quinta-feira, 15 de junho de 2023

Livro Nossas falhas de raciocínio ajuda a pensar melhor em tempos de incerteza e desinformação


A infinidade de informações disponíveis na internet frequentemente nos faz questionar sobre quais delas são confiáveis ou não. É sobre a necessidade de aprender a lidar com a abundância de fontes e de dados para entender o mundo ao nosso redor que o professor André Martins escreveu o livro Nossas falhas de raciocínio: ferramentas para pensar melhor. Com lançamento no domingo, dia 18 de junho, na Livraria Martins Fontes, em São Paulo, o texto trata sobre como dialogar de maneira produtiva com pessoas com as quais discordamos e a importância de questionarmos nossas próprias certezas e métodos de aprendizado.

Segundo o professor, assim como há ferramentas que são extensões das nossas mãos, há outras que são extensões do nosso cérebro, sem as quais nosso raciocínio é falho. Martins, que trabalha com um campo novo da ciência, conhecido como dinâmica de opiniões, conversou com o Jornal da USP a respeito desse novo lançamento.

André Martins - Foto: Gabriel Almeida/EACH

André Martins – Foto: Gabriel Almeida/EACH

Em qual área do conhecimento se encaixa o livro Nossas falhas de raciocínio?

Eu chamo pré-metodologia. Ele explica por que precisamos da metodologia e quais são as ferramentas básicas dela, sem realmente ensinar a usá-las. Isso os livros de metodologia fazem. É uma conversa sobre onde o nosso raciocínio falha e por que acreditamos em coisas independente de haver evidências ou acreditando mais do que as evidências dizem que poderíamos. Embora seja competente para outras coisas, o nosso raciocínio falha quando vamos falar de ciência. O livro é sobre as falhas e as ferramentas necessárias para corrigir essas falhas. 

Há um crescimento da preocupação dos professores com a falta do raciocínio lógico nos alunos dos cursos de graduação?


O livro nos leva a uma conclusão de que não temos como ter certezas sobre o mundo, apenas probabilidades. Como podemos procurar pelos nossos erros sem desanimar no meio do caminho com a falta de respostas?
Alguma incerteza sempre existe, sim. Nós sempre temos a possibilidade de vir a ter teorias científicas melhores que as atuais, mas já temos várias que funcionam de forma muito sólida. Mas o debate com pessoas que duvidam da ciência deve ser primeiro sobre como chegar a conclusões, porque, se as pessoas estão usando critérios diferentes para chegar a elas, a conversa não vai a lugar nenhum. O nosso cérebro é bom, mas nós temos capacidades limitadas de raciocínio.

Em parte, a nossa capacidade de raciocínio evoluiu para conseguirmos uma justificativa rápida, que às vezes é errada, e gostamos dela porque não dá mais trabalho. Para os nossos antepassados, o risco de viver sozinho era muito maior. Da mesma forma, pertencer a um grupo social era importantíssimo. Se a explicação do grupo não fosse tão ruim, mas não fosse a melhor possível, poderia ser suficiente para o dia a dia. 

Os métodos que foram desenvolvidos durante milênios pelos nossos melhores pensadores montaram uma base indispensável para concluir algo. Ainda que você não vá ser um cientista, é importante saber como essas ferramentas funcionam, até para saber as limitações do que podemos concluir. A ciência não fornece certezas, mas às vezes chega muito perto de fornecer e dá as respostas de como o mundo realmente funciona.

Você diz que os seres humanos escutam melhor as pessoas que estão fisicamente presentes, mas não seria de se pensar que a melhor maneira de apresentar argumentos lógicos de forma efetiva seria massificando essa comunicação científica para que essa argumentação atinja grupos maiores?
Em princípio, um cientista vai querer apresentar os argumentos lógicos, porém o que convence são os emocionais. Existe um conflito entre como argumentamos e o que realmente funciona para o grande público. As grandes figuras públicas que realmente convencem as pessoas sem contato direto usam o emocional, pelo medo ou pela esperança.

O esforço de divulgação é fundamental, mas não é suficiente dado como funciona o ser humano. Eu gostaria de ver surgir questões de metodologia no ensino médio, ensinando que o nosso raciocínio é bom, mas não é perfeito.


Autor: Ivan Conterno


Fonte: jornal da USP 


Sítio Online da Publicação: jornal da USP
Data: 15/06/2023


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