segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Estatinas podem aumentar o risco de miopatia associada à daptomicina
O uso de estatinas teve uma grande expansão nos últimos anos, sendo uma das medicações habituais mais comuns na população. Cerca de 5 a 10% dos pacientes que as utilizam desenvolvem miopatia, o que leva à preocupação de que o uso concomitante de daptomicina e estatinas possa levar a um maior risco de toxicidade. As recomendações atuais são conflitantes em relação à suspensão ou não de estatinas quando se planeja usar daptomicina, mas a maior parte dos estudos realizados até o momento não foram desenhados para investigar especificamente o risco de miopatia, identificando poucos casos em suas coortes.
Daptomicina é um antibiótico da classe dos lipopeptídeos com atividade bactericida contra bactérias Gram-positivas. Com a crescente incidência de germes resistentes, tornou-se uma importante opção para o tratamento de infecções por organismos como MRSA e VRE.
Uma das grandes preocupações com o uso desse antibiótico é a toxicidade muscular, com casos de miopatia em 2 a 14% e de rabdomiólise em até 5% dos pacientes, sendo mais frequente em indivíduos obesos. Por esse motivo, recomenda-se a monitorização regular dos níveis séricos de creatina fosfoquinase (CPK) durante o tempo de administração de daptomicina.
Recentemente, um estudo caso-controle retrospectivo foi publicado na Clinical Infectious Diseases investigando se a coadministração de daptomicina e estatinas poderia estar relacionada ao desenvolvimento de miopatia (definida como níveis de CPK > 200 U/L) e rabdomiólise (definida como níveis de CPK > 2000 U/L). Todos os pacientes selecionados haviam sido expostos a pelo menos três dias de terapia com daptomicina, possuíam níveis basais normais de CPK e não possuíam causas alternativas que pudessem explicar seu aumento. Para cada caso, os controles foram selecionados de forma a terem recebido no mínimo o mesmo número de dias de tratamento com daptomicina.
Os dados de 3042 pacientes presentes nos bancos de dados de registros médicos foram selecionados como indivíduos expostos à daptomicina. No total, foram identificados 128 casos de miopatia associada à daptomicina (4,2%), sendo 25 com evidências de rabdomiólise (0,8%), os quais foram comparados com dados de 128 controles, também expostos à daptomicina.
A maioria dos casos ocorreu em adultos (95% dos casos de miopatia e 92% dos de rabdomiólise). A média de dias de tratamento com daptomicina foi de 25 dias para os casos de miopatia e de 13 dias para os de rabdomiólise. Os pacientes receberam em média 16,7 e 11,2 dias de tratamento antes de ocorrer elevação nos níveis de CPK nos casos de miopatia sem e com rabdomiólise, respectivamente. No total, 46,9% dos pacientes com elevação de CPK descontinuaram o tratamento com daptomicina devido à toxicidade.
Dos 256 casos e controles, 55 estavam em uso de estatina previamente o início de daptomicina, a qual foi descontinuada em nove pacientes. Na análise univariada, a coadministração de daptomicina com estatinas foi associada ao desenvolvimento de miopatia e de rabdomiólise. A coadministração com anti-histamínicos foi associada com miopatia, mas não com rabdomiólise e a associação contrária foi encontrada com a coadministração com bratos.
A associação do uso concomitante de estatinas com miopatia e rabdomiólise manteve-se na análise multivariada.
Outro fator de risco significativo associado com o desenvolvimento de rabdomiólise encontrado no estudo foi a obesidade, tanto na análise uni quanto na multivariada. As doses de daptomicina são classicamente calculadas de acordo com o peso real, sem ajuste para pacientes obesos. Mais estudos são necessários para avaliar se o cálculo da dose pelo peso ideal seria uma boa estratégia, considerando o risco de eventos adversos vs. a manutenção da eficácia do tratamento.
Esse é o primeiro estudo a mostrar um aumento no risco de toxicidade com a coadministração de estatinas e daptomicina. Os resultados apoiam a recomendação dos produtores da daptomicina de considerar a suspensão de outros medicamentos associados à rabdmiólise quando for iniciado o uso deste antibiótico, mas os autores ressaltam que a decisão deve ser individualizada, considerando o risco cardiovascular de cada paciente. Nos casos em que o benefício do uso de estatina seja considerado maior do que o risco, como nos pacientes com coronariopatia grave, os níveis de CPK devem ser monitorados com uma frequência maior, como duas vezes por semana.
Autor: Isabel Cristina Melo Mendes
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 21/01/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/estatinas-podem-aumentar-o-risco-de-miopatia-associada-a-daptomicina/
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