É neste cenário, que a Drosophila melanogaster, a popular mosca-das-frutas, ganha protagonismo. Enquanto para o público comum ela parece apenas um incômodo de cozinha, para a comunidade científica internacional é um dos organismos mais poderosos da biologia moderna, tendo rendido seis prêmios Nobel e contribuído para descobertas revolucionárias.
Uma importante estratégia
Promover seu uso no Brasil não significa apenas seguir uma tendência global, mas adotar uma estratégia de resiliência científica: manter a chama da descoberta acesa mesmo com orçamentos reduzidos. É o que dizem os professores Marcus F. Oliveira, do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Marcos T. Oliveira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da FMRP, da Universidade de São Paulo (USP), em texto publicado no portal The Conversation Brasil.
De acordo com a publicação, o valor desse inseto de poucos milímetros está em nossa própria história evolutiva. Aproximadamente 75% dos genes ligados a doenças humanas possuem equivalentes na drosófila, o que torna seus processos biológicos — desenvolvimento, envelhecimento, proliferação celular e comunicação neural — incrivelmente semelhantes aos nossos.
Essa proximidade, somada à facilidade de manipular seu genoma de forma rápida e precisa, faz da mosca-das-frutas uma aliada única para investigar doenças complexas como Alzheimer, Parkinson, câncer, diabetes, problemas cardíacos e até infecções por vírus como Zika e SARS-CoV-2. Em laboratório, ela permite triagens genéticas, toxicológicas e farmacológicas, manipulação do metabolismo e estudos multigeracionais, tudo com ferramentas de ponta e custos reduzidos.
Drosophila melanogaster – Crédito: Getty ImagesOpção mais barata
Os números são claros: manter experimentos com drosófilas custa, em média, apenas 10% do valor necessário para realizá-los em camundongos ou ratos. Como afirmou o geneticista Hugo Bellen, do Baylor College of Medicine: “10 vezes mais biologia é obtida por dólar investido em drosófila do que em camundongo”. No Brasil, um levantamento com fornecedores locais mostrou que manter um Flylab (isto é, um laboratório de drosófilas) custa quase três vezes menos do que um laboratório de culturas de células — e, se considerados apenas os consumíveis não duráveis, a diferença chega a sete vezes.
Esses dados desmontam o preconceito de que baixo custo significa baixo impacto. No caso da drosófila, a economia é uma vantagem estratégica, sem perda de relevância científica. Ainda assim, o Brasil insiste em priorizar modelos mais caros desde as etapas iniciais da pesquisa, desperdiçando recursos escassos e reduzindo sua competitividade.
Os professores apontam que reverter esse quadro exige ação direta das agências de fomento — CNPq, CAPES e as FAPs estaduais. Eles destacam que criar editais específicos para o uso da drosófila não seria apenas um incentivo, mas uma declaração clara de política científica. Significaria investir em uma ferramenta de alto impacto, capaz de sustentar uma nova geração de cientistas e acelerar a produção de conhecimento no país.
A aposta na drosófila seria um caminho estratégico para construir um ecossistema de pesquisa biomédica mais ágil e competitivo, capaz de garantir que o Brasil mantenha sua capacidade de inovar e transformar sua realidade com soberania.
Autor: Giovanna Gomes
Fonte: aventurasnahistoria
Sítio Online da Publicação: aventurasnahistoria
Data: 18/08/2025
Publicação Original: https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/o-inseto-que-pode-revolucionar-a-pesquisa-biomedica-no-brasil.phtml
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