terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Desnutrição de mães contribui para síndrome do zika em bebês

Grupo de 27 pesquisadores brasileiros, americanos, ingleses e argentinos assina artigo, publicado no dia 10 de janeiro, no periódico Science Advances, sobre a correlação da desnutrição de mães e a síndrome congênita do vírus zika. A pesquisa entrevistou 83 mães, todas residentes no Ceará, para melhor compreensão dos hábitos alimentares. Os dados epidemiológicos mostraram que quase metade (cerca de 40%) das mães que teve crianças com síndrome congênita também apresentava desnutrição proteica.




Imagem representativa da chegada do vírus (manchas vermelhas) ao cérebro (Divulgação)


“A pesquisa partiu do cruzamento de dados de microcefalia no Brasil fornecidos pelo Ministério da Saúde entre 2015 e 2018 com o mapa da fome no País e contou com a pesquisa em campo que acompanhou as 83 mulheres, avaliando sua dieta no período de gestação. Por último, fizemos testes em camundongos para verificar os efeitos de uma dieta com baixa ingestão de proteínas e verificamos que existe correlação entre desnutrição e má formação do sistema nervoso”, explica Patrícia Garcez, professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ) e Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ.

A biomédica destaca que há uma grande variedade na prevalência da síndrome congênita do zika, transmitida de mães infectadas para o feto no primeiro trimestre de gravidez. Essa variação da transmissão vertical pode ser de apenas 1%, por exemplo, em países desenvolvidos como os Estados Unidos; chegando a 3%-12% no Brasil, sendo importante ainda esclarecer, segundo ela, a variação existente em diferentes regiões do País. No Nordeste, houve mais casos de bebês com síndrome congênita do vírus zika do que em outras regiões. Diante dessa diferença, o grupo postulou que deveria haver cofatores, atuando na habilidade do vírus em infectar e afetar o embrião. Outro cofator mencionado em estudo liderado por Stevens Rehen, pesquisador do Instituto D'Or e professor da UFRJ – que também recebe apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas –, é a exposição à Saxitoxicina, bastante presente em locais com baixos índices de saneamento básico.



Patrícia Garcez: estudo mostrou que desnutrição ou má nutrição proteica pode facilitar a transmissão vertical do vírus da zika (Foto: Divulgação)


Nesta publicação, o grupo de pesquisadores exploraram a relação potencial entre desnutrição e malformações associada ao vírus da zika através da análise do banco de dados integrado do Ministério da Saúde. O grupo focou a investigação em 24 dos 27 estados brasileiros, desde que o vírus aumentou em virtude da abundância de Aedes circulantes. O resultado foi uma correlação significativa entre casos de microcefalia e ocorrências de desnutrição, sugerindo que estados caracterizados por um número maior de casos com desnutrição, na última década, também contavam com mais crianças com malformações desde o surgimento da síndrome do vírus no Brasil.

A desnutrição ou má nutrição proteica causa depressão no sistema imunológico e pode facilitar a transmissão vertical de vírus da zika. A partir daí, o grupo procurou investigar o efeito da nutrição materna na quebra da barreira placentária e, por conseguinte, os efeitos causados pelo vírus no desenvolvimento do sistema nervoso central. Garcez explica que o grupo utilizou um modelo de interação do vírus e estresse nutricional proteico durante o desenvolvimento do sistema nervoso em camundongos. Os efeitos desses fatores foram avaliados em estágios pré e pós-natal por meio de diferentes técnicas complementares de imagens com alta resolução e técnicas histológicas, e, dessa forma, foi possível compreender e detalhar essas alterações causadas pelo vírus da zika e a dieta das gestantes. E os resultados, mais uma vez, comprovaram a correlação. Somente as proles de fêmeas com desnutrição proteica nasciam com microcefalia associada ao virus da zika.

A pesquisa foi financiada pelo Zika Rapid Response, do Medical Research Council, do Reino Unido; pela FAPERJ, Ministério da Saúde do Brasil e American Association of Physical Anthropologists (AAPA), dos Estados Unidos.



Autor: FAPERJ
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 16/01/2020
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3908.2.3

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