A equipe, liderada por Claudia Figueiredo, da Faculdade de Farmácia da UFRJ, procurou compreender desfechos tardios da sepse, avaliando se animais que sobrevivem a quadros infecciosos graves teriam maior susceptibilidade ao desenvolvimento de déficit cognitivo associado à doença de Alzheimer.
Os resultados, segundo Claudia, mostram que inflamações sistêmicas, como por exemplo as que ocorrem nas infecções bacterianas ou na Covid-19, podem ativar o treinamento imunológico, aumentando o risco para desenvolvimento de prejuízo de memória e alterações neuropatológicas semelhantes as que ocorrem na doença de Alzheimer.
"A memória imunológica é um importante traço evolutivo que promove a adaptação do organismo frente a reexposição a diferentes insultos. Entretanto, este treinamento por estar associado com maior risco para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas", explica Claudia. Os autores identificaram, pela primeira vez, que uma inflamação sistêmica grave, induzida pela sepse, condiciona as células de defesa do cérebro a reagir de maneira exagerada a um pequeno acúmulo de proteínas relacionadas com a doença de Alzheimer. Este mecanismo é o treinamento imunológico ou memória imune inata.
Claudia Figueiredo: grupo de pesquisa liderado por ela teve artigo publicado no periódico Brain, Behavior and Immunity (Foto: Divulgação)
O estudo foi desenvolvido em camundongos de laboratório. Os sobreviventes à sepse foram submetidos a um modelo brando de doença de Alzheimer após recuperação do quadro infeccioso. O modelo consiste em uma injeção no cérebro de camundongos de baixas concentrações uma substância associada à origem da doença de Alzheimer em seres humanos. A substância consiste em pequenos fragmentos (oligômeros) da proteína beta-amiloide, os quais são precursores dos danos celulares em áreas do cérebro relacionadas a formação de memória.
"Nossos achados abrem novos caminhos para o desenvolvimento de estratégias capazes de prevenir e/ou diminuir o risco para o desenvolvimento de doenças neurodegeneraticas", ressalta Claudia. "Este estudo enfatiza a importância de um acompanhamento neuropsicologico prospectivo dos pacientes acometidos por doencas inflamatórios graves, como a sepse e a covid-19", acrescenta.
O trabalho é fruto da dissertação de mestrado da aluna Virginia L. De Sousa, do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, e o estudo foi realizado por pesquisadores de Núcleo de Neurociências da Faculdade de Farmácia da UFRJ com a colaboração de pesquisadores dos institutos de Biofísica Carlos Chagas Filho e Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da mesma universidade, e recebeu auxílios da FAPERJ para a sua realização. Para a surpresa dos pesquisadores, camundongos sobreviventes à sepse e que receberam doses não tóxicas de oligômeros de beta-amiloide no cérebro apresentaram maior susceptibilidade ao déficit cognitivo quando comparados com animais que não foram submetidos a sepse.
O artigo já está disponível online (In press, journal pre-proof) e pode ser consultado em https://bit.ly/3ahemqC.
Células da imunidade inata do cérebro, denominada microglia (vermelho), atacam proteínas sinápticas
(verde) no sistema nervoso central de animais submetidos à um modelo de sepse grave (CLP)
Autor: Claudia Jurberg
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 06/05/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4213.2.0
Nenhum comentário:
Postar um comentário