A chamada 4ª Revolução Industrial já está em curso e ainda há pessoas que só ouviram falar em impressão 3D em reportagens sobre produção de máscaras contra a Covid-19, que utilizaram essa nova tecnologia na produção desse item de proteção. Por falta de conhecimento, muitos usuários da Internet andam fornecendo seus dados pessoais sem terem ideia das consequências desse ato. Caminho sem volta, a nova revolução industrial, associada às consequências da pandemia mundial da Covid-19, certamente irá impactar as economias e as relações de trabalho. Países de todo o mundo se preparam para enfrentar a nova realidade pautada pelas novas tecnologias.
Formada em Matemática, com mestrado e doutorado em Ciência da Computação, Mônica Maria Ferreira da Costa optou por trabalhar com tecnologia aplicada. Professora de Engenharia de Produção no Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), ela percebeu que os alunos ainda estão muito distantes desse novo universo da “Indústria 4.0”. Ela conta que foi numa aula de Lógica de Programação – uma disciplina do nível básico, que passou a ser obrigatória nos cursos de engenharia – que percebeu a dificuldade dos alunos, justamente nessa disciplina, que trabalha as habilidades apontadas como essenciais para o século XXI. Por isso, a cada semestre, em todas as aulas inaugurais das três disciplinas que leciona, procura sempre traçar um panorama mundial, destacando as novas tecnologias e habilidades requeridas por um mercado de trabalho em constante transformação, para trazer seus alunos para essa nova realidade.
Com formação focada na Educação, Mônica participou, de 2007 a 2015, da concepção e condução do projeto Nave, uma parceria entre a Oi Futuro e a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, que propõe metodologias inovadoras de educação para fomentar políticas públicas. Ela coordenou um dos três cursos da escola, baseados em propostas muito inovadoras, como iniciar o trabalho a partir de um projeto, integrando as várias áreas de conhecimento, e tentando dar sentido à aprendizagem através da contextualização de problemas do mundo. A experiência na área de Educação levou Mônica a identificar dificuldades de adaptação às transformações também nas instituições de ensino. “Na Uezo, assumi uma função na pró-reitoria de graduação para tentar alavancar não somente o emprego de tecnologia na educação, como propor novas metodologias, trazendo o professor também para esse universo”, explica.
Big Data, Inteligência Artificial e Internet das Coisas são novas tecnologias que caracterizam a chamada 4ª Revolução Industrial
No final de 2019, a ideia ganhou impulso com a aprovação de uma proposta submetida ao edital Programa de Apoio À Infraestrutura Laboratorial e Desenvolvimento da Uezo, da FAPERJ. Intitulado “A Uezo em compasso com a Indústria 4.0: promoção da inovação e qualificação de capitalhumano para a atuação competente na indústria do futuro”, o projeto, focado em tecnologia e educação, congrega a vertente da inovação na engenharia de produção, tentando aproximar a Uezo da indústria. Entre os seus objetivos, pretende trazer os problemas da indústria para serem solucionados dentro da universidade, no laboratório a ser montado no contexto do projeto. E propõe promover cursos de extensão para professores dos últimos anos dos cursos fundamental e médio a fim de discutir metodologias que passem a também fazer parte da realidade desses educadores em escolas do ensino básico. “Assim, não só estaremos inserindo os alunos no universo da 4ª Revolução Industrial como também fomentando metodologias de ensino mais ativas, focadas na resolução de problemas, utilizando as tecnologias emergentes”.
De acordo com a professora, é fundamental, principalmente para um aluno de engenharia de produção, estar familiarizado com as tecnologias emergentes associadas à 4ª Revolução Industrial. “Na disciplina Tecnologias Exponenciais na Engenharia, que já estou lecionando pela segunda vez, procuro dar um panorama geral para os alunos, apresentando o cardápio de soluções que incluema Internet das Coisas e a Inteligência Artificial como ferramentas para solucionar os problemas da indústria”, afirma Mônica.
Os cursos de extensão para professores pretendem fazer com que esse universo tecnológico passe a integrar as práticas pedagógicas, despertando o interesse por esse assunto nos primeiros anos do ensino fundamental. Mônica acha que, no mínimo, os jovens devem estar cientes de que quando navegam e fazem uma busca na internet ou informam seu CPF para ganharem um desconto quando realizam uma compra, estão expostos à inteligência artificial. “Quando o cidadão fornece seu CPF numa compra está vendendo, a preço de banana, seu perfil de consumo, que pode ser, posteriormente, utilizado para basear a precificação de planos de saúde, por exemplo”, esclarece Mônica. Para ela, conhecer esses riscos é fundamental para que os jovens tenham conhecimento e base em discussões éticas sobre a rede e as novas tecnologias.
