quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Atualização sobre o tratamento de infecções por Gram-negativos AmpC positivos e outras multirresistentes

A Infectious Diseases Society of America (IDSA) consiste em uma das instituições americanas relacionadas à infectologia e provedora de consensos e/ou orientações quanto ao tratamento de infecções por bactérias resistentes a antimicrobianos. Recentemente, no final de 2021, foi publicado um novo guia com direcionamentos para o tratamento de infecções por enterobactérias produtoras de β-lactamase do tipo AmpC (AmpC β-lactamase-producing Enterobacterales, AmpC-E), Acinetobacter baumannii resistente a carbapenemas (carbapenem-resistant Acinetobacter baumannii, CRAB) e infecções por Stenotrophomonas maltophilia.

 

AmpC

O novo guia

Para a elaboração desse novo consenso, reuniram-se seis especialistas com expertise no manejo clínico de infecções por bactérias multirresistentes e elaboraram sugestões para a melhor conduta terapêutica diante desses casos. As informações disponíveis para as decisões clínicas ainda são limitadas, e os critérios se baseiam na experiência clínica e revisão da literatura disponível. Os autores ressaltam que devido às diferenças epidemiológicas quanto à resistência a antimicrobianos e a disponibilidade de antibióticos específicos, tal consenso é destinado aos dados disponíveis nos Estados Unidos.

Abaixo reunimos os principais aspectos descritos neste novo guideline em comunhão com os dados publicados em consenso anteriores para outras bactérias:

 
Antimicrobianoa Dose para adultos (Função renal e hepática normais) Patógenos-alvob,c 
Amicacina Cistite: 15 mg/kg/ dose EV toma única 

Outras infecções: 20 mg/kg/dose EV uma dose, seguido de doses e frequência baseadas na farmacocinética. 

ESBL-E, AmpC-E, CRE, DTR-P. aeruginosa 
Ampicillin-sulbactam 9 g EV de 8/8 horas por 4 horas, OU 27 g EV de 24/24 horas como infusão contínua.  

 

Para infecções moderadas por CRAB suscetível a ampicilina-sulbactam, pode-se administrar 3 g EV de 4/4 horas, especialmente em caso de intolerância ou toxicidade a altas doses.  

 

CRAB 
Cefepima Cistite: 1 g EV de 8/8 horas  

 

Outras infecções: 2 g EV de 8/8 horas, infusão por 3 horas.  

AmpC-E (com CMI ≤2 mcg/mL para cefepima) 
Cefiderocol 2 g EV de 8/8 horas, infusão por 3 horas.  CRE, DTR-P. aeruginosa, CRAB, S. maltophilia 
Ceftazidima-avibactam 2.5 g EV de 8/8 horas, infusão por 3 horas.  CRE, DTR-P. aeruginosa 
Ceftazidima-avibactam e aztreonam Ceftazidima-avibactam: 2.5 g EV de 8/8 horas, infusão por 3 horas.  

+ 

Aztreonam: 2 g EV de 8/8 horas, infusão por 3 horas.  

CRE produtora de metallo-β-lactamase, S. maltophilia 
Ceftolozane-tazobactam Cistite: 1.5 g EV de 8/8 horas, infusão por 1 hora. 

 

Outras infecções: 3 g EV de 8/8 horas, infusão por 3 horas. 

DTR-P. aeruginosa 
Ciprofloxacino Infecções por ESBL-E ou AmpC: 400 mg EV de 8/8 a 12/12 horas, OU 500 – 750 mg VO de 12/12 horas. 

 

Pneumonia por DTR-P. aeruginosa: 400 mg EV de 8/8 horas OU 750 mg VO de 12/12 horas 

ESBL-E, AmpC-E 
Colistina Consulte os consensos sobre o uso de polimixinasd Cistite por CRE, DTR-P. aeruginosa, ou por CRAB 
Eravacicline 1 mg/kg/dose EV de 12/12 horas. CRE, CRAB, S. maltophilia 
Ertapenem 1 g EV de 24/24 horas, infusão por 30 min.  ESBL-E, AmpC-E 
Fosfomicina Cistite: 3 g VO, toma única Cistite por ESBL-E. coli 
Gentamicina Cistite: 5 mg/kg/dose EV toma única.  

