De acordo com estudo publicado na Scientific Reports, os micróbios presentes no intestino das piranhas podem ajudar a entender a vida microscópica dos rios amazônicos (Foto: Divulgação)
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram que a composição de micróbios do intestino das piranhas pode ser uma chave valiosa para entender a vida microscópica dos rios amazônicos. Estudo recente, publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, revelou que esses resíduos dos peixes são como "janelas" que nos permitem espiar a diversidade microbiana presente nas águas. A pesquisa foi coordenada por Andrew Macrae, professor do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPG-UFRJ), com apoio da FAPERJ, e traz contribuições importantes para a biotecnologia e a preservação dos ecossistemas.
As piranhas, ao se movimentarem livremente e comerem em diferentes partes do rio, acabam transportando informações sobre os microrganismos presentes em diversas partes da água. “Queríamos saber se o intestino delas poderia refletir o que existe no rio como um todo”, explica Macrae. Usando uma técnica avançada da computação para analisar uma grande quantidade de dados, chamada “metagenômica shotgun”, foi possível fazer a análise de genes. A equipe comparou amostras de água do Rio São Benedito, na bacia amazônica, com as amostras obtidas do intestino das piranhas que habitam essa região.
O estudo analisou dois aspectos principais: quais filos e gêneros de microrganismos estavam nas amostras e quais funções eles desempenham. “Investigamos genes ligados a processos metabólicos, como digestão de alimentos e produção de energia”, explica Sheila da Silva, primeira autora do estudo e pós-doutoranda do IMPG-UFRJ.
Os resultados mostraram que, apesar de a diversidade de microrganismos ser menor nas amostras de intestino, o perfil funcional dos micróbios é muito semelhante ao da água. Além disso, o intestino revelou a presença de algumas espécies que não foram detectadas na água, mas que têm um papel importante neste ambiente.
Sheila da Silva e Andrew Macrae: de acordo com os pesquisadores, descobertas feitas pelo estudo podem beneficiar práticas sustentáveis de aquicultura, ajudando na saúde dos peixes e no controle de doenças contagiosas (Foto: Divulgação)
“Isso mostra que ao coletar a amostra de água pode-se deixar passar espécies menos representadas, mas que são fundamentais para a saúde do rio e dos animais que vivem ali”, destaca Sheila.
O estudo também identificou a presença de bactérias com grande potencial biotecnológico. Entre elas, a Kocuria rhizophila, que pode produzir substâncias capazes de combater bactérias resistentes a antibióticos, e a Mammaliicoccus sciuri, com propriedades probióticas que podem ser usadas em tratamentos de saúde intestinal.
Macrae ressalta que essa abordagem pode facilitar o monitoramento dos ecossistemas aquáticos. “Monitorar todos os microrganismos de um habitat tão complexo como a Amazônia é um desafio enorme. Se pudermos usar as piranhas como uma ‘lente’, isso simplifica o processo sem perder informações importantes sobre a biodiversidade”, comenta o pesquisador. Ele destaca que essas descobertas podem beneficiar práticas sustentáveis de aquicultura, ajudando na saúde dos peixes e no controle de doenças contagiosas.
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 10/04/2025
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=749.7.2