A professora lembra que todas as demais revoluções industriais foram classificadas como tal após acontecerem. Resumindo, a primeira Revolução Industrial trouxe o vapor; a segunda, a eletricidade; a terceira, a Tecnologia da Informação (TI), e a quarta, Big Data, Inteligência Artificial, Internet das Coisas. No entanto, ela ressalta que os estudos indicam que o Brasil ainda está caminhando da Indústria 2.0 para a 3.0. “Na 4ª Revolução Industrial as coisas estão acontecendo rapidamente, antes de serem percebidas pela maioria”, avalia. Mônica explica que o termo 4ª Revolução Industrial foi cunhado pelo presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, durante encontro de Davos em 2016. Ela ressalta que além dos impactos sobre o sistema produtivo, a 4ª Revolução Industrial tem reflexos sobre outros domínios.
Em seu projeto, Monica pretende capacitar alunos, professores e auxiliar a industria
“Estudiosos do futuro, como o economista norte americano, conselheiro da União Europeia, Jeremy Rifkin, apostam no fim do capitalismo e do socialismo. Acreditam que estaria emergindo um novo sistema econômico baseado na economia do compartilhamento, ou consumo colaborativo”. Mônica destaca que o autor já anunciava as consequências da evolução da tecnologia nas relações de trabalho em 2004, quando previu uma mudança estrutural - e não conjuntural - no mercado de trabalho, e que o emprego, nos moldes como a sociedade sempre conviveu, está fadado a acabar. “Ele defende que continuará havendo demanda por trabalho, mas em outros moldes. Diante disso, os países e as economias estão começando a se preparar para enfrentar os impactos da 4ª RI no campo do trabalho”, esclarece a professora.
Para a pesquisadora, não há como saber todos os impactos que essa revolução provocará, que deverá provocar mudanças muito profundas, em especial no mundo produtivo. “A forma de organização da produção deverá ser extremamente impactada pelas tecnologias, entre elas a manufatura aditiva (impressão 3D). Fico preocupada quando assisto a discussões muito rasas a respeito da concessão e valor do auxílio emergencial, quando acredito que deveríamos aproveitar a oportunidade para um debate mais estrutural da reorganização da economia do País e da elaboração de políticas públicas que possam enfrentar essas mudanças. Costumo mostrar aos meus alunos essa visão mais macro de responsabilidade social, pois já que eles são o futuro do País, devem estar preocupados não só com a manutenção do seu trabalho num mundo em transformação, mas também exercerem sua responsabilidade diante dessas mudanças”, conta Mônica.
Alguns dados e indicadores norteiam o trabalho da pesquisadora. Suas consultas aos relatórios do Fórum Econômico Mundial, mostram que a posição do Brasil no ranking de competitividade global causa preocupação. O Relatório de Competitividade Global avalia anualmente o índice de competitividade de cerca de 140 países, com base em 12 pilares, entre eles skills, ou habilidades em português, e vários indicadores. Um dos indicadores é o “pensamento crítico na educação”, uma das habilidades fundamentais para o trabalhador do século 21. No estudo de 2019, o Brasil ficou em 126° lugar nesse indicador. Já em “habilidades digitais entre a população economicamente ativa”, o País aparece na 133ª posição.
O gráfico mostra os estágios de maturidades das empresas no caminho em direção à Indústria 4.0 (Fonte: Aachen University)
Monica explica que especialistas elaboraram um modelo de maturidade para que as empresas possam avaliar se estão ou não no caminho da indústria 4.0. O gráfico (ao lado) é dividido em seis estágios de maturidade , dos quais os quatro últimos são aqueles que, de fato, caracterizam a transição. O quinto e penúltimo estágio – o da capacidade preditiva – é quando os dados são usados para prever o futuro, a partir do histórico coletado. Esses dados provêm de sensores adaptados às máquinas e permitem compreender melhor o que acontece nos processos de fabricação, viabilizando decisões mais assertivas. “É como se tivéssemos um representante digital monitorando o que acontece no mundo físico”, afirma. Segundo ela, por meio do uso intensivo de sensores é possível, por exemplo, eliminar manutenções corretivas de máquinas e equipamentos, já que passa a ser possível prever as possíveis falhas e agir antes delas acontecerem. Já no sexto e último estágio – o da adaptabilidade – além da capacidade de prever mudanças de impacto, a tecnologia pode sugerir medidas para que se atinjam os objetivos da produção.
Entretanto, a especialista em Ciência da Computação lembra que a realidade brasileira revela que muitas empresas ainda sequer têm seus processos totalmente mapeados e tampouco incorporam ferramentas de TI para a gestão desses processos. Mas ressalta que algumas empresas brasileiras já caminham para se adaptar à indústria 4.0, como é o caso de uma mineradora que já vem utilizando em algumas de suas plantas caminhões autônomos, com impacto ambiental positivo sobre o consumo de combustível e na redução de riscos dos operadores.
Autor: Paula Guatimosim
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 25/03/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4184.2.2
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