sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Eficácia do método agulhamento seco no tratamento da síndrome dolorosa miofascial

A dor musculoesquelética é muito comum na atenção primária a saúde. Sua prevalência aumenta com a idade e sua causa principal é a dor miofascial. Não é só um motivo de queixa dos pacientes para com seus médicos, essas dores afetam a qualidade de vida das pessoas interferindo em suas atividades diárias.

Nos centros de gerenciamento da dor, a dor miosfascial exibe altas taxas de prevalência. Um estudo com 283 pacientes a reportou como causa primária da dor em 85% dos casos. Em outro centro, uma avaliação com 96 pacientes revelou que 74% deles tinham a dor miofascial como causa primária de suas dores, sendo que em 93% dos casos ela era parte da queixa. Mesmo com números tão altos, a dor musculoesquelética é frequentemente subdiagnosticada e muitos pacientes chegam a evoluir com quadros crônicos, associado à dor incapacitante e perda de funcionalidade.




Definição e mecanismo da dor miofascial

A síndrome dolorosa miofascial é caracterizada por uma dor regional, ocasionada por um ponto gatilho em uma faixa de músculo esquelético associado a uma dor referida. O ponto gatilho foi descrito pela primeira vez como um nódulo sensível dentro de um grupo de fibras musculares. Essa dor causa disfunção motora e fraqueza muscular, não tem um padrão generalizado, pode ser localizada ou regional. Ao ser pressionado, pode causar uma dor referida à distância no mesmo segmento.

Fisiologicamente, o ponto gatilho é formado quando ocorre mudanças na junção neuromuscular, geralmente devido a um esforço repetitivo crônico, estresse, má postura, etc. Travell supõe que tudo começa com uma hipóxia local que leva a uma série de reações químicas, que levarão a formação desse nódulo muscular. A dor é causada após a formação desses nódulos pela liberação de mediadores inflamatórios que agem em terminações nervosas aumentando a ativação do nervo sensorial.
O tratamento

Os primeiros estudos direcionados ao tratamento das dores musculares, injetavam substâncias anestésicas para o alívio das dores, até que algumas pesquisas mostraram que o agulhamento seco também produzia efeitos terapêuticos. Apesar de usar as mesmas agulhas da acupuntura, esta técnica se baseia em conhecimentos de anatomia e fisiologia muscular, sendo um procedimento com objetivo de inativar e manipular bandas tensas miofasciais e pontos gatilhos, para produzir uma resposta reflexa seguida de um relaxamento muscular.

Existem muitos tratamentos não farmacológicos para inativação dos pontos gatilhos, como ultrassom, liberação miofascial, spray frio e alongamento e aplicação de anestésico local. Muitas delas são utilizadas inclusive de forma associada com o agulhamento seco.

Muitas pesquisas têm levantado a questão se a técnica de agulhamento em si, sem a utilização de outros métodos em conjunto pode ser uma alternativa única para o tratamento da síndrome dolorosa miofascial.
Os desafios das pesquisas

Muitas revisões foram feitas para determinar a eficiência do agulhamento seco, porém muitos são os desafios. É necessário que se determine um padrão para o tratamento, com profundidade da inserção da agulha, tempo de tratamento, grupos controle que não passaram por nenhum tratamento e grupos que usam apenas um tratamento, como o alongamento. Além disso, na grande maioria dos estudos a quantidade de pacientes eram pequenas.

Em estudos pragmáticos ou mais bem desenhados, é possível verificar que a técnica é mais eficaz quando associada a outros tratamentos, porém é necessário que se investigue a efetividade e eficácia com uma metodologia bem pensada, cobrindo os gaps deixados por outros pesquisadores.

Outra abordagem promissora para avaliação dos pontos gatilhos são exames de imagem. Apesar de não serem ainda utilizados no dia a dia da prática clínica, já que hoje os pontos são reconhecidos através da palpação e a intervenção terapêutica é barata, os exames de imagem auxiliariam as pesquisas, não só a identificar, mas a verificar a evolução dos diferentes tratamentos aplicados na região.

Dois estudos recentes conseguiram aplicar uma técnica de ultrassom, a elastografia, que permitia visualizar o ponto gatilho no tecido muscular. Através de uma vibração externa eles conseguiram diferenciar as cores no ultrassom e ver como era distribuída no tecido miofascial. Assim o diagnóstico foi muito preciso.

Conclusão

O agulhamento seco tem sido incorporado cada vez mais no manejo da dor, por ser uma técnica relativamente barata e simples de ser aplicada no consultório médico.

O agulhamento seco pode ser incorporado com outras modalidades de tratamento de dores crônicas, principalmente quando há encurtamento de músculos e ausência de resposta para outros tratamentos.





Autor: Marcus Pai
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 12/11/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/eficacia-do-metodo-agulhamento-seco-no-tratamento-da-sindrome-dolorosa-miofascial/

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