quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Um olhar sobre a vida microscópica na época dos dinossauros

Como eram os seres microscópicos que viveram na época dos dinossauros? Um estudo desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) resultou na descoberta de uma nova espécie de protozoário, com idade estimada entre 145 a 125 milhões de anos (período Cretáceo), encontrada em rochas no entorno da cidade de Salvador, na Bacia do Recôncavo. Batizada de Palaeohypothrix bahiensis, ela representa uma linhagem evolutiva extinta de protozoários ciliados, até então desconhecida pela Ciência. Trata-se de um registro importante, pois pouco se sabe sobre a vida microscópica nesse período remoto do planeta. “Há diversos registros de fósseis de animais macroscópicos, como os dinossauros, mas é raro encontrar seres que não são visíveis a olho nu, como um protozoário, e em ótimas condições de preservação”, destacou o biólogo Thiago da Silva Paiva, professor do Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRJ).

A espécie foi encontrada em um excelente estado de conservação por ter sido fossilizada imersa em âmbar, resina fóssil impermeabilizante oriunda de antigos depósitos de rios e lagos, que remontam a um momento da história geológica da Terra em que a América do Sul e a África ainda formavam um único continente. Isso permitiu a preservação de suas estruturas anatômicas, delicadas, quase de forma intacta, o que pode ajudar a revelar dados importantes sobre os hábitos da vida microscópica pré-histórica. “Foi possível observar o material no microscópio com detalhes na íntegra, como os cílios do protozoário, e sua estrutura celular, com núcleo e anatomia preservados. É muito raro encontrar âmbar no Brasil. É o primeiro registro de uma espécie microscópica imersa em âmbar no nosso País”, descreveu Paiva.

Ele é o primeiro autor do artigo intitulado A putatively extinct higher taxon of Spirotrichea (Ciliophora) from the Lower Cretaceous of Brazil. Scientific Reports (https://www.nature.com/articles/s41598-021-97709-2), também assinado pelo geólogo Ismar de Sousa Carvalho, que vem desenvolvendo seus projetos de pesquisa com apoio da FAPERJ, por meio do programa Cientista do Nosso Estado. O artigo foi publicado recentemente na revista científica internacional Scientific Reports, do grupo Nature.



Thiago Paiva: análise microscópica criteriosa resultou na identificação da nova espécie no Laboratório de Protistologia da UFRJ


A construção do conhecimento em pesquisa é um trabalho coletivo. As primeiras amostras do âmbar que contém o protozoário foram encontradas na Bahia no início da década de 1990 pelo professor Leonardo Borghi, do Instituto de Geociências da universidade (Igeo/UFRJ). Depois, o material ficou armazenado sob os cuidados de Carvalho, curador do laboratório Coleção de Macrofósseis do Instituto de Geologia, que possui um rico acervo, com cerca de 30 mil peças. Depois, a amostra do âmbar foi encaminhada para análise microscópica no Laboratório de Protistologia (o estudo do Protozoários), por Paiva, em fins de 2018. “Observando o material pelo microscópio óptico, foi possível identificar a nova espécie de protozoário. Fiquei bastante contente, fotografei com planos focais diferentes para fazer a reconstrução volumétrica no computador e a, partir desta, pude descrever as estruturas desse protista”, contou Paiva.

Com reconhecida expertise no estudo de fósseis, Carvalho acredita que esse material abre uma perspectiva nova para a Paleontologia brasileira. “Temos agora um olhar sobre um material pouco considerado em análises mais aprofundadas, o âmbar, muitas vezes não analisado a partir de técnicas avançadas da microscopia e de análises microquímicas. Além de ser raro encontrar âmbar no Brasil, é mais raro ainda ocorrer a inclusão de vegetais e organismos nesse material, enquanto ele ainda estava em estado pastoso, se formando. No caso, tivemos a sorte de encontrar uma nova espécie de protozoário, muito bem preservada”, disse. A amostra possui aproximadamente três centímetros de comprimento.

Carvalho destacou que o estudo desse protozoário revela um conjunto de informações importantes para o entendimento da evolução do ecossistema e do antigo clima terrestre. “Normalmente as pessoas associam o estudo da Paleontologia aos animais de grande porte, como os dinossauros. Ter um olhar além desse universo megascópico, que explore o nível microscópico, reflete uma postura mais avançada para entender os problemas relativos às Geociências, com novas metodologias”, avaliou o geólogo, que publicou em agosto, pela Indiana University Press, o livro Dinosaur Tracks from Brazil - A lost world of Gondwana, sobre as pegadas de dinossauros no País, em coautoria com Giuseppe Leonardi.





Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 11/11/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4365.2.0

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