e estrangeiros permanece a todo vapor com novas análises, que procuram ampliar ainda mais o estudo que acaba de ter seus resultados publicados. A intenção é desbravar a Ásia Central, área não estudada por falta de amostras, para testar a hipótese de que a linhagem 3K, considerada a mais antiga, se originou no Leste Asiático e se dispersou para o oeste por meio de civilizações como os persas, há cerca de três a cinco milênios atrás.





Autor: Vinicius Ferreira
Fonte: IOC/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 20/09/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/mapeamento-genetico-traca-evolucao-do-bacilo-causador-da-hanseniase

Notas – Semana de 20 a 26 de setembro de 2018

Parque Tecnológico da UFRJ participa da Rio Oil & Gas 2018
De 24 a 27 de setembro, o Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vai participar da Rio Oil & Gas 2018, principal evento do setor da América Latina. No estande do Parque, empresas de grande, médio e pequeno porte e laboratórios da UFRJ apresentarão produtos e soluções inovadoras. As empresas trabalham em suas atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em parceria com a UFRJ, em um dos maiores centros de excelência acadêmica do País. No dia 24, haverá palestra com o diretor do Parque Tecnológico da UFRJ, José Carlos Pinto, às 14h25, com o tema “Inovar para transformar”, na O&G Techweek 2018. A Rio Oil & Gas 2018 será realizada no Riocentro (Av. Salvador Allende, 6.555, Barra da Tijuca) e o estande do Parque será o G34, localizado no Pavilhão 2. Mais informações: http://www.riooilgas.com.br


Seminário na UniRio discute os trinta anos da Constituição Federal
O sistema de justiça e as políticas públicas e sociais serão alguns dos temas em debate no seminário “Trinta Anos de Constituição: consequências das inovações constitucionais e da universalização de políticas sociais”, que acontece na próxima quarta-feira, dia 26 de setembro, no Centro de Ciências Políticas e Jurídicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio/CCJP). As atividades terão início a partir das 9h, no auditório do CCJP. Segundo os organizadores, a celebração de trinta anos da Constituição de 1988 sugere a retomada do debate sobre suas inovações, quanto à criação ou reforma das instituições democráticas e à incorporação de políticas públicas universais. A proposta do evento é destacar esses temas e analisar seus desdobramentos e suas consequências, três décadas depois. As atividades incluem debate e mesas-redondas. O CCJP se localiza na Rua Voluntários da Pátria, 107, Botafogo. Mais informações (Arquivo em PDF): http://www.unirio.br/arquivos/noticias/Cartaz30AnosConstituio.pdf
Programa Startup Rio 2017 realiza seu Demo Day na próxima terça
O programa Startup Rio, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social (Sectids) e da FAPERJ, realiza na próxima terça-feira, dia 25 de setembro, das 10h às 13h, no Centro de Convenções Sul América, o seu Demo Day. Na ocasião, dez startups (empresas nascentes de base tecnológica), selecionadas na edição 2017 do Startup Rio, vão apresentar seus negócios para clientes e investidores de diferentes modalidades, como investidor-anjo, venture capital, private equity e capital semente. As apresentações dos empreendedores serão no formato de pitch, tendo apenas cinco minutos e o objetivo de convencer os investidores sobre o potencial de seus produtos e serviços. Nesse ano, o Demo Day vai acontecer junto com o Rio Info, um grande evento de tecnologia, que vai ocorrer nos dias 25 e 26 de setembro, no mesmo local. O Centro de Convenções Sul América fica na Av. Paulo de Frontin, 1, no Rio Comprido. Mais informações: http://rioinfo.com.br/2018/08/01/demo-day-startup-rio
Fórum de Psicanálise e Cinema da UniRio exibe filme do polonês Kieślowski
O premiado filme A liberdade é azul (1993, 100 min.), do diretor polonês, Krzysztof Kieślowski (1941-1996), será exibido durante o encontro do dia 28 de setembro do Fórum de Psicanálise e Cinema da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), que será realizado às 18h, na Sala Vera Janacópulos, no campus da Urca. Trata-se do primeiro longa-metragem da trilogia Trois couleurs, roteirizado e dirigido por Kieślowski (1941-1996), que é reconhecido por sua filmografia vigorosa na qual se destacam, além de A igualdade é branca (1994) e A fraternidade é vermelha (1994), os títulos A dupla vida de Verónique (1990) e O decálogo (1988). Após a exibição de A liberdade é azul, estrelado pela atriz Juliette Binoche, haverá um debate, com um viés cultural e psicanalítico, conduzido por Ana Lúcia de Castro, professora da Escola de Museologia da UniRio, e pelo psicanalista Neilton Silva. Mais informações: http://www.unirio.br

