A pesquisa teve como desdobramento a publicação de um artigo na revista científica internacional Science of the Total Environmental, uma publicação do grupo Elsevier. Intitulado Ecological impacts of an invasive top predator fish across South America, o artigo é assinado pela dupla de pesquisadores da UniRio em colaboração com Emili García-Berthou, da Universidade de Girona, na Espanha, reconhecido pela sua expertise no estudo de espécies invasoras. Ana Clara recebe apoio da FAPERJ para o desenvolvimento de suas pesquisas, por meio do programa Pós-Doutorado Nota 10, enquanto o professor Luciano Santos, supervisor da pós-doutoranda e atual coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Neotropical (PPGBIO), da UniRio, foi contemplado pela Fundação com o programa Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE).
O estudo fluminense se destaca pela abrangência com que o tema foi investigado. “É o primeiro projeto de pesquisa que considerou dados sobre a introdução do tucunaré Cichla ocellaris em toda a América do Sul”, destacou Santos, que é o coordenador no Laboratório de Ictiologia Teórica e Aplicada (LICTA) da UniRio. “Analisamos uma escala geográfica ampla, incluindo rios, lagos e reservatórios, e não apenas um desses ambientes aquáticos, como costuma ocorrer em outros estudos. Foram 62 áreas analisadas ao todo, sendo 30 em áreas nativas e 32 sistemas em áreas onde o tucunaré foi introduzido. Avaliamos também dados secundários, com base na literatura, de países como Brasil, Paraguai, Bolívia, Peru e Guiana”, detalhou Ana Clara.
Os pesquisadores da UniRio Luciano Santos e Ana Clara Franco analisaram dados sobre a introdução do tucunaré em ecossistemas de países de toda a América do Sul (Foto: Divulgação)
O trabalho aponta que o barramento de rios e a introdução de espécies não-nativas representam, na atualidade, as principais ameaças à diversidade de peixes nativos de ambientes de água doce. “A construção de barragens e a introdução de espécies não-nativas, como o tucunaré-amarelo, geram impactos comprovados sobre a diversidade taxonômica e funcional da ictiofauna nativa”, disse Ana. A introdução do tucunaré nesses ambientes gera desequilíbrios em todo o ecossistema. Eles agem como uma espécie invasora e passam a competir com as espécies nativas por alimentos, e a serem predadores de outras. “Em locais onde o tucunaré foi introduzido há mais tempo, como por exemplo no reservatório de Lajes, localizado entre os municípios de Piraí e Rio Claro, no Sul Fluminense, os impactos negativos são mais evidentes. Lá, que foi um dos primeiros locais onde ele começou a ser introduzido fora da Amazônia, nos anos 1950, observamos uma quantidade bem menor de espécies nativas, que foram sendo substituídas por outras espécies invasoras, além do tucunaré, como a tilápia e a pescada”, disse Santos.
Segundo a pesquisa, os impactos da introdução do tucunaré nas áreas pesquisadas foram maiores em reservatórios do que em rios. “Comparamos os tipos de sistema e a introdução do tucunaré como espécie invasora gera um efeito negativo maior em reservatórios do que em rios, pois os primeiros são ambientes lênticos, de água parada, que favorecem o surgimento de populações mais numerosas de tucunarés, e, em consequência, uma menor riqueza de espécies nativas. Nos rios há uma abundância relativa menor de tucunarés invasores, eles não chegam a se tornar dominantes na comunidade e uma maior riqueza de espécies é preservada”, explicou Santos.
Os pesquisadores esperam que o estudo ajude a nortear a formulação de políticas públicas mais adequadas para o setor pesqueiro. “Nesse momento presenciamos algumas políticas públicas elaboradas sem o respaldo do conhecimento acadêmico, que naturalizam a presença de espécies invasoras, como a Lei do Tucunaré, que proíbe o abate de tucunaré nas águas da represa da usina hidrelétrica de Paraibuna, em São Paulo, ignorando os impactos que eles podem gerar sobre a comunidade de espécies nativas”, ponderou Ana Clara. “Esperamos que a pesquisa seja uma fonte de informações para subsidiar a implantação de medidas de manejo e mitigação sustentáveis das atividades potencialmente impactantes no setor, por parte dos órgãos responsáveis por esses sistemas”, concluiu.
Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 21/05/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4212.2.4
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