Clarice Santos, em cena do filme: a estudante conta que teve que abandonar a escola para trabalhar (Foto: Divulgação/Fora de série)
No depoimento de cada aluno, uma lição de vida e um recorte preciso da realidade social de jovens adultos que decidiram voltar a estudar, e da relação deles com a escola. Esse é o espírito do documentário Fora de série, longa-metragem produzido pelo Observatório Jovem do Rio de Janeiro, grupo de pesquisa coordenado pelo professor Paulo Carrano, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Carrano é Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. O filme é produto de uma pesquisa com estudantes do Ensino Médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) de 13 escolas públicas estaduais, localizadas no município do Rio.
O documentário foi denominado Fora de série em alusão à faixa etária dos alunos escolhidos como personagens. O nome do filme também funciona como um jogo de palavras que busca destacar o esforço extraordinário de jovens que insistem em perseguir o direito à educação. São pessoas que estão além da idade escolar convencional, pois tiveram que se afastar do colégio por diversas questões, como a imposição familiar para trocar os estudos pelo trabalho para ajudar no sustento da casa, o racismo, a gravidez na adolescência, o uso de drogas e a violência doméstica. “O filme reúne depoimentos de 13 jovens adultos no Ensino Médio, todos entre 23 e 29 anos”, diz Carrano. Como uma colcha de retalhos, o filme apresenta, a partir das subjetividades presentes nos relatos dos estudantes, um olhar nu e cru sobre a evasão escolar, e faz pensar sobre os processos de inclusão social que precisam ser construídos no País.
Os personagens são protagonistas de suas próprias histórias e revelam suas trajetórias de escolarização e seus percursos biográficos. “Eu fui engolido pelo mundo, pelos erros da vida, e o mundo te engole se você não souber andar”, pondera um deles, Jhonata Barbosa, ao lembrar como foi difícil superar os obstáculos que precisou enfrentar quando chegou do Nordeste no Rio e teve que largar a escola. Em outro trecho, o filme acompanha a rotina do estudante-trabalhador-pai, que ajuda a fechar a loja onde trabalha, durante o dia, e segue de metrô lotado para estudar à noite. “Estão vendo, esta é a vida do trabalhador brasileiro”, diz ele, assumindo o papel de um repórter.
Outra personagem, Clarice Santos, de 29 anos, conta como a necessidade de trabalhar na roça até os 15 anos para ajudar a sustentar a família foi o fator determinante para que ela deixasse os bancos escolares. “Teve um dia (...) que eu peguei minha mochila e botei nas costas. Quando botei o pé fora de casa meu padrasto veio. Ele disse ‘Tu vai pra onde?’ ‘Papai eu vou pro colégio, eu vou pra escola’. Ele falou ‘Pode tirar a bolsinha das costas, pode guardar a mochila e trabalhar'”, diz, em uma cena do documentário.
Para registrar essas experiências, o longa utiliza, além de entrevistas em profundidade, outros dispositivos: foram realizadas rodas de conversa; exercícios de análise fotográfica; diários de bordo visuais, os entrevistados receberam câmeras para contarem suas histórias; e seus cotidianos foram acompanhados. Segundo o professor, Fora de Série pode ser considerado um filme dentro de uma pesquisa (ou vice-versa), como destaca a sinopse do longa-metragem. A filmagem propriamente dita, que começou no final de 2014, foi a última etapa da pesquisa, que teve início em 2013, com a realização de uma pesquisa quantitativa. Um questionário foi aplicado junto a cerca de mil alunos de escolas públicas do Rio – jovens e adultos e da modalidade EJA. Depois dessa etapa, foi realizada uma pesquisa qualitativa, mais detalhada, com alguns estudantes, e só então foram escolhidos os personagens que entraram no filme.
No depoimento de cada aluno, uma lição de vida e um recorte preciso da realidade social de jovens adultos que decidiram voltar a estudar, e da relação deles com a escola. Esse é o espírito do documentário Fora de série, longa-metragem produzido pelo Observatório Jovem do Rio de Janeiro, grupo de pesquisa coordenado pelo professor Paulo Carrano, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Carrano é Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. O filme é produto de uma pesquisa com estudantes do Ensino Médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) de 13 escolas públicas estaduais, localizadas no município do Rio.
