quinta-feira, 7 de abril de 2022

Pesquisa na Uerj mostra que o desmatamento afeta a integridade ecológica dos rios e ameaça a biodiversidade

Estudo conduzido por equipe de pesquisadores na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) considera não só as consequências do desmatamento sobre a qualidade física ou química da água de rios e córregos, como também analisam o efeito das mudanças na cobertura florestal sobre as respostas funcionais de riachos tropicais, o que ameaça a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

A pesquisa foi conduzida na bacia hidrográfica Guapi-Macacu, que abrange uma área de 1.260 km² nos municípios fluminenses de Cachoeiras de Macacu, Guapimirim e Itaboraí. Sua contribuição corresponde a quase um terço do total da água que chega à baía de Guanabara. Devido a região ser considerada fundamental para a conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos, é protegida por uma rede de unidades de conservação que integram o Mosaico do Corredor Central Fluminense.

Orientada pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Uerj Timothy Peter Moulton, a equipe, composta por Vinicius Neres-Lima, Andrea Franco Oliveira e Fausto Machado Silva, publicou o artigo “Desenvolvimento, padronização e aplicação de um modelo de fluxo de múltiplos nutrientes em teias tróficas de ecossistemas aquáticos”, na Science of the Total Environment, revista internacional multidisciplinar do Grupo Elsevier para publicação de pesquisas inovadoras, baseadas em hipóteses de alto impacto sobre o ambiente total.


A ferramenta de isótopos estáveis pode detectar os efeitos do desmatamento antes de ocorrer a perda de espécies, explica Neres-Lima

O pesquisador ressalta que o desmatamento é um processo global significativo e é a principal ameaça à biodiversidade de água doce, mesmo quando comparado a outras ameaças decorrentes das mudanças climáticas. A diminuição da cobertura florestal pode afetar, por exemplo, a conectividade ecológica entre os ambientes terrestre e aquático, devido às modificações nos ciclos de nitrogênio e carbono; a produção primária, devido ao aumento da incidência de luz solar e às mudanças nas quantidades e qualidades dos aportes de nutrientes terrestres carreados para os rios; bem como o fluxo de energia entre predadores e presas. Assim, o desmatamento pode impactar os ecossistemas de rios a partir das fontes alimentares primárias, mas esse impacto pode se propagar para os demais níveis tróficos, como insetos, camarões, girinos e peixes.

Os resultados da pesquisa mostraram que os valores isotópicos de nitrogênio (δ15N) da maioria dos componentes aquáticos, os valores isotópicos de carbono (δ13C) de material particulado e peixes onívoros, e as razões C:N de material particulado e algas variam significativamente com a cobertura florestal, indicando o papel da vegetação terrestre na regulação da biogeoquímica dos córregos. As análises de isótopos estáveis desses dois elementos indicaram satisfatoriamente as mudanças nas conexões terrestre-aquáticas em relação aos ciclos de N e C, mostrando assim o papel das algas e do material particulado na influência da fauna do riacho através das transferências na teia trófica. “A ferramenta de isótopos estáveis pode ser promissora para a detecção de efeitos de desmatamento e outros distúrbios antrópicos antes mesmo de ocorrer a perda de espécies”, conclui Neres-Lima.







Autor: Paula Guatimosim
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 07/04/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=77.7.3

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