“Nesse artigo, observamos e descrevemos as primeiras bactérias fossilizadas encontradas no tártaro dentário da megafauna do Quaternário sul-americano, mais especificamente no mastodonte da espécie Notiomastodon platensis, que vivia no território hoje correspondente à América do Sul”, explicou Dimila. O artigo, que tem a bióloga como primeira autora, também é assinado pelos pesquisadores Karoliny de Oliveira e Alline Rotti (do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ), José Luis Roman-Carrión (Escola Politécnica Nacional, do Equador), Luiz Carlos Bertolino (Centro de Tecnologia Mineral - Cetem), Natascha Krepsky (Laboratório de Microbiologia das Águas, da UniRio) e Leonardo Avilla (Laboratório de Mastozoologia, da UniRio). Dimila, além de ser pesquisadora de pós-doutorado deste último laboratório, na UniRio, é associada ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva, ligado ao Centro de Ciências Biológicas da UFRJ, na Ilha do Fundão.
Os animais da megafauna, como os mastodontes, os tigres-de-dente-de-sabre e os mamutes, tinham grandes proporções corporais. Os primeiros conviveram com a espécie humana até serem extintos, no Quaternário tardio. “Os mastodontes foram parentes pré-históricos dos elefantes”, contextualizou. A pesquisadora, que estuda os mastodontes desde a época da sua graduação em Ciências Biólogicas na UniRio, quando foi bolsista de Iniciação Científica da FAPERJ e deu os primeiros passos na vida acadêmica no Laboratório de Mastozoologia, sob a orientação de Leonardo Avilla, conta que o tártaro só tinha sido objeto de estudo anteriormente em pesquisas na área de Arqueologia, para a análise de populações humanas antigas, por exemplo. “Estamos inovando ao introduzir, na América do Sul, essa metodologia de estudo do tártaro na Paleoecologia, e em mastodontes. Estudamos vários dentes da espécie Notiomastodon platensis em fósseis encontrados no Brasil, na Argentina e no Equador, por meio de estudos no microscópio eletrônico de varredura do Cetem, para ver a superfície da placa bacteriana dentária. Também fazemos análises químicas, que permitem dissolver a matriz do tártaro para observar detalhes, como os vestígios da alimentação herbívora que o animal tinha no passado”, destacou.
Dimila Mothé com um exemplar do Notiomastodon platensis: pesquisadora destaca a importância da análise do tártaro como nova metodologia no estudo dos mastodontes (Foto: Divulgação)
Surpreendentemente, o tártaro, doença bucal comum em humanos, pode ajudar a revelar fatos pouco conhecidos dos mastodontes e detalhes importantes da vida na Terra na época em que viveram. “Além de dar pistas sobre a dieta dos mastodontes na pré-História, o tártaro dentário revela patógenos preservados. Ele tinha sido observado apenas por arqueólogos, em estudos com o tártaro humano de múmias”, contou. O estudo traz à tona o primeiro registro de uma bactéria bucal fossilizada encontrada em um Proboscideo, a ordem de mamíferos placentários, que contém apenas uma família vivente, a Elephantidae, à qual pertencem os atuais elefantes. “No artigo, descrevemos a presença da bactéria Streptococcus, que identificamos preservada, em seu formato esférico e de corrente, no microscópio eletrônico do Cetem. Essa bactéria é comum na cavidade oral de mamíferos, mas não sabíamos se conseguiríamos observá-la de forma isolada e preservada no tártaro de mastodontes. Queremos, no futuro, avaliar o material genômico desse tártaro. Sabemos que existem até 600 tipos de bactérias presentes na boca deles, ainda a serem estudadas, que podem explicar até as doenças comuns entre esses mamíferos na época”, explicou.
“Esse é um estudo bastante simbólico porque mostra como os cientistas brasileiros podem ser criativos no sentido de buscar metodologias em outras áreas. Investigamos material do nosso patrimônio fossilífero, com colaborações entre várias instituições de pesquisa”, ponderou Dimila. Aos 34 anos, com uma trajetória voltada ao estudo dos mastodontes e da evolução das espécies, ela ainda concilia a vida acadêmica com participações pontuais como modelo. “É um hobby que tenho e o mais importante é saber que estou ajudando a projetar a imagem da mulher cientista e a divulgar a Ciência. É bom passar uma mensagem positiva às meninas que estão pensando em seguir carreira na pesquisa, de que elas são capazes e é totalmente possível conciliar os estudos com atividades extracurriculares, que fogem ao estereótipo que muitas pessoas ainda têm de que o cientista é um homem, mais velho, e de jaleco branco. Todos e todas podem ser cientistas”, concluiu Dimila, que é mestre e doutora em Zoologia pelo Museu Nacional/UFRJ, quando foi orientanda do professor Alexander Kellner e cursou período Sanduíche pelo Programa Ciência Sem Fronteiras na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos.
Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 08/04/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4188.2.4
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 08/04/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4188.2.4
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