terça-feira, 2 de julho de 2019

Microclima e áreas verdes, artigo de Roberto Naime


O material particulado é um dos poluentes que mais afetam a respiração humana e também um dos mais absorvidos pelas plantas – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Microclima e áreas verdes
Aconteceram grandes e relevantes alterações no cenário global dos últimos tempos. Dados indicam que pela primeira vez na história, na última década, a população urbana do mundo se tornou maior que a rural. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), PNAD 2015, mais de 84% da população reside em áreas urbanas. A urbanização descontrolada, sem o adequado planejamento e as condições de infraestrutura urbana, tornam o quadro ainda mais grave.

Esta grande alteração causa várias consequências para o meio urbano, como ausência de áreas verdes, modificações no microclima das cidades, elevação das temperaturas, mudanças nos regimes eólicos, reduções na umidade do ar e até alterações na absorção de água pelos solos. A grande quantidade de veículos automotores resultante das carências de mobilidade geradas pela ausência de sistemas públicos bem aparelhados, faz com que as temperaturas das cidades se elevem em valores de 5 a 10 graus em média, principalmente nas áreas mais centrais.

Arborizações adequadas e até o uso de técnicas de coberturas verdes, instaladas sobre lajes de concreto, ajudam muito a amenizar as temperaturas e reconstituir localmente climas muito afetados. Telhados verdes também auxiliam na absorção de poeira, redução da sonoridade, como a arborização, contribuindo para melhor qualidade de vida das populações (MINKE, 2.005).

As superfícies vegetais tanto arbóreas quanto de telhados verdes, garantem além de melhor conforto térmico e ambiental, que elementos orgânicos possam absorver o gás carbônico resultante da combustão dos veículos. Este procedimento de sequestro dos gases de efeito estufa, muito contribui para a redução de efeito do aquecimento global.

A retenção de água tanto por árvores e folhagens quanto por coberturas verdes, patrocina e contribui para a regulação da umidade ambiental, permitindo maior evaporação (FERREIRA, 2007). As cidades e núcleos urbanos, em geral muito impermeabilizados, geram menor recarga dos aquíferos subterrâneos e dificuldades de escoamento que produzem frequentes enchentes. Áreas verdes ou coberturas verdes patrocinam importantes dispositivos para amortecimento dos escoamentos superficiais que geram as inundações.

Estudos científicos comprovaram que em São Paulo estas técnicas potencializaram os efeitos de microclima aumentando em 15,7% a umidade do ar e gerando redução de temperatura de 5,3 graus (CATUZZO, 2013). Particularmente no uso de telhados verdes, o isolamento térmico proporcionado pelas camadas vegetais possibilita ambiente interno mais agradável aumentando a reflexão e diminuindo a absorção nas coberturas, reduzindo assim as temperaturas ambientais.

A sustentabilidade, a arborização ou a integração ecológica ainda é um tema pouco difundido no país e pouco integrado às normas legais, que negligenciam estes valores. No sul do Brasil, possivelmente em função das imigrações europeias, existe maior sensibilização para este tema ou para assuntos vinculados. A oferta de incentivos pode induzir mais rapidamente a indução de procedimentos ambientalmente sustentáveis. Mas todas as alterações culturais ou paradigmáticas demandam tempo e participação comunitária para a difusão de concepções.

FERREIRA et al (2012) em estudo de microclima na cidade de Juiz de Fora em Minas Gerais, observam que o intenso processo de urbanização resultou na permuta de ambientes naturais por cenários cada vez mais artificiais. E este procedimento, sem adequado planejamento, gera inúmeros danos e impactos ambientais, particularmente na dimensão dos campos térmicos gerados no ambiente urbano.

Particularmente nas áreas de vegetação natural que são substituídas por processos de urbanização que caracterizam como “exacerbados”. Novamente destacam que a presença de vegetação nos grandes centros, contribui de forma favorável para a manutenção de umidade nos solos, atenuando o aquecimento e detendo a irradiação, favorecendo a reflexão de calor.

Áreas verdes tem grande relevância na montagem de cenários locais de microclimas como já se sabe e nem precisa comprovação científica para determinar este fato que gera sensações sobre todos os indivíduos, que podem atestar suas sensações.

As áreas verdes e os telhados ecológicos se configuram como áreas de frescor e umidades mais elevadas em relação a suas áreas circunvizinhas. E isto não necessita de nenhuma comprovação científica além de sensação que é comum às práticas e às experiências de todos os indivíduos que mobilizam uma mínima atenção ao tema.
Não são leis ou diplomas legais ou meras induções geradas por isenções tributárias que vão resolver o problema. Neste caso, como em todos os outros, acompanhado de estímulos financeiros, deve haver maior conscientização individual e nova atitude coletiva.


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.


Referências:

CATUZZO, H. Telhado Verde: Impacto na temperatura e umidade do ar. O Caso da Cidade de São Paulo. 2013. 206f. Tese (Doutorado) – Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

FERREIRA, C. C. M., ASSIS , D. C., PIMENTEL, F. O. e OLIVEIRA, D. E. O estudo do microclima gerado por praças em relação aos seus arredores na cidade de Juiz de Fora – MG Revista Geonorte, Edição Especial 2, V.2, N.5, p.496 – 508, 2012.

FERREIRA, M. F. Teto Verde: O Uso De Coberturas Vegetais Em Edificações. Departamento de Artes & Design. Relatório. 2007. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2007/relatorios/art/art_manoela_de_freitas_ferreira.pdf.> . Acesso em: Fev. 2014.

MINKE, G. Techos Verdes. Espanha: EcoHabitar. 2005


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 02/07/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 02/07/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/07/02/microclima-e-areas-verdes-artigo-de-roberto-naime/

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