quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Cientistas clonam macacos e abrem debate sobre uso da técnica em humanos




Os macacos-de-cauda-longa clonados Zhong Zhong e Hua Hua, que nasceram oito e seis semanas atrás - Cell/REUTERS


LONDRES — Cientistas chineses clonaram macacos usando a mesma técnica que produziu a ovelha Dolly há duas décadas, quebrando uma barreira técnica que poderia abrir a porta para o clone de seres humanos.


Zhong Zhong e Hua Hua, dois macacos-de-cauda-longa idênticos, nasceram oito e seis semanas atrás, tornando-os os primeiros primatas — a ordem dos mamíferos que inclui micos, macacos e humanos - a serem clonados a partir de uma célula não-embrionária .

O estudo foi realizado através de um processo denominado transferência nuclear de células somáticas (SCNT, em inglês), que envolve a transferência do núcleo de uma célula, que inclui seu DNA, em um óvulo que teve seu núcleo removido.

Pesquisadores do Instituto de Neurociências de Xangai disseram que o trabalho daria um grande impulso para a pesquisa médica, possibilitando o estudo de doenças em populações de macacos geneticamente uniformes. Além disso, abre a discussão sobre a viabilidade da clonagem de nossa própria espécie.

— Os seres humanos são primatas. Então (para) a clonagem de espécies de primatas, incluindo os humanos, a barreira técnica agora está quebrada — anunciou Muming Poo, que ajudou a supervisionar o programa no instituto. — A razão para quebrar esta barreira é a produção de modelos animais que sejam úteis para a medicina, para a saúde humana. Não há intenção de aplicar esse método aos humanos.

Animais geneticamente idênticos são úteis na pesquisa científica porque a variabilidade do DNA em animais não clonados podem complicar experiências. Os novos espécimes poderão ser usados para testar novos medicamentos para uma série de doenças antes do uso clínico.



O macaco-de-cauda-longa Huah Hua, um dos clonados pela equipe chinesa - Cell/Reuters

Os pesquisadores disseram que esperam que mais o nascimento de mais macacos clonados nos próximos meses.

Desde o nascimento da ovelha Dolly, na Escócia, em 1996, os cientistas utilizaram com sucesso o processo SCNT para clonar mais de 20 espécies, incluindo vacas, porcos, cachorros, coelhos, ratos e camundongos. No entanto, os testes em primatas sempre falharam, o que levou ao questionamento sobre sua maior resistência a esta técnica científica.

A nova pesquisa, publicada esta quarta-feira na revista "Cell", mostra que não é esse o caso. A equipe chinesa conseguiu realizar a clonagem após muitas tentativas, usando moduladores para ativar ou desativar certos genes que estavam inibindo o desenvolvimento embrionário.

Mesmo assim, sua taxa de sucesso foi extremamente baixa e a técnica funcionou somente quando os núcleos foram transferidos das células fetais, em vez das adultas, como foi o caso de Dolly. No total, foram necessários 127 óvulos para produzir o nascimento dos dois macacos.

— Este procedimento continua sendo muito ineficiente e perigoso — alertou Robin Lovell-Badge, especialista em clonagem do Instituto Francis Crick (Reino Unido), que não participou da pesquisa chinesa. — Este trabalho não é uma etapa que estabelece métodos para a obtenção de clones humanos vivos. Qualquer tentativa seria absurda.

O estudo ressalta o papel cada vez mais importante da China na vanguarda da biociência, onde seus cientistas, às vezes, empurraram fronteiras éticas. Três anos atrás, por exemplo, pesquisadores da Universidade Sun Yat-sen causaram um furor quando relataram a realização do primeiro experimento para editar o DNA de embriões humanos, embora um trabalho semelhante já tenha sido feito elaborado nos Estados Unidos.

Os cientistas envolvidos no estudo dos macacos asseguram que seguiram as diretrizes internacionais para pesquisa animal estabelecidas pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, mas pediram um debate sobre o que deveria ou não ser uma prática aceitável na clonagem de primatas.


Autor: O GLOBO
Fonte: O GLOBO
Sítio Online da Publicação: O GLOBO
Data de Publicação: 24/01/2018
Publicação Original: https://oglobo.globo.com/sociedade/cientistas-clonam-macacos-abrem-debate-sobre-uso-da-tecnica-em-humanos-22324275?utm_source=meio&utm_medium=email

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