segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

A montanha da dívida global e o risco da dívida estagflacionária

A montanha da dívida global e o risco da dívida estagflacionária, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A economia internacional tem crescido nas últimas décadas às custas de uma avalanche de dívidas.

No setor privado, a montanha de dívidas inclui famílias (como hipotecas, cartões de crédito, empréstimos para automóveis, empréstimos estudantis, empréstimos pessoais), empresas e corporações (empréstimos bancários, títulos de dívida e dívida privada) e o setor financeiro (passivo de instituições bancárias e não bancárias).

No setor público, estão os títulos do governo central, provincial e local e outros passivos formais, bem como dívidas implícitas, como passivos não financiados de esquemas de pensões pré-pagas e sistemas de saúde.

O gráfico abaixo, de artigo do FMI (12/12/2022), mostra que a dívida estava perto de 100% do PIB global em 1970 e passou para cerca de 250% atualmente. A dívida pública e privada total diminuiu em 2021 para o equivalente a 247% do produto interno bruto (PIB) global, caindo 10 pontos percentuais em relação ao seu nível máximo em 2020, de acordo com a última atualização do banco de dados da dívida global do FMI. Expressa em dólares, no entanto, a dívida global continuou a crescer, embora a um ritmo muito mais lento, atingindo um recorde de US$ 235 trilhões no ano passado.





Segundo Nouriel Roubini (02/12/2022), anos de flexibilização quantitativa (QE) e de crédito mantiveram os custos dos empréstimos próximos de zero e, em alguns casos, até negativos (como na Europa e no Japão até recentemente). A explosão de índices insustentáveis de dívida implicava que muitos tomadores de empréstimos – famílias, corporações, bancos, bancos paralelos, governos e até mesmo países inteiros – eram “zumbis” insolventes sustentados por baixas taxas de juros (que mantinham os custos do serviço da dívida administrável).

Durante a crise financeira global de 2008 e a crise do COVID-19, muitos agentes insolventes que teriam ido à falência foram resgatados por políticas de taxa de juros zero ou negativa, QE e resgates fiscais definitivos.

Porém, Roubini alerta que agora, a inflação (alimentada pelas mesmas políticas fiscais, monetárias e de crédito ultra flexíveis) está cobrando o seu preço. Com os bancos centrais forçados a aumentar as taxas de juros em um esforço para restaurar a estabilidade de preços, os zumbis estão experimentando aumentos acentuados nos custos do serviço da dívida. Para muitos, isso representa um golpe triplo, porque a inflação também está corroendo a renda familiar real e reduzindo o valor dos bens familiares, como casas e ações.

Igualmente, isto vale para corporações, instituições financeiras e governos frágeis e super alavancados: eles enfrentam custos de empréstimos em alta acentuada, rendas e receitas em queda e valores de ativos em declínio, tudo ao mesmo tempo.

O FMI considera que as perspectivas de crescimento econômico global estão enfrentando uma mistura única de ventos contrários, incluindo a invasão da Ucrânia pela Rússia, aumentos nas taxas de juros para conter a inflação e efeitos pandêmicos persistentes, como os bloqueios da China e interrupções nas cadeias de suprimentos.

O último relatório do Panorama Econômico Mundial reduziu a previsão de crescimento global para 2023, já que as perspectivas econômicas globais são mais sombrias. Hoje, a civilização enfrenta simultaneamente os efeitos de uma pandemia, uma guerra na Europa e um desafiador cenário inflacionário.

Este ambiente é favorável à volta da estagflação, pois para contrapor a política monetária frouxa, a receita ortodoxa é os governos tomarem medidas fiscais contracionistas (aumento de impostos). Tudo isto indica que a época do crescimento econômico acelerado chegou ao fim e, num quadro de envelhecimento populacional global, a probabilidade é de menor crescimento econômico nos próximos anos.

Como disse Roubini: “A grande crise da dívida estagflacionária está aí vivíssima e prosperando”.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referência:

Vitor Gaspar, Paulo Medas, Roberto Perrelli. Riding the Global Debt Rollercoaster, IMF, 12/12/2022
https://www.imf.org/en/Blogs/Articles/2022/12/12/riding-the-global-debt-rollercoaster

Nouriel Roubini. O Colapso Inevitável, Project Syndicate, 02/12/2022
https://www.project-syndicate.org/commentary/stagflationary-economic-financial-and-debt-crisis-by-nouriel-roubini-2022-12/portuguese?barrier=accesspaylog

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394





Autor: José Eustáquio Diniz Alves
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 23/01/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/01/23/a-montanha-da-divida-global-e-o-risco-da-divida-estagflacionaria/

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