Impa recebe o II Workshop on Inflammation
O Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), localizado no Jardim Botânico, será o cenário do II Workshop on Inflammation, nos dias 22 e 23 de outubro. O evento contará com pesquisadores estrangeiros e nacionais, que vão apresentar um panorama do conhecimento científico atual em quatro áreas temáticas: Inflamação e imunidade, Câncer, Doenças crônico-degenerativas e Metabolismo. A organização do workshop é fruto de uma parceria entre os programas de pesquisa em Imunobiologia do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ) e em Farmacologia e Inflamação, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/UFRJ), com o apoio de diversos programas de pós-graduação da UFRJ: Imunologia e Inflamação, Farmacologia e Química Medicinal, Biofísica, Ciências Morfológicas, Fisiologia, Bioquímica Médica e Ciências Farmacêuticas; além do Programa de Pós-graduação em Biociências, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Sociedade Brasileira de Inflamação (SBIn) e da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE). As inscrições podem ser realizadas pelo site do workshop. Mais informações: http://posimuno.imppg.ufrj.br/index.php/pt/?option=com_rsform&formId=6


UFRJ sedia a Rio International School of Structural Biology
A capital fluminense vai sediar, entre os dias 5 e 9 de novembro, a Rio International School of Structural Biology (RIO -ISSB), que será realizada em conjunto com o IV Simpósio Franco-Brasileiro em Biociências. Os dois eventos acontecerão no Auditório do bloco N, no segundo andar do Centro de Ciências da Saúde, campus da Ilha do Fundão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A RIO-ISSB contará com aulas introdutórias, palestras, atividades práticas e demonstrativas sobre as diferentes abordagens e tecnologias em Biologia Estrutural, tais como Ressonância Magnética Nuclear, Cristalografia de Raios-X, Espectrometria de Massas, Modelagem e Dinâmica Molecular. Na ocasião, professores e palestrantes nacionais e internacionais ministrarão as diversas atividades. As inscrições estão abertas até o dia 30 de setembro, pelo site do evento, que também apresenta a programação completa. Mais informações: https://rioissb.wordpress.com

UFF promove a Agenda Acadêmica 2018
A Universidade Federal Fluminense (UFF) promove, de 16 a 19 de outubro, a Agenda Acadêmica. Na edição desse ano, o evento será realizado junto com a 15ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que, por sua vez, terá como tema “Ciência para a redução das desigualdades”. As atividades vão acontecer simultaneamente, em vários campi da UFF, em Niterói, e também nas unidades fora de sede. A Agenda Acadêmica é um evento anual que tem o objetivo de apresentar a produção desenvolvida na UFF em suas três grandes áreas de atuação – ensino, pesquisa e extensão –, buscando promover a integração da comunidade interna e externa em torno dos programas acadêmicos da instituição. A cerimônia de abertura acontecerá no dia 16 de outubro, às 18h, no Centro de Artes da universidade, com apresentação da Orquestra Sinfônica Nacional da UFF. A programação está disponível no site do evento, que recebe inscrições de participantes interessados até o dia 24 setembro. Mais informações: http://www.agendaacademica.uff.br




Autor: FAPERJ
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 20/09/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3629.2.0

Luto público: um direito de todos


Protesto, no Centro do Rio, contra as mortes de Marielle e Anderson (Foto: Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto)

Uma das consequências de um grande número de mortes, seja devido à violência urbana, seja devido às guerras, é a banalização da morte. Para que isso não ocorra e que as mortes em áreas de comunidades no Rio de Janeiro sejam vistas como banais, Carla Rodrigues, professora de Ética do departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, está adaptando as teorias da filósofa norte-americana Judith Butler, sobre a ausência de comoção com as mortes em massa de povos de países em guerras em que os Estados Unidos estão envolvidos, como a Síria, por exemplo.

