quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Incontinência fecal: o que você precisa saber

Há cerca de um mês vi um comercial na televisão sobre calcinhas absorventes descartáveis para pacientes incontinentes. Uma mulher jovem que relatava que não conseguia brincar com a filha por conta da incontinência. A minha pergunta foi: uma mulher jovem, bonita, com uma filha pequena, com incontinência… será que ela vive feliz? E quando essa mulher ficar mais velha? A calcinha será suficiente?



A incontinência fecal é um problema considerável na população. A incidência varia entre os estudos, de 1,4% a 18% da população americana. Em pacientes institucionalizados, a incidência sobe e chega a 50%. Esses números provavelmente são maiores, porque muitos pacientes, mesmo em consulta com um especialista, não relatam o problema, seja por vergonha ou por considerar que isso “é coisa de velho”. Em cerca de 5% dos pacientes está associada a incontinência urinária.

A maior parte dos acometidos são mulheres. Isso se deve ao fato da pelve feminina ter uma conformação diferente da pelve do homem (a musculatura apresenta três aberturas – uretra, vagina e ânus), seja pelo canal anal funcional (porção mais hipertônica do canal anal) ser mais curto, seja por traumas (cirurgias anorretais ou parto vaginal – o mais comum). Não há idade para tais lesões se tornarem sintomáticas, isso depende da gravidade da lesão. É mais comum que ocorram no pós menopausa, quando a musculatura reduz sua tonicidade, pela redução dos hormônios femininos.

Mais da autora: ‘Sangramento anal – o que é e como diagnosticar corretamente’

Os sinais e sintomas são os mais variados: desde dificuldades para reter fezes na urgência ou em caso de diarreia, quanto apresentar perdas insensíveis. Mensuramos o quanto provoca alteração na qualidade de vida através do escore de Jorge – Werner (Dr. Jorge é brasileiro, da USP). O escore avalia a necessidade de protetores diários, qual o tipo de fezes ou gases há a perda, frequência da perda e alteração dos hábitos por conta da perda de fezes (alterações das atividades diárias). Esse escore é utilizado no mundo todo para uma avaliação inicial.

O diagnóstico é feito durante o exame físico do paciente, avaliando a tonicidade e forca de contração, em um exame de toque retal. Exames complementares devem ser solicitados: colonoscopia (avaliação de algum outro problema), manometria anorretal (avalia a força de contração dos músculos esfincterianos), ultrassom endoanal 2D ou 3D (avalia falhas na musculatura), defecografia ou defecorressonância (avaliam a dinâmica da evacuação em tempo real). Os principais diagnósticos diferenciais são com soiling ou mucorreia. O soiling em geral é associado a um fecaloma e a mucorreia pode ser proveniente de proctite ou mesmo de um adenoma.

O tratamento começa no acolhimento adequado desse paciente. Muitos só procuram ajuda quando o problema já causa sofrimento psíquico. Não deixe esse paciente sofrer mais. Inicialmente deve ser feita uma anamnese com os hábitos alimentares e evacuatórios, podendo ser corrigidos erros e trazendo conforto maior, associando com antidiarreicos. Dependendo da causa, essa terapia apresenta sucesso transitório. Caso haja lesões esfincterianas, pode ser avaliada a fisioterapia pélvica, chamada biofeedback, pela estimulação de nervo tibial posterior. As terapias mais invasivas são a esfincteroplastia e, mais recentemente, o implante do neuromodulador sacral. Este último, liberado pela Anvisa há cerca de 5 anos, apresenta uma taxa de sucesso alta.

Então não considere isso como “coisa de velho”. Busque ativamente pelo problema e encaminhe o paciente o quanto antes ao especialista. O problema é real e reduz consideravelmente a qualidade de vida do paciente, sejam os mais novos ou os mais velhos.




Autora: pebmed
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data de Publicação: 05/12/2017
Publicação Original: https://www.pebmed.com.br/incontinencia-fecal-o-que-voce-precisa-saber/

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