terça-feira, 29 de novembro de 2022

Marco Antonio Zago recebe título de Professor Emérito da FMRP-USP

Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). A outorga foi proposta por Rodrigo de Tocantins Calado, do Departamento de Imagens Médicas, Hematologia Clínica e Oncologia, e aprovada pela Congregação da faculdade no dia 26 de abril. Zago passou a integrar a lista de 11 docentes com a titulação concedida pela unidade.


“Esse título é o reconhecimento pelo trabalho do professor Zago para esta faculdade e baseia-se em três pilares: a contribuição para a ciência e para a medicina, a formação de médicos e pesquisadores e a contribuição para a gestão da ciência e gestão acadêmica”, afirmou Calado durante a cerimônia de outorga, em 11 de novembro, no Teatro do Campus da USP em Ribeirão Preto.

Zago ingressou na FMRP-USP em 1965. “Participou do movimento estudantil, na vanguarda da resistência à ditadura militar, foi membro da diretoria do Centro Acadêmico Rocha Lima e um dos brilhantes alunos da 14ª turma”, disse Calado. Foi contratado como professor assistente em 1973 no então Departamento de Clínica Médica, contribuiu para a implementação do curso de Hematologia na FMRP-USP, formou mais de uma centena de hematologistas e dezenas de mestres e doutores – e ainda leciona para os alunos do 4º ano de medicina.

“Sua contribuição científica destaca-se pelo entendimento das alterações ontogenéticas e moleculares das neoplasias hematológicas, das trombofilias e em especial das bases moleculares da talassemia e da anemia falciforme”, elencou Calado. “Com seu trabalho, foi possível estabelecer em todo o país diagnósticos corretos de doenças, o que permitiu estruturar atendimento de pacientes.” Esse trabalho, ele continuou, possibilitou que o Hospital das Clínicas da FMRP-USP realizasse, pioneiramente, transplantes de medula óssea para tratar a anemia falciforme.

Zago também liderou a implantação do Centro de Terapia Celular (CTC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP criado em 2000. O grupo desenvolve pesquisas pioneiras na área de transplantes com células-tronco hematopoiéticas para doenças autoimunes e, mais recentemente, investiga o uso de linfócitos modificados em laboratório (células CAR-T) no tratamento do câncer, disse Calado.

“Foi um dos responsáveis pela criação do Hemocentro de Ribeirão Preto, do Centro de Ciências, Imagens e Física Médica, do Centro de Oncologia e pelo Curso de Informática Biomédica na FMRP.”

Esse mesmo compromisso com a ciência e a pesquisa pautou sua atuação na presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre 2007 e 2010, quando, por exemplo, criou e implementou os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs).

De volta à USP, Calado lembrou que Zago foi pró-reitor de Pesquisa entre 2010 e 2014, quando assumiu a reitoria da universidade. Na pró-reitoria contribuiu para a consolidação dos Núcleos de Apoio à Pesquisa, criou o programa de apoio a jovens docentes e fortaleceu a cooperação internacional. Como reitor, adotou medidas de austeridade para enfrentar grave crise econômica até alcançar o equilíbrio financeiro, além de promover a igualdade por meio, por exemplo, do escritório USP Mulheres e de um amplo programa de inclusão que abriu as portas da universidade para pelo menos 50% de alunos provenientes de escolas públicas, boa parte deles pretos, pardos e indígenas.

Zago foi secretário estadual de Saúde em 2018 e, desde outubro do mesmo ano, é presidente da FAPESP, tendo sido reconduzido ao cargo em setembro de 2021.

“O conjunto de atividades do professor Zago é extremamente amplo, diversificado e relevante e um exemplo do comprometimento com a educação e com a ciência, com a medicina e com o país”, concluiu Calado.

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, percorreu a trajetória de Zago por meio da exposição de fotografias sobre a vida profissional. “Zago foi meu orientador na residência médica, na pós-graduação, no mestrado, no pós-doutorado e na minha livre-docência. Eu o considero meu pai científico e de tantos outros.”

Autonomia e conquistas civilizatórias

“Dediquei minha vida à universidade”, afirmou no discurso em que abordou três tópicos: a carreira acadêmica, a autonomia universitária e a inclusão na universidade.

“Começarei pelo mais relevante, a autonomia universitária.” Lembrou que, desde a sua origem na cidade de Bologna, em 1088, a história da universidade é a “contínua luta pela liberdade” e que a autonomia é encarada com resistência, sobretudo por governantes autoritários, inclusive no Brasil.

“Exemplos de restrições à autonomia ocorrem diariamente, nas manifestações públicas que diminuem ou distorcem seu papel, no estrangulamento financeiro e interferência em sua liberdade didática, ou pela falta de reconhecimento da universidade como um interlocutor central na vida do país”, ressalvando, no entanto, “o povo e o governo paulistas, que conduzem há mais de 35 anos uma política de Estado de respeito e promoção de suas universidades públicas”.

À frente da reitoria da USP, adotou medidas para garantir a liberdade financeira da universidade, com o apoio expressivo da grande maioria de seus dirigentes. Citou ainda “conquistas civilizatórias”, como as de inclusão social e racial de estudantes. “A sociedade não tem direito de negar o acesso à sua mais expressiva universidade, mantida com recursos públicos, recursos gerados com impostos pagos igualmente por ricos e pobres e dos negros.”

Sobre a carreira acadêmica, fez um reconhecimento especial a Cassio Bottura, seu mestre e um dos fundadores da hematologia moderna. “Foi um dos mais exemplares educadores que conheci.” Lembrou de sua vida nos laboratórios, enfermarias, salas de aula e das pesquisas que marcaram sua trajetória. “Nos últimos anos, voltei-me para a política de ciência, tecnologia e educação superior.”

Mencionou sua passagem pelo CNPq e, mais detidamente, seu período à frente da pró-reitoria de Pesquisa e a reitoria da USP. “Ao longo de 57 anos de vida universitária, testemunhei o melhor e o pior da vida acadêmica, da vida na sociedade e da atuação de governos. Posso garantir, o saldo é altamente positivo. Por isso e apesar de tudo, eu sou otimista quanto ao futuro do nosso país e da nossa universidade. Não sou otimista por ser ingênuo, eu sou porque confio na determinação e coragem dos homens e mulheres da nossa universidade”, disse.

A íntegra do discurso de Zago está disponível em: fapesp.br/conselho/emerito_zago.pdf.

Ao final do discurso foi saudado pelo diretor da FMRP-USP, Rui Alberto Ferriani. “Posso dizer que, para conhecer verdadeiramente uma pessoa, dê-lhe poder e dê-lhe dificuldades. Presenciei a vida do professor Zago em momentos não apenas de bonança, mas com ele no poder e em grandes dificuldades, e sua sabedoria e bom senso sempre o guiaram”, ressaltou o diretor da FMRP-USP.

Ao final da cerimônia, Zago entregou um livro de resumo da vida acadêmica aos presentes. A íntegra do livro está disponível em: fapesp.br/conselho/emerito_zago_livro.pdf.

 





Autor: Agência FAPESP
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 25/11/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/marco-antonio-zago-recebe-titulo-de-professor-emerito-da-fmrp-usp/40140/

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