“Um país é tanto mais democrático quanto menor for a desigualdade na distribuição do luto público. A violência de Estado, essa com a qual nos deparamos todos os dias em maior ou menor medida, diz respeito não apenas à maneira como as pessoas morrem, mas também como são enlutadas". Como afirma Carla, esse é um resumo bastante sintético da argumentação que Judith Butler vem desenvolvendo em sua crítica à tortura, às prisões e, sobretudo, ao modo como certas vidas são reconhecidas como tendo mais ou menos valor no momento em que são perdidas.

Situando a tese da americana no Rio de Janeiro, poderíamos perguntar qual a diferença entre a morte de um pedreiro morador da Rocinha e a de um empresário morador do Leblon? A resposta deveria ser nenhuma. Entretanto, segundo Carla, não é exatamente o que vemos no cotidiano. Segundo a professora, a comoção, principalmente por parte da mídia carioca, é bem maior, ou só existe, no segundo caso. “A banalização da morte é algo que não pode ser parte do nosso cotidiano, por mais violento que esse seja”, afirma. “O silêncio diante de certas mortes, principalmente as de moradores de favelas, configura a ausência do direito ao luto público. Na verdade, o Brasil não tem tradição de promover o luto público ou político. Diante disso, o que podemos perceber nas discussões nas redes sociais é uma disputa sobre quais mortes têm mais valor e quais as manifestações de luto seriam mais legítimas. Isso revela um clamor da população para fazer luto pelas vítimas de violência da cidade e expressar a indignação com os acontecimentos”, diz Carla.

Um dos exemplos de ausência de luto público foi quando houve o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco, de propriedade da Vale e da empresa anglo-australiana BHP, causando uma enxurrada de lama que inundou várias cidades no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na região central de Minas Gerais, em 2015. “Na ocasião, houve uma certa comoção com o acidente, mas pouco tempo depois mal se falava sobre o assunto ou sobre as vítimas desse terrível acontecimento. É como se as perdas, anônimas, fossem exclusivamente individuais, restritas apenas àqueles que perderam seus familiares, suas casas, suas vidas”, contemporiza a professora. Ela prossegue: “A falta de um luto público é como se a nação não tivesse perdido seus filhos. Não paramos para dizer que não aceitamos o que aconteceu, que não aceitamos a perda dessas vidas”, afirma Carla.

Curiosamente, nas discussões no Facebook por ocasião dos assassinatos da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, enquanto alguns reivindicavam luto e se indignavam pela falta de respostas sobre o crime, outros criticavam, questionando por que não havia tamanha comoção em relação a tantas mortes de policiais militares. “Isso acontece exatamente pela ausência do hábito do luto público. Se a princípio parece algo que não é tão importante, esse embate on-line mostra que as pessoas sentem falta”, afirma Carla.

A professora Carla aproveita para falar a respeito do caso Marielle Franco. “A morte dela está carregada de contradições. Pensar que ela foi assassinada apenas por ser alguém que lutava por direitos humanos apaga todas as suas características de mulher negra e lésbica. Mas não podemos esquecer o fato de que Marielle foi eleita vereadora com cerca de 45 mil votos e como assessora parlamentar continuava a defender os mesmos pontos de vista. Parece que esse ato brutal foi a tentativa de lhe calar a boca. E aquela mulher, como todos os moradores de favelas, policiais e cidadãos comuns, merece o luto público”, exemplifica a professora, que inclui em suas aulas as reflexões de Judith Butler adaptadas à realidade carioca. “Estou preparando um livro que será lançado em breve”, finaliza Carla.




Autor: Danielle Kiffer
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 20/09/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3605.2.5

Pesquisa sobre asma recebe prêmio L’Oréal –Unesco-ABC “Para Mulheres na Ciência”


Dedicação recompensada: para Fernanda Cruz, prêmio traz reconhecimento e estímulo financeiro para continuar as pesquisas (Foto: Divulgação/L'Oréal Brasil)



A busca de terapias mais efetivas para o tratamento de problemas respiratórios crônicos rendeu à médica Fernanda Ferreira Cruz, de 32 anos, o Prêmio L’Oréal –Unesco-ABC “Para Mulheres na Ciência”. Especialista em Medicina Regenerativa, ela é uma das sete vencedoras da edição 2018 e receberá bolsa de R$ 50 mil para impulsionar suas pesquisas na busca de soluções menos invasivas para a asma grave e para a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). A lista das vencedoras foi divulgada na primeira quinzena de agosto e a cerimônia de premiação será realizada no dia 4 de outubro, na sede da L’Oréal, no Rio de Janeiro.

