quinta-feira, 1 de junho de 2023

Colaboração científica internacional contribui para diminuir disparidades regionais no enfrentamento das mudanças climáticasEnglish versionAvaliação foi feita no encontro anual do científica internacional contribui para diminuir disparidades regionais no enfrentamento das mudanças climáticasEnglish versionAvaliação foi feita no encontro anual do


Avaliação foi feita no encontro anual do GRC. Durante o evento, co-organizado pela FAPESP, representantes de agências de fomento de 63 países ratificaram declaração de princípios e práticas sobre financiamento de pesquisas sobre o tema


Elton Alisson li | Agência FAPESP – As mudanças climáticas já estão afetando todas as regiões do mundo, impactando os sistemas naturais, a biodiversidade e a vida humana. A natureza global desse desafio exige que as agências de financiamento públicas de todos os países estejam envolvidas em pesquisa sobre o tema, construindo sinergias e colaborações com outras iniciativas. Para que esse esforço seja efetivo, contudo, devem ser criados mecanismos para auxiliar as agências financiadoras de países com economias em transição de modo a diminuir as disparidades regionais no enfrentamento dessa ameaça.

A avaliação foi feita por especialistas em um painel de discussão sobre financiamento à pesquisa sobre mudanças climáticas que aconteceu quarta-feira (31/05), durante o encontro anual do Global Research Council, que ocorre até sexta-feira (02/06) em Haia, nos Países Baixos.

Durante o evento, co-organizado pela FAPESP, representantes de agências de fomento de 63 países ratificaram uma declaração de princípios e práticas sobre financiamento de pesquisas sobre o tema.

“A colaboração internacional permitirá identificar possíveis opções de mitigação e adaptação para atender às necessidades regionais abrangendo toda gama de setores, incluindo os de energia, transporte, edificações, indústria, agricultura, uso da terra e resíduos florestais”, disse Thelma Krug, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas Globais (IPCC) das Nações Unidas e membro do Conselho Superior da FAPESP.

Durante sua palestra, Krug destacou que a ciência já aponta a necessidade de reduções rápidas, profundas e sustentadas das emissões de gases de efeito estufa (GEE) para que as metas de temperatura de longo prazo estipuladas no Acordo de Paris sejam cumpridas. Isso implicará em profundas mudanças sociais e em transformações em todas as áreas da sociedade, apontou.

“Essas transformações exigem que o conhecimento científico e tradicional se unam para ajudar a identificar e implementar melhores práticas e estratégias em nível nacional, conectando a ciência com todos os níveis de governo, o setor privado, a sociedade civil, as comunidades locais e os povos indígenas. Ninguém pode ficar de fora dessa equação”, sublinhou.

A fim de atingir esse objetivo, porém, é necessário promover a igualdade de oportunidades para os países do sul global – que inclui nações em desenvolvimento na América Latina, Caribe, África, Ásia e Oceania –, ponderou Krug.

“É uma realidade que existem muito mais oportunidades de desenvolvimento científico no norte global e isso pode levar a vieses tendenciosos. Por isso, idealmente devem existir oportunidades iguais para os países do sul de modo que seja possível identificar desafios específicos do contexto local para lidar com os impactos e riscos das mudanças climáticas e explorar o potencial técnico e econômico da mitigação em todas as áreas”, avaliou.

De acordo com Krug, os membro do GRC reconhecem que essas questões por si só criam uma demanda por pesquisa e oferecem inúmeras oportunidades para financiar projetos que podem fazer a diferença para o desenvolvimento de políticas públicas, o fortalecimento de parcerias públicas e privadas, para impulsionar a inovação e buscar a transição justa.

Thelma Krug, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas Globais (IPCC) das Nações Unidas e membro do Conselho Superior da FAPESP

Relação com os ODSs

A ação contra as mudanças climáticas é um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e dialoga com várias das 16 outras metas, apontou Cherry Murray, professora da Universidade do Arizona, dos Estados Unidos, e co-presidente de um grupo de dez especialistas nomeados pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para apoiar a implementação dos ODSs. O grupo também é integrado por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP no período de 2005 a abril de 2020.

“Muitos dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável precisarão de soluções locais para serem atingidos porque estamos falando de empregos e qualidade de vida de populações locais. Mas, para começarmos a retirar carbono da atmosfera precisamos que isso aconteça em nível global”, ponderou.

De acordo com dados de um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados apresentados por Murray, para atingir os ODSs serão necessárias seis diferentes transformações sociais. A maior parte delas está sendo movida pelas mudanças climáticas, afirmou a pesquisadora.

“80% da população mundial viverá até 2030 em cidades que ainda não foram construídas e muitas delas estarão situadas no sul global. Essas cidades precisarão ser muito mais inteligentes”, avaliou.

Os países do sul global também serão os mais atingidos pelas mudanças climáticas, ressaltou a pesquisadora. Para diminuir os impactos, será necessário pensar em sistemas realmente trans e multidisciplinares e o envolvimento de diversos atores, incluindo populações indígenas e pequenos agricultores, afirmou Murray.

“Precisamos de colaboração global em pesquisa, mas as soluções precisam ser adaptadas às necessidades locais e envolver tanto mitigação como adaptação”, apontou.

Nesse sentido, uma das contribuições do GRC poderá ser articular soluções locais no enfrentamento das mudanças climáticas com um cenário global, avaliou Ricardo Galvão, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Precisamos de uma articulação muito melhor entre diferentes países”, disse Galvão.

Uma iniciativa bem sucedida de parceria do Brasil em pesquisa sobre mudanças climáticas com outros países foi o desenvolvimento de satélites de observação da Terra em cooperação com a China que possibilitou o monitoramento do desmatamento da Amazônia, exemplificou o pesquisador.

“Isso foi muito importante para termos mais detalhes sobre o desmatamento da floresta”, disse.

Esse mesmo tipo de parceria poderia ser útil, agora, para o aprimorar os modelos climáticos para analisar as mudanças do clima na América do Sul, avaliou Galvão.

“Nenhum deles funciona bem para a América do Sul. A cordilheira dos Andes, por exemplo, não é bem considerada nesses modelos. E por que não há uma abordagem internacional para olhar com mais cuidado onde nossos modelos falham? Falta um acordo internacional entre as diferentes agências para isso”, disse.

As cartas e comunicações do GRC estão disponíveis em: https://globalresearchcouncil.org/grc-publications/.





Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 01/06/2023

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