O documentário foi denominado Fora de série em alusão à faixa etária dos alunos escolhidos como personagens. O nome do filme também funciona como um jogo de palavras que busca destacar o esforço extraordinário de jovens que insistem em perseguir o direito à educação. São pessoas que estão além da idade escolar convencional, pois tiveram que se afastar do colégio por diversas questões, como a imposição familiar para trocar os estudos pelo trabalho para ajudar no sustento da casa, o racismo, a gravidez na adolescência, o uso de drogas e a violência doméstica. “O filme reúne depoimentos de 13 jovens adultos no Ensino Médio, todos entre 23 e 29 anos”, diz Carrano. Como uma colcha de retalhos, o filme apresenta, a partir das subjetividades presentes nos relatos dos estudantes, um olhar nu e cru sobre a evasão escolar, e faz pensar sobre os processos de inclusão social que precisam ser construídos no País.
Os personagens são protagonistas de suas próprias histórias e revelam suas trajetórias de escolarização e seus percursos biográficos. “Eu fui engolido pelo mundo, pelos erros da vida, e o mundo te engole se você não souber andar”, pondera um deles, Jhonata Barbosa, ao lembrar como foi difícil superar os obstáculos que precisou enfrentar quando chegou do Nordeste no Rio e teve que largar a escola. Em outro trecho, o filme acompanha a rotina do estudante-trabalhador-pai, que ajuda a fechar a loja onde trabalha, durante o dia, e segue de metrô lotado para estudar à noite. “Estão vendo, esta é a vida do trabalhador brasileiro”, diz ele, assumindo o papel de um repórter.
Outra personagem, Clarice Santos, de 29 anos, conta como a necessidade de trabalhar na roça até os 15 anos para ajudar a sustentar a família foi o fator determinante para que ela deixasse os bancos escolares. “Teve um dia (...) que eu peguei minha mochila e botei nas costas. Quando botei o pé fora de casa meu padrasto veio. Ele disse ‘Tu vai pra onde?’ ‘Papai eu vou pro colégio, eu vou pra escola’. Ele falou ‘Pode tirar a bolsinha das costas, pode guardar a mochila e trabalhar'”, diz, em uma cena do documentário.
Para registrar essas experiências, o longa utiliza, além de entrevistas em profundidade, outros dispositivos: foram realizadas rodas de conversa; exercícios de análise fotográfica; diários de bordo visuais, os entrevistados receberam câmeras para contarem suas histórias; e seus cotidianos foram acompanhados. Segundo o professor, Fora de Série pode ser considerado um filme dentro de uma pesquisa (ou vice-versa), como destaca a sinopse do longa-metragem. A filmagem propriamente dita, que começou no final de 2014, foi a última etapa da pesquisa, que teve início em 2013, com a realização de uma pesquisa quantitativa. Um questionário foi aplicado junto a cerca de mil alunos de escolas públicas do Rio – jovens e adultos e da modalidade EJA. Depois dessa etapa, foi realizada uma pesquisa qualitativa, mais detalhada, com alguns estudantes, e só então foram escolhidos os personagens que entraram no filme.
Roda de conversa: jovens adultos que cursam o Ensino Médio discutem os desafios da educação (Foto: Divulgação/Fora de série)
"O filme revela narrativas de jovens que denunciam sistema escolar que pouco dialoga com seus desafios relacionados, por exemplo, com a falta de assistência com transporte escolar, a conciliação com estudos e trabalhos, a relação com professores desmotivados e escolas pouco democráticas. Mas, que também dão testemunho de que a escola e muitos professores podem ser porto seguro e suporte para a superação dos desafios que enfrentam na retomada da escolarização. São assim jovens que seguem apostando na escola e que resistem na busca de seus direitos a uma educação pública de qualidade”, destaca Carrano. “O projeto de pesquisa e a realização do documentário tiveram como base a ideia de que é indispensável escutar o jovem para que a escola melhore. Se a gente escutar mais os alunos, a escola pode melhorar”, conclui Carrano.