Além do reconhecimento de uma carreira integralmente dedicada à pesquisa, Fernanda Cruz também comemora a oportuna ajuda financeira, num momento de contingência no orçamento das entidades científicas e acadêmicas. “A conquista do prêmio é, também, um importante incentivo aos meus colegas de trabalho e alunos de Iniciação Científica e pós-graduação do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ)”, afirma.

Dificuldade de respirar, tosse, chiado, aperto no peito e respiração curta e rápida são os principais sintomas da asma. Sua origem pode ser genética – como a existência de histórico familiar – e seu quadro geralmente é intensificado por fatores ambientais como frio excessivo, poluição, odores fortes etc. Professora Adjunta no IBCCF, Fernanda explica que a terapia mais comum para asma busca o controle dos sintomas e a melhoria da função pulmonar. Em geral, o tratamento é feito com medicamentos de ação anti-inflamatória, em especial os corticoides sistêmicos ou inalatórios, geralmente associados aos broncodilatadores (as “bombinhas” de asma) e à adoção de medidas educativas e de controle dos fatores que disparam a crise.

Patologia respiratória bastante comum, a asma afeta, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 300 milhões de pessoas no mundo e é responsável por aproximadamente 250 mil mortes anuais. No Brasil são 6,4 milhões de asmáticos acima de 18 anos, segundo Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Ministério da Saúde e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Entretanto, de 10% a 20% desse contingente não respondem aos medicamentos disponíveis e a cada crise acumulam mais danos ao tecido pulmonar, o que ao longo do tempo agrava o quadro e aumenta o risco de óbito”, explica a pesquisadora. Este percentual de pacientes é exatamente o grupo-alvo de suas pesquisas, iniciadas com células-tronco, a fim de reverter os danos causados pela doença. Ao longo dos estudos, além de células-tronco presentes na medula óssea, identificaram-se células maduras (monócitos) com potencial anti-inflamatório e regenerativo. “Tais células também são encontradas no sangue, o que abre a possibilidade de a terapia celular não depender de um procedimento tão invasivo quanto a punção da medula óssea”, explica Fernanda.

Segundo a pesquisadora, os monócitos têm origem na medula, mas passam pela corrente sanguínea antes de se deslocarem para os tecidos – como o alveolar – onde são denominados macrófagos. Conhecidos como “faxineiros”, são capazes de limpar restos celulares, partículas inertes ou microrganismos, mantendo os tecidos livres de corpos estranhos, além de exercerem função imunitária. Ela explica que as pesquisas, agora, buscam desenvolver estratégias que aumentem o potencial terapêutico dessas células, seu potencial anti-inflamatório, e entender como elas agem no controle e regeneração de outras células do pulmão, visando melhorias dos diversos sintomas da asma, como a produção de muco, por exemplo.

Graduada com louvor pela Faculdade de Medicina da UFRJ, Fernanda estuda novas terapias para problemas respiratórios crônicos desde sua Iniciação Científica. Contemplada pelo programa Pós-Doutorado Nota 10 da FAPERJ, seu projeto “Terapia Celular em Modelo Murino de Asma Grave: papel dos Macrófagos” foi seu terceiro pós-doutorado, supervisionado pelo professor Marcelo Morales. De 2014 a 2017, sob a supervisão da professora Patrícia Rieken Macedo Rocco, ela recebeu bolsa Atração Jovens Talentos, com verba de consumo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do programa Auxílio Instalação da FAPERJ para pesquisa em Medicina Regenerativa. Entre 2013 e 2014, seu pós-doutorado em Medicina Regenerativa e Bioengenharia foi fora do Brasil, na Faculdade de Medicina da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, sob supervisão de Daniel Weiss, com bolsa de Pós-doutorado no Exterior do CNPq.

Os projetos de pesquisa relacionados à Fisiologia e Fisiopatologia Pulmonar, Imunologia, Medicina Intensiva, Medicina Regenerativa e Bioengenharia de Fernanda já receberam quatro prêmios da Sociedade Torácica Americana. Com 11 artigos publicados como primeira autora, 27 como coautora, 11 artigos plenos em revistas indexadas, três capítulos como primeira autora em livros internacionais e dois como coautora em livros nacional e internacional, ela foi eleita membro do Programa Jovens Lideranças Médicas da Academia Nacional de Medicina (ANM).

