Nos últimos 250 anos houve um progresso fantástico da humanidade, com redução da mortalidade infantil, aumento da esperança de vida, avanços significativos no nível de educação e melhoria nas condições de moradia e no padrão de consumo. Mas tudo isto teve um custo ambiental terrível. As externalidades econômicas se acumularam neste período. Hoje, o mundo vive uma emergência climática devido ao aumento imemorial da temperatura do Planeta. O vetor principal do aumento do efeito estufa é a emissão de CO2 decorrente da queima de combustíveis fósseis e de outras atividades antrópicas que liberam gases de efeito estufa (GEE).
Turbinada pelos combustíveis fósseis, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 14,7 vezes, entre 1770 e 2020. Os ganhos sociais foram tremendos, mas os custos ambientais foram funestos. O conjunto das atividades antrópicas ultrapassou a capacidade de carga da Terra e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a Biocapacidade do Planeta.
As emissões globais de CO2 estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 37 bilhões de toneladas em 2019. Em consequência, a concentração de CO2 que estava abaixo de 280 partes por milhão (ppm) antes da Revolução Industrial e Energética, iniciou uma trajetória de aumento ininterrupto. A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 300 ppm em 1920, atingiu 310 ppm em 1950, 350 ppm em 1987, 400 ppm em 2015 e chegou a 411,4 ppm em 2019, conforme mostra a curva de Keeling do gráfico abaixo.
Na primeira década do século XXI, a concentração de CO2 aumentava 2 ppm ao ano e na segunda década (2010-2019) passou a aumentar 2,47 ppm ao ano. O mundo caminha para uma situação inusitada e dramática de agravamento do efeito estufa.
Não existem mais dúvidas que o aquecimento global é provocado pela emissão de gases de efeito estufa, decorrentes das atividades antrópicas. Os últimos 6 anos (2014-19) foram os mais quentes já registrados e a década 2011-20 é a mais quente desde 1880. A atmosfera do Planeta está ficando mais quente e isto tem um impacto devastador em diversos aspectos, pois vai deixar amplas áreas da Terra inapropriadas para a vida humana e não humana.
O desafio da contemporalidade é reduzir as emissões de GEE e reduzir a concentração de CO2 na atmosfera de 411,4 ppm em 2019 para menos de 350 ppm (que é o nível seguro para evitar o descontrole do aquecimento global) o mais rápido possível.
A crise climática significa clima instável e com variações extremas. Mais furacões. Mais secas. Mais inundações. Mais incêndios e queimadas. Mais mortes relacionadas ao calor. Haverá mais doenças infecciosas à medida que os insetos se deslocarem para o norte. O Ártico poderá ficar sem gelo no verão e a passagem do Norte poderá ficar aberta a maior parte do ano. O nível do mar aumentará alguns metros à medida que as prateleiras de gelo dos polos derretem, produzindo maiores tempestades e inundações mais intensas em áreas baixas ao redor do mundo. Milhões de pessoas serão forçadas a mudar de área ou país. A agricultura terá perda de produtividade e a insegurança alimentar deve aumentar.
Portanto, não há como negar que a maior concentração de CO2 está relacionada com maiores temperaturas na Terra. O Copernicus Climate Change Service anunciou no dia 08 de janeiro que 2019 foi o segundo ano mais quente da série histórica (abaixo apenas de 2016) e os últimos 5 anos foram os mais quentes já registrados, ficando entre 1,1º C E 1,2º C em relação ao período pré-industrial. Mas alguns locais aquecem em ritmo mais rápido como o Alasca.
As ocorrências de desastres climáticos se espalham. As chuvas torrenciais que caíram na véspera de Ano Novo causaram inundações e deslizamentos de terra na região de Jacarta. Mais de 60 pessoas morreram e mais de 170 mil pessoas que viviam nos bairros mais atingidos foram para abrigos temporários. Na cidade do Rio de Janeiro a sensação térmica chegou a 55º C no dia 11 de janeiro de 2019.
Outro exemplo de aquecimento excessivo ocorre na Austrália, onde as altas temperaturas, o tempo seco e os ventos estão espalhando os incêndios e transformando a ilha em um inferno. A área devastada pelas chamas se aproxima de 100.000 km². Dezenas de pessoas morreram, mais de duas centenas de milhares tiveram de abandonar suas casas e estima-se que mais de 1 bilhão de animais foram mortos.
Tempestades, secas e queimadas em várias partes do mundo mostram que os pontos de inflexão climáticos já estão sendo ultrapassados e uma nova realidade de catástrofes ambientais deve ocorrer de Leste a Oeste e de Norte a Sul. O fato é que a queima de combustíveis fósseis e o aumento geral das emissões de gases de efeito estufa estão acelerando o aquecimento global e tornando diversas partes da Terra inóspitas ou até inabitáveis.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/01/2020
Autor: José Eustáquio Diniz Alves
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 13/01/2020
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/01/13/concentracao-de-co2-na-atmosfera-bate-recorde-historico-em-2019-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
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