Uma das pesquisadoras que participaram da realização das entrevistas, Ana Karina Brenner, professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), acrescenta: “Acho que o filme vai ajudar gestores e educadores a pensarem sobre a realidade da educação dos jovens e adultos. É importante enfrentar os desafios para a educação a partir dos depoimentos reunidos no filme. Muitos professores vão se reconhecer a partir das falas dos jovens e é possível elaborar políticas públicas a partir do que eles têm a dizer.”
O filme foi lançado em março, no CineArte da UFF, e está disponível para exibição mediante o preenchimento de um formulário (filmeforadeserie.com/organizar-exibicao) e o agendamento pelo site (filmeforadeserie.com) do documentário. “Estamos disponibilizando um formulário na nossa página para todos que quiserem programar uma exibição. Já temos 68 exibições programadas no Brasil todo”, conta Ana.
Além de Carrano e Ana Karina, o projeto contou com a participação de Marcio Amaral e Patrícia Abreu (realização das entrevistas); de Lucas Fixel e Thiago Sobral (trilha sonora); de Ana Karina Brenner e Raquel Stern (produção); de JV Santos e Luciano Dayrell (fotografia, câmeras e som direto); de Caio Miranda e Carolina R. Ussler (câmera de apoio); de Rodrigo Maia e Bruno Ramos (som direto de apoio); de Luciano Dayrell (edição); de Ana Karina Brenner, Luciano Dayrell, Marcela Betancourt, Paulo Carrano, Patricia Abreu, Taynã Ribeiro e Viviane de Oliveira (roteiro); e de Alexandre Nascimento Guimarães, Jhonata Franscisco Barbosa e Maria Cidicléia Silva Nunes (dispositivos de foto e vídeo).
Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data de Publicação: 12/04/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3552.2.3
"O filme revela narrativas de jovens que denunciam sistema escolar que pouco dialoga com seus desafios relacionados, por exemplo, com a falta de assistência com transporte escolar, a conciliação com estudos e trabalhos, a relação com professores desmotivados e escolas pouco democráticas. Mas, que também dão testemunho de que a escola e muitos professores podem ser porto seguro e suporte para a superação dos desafios que enfrentam na retomada da escolarização. São assim jovens que seguem apostando na escola e que resistem na busca de seus direitos a uma educação pública de qualidade”, destaca Carrano. “O projeto de pesquisa e a realização do documentário tiveram como base a ideia de que é indispensável escutar o jovem para que a escola melhore. Se a gente escutar mais os alunos, a escola pode melhorar”, conclui Carrano.
Uma das pesquisadoras que participaram da realização das entrevistas, Ana Karina Brenner, professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), acrescenta: “Acho que o filme vai ajudar gestores e educadores a pensarem sobre a realidade da educação dos jovens e adultos. É importante enfrentar os desafios para a educação a partir dos depoimentos reunidos no filme. Muitos professores vão se reconhecer a partir das falas dos jovens e é possível elaborar políticas públicas a partir do que eles têm a dizer.”
O filme foi lançado em março, no CineArte da UFF, e está disponível para exibição mediante o preenchimento de um formulário (filmeforadeserie.com/organizar-exibicao) e o agendamento pelo site (filmeforadeserie.com) do documentário. “Estamos disponibilizando um formulário na nossa página para todos que quiserem programar uma exibição. Já temos 68 exibições programadas no Brasil todo”, conta Ana.
Além de Carrano e Ana Karina, o projeto contou com a participação de Marcio Amaral e Patrícia Abreu (realização das entrevistas); de Lucas Fixel e Thiago Sobral (trilha sonora); de Ana Karina Brenner e Raquel Stern (produção); de JV Santos e Luciano Dayrell (fotografia, câmeras e som direto); de Caio Miranda e Carolina R. Ussler (câmera de apoio); de Rodrigo Maia e Bruno Ramos (som direto de apoio); de Luciano Dayrell (edição); de Ana Karina Brenner, Luciano Dayrell, Marcela Betancourt, Paulo Carrano, Patricia Abreu, Taynã Ribeiro e Viviane de Oliveira (roteiro); e de Alexandre Nascimento Guimarães, Jhonata Franscisco Barbosa e Maria Cidicléia Silva Nunes (dispositivos de foto e vídeo).
Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data de Publicação: 12/04/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3552.2.3
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