Em sua 13ª edição, o programa “Para Mulheres na Ciência”, desenvolvido pela L'Oréal em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), recebeu recorde de inscrições, um total de 524 trabalhos, 34% a mais que em 2017. O programa tem como objetivo transformar o panorama da ciência no País, favorecendo o equilíbrio dos gêneros no cenário brasileiro e incentivando a entrada de jovens mulheres no universo científico. Anualmente, são premiados sete jovens pesquisadoras em quatro categorias: Ciências da Vida, Química, Matemática e Física. Em mais de uma década já foram distribuídos R$ 3,5 milhões entre 82 mulheres cientistas, escolhidas por uma comissão julgadora formada por renomados profissionais das áreas científicas. Fernanda foi a única pesquisadora premiada pelo Estado do Rio de Janeiro na edição deste ano. As outras seis contempladas são a bióloga Angélica Vieira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que investiga o aumento da resistência da população a antibióticos; a bioquímica Ethel Wilhelm, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que dedica-se a terapias eficazes para causas de dores em idosos; Sabrina Lisboa, biomédica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), que busca uma terapia eficaz para pacientes que sofrem de Transtorno de Estresse Pós-Traumático; Jaqueline Soares, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que conduz estudo sobre o desenvolvimento de próteses ortopédicas e dentárias mais resistentes, a partir da pedra-sabão; Nathalia Lima, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), cujo trabalho de pesquisa busca aumentar prazo de validade do cimento; e Luna Lomonaco, do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME/USP), especialista em sistemas dinâmicos, ou seja, sistemas que mudam com o tempo.








Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 20/09/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3630.2.7

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Estudo mostra como brisa marítima influencia o clima da Grande SP


Brisas oceânicas dispersam temporariamente poluentes acumulados na atmosfera das regiões urbanas – Foto: NASA via Wikimedia Commons / Domínio Público

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Ao subir a serra, a brisa que vem do litoral pode mitigar as ilhas de calor que se formam na Região Metropolitana de São Paulo, além de interferir na qualidade do ar ao promover temporariamente a dispersão dos poluentes acumulados na atmosfera. É o que indica um estudo publicado na revista Atmosferic Research e conduzido por Flávia Noronha Dutra Ribeiro, docente do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. O trabalho teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

As circulações termicamente dirigidas provenientes de lagos, mares e montanhas ajudam a determinar não só o clima, mas a qualidade do ar das áreas urbanas próximas. O foco da pesquisa coordenada por Ribeiro é entender a propagação da brisa marítima na Camada Limite Planetária (CLP), a faixa de ar mais próxima da superfície, da Região Metropolitana de São Paulo e seus efeitos locais. “É esperado que a brisa traga um ar mais úmido e um pouco mais frio da costa, mas havia poucas informações disponíveis sobre o impacto real dela no perfil vertical da atmosfera”, disse Ribeiro, que também é pesquisadora e orientadora do programa de pós-graduação em Sustentabilidade na EACH.

A CLP é a camada mais próxima do solo da troposfera, última camada da atmosfera, faixa gasosa que envolve a Terra e mantém a temperatura e o clima do planeta, além de filtrar os raios ultravioleta. A CLP é importante para o clima local, pois é responsável pela troca de calor e umidade entre a superfície e a atmosfera.

Ribeiro explica que a CLP recebe a interferência direta do que ocorre na superfície, como a capacidade de o solo refletir ou absorver o calor gerado pela radiação solar, tráfego automotivo, indústria, densidade demográfica e emissão de poluentes.

E é justamente nessa camada que se formam as ilhas de calor, anomalia térmica que torna o ambiente urbano mais quente e seco do que as zonas rurais, que contêm mais vegetação.

“Como já temos uma região mais quente, o calor antropogênico – promovido por atividades humanas – tende a criar movimentos ascendentes na atmosfera e gerar uma circulação maior de ilhas de calor”, disse a pesquisadora.

Nas cidades, o ar é convergido para o centro, o que intensifica o efeito do fenômeno. E é esse fenômeno que acelera a propagação da brisa que, por sua vez, resfria o ar local.

“Em São Paulo, a chegada da brisa marítima é muito positiva, pois deixa a temperatura um pouco mais baixa, o clima mais úmido e o ar menos poluído”, disse Ribeiro.

