Estudando pares de gêmeos, cientistas conseguiram encontrar três genes que podem indicar uma maior suscetibilidade aos efeitos do vírus da zika nos bebês em gestação, causando malformações como a microcefalia.
Os resultados da pesquisa, liderada por Mayana Zatz e Maria Rita Passos-Bueno, da Universidade de São Paulo (USP) , foram publicados na revista "Nature Communications", nesta sexta-feira (2).
Jaqueline Jessica Silva de Oliveira é mãe de um dos casos estudados. Ela engravidou de gêmeos em 2015. Aos sete meses de gestação, descobriu que teria um dos bebês com microcefalia. Ela já tinha dois filhos, Paulo, com 9 anos, e Gabrielly, com 4. Há cerca de um ano, quando aceitou participar da pesquisa, ela contou ao G1 que teve os sintomas nos primeiros meses: dor de cabeça, manchas nos braços e mãos e coceira.
Casal de gêmeos Laura e Lucas: um tem microcefalia, o outro não (Foto: Arquivo Pessoal)
As duas crianças nasceram em 17 de novembro de 2015 e se chamam Laura e Lucas. Jaqueline disse que Mayana "a visitava toda a semana" para buscar informações. Hoje, as crianças têm mais de 2 anos.
"Não teve essa evolução que muitos esperavam ver. Ela [Laura] está bem, do jeitinho que ela é. Mas evolução de sentar, de andar, de falar não teve", disse. "O outro [Lucas] se desenvolveu normalmente: ele fala, ele anda", completou.
Nove pares
Para detectar a propensão genética à síndrome congênita de zika -- nome dado às malformações causadas pelo vírus aos bebês em gestação, inclundo a microcefalia --, as pesquisadoras compararam nove pares de gêmeos.
Dois pares eram gêmeos idênticos, ambos com sequelas do vírus; um par não era idêntico, mas também tinha sido afetado; e seis pares eram não idênticos em que uma criança era afetada, e a outra não.
Elas coletaram amostras de sangue e saliva das crianças.
"Não achamos nenhum gene principal. Concluímos que é uma herança complexa. Vou te dar um exemplo: risco para diabetes. A gente sabe que há um componente genético de aumento do risco para a diabetes, mas não existe só um gene principal", disse Mayana.
A pesquisadora explica que, como concluíram que não havia um gene principal, foram para uma segunda saída. "Estudamos o RNA, que é a expressão dos genes", disse. Ou seja, elas passaram a investigar quais são eram os genes cuja ação era silenciada ou ativada para agir em determinadas células.
O RNA de três pares de gêmeos bivitelinos (não idênticos) foi analisado, entre eles, os de Laura e Lucas. As pesquisadoras conseguiram encontrar uma característica genética em comum nos três bebês que apresentaram microcefalia. Diferentemente de seus irmãos, todos eles tiveram uma alteração no gene DDIT4L.
As pesquisadoras notaram que ele estava muito menos expresso nas células afetadas e isso causou uma mudança com relação à proteína mTor, envolvida no crescimento e na morte celular. Outros estudos já haviam relacionado a mTor à replicação do vírus da zika.
Alterações nos genes identificados como FOXG1 e LHX2 também foram encontradas. Eles atuam no processo de desenvolvimento de áreas cerebrais durante o crescimento. O primeiro deles também é associado a distúrbios cerebrais congênitos.
"Demonstramos que existe um componente genético de suscetibilidade, que não é ao acaso, e a partir daí estamos aprofundando o estudo para tentar entender porque o vírus prefere algumas células no lugar de outras", afirmou Mayana.
Os gêmeos bivitelinos (gerados a partir de dois óvulos e dois espermatozoides diferentes) foram fundamentais para os resultados do estudo, porque estiveram expostos às mesmas condições no ambiente: filhos da mesma mãe, entraram em contato com o zika na mesma época. Mesmo assim, o vírus afetou o cérebro de apenas um dos irmãos.
Autor: Carolina Dantas
Fonte: G1
Sítio Online da Publicação: G1
Data de Publicação: 02/02/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/zika-virus/noticia/estudo-com-gemeos-revela-tres-genes-relacionados-a-efeitos-da-zika-em-bebes.ghtml
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