 

Outras infecções: 7 mg/kg/dose EV na primeira dose, doses subsequentes e frequência depende dos critérios de farmacocinética.  

ESBL-E, AmpC-E, CRE, DTR-P. aeruginosa 
Imipenem-cilastatin Cistite: 500 mg EV de 6/6 horas, infusão por 30 min.  

 

 

Outras infecções: 500 mg EV de 6/6 horas, infusão por 3 horas. 

ESBL-E, AmpC-E, CRE, CRAB 
Imipenem-cilastatin-relebactam 1.25 g EV de 6/6 horas, infusão por 30 min.  CRE, DTR-P. aeruginosa 
Levofloxacino 750 mg EV/VO de 24/24 horas.  ESBL-E, AmpC-E, S. maltophilia 
Meropenem Cistite: 1 g IV q8h 

 

Outras infecções por ESBL-E ou AmpC-E: 1-2 g EV de 8/8 horas, pode considerar infusão por 3 horas.  

 

Outras infecções por CRE e CRAB: 2 g EV de 8/8 horas, infusão por 3 horas. 

ESBL-E, AmpC-E, CRE, CRAB 
Meropenem-vaborbactam 4 g EV de 8/8 horas, infusão por 3 horas.  CRE 
Minocicline 200 mg EV/VO de 12/12 horas. CRAB, S. maltophilia 
Nitrofurantoin Cistite: Macrocrystal/monohydrate (Macrobid®) 100 mg VO de 12/12 horas.  

Cistite: 50 mg (suspensão oral) de 6/6 horas.  

Cistite por ESBL-E ou, AmpC-E.  
Plazomicina Cistite: 15 mg/kg d EV toma única.  

 

Outras infecções: 15 mg/kg EV na primeira dose, doses subsequentes e frequência depende dos critérios de farmacocinética.  

ESBL-E, AmpC-E, CRE, DTR-P. aeruginosa 
Polymyxin B Consulte os consensos sobre o uso de polimixinasd DTR-P. aeruginosa, CRAB 
Tigecycline 200 mg EV na primeira dose, seguido de 100 mg EV de 12/12 horas.  CRE, CRAB, S. maltophilia 
Tobramycin Cistite: 5 mg/kg/dose EV dose única.  

 

Outras infecções: 7 mg/kg/dose EV na primeira dose, doses subsequentes e frequência depende dos critérios de farmacocinética.  

ESBL-E, AmpC-E, CRE, DTR-P. aeruginosa 

Legenda:  

  • AmpC-E: Enterobactérias produtoras de β-lactamase AmpC;  
  • CRAB: Acinetobacter baumannii resistente a carbapenemas;  
  • CRE: Enterobactérias resistentes a carbapenemas;
  • DTR-P. aeruginosaPseudomonas aeruginosa com resistência de difícil tratamento;
  • E. coli: Escherichia coli 
  • ESBL-E: Enterobactérias produtoras de β-lactamase de espectro extendido; 
  • CMI: Concentração mínima inibitória; 
  • S. maltophiliaStenotrophomonas maltophilia.

a) Alguns dos antimicrobianos descritos não estão disponíveis no Brasil;   

b) A decisão sobre o uso deve ser respaldada pela comprovação por testes de susceptibilidade a antimicrobianos para os patógenos ESBL-E, AmpC-E, CRE, DTR-P. aeruginosa, CRAB, e Stenotrophomonas maltophilia. 

c) Para o detalhamento adicional sobre o tratamento de infecções por ESBL-E, CRE, e DTR-P. aeruginosa, consulte a referência Tamma et al. (2021). 

d) Para o detalhamento adicional sobre o uso de polimixinas, consulte a referência Tsuji et al. (2019).

O tempo de duração do tratamento é variável dependendo da resposta clínica do doente e dos protocolos adotados pelas instituições.  

Maiores detalhes sobre esse e outros consensos recentes para o tratamento de infecções por bactérias multirresistentes podem ser vistos nas referências abaixo.





Autor: Felipe Resende Nobrega
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 03/02/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/atualizacao-sobre-o-tratamento-de-infeccoes-por-gram-negativos-ampc-positivos-e-outras-multirresistentes/

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