quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Epistemologia ambiental, artigo de Roberto Naime

Epistemologia vem do grego “episteme” que é conhecimento científico, e ciência ou “logos”, que é discurso ou estudo. É o ramo da filosofia que trata da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Nesse sentido, pode ser também chamada teoria do conhecimento ou “gnosiologia”.

Em sentido mais restrito, refere-se às condições sob as quais se pode produzir o conhecimento científico e dos modos para alcançá-lo, avaliando a consistência lógica de teorias. Neste caso, é a própria filosofia da ciência.

CARVALHO (2001) realiza sinopse livro de Enrique Leff começando por afirmação de que “o ambiente não é a ecologia, mas a complexidade do mundo”. Com esta manifestação, Enrique Leff introduz o livro e convida a desvendar os caminhos de uma instigante reflexão sobre o fenômeno ambiental, deslocando-o das ciências naturais, um lugar tantas vezes reforçado pelas visões biologizantes que preponderam neste campo.

Ao “desnaturalizar” a compreensão do ambiental, abre-se uma aventura epistemológica cujo ponto de partida não é apreender é apreender um novo saber sobre o ambiente. Assim, em sintonia com uma “hermenêutica ambiental”, esta reflexão instala a complexidade do mundo.

CARVALHO (2001) destaca uma diversidade de interpretações sobre a questão ambiental onde tanto o sujeito que quer saber quanto o objeto sobre o qual se quer saber estão lado a lado, num jogo “autopoiético” de mútua interação e determinação.

Por isso se insiste que educação ambiental conscientização são importantes. Mas não serão alterações ideológicas ou legais que determinarão alterações fundamentais.

A civilização humana determinará nova autopoiese sistêmica, na acepção livre dos conceitos desenvolvidos por Niklas Luhmann e Ulrich Beck, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio. Para sua própria sobrevivência, o “sistema” vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.

Ocorre enfatizar que nada se manifesta contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será, o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia.
Mas uma nova autopoise sistêmica para o arranjo social, incluindo a civilização e a natureza, enquanto sujeito e objeto, é imprescindível.

Em outras palavras, a via hermenêutica aqui escolhida e a ruptura da dicotomia sujeito e objeto em que essa implica.

Tornando esta reflexão uma atitude que reposiciona não apenas o ambiente, mas sobretudo o sujeito humano. Assim, ao problematizar a epistemologia do fenômeno ambiental, estão em causa tanto o ambiente quanto o sujeito.

CARVALHO (2001) afirma que mais do que um corpo acabado de conhecimentos, o saber ambiental é sobretudo uma postura epistemológica que não cede diante da complexidade do mundo, evitando a armadilha reducionista de uma ciência em busca da unidade do saber.

Neste círculo compreensivo da hermenêutica ambiental, é precisamente o trânsito entre sujeito e objeto, universal e particular, subjetividade e objetividade, sociedade e natureza, que se instaura a abertura do conhecimento.

Nos conceitos da fenomenologia e de psicanálise evocados por Leff em sua argumentação, a abertura em ser diferencia o projeto desta epistemologia ambiental de uma ecologização das ciências.

A epistemologia ambiental não se subordina na construção do espaço interdisciplinar através da identificação dos nexos possíveis entre as disciplinas científicas.

Se constrói na epistemologia ambiental, um novo espaço social e epistêmico formado pelo encontro de saberes. Todos os saberes, experiências e atores sociais como populações tradicionais, índios, quilombolas, movimentos e grupos sociais, são reconhecidos como interlocutores na construção de uma racionalidade ambiental.



Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.



Referência:
CARVALHO, Isabel Cristina Moura Epistemologia ambiental (Enrique Leff. São Paulo, Cortez Editora, 2001. 240 p.) Ambient. soc. no.8 Campinas Jan./June 2001
https://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/12/2018




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 06/12/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/12/06/epistemologia-ambiental-artigo-de-roberto-naime/

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