O efeito, contudo, é temporário.

“A chegada da brisa provoca uma inversão térmica que deixa a CLP mais estável, agindo como uma espécie de tampa na atmosfera. Assim, embora o ar limpo chegue, os poluentes continuam sendo emitidos e não conseguem se dispersar na vertical como deveria ocorrer”, disse a pesquisadora.
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Brisas frequentes


O foco da pesquisa é entender a propagação da brisa marítima na Camada Limite Planetária (CLP), a faixa de ar mais próxima da superfície terrestre – Imagem: Landsat / Wikimedia

O estudo utilizou medições feitas no projeto MCITY Brasil, conduzido em 2013 na USP por Amauri Pereira de Oliveira, que realizou sondagens na região metropolitana em diversos horários do dia por meio de uma radiossonda.

O equipamento forneceu o perfil vertical de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento. Depois, os dados foram analisados com o modelo atmosférico Weather Research and Forecast (WRF).

“Trata-se de um modelo numérico computacional usado para previsão do tempo e pesquisa, que simula a interação entre superfície e atmosfera e permite a análise da circulação atmosférica”, explica Ribeiro, que comparou o clima no topo do platô da Serra do Mar ao de outros pontos da área urbana para calcular a propagação da brisa.

“Pelas simulações do modelo vimos que, mesmo no dia em que não havia brisa na cidade, havia um ar mais frio na estação que ficava no final da serra”, disse.

Para a análise, os pesquisadores escolheram duas ocorrências de brisa marítima na região metropolitana, uma durante o inverno e outra no verão, mas o fenômeno não é raro.

“Outros estudos já haviam demonstrado que a brisa marítima chega a São Paulo pelo menos em metade dos dias do ano. E, agora, confirmamos que ela sobe a serra quase todos os dias, mas depende de condições sinóticas [sistemas de ventos] para atingir a área urbana”, disse Ribeiro.

A presença tão marcante da brisa mesmo a cerca de 700 metros de altitude e 50 quilômetros de distância terrestre é proporcionada pela topografia da Serra do Mar, que impulsiona a brisa marítima.

“Ela se estabelece na costa, mas é propagada com a ajuda da circulação vale-montanha. Por conta da brisa de montanha, conforme a brisa marítima sobe, esfria ainda mais, e, quando atinge o topo, essa diferença térmica provoca a movimentação do ar em direção à cidade”, explicou Ribeiro.

Os pesquisadores agora analisarão o efeito da brisa marítima na qualidade do ar da região metropolitana com outro modelo numérico, o Community Multiscale Air Quality (CMAQ), que analisa a evolução da concentração de poluentes na atmosfera, além de seguir usando o modelo WRF para verificar a influência dela em outras épocas do ano.

Outro objetivo do grupo é avançar no conhecimento das ilhas de calor. “Faremos uma simulação de 10 anos de dados sobre as ilhas de calor em São Paulo durante o mês de janeiro, para comparar o comportamento delas em diversas situações sinóticas”, disse Ribeiro.

O grupo pretende verificar, por exemplo, como as ilhas de calor respondem às massas de ar maiores do que a brisa marítima, como a frente fria.

O artigo Effect of sea breeze propagation on the urban boundary layer of the metropolitan region of São Paulo, Brazil, de Flávia N. D. Ribeiro, Amauri P. de Oliveira, Jacyra Soares Regina M. de Miranda, Michael Barlage e Fei Chen, pode ser lido na Atmospheric Research.

Chloé Pinheiro/Agência Fapesp







Autor: Chloé Pinheiro
Fonte: Jornal da USP
Sítio Online da Publicação: Jornal da USP
Data: 18/09/2018
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/estudo-mostra-como-brisa-maritima-influencia-no-clima-da-grande-sp/

Cuidadores de pessoas com transtornos mentais cuidam de si mesmos?


A presença de uma criança com transtornos exige dedicação extrema de quem cuida – Foto: PublicDomainPictures via Pixabay – CC

Um artigo publicado na revista Saúde e Sociedade discute a questão do cuidar – do outro e de si. Quais são os limites? Como cuidar do outro sem esquecer de si mesmo? Cuidadores profissionais muitas vezes se deparam com essa problemática, na qual se observa que as próprias famílias passaram a ser as principais provedoras de cuidados a pacientes portadores de transtornos mentais, em razão da “desinstitucionalização psiquiátrica”. As dificuldades enfrentadas no desempenho do papel de cuidador resultaram em uma transformação na participação da família na atenção ao doente mental, e também em relação à própria vida desse cuidador.

