A espécie foi encontrada em um excelente estado de conservação por ter sido fossilizada imersa em âmbar, resina fóssil impermeabilizante oriunda de antigos depósitos de rios e lagos, que remontam a um momento da história geológica da Terra em que a América do Sul e a África ainda formavam um único continente. Isso permitiu a preservação de suas estruturas anatômicas, delicadas, quase de forma intacta, o que pode ajudar a revelar dados importantes sobre os hábitos da vida microscópica pré-histórica. “Foi possível observar o material no microscópio com detalhes na íntegra, como os cílios do protozoário, e sua estrutura celular, com núcleo e anatomia preservados. É muito raro encontrar âmbar no Brasil. É o primeiro registro de uma espécie microscópica imersa em âmbar no nosso País”, descreveu Paiva.
Ele é o primeiro autor do artigo intitulado A putatively extinct higher taxon of Spirotrichea (Ciliophora) from the Lower Cretaceous of Brazil. Scientific Reports (https://www.nature.com/articles/s41598-021-97709-2), também assinado pelo geólogo Ismar de Sousa Carvalho, que vem desenvolvendo seus projetos de pesquisa com apoio da FAPERJ, por meio do programa Cientista do Nosso Estado. O artigo foi publicado recentemente na revista científica internacional Scientific Reports, do grupo Nature.
Thiago Paiva: análise microscópica criteriosa resultou na identificação da nova espécie no Laboratório de Protistologia da UFRJ
A construção do conhecimento em pesquisa é um trabalho coletivo. As primeiras amostras do âmbar que contém o protozoário foram encontradas na Bahia no início da década de 1990 pelo professor Leonardo Borghi, do Instituto de Geociências da universidade (Igeo/UFRJ). Depois, o material ficou armazenado sob os cuidados de Carvalho, curador do laboratório Coleção de Macrofósseis do Instituto de Geologia, que possui um rico acervo, com cerca de 30 mil peças. Depois, a amostra do âmbar foi encaminhada para análise microscópica no Laboratório de Protistologia (o estudo do Protozoários), por Paiva, em fins de 2018. “Observando o material pelo microscópio óptico, foi possível identificar a nova espécie de protozoário. Fiquei bastante contente, fotografei com planos focais diferentes para fazer a reconstrução volumétrica no computador e a, partir desta, pude descrever as estruturas desse protista”, contou Paiva.
Com reconhecida expertise no estudo de fósseis, Carvalho acredita que esse material abre uma perspectiva nova para a Paleontologia brasileira. “Temos agora um olhar sobre um material pouco considerado em análises mais aprofundadas, o âmbar, muitas vezes não analisado a partir de técnicas avançadas da microscopia e de análises microquímicas. Além de ser raro encontrar âmbar no Brasil, é mais raro ainda ocorrer a inclusão de vegetais e organismos nesse material, enquanto ele ainda estava em estado pastoso, se formando. No caso, tivemos a sorte de encontrar uma nova espécie de protozoário, muito bem preservada”, disse. A amostra possui aproximadamente três centímetros de comprimento.
Carvalho destacou que o estudo desse protozoário revela um conjunto de informações importantes para o entendimento da evolução do ecossistema e do antigo clima terrestre. “Normalmente as pessoas associam o estudo da Paleontologia aos animais de grande porte, como os dinossauros. Ter um olhar além desse universo megascópico, que explore o nível microscópico, reflete uma postura mais avançada para entender os problemas relativos às Geociências, com novas metodologias”, avaliou o geólogo, que publicou em agosto, pela Indiana University Press, o livro Dinosaur Tracks from Brazil - A lost world of Gondwana, sobre as pegadas de dinossauros no País, em coautoria com Giuseppe Leonardi.
Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 11/11/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4365.2.0
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