O local Sala de Espera assume uma posição sui generis na condição de espaço de educação não formal: justamente por agregar pacientes com problemas de saúde semelhantes ou não, que aguardam atendimento médico, assistem a televisão, falam ao celular e com outros pacientes, transitam com carrinho de bebê e, geralmente, aguardam atendimento onde há fluxo de pessoas (TEIXEIRA, VELOSO, 2006). A cacofonia do local, geralmente, é interrompida pela chamada da senha ou do nome do próximo paciente da fila a ser atendido.
É neste lugar, aparentemente caótico, que os profissionais da saúde ensinam conteúdos com temáticas diversas. No ensino destes temas existe a intencionalidade, o planejamento e a organização das ações ali desenvolvidas, além da estruturação dos processos de aprendizagem (GOHN, 2008, p.101). O trabalho de Educação em Saúde realizado nas salas de espera está fora do marco oficial da Educação Formal – fora da Escola e fora do currículo – e tem por objetivo central atender a grupos específicos (idosos, gestantes, nutrizes, crianças, diabéticos, etc.) ou pacientes em geral. Nesta condição, este trabalho integra a chamada Educação Não-Formal (ENF), que é entendida como “toda atividade organizada, sistemática, educativa, realizada fora do espaço do sistema oficial” (COOMBS, AHMED, 1975, p.27, grifos nossos).
Segundo Trilha (2008), esta modalidade de Educação surgiu no último terço do Século XX para suprir carências e deficiências presentes nas escolas. A ENF, por congregar metodologias e recursos diversos que, em algumas vezes, são distintos daqueles utilizados pelo professor em sala de aula e podem possibilitar a aprendizagem de temáticas específicas de modo a “sensibilizar” os aprendizes para modificar suas “atitudes”. De tal modo, que promovam mudanças comportamentais benéficas para a própria saúde e de outrem. A ENF é “um espaço concreto de formação com a aprendizagem de saberes para a vida em coletivos” (GOHN, 2009, p.32, grifos nossos). Neste espaço, cabe a utilização de quaisquer metodologias educacionais, mesmo as provenientes da educação formal (TRILLA, 2008, p.42). Destacou Gohn (2006) que devido às contínuas mudanças, ao dinamismo e ao constante movimento da realidade nos espaços não formais, as metodologias de ensino utilizadas nestes locais assumem um alto grau de provisoriedade.
Segundo esta autora, o aspecto metodológico é um dos pontos mais frágeis da ENF, justamente porque se origina da cultura de grupos e indivíduos, os métodos são originários da problematização da vida cotidiana, a partir de carências, obstáculos e necessidades destes mesmos grupos (GOHN, 2006, p. 31-32). Ao considerar o espaço Sala de Espera, este artigo propõe uma ruptura como os modelos de investigação pautados em aspectos mentalistas mencionados até aqui.
Assim, na contramão das orientações teóricas cognitivistas (ou mentalistas), que usualmente sustentam as investigações em espaços não formais de divulgação científica em Sala de Espera, esta pesquisa fundamentou-se na filosofia da ciência do comportamento denominada Behaviorismo Radical, de B.F. Skinner (1967; 1982); e em seus fundamentos metodológicos, com ênfase na Análise Aplicada do Comportamento, especificamente, a Avaliação Funcional Descritiva ou do inglês Functional Descriptive Assessment. Esta ferramenta é amplamente aplicada no tratamento de transtornos de comportamento autolesivos (CARSON, 2012; DIDDEN, 2007; CUNNINGHANM, O’NEILL, 2000; VOLLMER et al, 1995; LERMAN e IWATA, 1993), mas também com aplicação na formação de professores (GOMES, 2010; LOPES et al, 2009;LOPES, SPARVOLI, 2009) com resultados significativos na identificação de comportamentos-alvo e suas variáveis.
Autor: Paulo César Gomes, Sílvia Justina Papini e Luiza Cristina Godim Domingues Dias
Fonte: Sustinere
Sítio Online da Publicação: e-publicacoes UERJ
Data de Publicação: Janeiro a Junho de 2018
Publicação Original: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/31602/25721
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