A pesquisa que originou o artigo teve como metodologia a coleta de dados em um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) na cidade de Patos, no estado da Paraíba, tendo como objetivo principal observar mudanças nos âmbitos social, familiar e sexual de cuidadores de crianças e adolescentes com transtornos mentais atendidos em um CAPSi paraibano. Os autores explicam que a saúde mental infantil da criança interfere no rendimento escolar e na estrutura familiar e, apesar da indicação do tratamento ser efetivado dentro das “dinâmicas familiares”, com previsão “dos suportes de especialistas e estrutura de apoio, esses serviços não atendem à demanda das necessidades dos pacientes com transtorno mental”.

Com a prevalência das doenças mentais em crianças e adolescentes, os autores lançam a pergunta: 

“quais mudanças ocorrem na vida social, familiar e sexual de cuidadores de crianças e adolescentes com transtornos mentais?”. Os cuidadores, de maneira geral, prejudicam-se no trabalho remunerado depois de contraírem doenças, pois todos eles relataram ter deixado de trabalhar para se dedicar à criança, não usufruem mais de lazer, acabam mudando de religião, muitas vezes para buscar explicação para a doença, e também diminuem consideravelmente a atividade sexual. A cuidadora da criança é normalmente a mãe, pois o cuidar ainda é uma função atribuída, na maioria das vezes, ao sexo feminino, embora tenham ocorrido modificações ao longo da história.

Estudiosos consideram que muitos cuidadores familiares assistem seus sonhos caírem por terra, visto que a presença de uma criança com transtornos exige dedicação extrema de quem cuida. O artigo finaliza afirmando que os portadores de transtornos mentais são dignos de maior atenção das políticas públicas e da sociedade, e “os resultados deste estudo poderão influir na adequação dos serviços de saúde mental, uma vez que a saúde de criança ou adolescente depende da saúde do cuidador“.

Manuela Carla de Souza Lima Daltroa é do Departamento de Fisioterapia, Faculdades Integradas de Patos, Patos, PB, Brasil.

José Cássio de Moraes é do Departamento de Medicina Social, Santa Casa de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas, São Paulo, SP, Brasil.

Regina Giffoni Marsiglia é da Santa Casa de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas, São Paulo, SP, Brasil.

DALTRO, Manuela Carla de Souza Lima; MORAES, José Cássio de; MARSIGLIA, Regina Giffoni. Cuidadores de crianças e adolescentes com transtornos mentais: mudanças na vida social, familiar e sexual. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 27, n. 2, p. 544-555, jun. 2018. ISSN: 1984-0470. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018156194. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/148230>. Acesso em: 18 jul. 2018.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP




Autor: Margareth Artur
Fonte: Jornal da USP
Sítio Online da Publicação: Jornal da USP
Data: 18/09/2018
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/como-cuidadores-de-pessoas-com-transtornos-mentais-cuidam-de-si-mesmos/

Além de presos, combate à tuberculose deve priorizar população pobre


Estudo premiado indica que a exposição às prisões teria uma importância relativa maior em melhores cenários socioeconômicos, sugerindo uma endemia concentrada da doença nestes contextos. Já em situação de pobreza, estar ou não preso afeta menos o risco de contrair a doença, que é alto – Foto: Agência Brasil

Pesquisa que analisa incidência da tuberculose nas populações encarceradas ganhou o Prêmio Jovem Pesquisador, concedido no 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop 2018), que aconteceu no início do mês em Recife (PE). O trabalho é de autoria Daniele Maria Pelissari, orientada pelo professor Fredi Alexander Diaz Quijano, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

A pesquisa de doutorado, que ainda se encontra em andamento, investiga a associação entre a privação da liberdade e o risco desta doença infecciosa, de acordo com os diferentes contextos socioeconômicos. O estudo indica que, em cenários com melhores condições de vida, estar em uma prisão tem importância relativa maior para o risco de contrair a doença, sugerindo uma endemia concentrada. Por outro lado, em cenários de extrema desigualdade, estratégias focadas em mitigar os fatores de risco socioeconômicos na população em geral devem ser priorizadas, já que a doença atinge grupos mais amplos.


