quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Fiocruz e Colômbia unem esforços para fortalecer a Atenção Primária à Saúde

A Fiocruz e instituições colombianas irão unir esforços em busca do fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS). Entre 12 e 26 de novembro, representantes da Fundação irão até a Colômbia para o intercâmbio de experiências na área.

A missão é fruto da proposta Tecendo saberes: cooperação sul-sul para a saúde comunitária e intercultural entre Brasil e Colômbia para o fortalecimento da APS, contemplada pelo edital para missões internacionais lançado pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), por meio de sua Vice-Direção de Escola de Governo em Saúde (VDEGS). Em parceria com a Sinergias ONG, a Universidade Nacional da Colômbia e a Secretaria de Saúde Departamental de Vaupés, a iniciativa visa reconhecer e valorizar experiências comunitárias na Atenção Primária à Saúde (APS) que priorizem o cuidado coletivo, as práticas emancipatórias e a agência das comunidades e populações.

“A missão foi pensada principalmente no sentido de mapear estratégias não clínicas existentes nos dois países para lidar com o sofrimento psíquico a partir dos saberes locais e da educação popular em saúde. E mapear atores e partes interessadas para fornecer subsídios que apoiem a construção de diretrizes para a saúde pública com abordagem intercultural e comunitária na APS”, sintetiza a pesquisadora do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria *CSEGSF) da Ensp/Fiocruz, Vera Vera Frossard, que coordenada a iniciativa. Junto à pesquisadora Eliane Vianna, também do Centro de Saúde Escola e vice-coordenadora da iniciativa, Vera integrará a missão à Colômbia.

Parte da missão acontecerá em Mitu, capital de Vaupés, região da Amazônia colombiana com predomínio indígena. Estão previstos encontros com vários coletivos dessa população. A pesquisadora destaca que a troca de experiências e conhecimento sobre saúde intercultural baseada na APS é relevante para o Sistema Único de Saúde (SUS) em função da diversidade da população brasileira, com comunidades quilombolas, indígenas e de favela, que reúnem saberes populares de matriz africana e dos povos originários.

“Se pensarmos que a interculturalidade diz respeito à relação entre grupos e pessoas com diversas visões de mundo e culturas, incluímos também grupos estigmatizados e com acesso dificultado na APS, como populações LGBTQIAPN+, alcoolistas, pessoas com transtorno mental grave, entre outras”, comenta Vera.

A pesquisadora explica que existem semelhanças na determinação social da saúde entre Colômbia e Brasil, principalmente voltadas para povos historicamente excluídos e invisibilizados, com problemas como violência de gênero e racial, insegurança alimentar, sofrimento psíquico e doenças crônicas associadas e intensificadas pelas condições da pobreza.

“Temos o interesse comum de ampliar nossa capacidade de engajamento comunitário para que a APS e as populações possam fortalecer espaços de diálogo e colaboração para decisões compartilhadas. No Brasil, temos os Conselhos Gestores associados às Unidades Básicas de Saúde, com representação comunitária e das instituições. Esta importante política pública enfrenta desafios, entre eles, fragilidades na representatividade da população e falta de aderência das instituições sobre as deliberações dos Conselhos. Por isso, pretendemos refletir e colaborar na ampliação de mecanismos e metodologias de participação popular e incorporação de saberes locais em ações de saúde para ampliar o acesso nos serviços. O momento é propício, pois o CSEGSF está investindo na retomada do seu Conselho Gestor", explica Vera.

Vice-coordenadora da iniciativa, Eliane Vianna complementa que a base comunitária deve estar presente na APS com articulação de visões e reconhecimento dos sistemas de saberes locais para o cuidado. “No CSEGSF, iniciamos algumas atividades sobre raízes e plantas medicinais a partir das Rodas de TCI, por demanda dos participantes, potencializando o autocuidado, reavivando e fazendo circular memórias locais. Já a Sinergias ONG apoia projetos comunitários de transmissão do conhecimento botânico para o cuidado, trocas de sementes e plantas medicinais, além do plantio de hortas para recuperação de espécies medicinais. A troca entre o CSEGSF e a Sinergias ONG reforça a ideia sobre a importância dos saberes ancestrais na promoção e cuidado em saúde para a APS”, enfatiza a pesquisadora.

Outro interesse na colaboração é a Terapia Comunitária Integrativa (TCI). Oferecida no CSEGSF, a TCI é uma prática de cuidado e acolhimento ao sofrimento psíquico por meio do fortalecimento de vínculos, ampliação da rede de apoio e valorização da comunidade e dos recursos culturais locais para o enfrentamento das violências e vulnerabilidades.

Segundo as pesquisadoras, este recurso terapêutico pode ser também de grande valia para a superação de desafios urgentes em saúde mental na Colômbia. “A região amazônica colombiana apresenta as maiores taxas de suicídio, violência de gênero, abuso de álcool e substâncias psicoativas do país, problemas recorrentes também em algumas comunidades indígenas no Brasil. Será uma oportunidade de apresentarmos a TCI como uma ferramenta de cuidado para este contexto. O momento é oportuno, pois está sendo formada, na América Latina e Caribe, uma rede de suporte e apoio a rodas de TCI, inclusive com comunidades indígenas na Bolívia, Peru, República Dominicana, Equador”, destacam as pesquisadoras. "A missão deve render, para a Ensp/Fiocruz, colaborações com enfoque em projetos que incorporem metodologias participativas, interculturais e territorializadas para a APS".



Autor: fiocruz
Fonte: fiocruz
Sítio Online da Publicação: fiocruz
Data: 12/11/2025
Publicação Original: https://fiocruz.br/noticia/2025/11/fiocruz-e-colombia-unem-esforcos-para-fortalecer-atencao-primaria-saude

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