Em 14 de julho de 2021, a Resolução 75/76 adotada na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) consagrou o dia 25 de julho como o Dia Mundial de Prevenção do Afogamento.
Aproximadamente, 236.000 pessoas morreram afogadas no ano de 2019, tornando o afogamento um grande problema de saúde pública em todo o mundo. O afogamento é a terceira causa principal de morte por ferimentos não intencionais, sendo responsável por 7% de todas as mortes relacionadas a ferimentos. A carga global de óbitos por afogamento é sentida em todas as economias e regiões, no entanto os países de baixa e média renda são responsáveis por mais de 90% das mortes por afogamento não intencionais.
Os principais fatores de risco para afogamento incluem:
Idade: é um dos principais fatores. Globalmente, as maiores taxas de afogamento ocorrem entre crianças de 1 a 4 anos, seguidas por crianças de 5 a 9 anos. Essa relação costuma estar associada a um lapso na supervisão;
Gênero: homens estão especialmente sob risco de afogamento, com o dobro da taxa de mortalidade geral das mulheres, sendo também mais propensos que o sexo feminino a serem hospitalizados por afogamento não fatal. Estudos sugerem que as taxas mais altas de afogamento entre os homens se devem ao aumento da exposição à água e a comportamentos de risco, como nadar sozinho, uso de álcool antes de nadar sozinho e andar de barco;
Acesso a água: pessoas com ocupações como pesca comercial ou pesca de subsistência, usando pequenos barcos em países de baixa renda, estão mais propensos a se afogar. As crianças que vivem perto de fontes de água abertas, como valas, lagoas, canais de irrigação ou piscinas estão especialmente em risco, além de bebês deixados sem supervisão ou sozinhos com outra criança perto da água;
Viagens na água: deslocamentos diários e as viagens feitas por migrantes ou requerentes de asilo geralmente ocorrem em navios superlotados e inseguros, sem equipamento de segurança ou são operados por pessoal não treinado para lidar com incidentes de transporte ou navegação;
Inundações: o afogamento é responsável por 75% das mortes em enchentes. Esses desastres estão se tornando mais frequentes e mais graves, e essa tendência deve continuar como parte das mudanças climáticas. Os riscos de afogamento aumentam com as inundações, especialmente em países de baixa e média renda, onde as pessoas vivem em áreas propensas e a capacidade de alertar, evacuar ou proteger as comunidades é falha ou está apenas em desenvolvimento;
Status socioeconômico mais baixo, ser membro de uma minoria étnica, falta de ensino superior e populações rurais tendem a estar associados, embora essa associação possa variar entre os países;
Condições médicas, como epilepsia;
Turistas não familiarizados com os riscos e recursos hídricos locais.
Afogamento em crianças
No Brasil, os afogamentos são a segunda maior causa de óbito e a sétima causa de hospitalização por acidentes entre crianças de zero a 14 anos. Segundo o Ministério da Saúde, 866 crianças morreram vítimas de afogamento no país em 2018, representando uma média de 2,3 mortes por dia.
Enquanto a maioria dos bebês se afoga em banheiras (62 a 71%) e grandes baldes (16%), a maioria dos pré-escolares se afoga em piscinas (o acesso inesperado e não supervisionado é um cenário de afogamento recorrente para crianças pequenas). Todas as piscinas devem ter uma barreira e uma cerca de isolamento de quatro lados. Uma alternativa é montar uma barreira no topo da estrutura da piscina. Piscinas infláveis ou portáteis são um grande perigo: seus lados macios facilitam a queda das crianças. Para crianças mais novas, o uso de assentos de banheira e banheiras infantis são fatores contribuintes, especialmente quando a supervisão não é constante.
Já as crianças mais velhas têm maior probabilidade de se afogar em fontes naturais de água, como cachoeiras e praias. Para os adolescentes, a presença de pares pode promover atividades de risco. Podem ocorrer problemas quando eles superestimam suas habilidades, se envolvem em comportamentos impulsivos ou usam substâncias, como o álcool. As seguintes condições médicas também estão associadas a afogamentos pediátricos: epilepsia, autismo, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e arritmias cardíacas.
Além disso, o aprisionamento e o emaranhamento do cabelo também causam lesões e afogamento, mas muitos pais e proprietários de piscinas e spas não estão cientes do risco. As precauções envolvem o uso de tampas de drenagem especiais, sistemas de segurança de liberação de vácuo, bombas de filtro com vários drenos e outras técnicas de construção com filtro de ventilação/pressão.
A supervisão de um adulto é de extrema importância, mas não exclui o uso de barreiras assim como a aplicação de barreiras não podem eliminar a necessidade de supervisão.
Importância de um dia destinado à prevenção dos afogamentos
A proclamação de um dia do ano destinado a prevenção dessa tragédia serve como uma oportunidade para destacar o impacto trágico e profundo do afogamento nas famílias e comunidades e para oferecer soluções para evitá-lo. Governos, agências da ONU, organizações da sociedade civil, setor privado e toda a população são convidados a participar dessa luta, destacando a necessidade de ação urgente, coordenada e multissetorial em medidas comprovadas, como:
Instalação de barreiras para controle do acesso à água;
Fornecer locais seguros longe de água, como creches adequadas;
Ensinar natação, segurança na água e habilidades de resgate seguro;
Treinar espectadores em resgate e ressuscitação seguros;
Definição e aplicação de regulamentos de navegação segura, transporte e balsa;
Melhorar a gestão do risco de inundação.
Referências bibliográficas:
United Nations. Drowning is a leading cause of accidental death. 2021. Disponível em: https://www.un.org/en/observances/drowning-prevention-day
World Health Organization. Drowning. 2021. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/drowning
Criança segura. Como prevenir afogamentos. 2021. Disponível em: https://criancasegura.org.br/aprenda-a-prevenir/por-area-de-risco/como-prevenir-afogamentos/
Wyckoff AS. New information, research add to understanding of drowning risks, precautions. 2021. Disponível em: https://www.aappublications.org/news/2021/07/12/drowning-071221
Autor(a):
Roberta Esteves Vieira de Castro
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra.
Autor: Roberta Esteves Vieira de Castro
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 25/07/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/25-de-julho-dia-mundial-de-prevencao-do-afogamento/
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