Os efeitos das atividades humanas são cada vez mais evidentes nas praias, que experimentam intensa atividade turística e recreativa. O uso excessivo e a superexploração dos recursos naturais podem colapsar as características que atraem as pessoas para esses locais. É o chamado “paradoxo do turismo ambiental”.
O pesquisador Leonardo Lopes Costa, da Uenf e apoiado pela FAPERJ, explica que as praias estão entre os ativos naturais mais importantes para fins recreativos. Em virtude desse valioso potencial turístico e de recreação, as praias também sofrem e muito com os estressores humanos. Segundo ele, hoje sabe-se que as praias acabam sofrendo um triplo golpe: uso excessivo, urbanização e mudanças climáticas.
Costa conta que uma forma eficiente de estudar os estressores humanos em praias é a partir do monitoramento da vida costeira, incluindo animais que habitam as areias. Para determinar o impacto humano sobre as espécies costeiras, Leonardo e seus parceiros nacionais e estrangeiros têm estudado crustáceos como a maria-farinha, os tatuís, e outros.
Para medir esses estressores na ecologia das praias, Costa e pesquisadores da Universidade Autônoma do México e da Universidade Federal Fluminense resolveram, por exemplo, estudar mais a fundo as mudanças nas populações e no comportamento da maria-farinha. As análises focaram nas tocas desses caranguejos medidas em praias de todo o mundo. Os resultados deste estudo foram publicados, neste ano, na revista científica Hydrobiologia.
Coleta de sedimento para triagem de invertebrados bentônicos e posterior análise de microplasticos em seus tecidos (Foto: Divulgação/Uenf)
Foram estudados o diâmetro da abertura de tocas de 78 praias globalmente e mais de 1.100 caranguejos coletados em praias brasileiras e mexicanas. Costa e a equipe perceberam que as praias com alta perturbação humana têm tocas com diâmetros menores.
"Quanto maior o número de estressores agindo nas praias, maiores são os efeitos negativos no diâmetro da toca. A condição corporal dos caranguejos fantasmas foi menor nas praias com alta perturbação no Brasil e no Caribe Mexicano. Este resultado desafia a hipótese, até então bem aceita, de que a maria-farinha é menor em praias perturbadas simplesmente porque os indivíduos morrem antes de atingir a idade adulta. Na verdade, os animais são menores nas praias perturbadas porque comem menos e investem menos no crescimento, já que gastam quase toda a sua energia para sobreviver", afirma Leonardo.
Outro trabalho publicado por Leonardo e colaboradores do Brasil, Uruguai, África do Sul e Itália demonstrou que a resposta desses crustáceos e de outras espécies aos impactos humanos depende do tipo de praia. Nas praias naturalmente mais severas, com ondas mais fortes, certos animais sofrem mais com o pisoteio, perda de habitat e tráfego de veículos na areia. Os autores acreditam na hipótese da severidade acumulada para explicar esse padrão.
"Um dos maiores desafios agora para os cientistas e gestores de praia é compreender as reais causas e consequências da perda da biodiversidade das praias para agir com medidas de mitigação realmente eficazes. Assim, evita-se a extinção de muitas espécies e a perda da qualidade dos ecossistemas costeiros", disse Leonardo.
Autor: Claudia Jurberg
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 28/07/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=155.7.5
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