Daniele Maria Pelissari – Foto: Arquivo pessoal

Os dados da pesquisa sugerem que “condições de vida precárias na população geral (não encarcerada) podem levar a que seu risco de pegar tuberculose se aproxime ao da população privada de liberdade”. Segundo Daniele Pelissari, esses resultados são de grande relevância para se avaliar e interpretar adequadamente as intervenções focadas nas populações privadas de liberdade, contribuindo na definição de prioridades em saúde pública.

O Prêmio Jovem Pesquisador, do Medtrop, é destinado a cientistas na área de medicina tropical. O primeiro colocado de cada categoria recebe mil reais, sendo conferidas menções honrosas para o segundo e terceiro colocados.

Com informações da Assessoria de Imprensa da FSP







Autor: Jornal da USP
Fonte: Jornal da USP
Sítio Online da Publicação: Jornal da USP
Data: 17/09/2018
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/alem-de-presos-combate-a-tuberculose-deve-priorizar-populacao-pobre/

terça-feira, 18 de setembro de 2018

1 em 5 homens e 1 em 6 mulheres terão câncer em algum momento da vida, diz agência ligada à OMS


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Número de casos de câncer está aumentando no mundo

Um em cada cinco homens e uma em cada seis mulheres terão câncer em algum momento de suas vidas. Além disso, um em cada oito homens e uma em cada onze mulheres irão morrer por causa da doença.

Os dados são do último relatório estatístico sobre a situação do câncer no mundo, da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês), divulgado na última quarta-feira. Todos os anos, a Iarc, instituição ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), avalia 36 tipos de câncer em 185 países.

O relatório também mostra que o número de casos da doença está aumentando. Neste ano, haverá 18,1 milhões de novos casos de câncer no mundo, estima o relatório da Iarc. Destes, 9,6 milhões vão resultar em morte. Em 2012, por sua vez, foram contabilizados 14,1 milhões de casos e 8,2 milhões de mortes.


"O aumento da incidência de câncer se deve a diversos fatores, incluindo o crescimento e o envelhecimento da população", afirma a publicação. Outra explicação é a mudança na prevalência de câncer à medida que os países se desenvolvem - caem os tipos de câncer relacionados à pobreza e infecções e aumentam os tipos de câncer associados ao estilo de vida de países industrializados.
Tipos de câncer mais comuns em 2018

O câncer de pulmão, de mama e o câncer colorretal (intestino grosso) são os três principais tipos, em termos de incidência.


O de pulmão é responsável por 11,6% dos casos da doença. O de mama registra o mesmo percentual de incidência. Já o câncer colorretal corresponde a 10%. Juntos, eles são responsáveis por um terço de todos os tipos de câncer e mortes pela doença no mundo.

Em seguida, está o câncer de próstata (7%) e o câncer de estômago (5,7%).

Os autores do estudo dizem que o câncer de pulmão é responsável pelo maior número de mortes - cerca de 1,8 milhões. Um dos motivos é a falha no diagnóstico da doença. Em seguida, entre os mais mortais, estão o câncer colorretal, o câncer de estômago e o câncer de fígado.

Já o câncer de mama é apenas o quinto mais mortal. Isso se dá devido a acertos no diagnóstico.


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GLOBOCAN 2018
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Mapa da Iarc mostra a incidência de câncer em cada país - quanto mais escuro o tom de azul, maior a incidência
Diversidade 'extraordinária'

Cerca de metade dos casos de câncer e das mortes pela doença este ano devem ocorrer na Ásia. Isso ocorre, em parte, devido ao grande número de pessoas que vivem no continente - 60% da população mundial. Além disso, alguns dos tipos de câncer mais mortais são mais comuns nessa região - entre eles, o câncer de fígado.

A Europa responde por um quarto dos casos de câncer. Já a América, por 21% - apesar de ter apenas 13% da população mundial.

Segundo os pesquisadores, há uma "extraordinária diversidade" nos tipos de câncer e padrões de doença ao redor do mundo. Por isso, a recomendação é que os países avaliem qual é a melhor maneira de prevenir e tratar a doença de acordo com as realidades locais.






Autor: BBC News Brasil
Fonte: BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 17/09/2018
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45501342