terça-feira, 5 de novembro de 2019

Aspectos clínico-laboratoriais do Antígeno Prostático Específico (PSA)





Os biomarcadores ou marcadores biológicos correspondem a substâncias (células, moléculas, genes, enzimas, hormônios) que podem ser detectadas nos mais diversos fluídos corporais, indicando uma doença/processo patológico específico, ou ainda um estado clínico. Nesse contexto, o PSA (Prostatic Specific Antigen – Antígeno Prostático Específico) talvez seja o caso mais emblemático dessa categoria, representando uma das experiências mais bem-sucedidas de biomarcadores oncológicos (marcadores tumorais), amplamente disponível em todo o mundo.

O câncer de próstata é a segunda maior causa de neoplasia entre os homens, e a quinta na população geral. Apesar de sua inespecificidade e baixa razão de verossimilhança positiva, o PSA vem sendo utilizado com sucesso desde os anos 90 para o diagnóstico, monitoramento e prognóstico do câncer de próstata. Apesar de poder ser encontrado em quantidades pequenas em outros tecidos (mama, carcinomas das adrenais e dos rins, por exemplo), na prática clínica ele é considerado um marcador órgão-específico.

O PSA é um serina-protease sintetizada quase que exclusivamente nos ductos e nas células epiteliais da próstata, possuindo a capacidade de formar complexos com inibidores de protease. Apresenta baixas concentrações séricas, porém encontrado em altos índices no líquido seminal, tendo sua principal função biológica a capacidade de liquefazer o sêmen, contribuindo para o processo da fecundação. Sob condições fisiológicas, sua concentração varia conforme a idade, volume prostático, raça.

Ele circula no sangue principalmente sob a forma complexada ou conjugada (ligado notadamente à alfa-1-quimiotripsina, e em menor proporção às alfa-2-macroglubulinas). Somente uma pequena proporção do PSA é encontrado na circulação sob sua forma não conjugada (livre). Essa porção livre, por sua vez, é composta pelo PSA intacto, e outras isoformas truncadas de PSA.

São várias as condições em que o PSA pode aumentar, de forma permanente (como nos casos de câncer ou de hiperplasia prostática benigna) ou de maneira transitória (relação sexual, ejaculação, ciclismo/hipismo/motociclismo, infecção urinária, ressecção transuretral da próstata, retenção urinária aguda, massagem prostática, prostatite bacteriana, toque retal, biópsia prostática). Em contrapartida, o uso de alguns medicamentos como os inibidores da 5alfa-redutase e os agonistas do hormônio liberador do hormônio luteinizante (LHRH), podem reduzir as concentrações do PSA. Desse modo, ao solicitar um exame de PSA, todos esses fatores devem ser levados em consideração quando da interpretação dos resultados obtidos.

A relação PSA livre e PSA total (%PSA livre = [PSA livre/PSA total] x 100) possui importância clínica, na medida em que na maioria dos casos dos pacientes com doenças benignas, apresentem uma maior proporção de PSA livre em relação ao total, quando comparados com os indivíduos com câncer de próstata. Essa relação se mostra mais vantajosa e clinicamente estabelecida nos casos em que o PSA total encontra-se na faixa entre 4 e 10 ng/mL. Não há um consenso sobre o valor de referência dessa relação, porém o mais utilizado é o que indica que essa proporção deva ser maior ou igual a 15%.

Uma variável pré-analítica que pode interferir nessa relação se correlaciona com a instabilidade do PSA livre. Se após a coleta o sangue não for devidamente centrifugado e refrigerado em até uma hora, o PSA livre pode se degradar (fenômeno da auto-hidrólise), o que pode gerar um resultado falsamente baixo da relação PSA livre/PSA total, levando a uma interpretação inadequada, indicativa de câncer de próstata.

Nos últimos anos foi desenvolvida uma técnica que quantifica a isoforma p2PSA (uma das formas truncadas do PSA livre), na qual é utilizada em um promissor índice matemático, que ajuda a discriminar hiperplasia prostática benigna do câncer. Chamado de PHI – Prostate Healthy Index (Índice de Saúde da Próstata), é representado pela seguinte fórmula: PHI = p2PSA/PSA livre x raiz quadrada do PSA total. Valores altos de PHI falam a favor de câncer prostático e predizem maior agressividade do tumor.

Apesar de não ser um biomarcador ideal, possuindo algumas limitações e controversas, o PSA ainda é muito útil em nosso meio. Sua interpretação deve ser criteriosa, sempre aliada ao exame clínico e ao toque digital retal, a fim de se evitar o sobrediagnóstico, sobretratamento e o número excessivo de biópsias.





Autor: Pedro Serrão Morales
Fonte: Pebmed
Sítio Online da Publicação: Pebmed
Data: 05/11/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/aspectos-clinico-laboratoriais-do-antigeno-prostatico-especifico-psa/

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