A Rickettsia rickettsii, bactéria que causa a doença, é transmitida pela picada de carrapatos infectados. No Brasil, duas espécies desses aracnídeos transmitem a bactéria para humanos. O carrapato-estrela, utilizado no estudo, é o principal vetor, mas há também o Amblyomma aureolatum, que transmite a bactéria na região metropolitana da cidade de São Paulo. A Rickettsia rickettsii costuma permanecer nas populações de carrapatos pois coloniza os ovários, passando de uma geração para outra.
Na fase adulta, o carrapato se alimenta preferencialmente de cavalos e de capivaras, mas o número de casos no Brasil não justificaria a vacinação em pessoas. Se o alvo encontrado para a obtenção de um imunizante for promissor, o carrapato que se alimentar de um animal vacinado morrerá, interrompendo o ciclo de proliferação da bactéria. “A diminuição da densidade populacional dos carrapatos por uma estratégia vacinal, consequentemente, interromperia em grande parte a transmissão da doença para os seres humanos”, explica ao Jornal da USP Marcelly Nassar.
Proximidade de capivaras com populações humanas favorece a transmissão de bactéria letal por carrapatos, que podem ser controlados por estratégia vacinal – Foto: Julio Cesar Bazanini/USP Imagens
“É uma estratégia vacinal diferente, mas espera-se que a resposta no hospedeiro seja a mesma”, descreve a pesquisadora. Atualmente, ela faz testes da aplicação do imunizante em animais em sua pesquisa de doutorado.
Alta letalidade da doença
Nos humanos, a bactéria coloniza as células dos vasos sanguíneos, o que causa uma inflamação (vasculite), cuja progressão pode ser fatal. A vasculite também leva ao surgimento de manchas na pele — ou máculas, e daí o nome da doença (“febre maculosa”) — que se espalham pelo corpo. Nem todas as pessoas infectadas têm máculas e os sintomas iniciais são muitos confundidos com outras viroses, como a dengue.
Nos primeiros dias, a pessoa infectada tem febre e sente dores na cabeça e no corpo. Se o paciente não tiver percebido que foi picado ou não se lembrar de dizer isso durante o atendimento médico, dificilmente haverá a suspeita de um quadro de febre maculosa. Assim, não será prescrito o antibiótico adequado, a doxiciclina.
O diagnóstico para febre maculosa é feito por reação de imunofluorescência indireta, que só é confiável após mais de dez dias a partir dos primeiros sintomas, quando o corpo já produziu anticorpos. Portanto, até a obtenção do diagnóstico positivo para Rickettsia rickettsii, possivelmente o tratamento com antibiótico não será mais eficaz. “Controlar a população do vetor, portanto, é a melhor medida para controlar a doença e evitar mortes”, explica a veterinária.
A pesquisadora explicou que poucos casos são registrados por conta da falta de dados. Dado o cenário, bloquear o vetor é a melhor medida para combater a doença. “Não temos um diagnóstico laboratorial efetivo nos primeiros dias da doença. Para esperar um diagnóstico positivo para Rickettsia rickettsii, possivelmente o tratamento não será mais eficaz”, diz ela.
Autor: Ivan Moraes Conterno
Fonte: jornal da USP
Sítio Online da Publicação: jornal da USP
Data: 15/06/2023
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