quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Ergonomia aplicada na qualificação da ambiência do espaço de nascer

O parto é um acontecimento de relevância na vida da mulher, uma vez que constitui momento único para o binômio mãe e filho. As sensações que a parturiente vivencia durante o trabalho de parto exercem grande influência sobre sua experiência. Ambientes tranquilos, seguros e com uma atmosfera calma e desprovida de pontos causadores de estresse, favorecem a evolução do trabalho de parto, pois minimizam a liberação de adrenalina, hormônio responsável por diminuir o ritmo das contrações. Diversos recursos projetuais podem ser aplicados no planejamento e no desenho dos ambientes destinados ao parto, desde a configuração espacial, controle de luminosidade e do som, até a utilização de equipamentos que auxiliem no processo de parto e na escolha de métodos não convencionais para este, propiciando às mães sensações de controle, segurança e privacidade.

Estas sensações são primordiais para o andamento tranquilo do trabalho de parto até o nascimento do bebê. O trabalho de parto é influenciado por uma série de questões de caráter físico e emocional que interferem nas sensações das mulheres, envolvendo aspectos psicológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais. A oferta de um ambiente para o parto que possa proporcionar às parturientes a possibilidade de apropriação e controle pode também minimizar o estranhamento e a insegurança provenientes de estarem em um ambiente que não lhes é familiar e que remete a doença, do medo em relação ao parto em função de outras experiências vividas ou contadas e até mesmo das questões relativas à sua cultura e costumes familiares. É justamente o que sugere o conceito de ambiência, quando estabelece a relação do indivíduo com o ambiente, observando-o por uma ótica direcionada por todos os aspectos pessoais que lhe são pertinentes: os sentimentos, o conhecimento, a cultura, as expectativas, os medos.

Os efeitos subjetivos criados por esta gama de sensações atuam sobre e, em conjunto com a percepção do ambiente, ocasionando a experiência sensível vivida pelos sujeitos a ele expostos. Neste contexto, a ergonomia, que é definida como uma disciplina dedicada a relacionar o entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas dos ambientes, pode ser vista como uma importante ferramenta de suporte para o projeto dos ambientes destinados ao parto. A aplicação das ferramentas de ergonomia pode auxiliar no estabelecimento de condições físicas e de equipamentos a serem utilizados em tais ambientes, de forma a favorecer a segurança, o conforto e o protagonismo da mulher em seu trabalho de parto.

Um ambiente ergonomicamente pensado para atender as necessidades das parturientes lhes dará condições de atravessar com maior tranquilidade o processo do parto e influenciará em uma percepção positiva da experiência. Se entendemos que os estudos de ergonomia buscam a interação das pessoas com o seu ambiente e pensarmos que os ambientes de atenção à saúde são locais onde esta interação é realizada em situações geralmente ligadas a sensações de insegurança estresse, expectativa, medo e dor, torna-se clara a necessidade de entender que todas as atividades e situações vivenciadas pelos pacientes, bem como sua relação com os ambientes e equipamentos disponíveis nestes ambientes devam ser objeto de análises ergonômicas. No presente trabalho, serão levantadas características relacionadas a aspectos ergonômicos que influenciam na percepção da ambiência nos espaços destinados ao parto/nascimento, bem como da possibilidade de sua interferência negativa ou positiva no processo do parto.

O objetivo proposto é a contribuição quanto às maneiras de projetar estes ambientes, de forma que realmente sejam adequados para propiciar, conforto, segurança, privacidade e auxiliar no bem-estar físico e mental das parturientes.




Autor: Cristiane Neves da Silva
Fonte: Sustinere
Sítio Online da Publicação: e-publicacoes UERJ
Data de Publicação: Janeiro a Junho de 2018
Publicação Original: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/33609/25724

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