segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Diálogos da Inovação discute o impacto social dos dados na Casa Firjan



Em mais um encontro da série promovida pela parceria FAPERJ-FIRJAN, a Casa Firjan foi palco, nesta quarta-feira, dia 13 de novembro, o Diálogos da Inovação O Impacto Social dos Dados. Empreendedores sociais inovadores e empresas orientadas por missões estão usando dados, mídias sociais, aplicativos e outras tecnologias para resolver problemas ao redor do mundo e alcançar mais pessoas e comunidades. Especialistas apontam que os dados são um divisor de águas, pois oferecem uma oportunidade sem precedentes de mudar o mundo. Entretanto, alertam, é preciso respeitar a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais e o direito de privacidade do cidadão.

O diretor de Tecnologia da FAPERJ, Mauricio Guedes, abriu o debate ressaltando a importância dos Diálogos da Inovação para a trajetória da fundação. “Estabelecemos uma relação permanente com a Firjan a partir desse evento mensal que nos incentiva a pensar”, disse. Guedes aproveitou para anunciar o lançamento de um novo e inovador edital da FAPERJ, voltado para doutores que tenham interesse em criar empresas. O programa concederá bolsa equivalente a pós-doutorado e deverá ser abrigado em um dos ambientes promotores de inovação do estado do Rio de Janeiro.

Em seguida, a gerente de Ambientes de Inovação da Casa Firjan, Julia Zardo, mediadora do debate, lembrou que o objetivo da Casa Firjan é ser um espaço de inovação conectado com o futuro, comprometida em pensar, refletir e criar propostas e soluções para a nova economia. Julia anunciou que a partir do dia 17 de novembro tem início a Semana Global do Empreendedorismo, durante a qual a casa Firjan promoverá uma intensa programação (https://www.firjan.com.br/noticias/confira-os-eventos-da-casa-firjan-na-semana-global-do-empreendedorismo.htm), entre elas a entrega do Prêmio Casa Firjan, a ser realizada no dia 22 de novembro, às 10h, que premiará oito pesquisas de mestrado e doutorado, das 117 inscritas, que discutem o futuro do trabalho e a reinvenção das empresas com prêmios entre R$ 2 mil a R$ 20 mil.


Seis em cada 10 indústrias fluminenses desenvolveram práticas inovadoras nos últimos três anos (Fonte: Firjan)


Na sequência, a coordenadora de Pesquisas Institucionais da Firjan, Joana Siqueira, apresentou o resultado da pesquisa Perfil de Inovação da indústria Fluminense, que ouviu 333 indústrias de transformação de pequeno, médio e grande porte em agosto deste ano. A conclusão da pesquisa foi que 60% das indústrias do estado adotam práticas inovadoras para melhorar produtos, serviços e manter competitividade; 53% investem em treinamento ou aquisição de software e que os incentivos fiscais disponíveis para a promoção da inovação ainda são pouco conhecidos, especialmente pelas empresas de pequeno porte. As principais inovações estão ligadas à melhoria do produto final (42,5%) ou do processo produtivo (28,2%). A pesquisa revelou ainda que a inovação já atinge a gestão das empresas e que nos últimos três anos 21,1% das indústrias adotaram prática de gestão nova ou aprimorada e 11,4% investiram na mudança de seu modelo de negócios. O resultado dessas mudanças também indica que 66% das empresas perceberam impactos positivos em questões mercadológicas, fazendo com que 81,3% delas continuem investindo em inovação. “A pesquisa mostra o reconhecimento da inovação como fator de competitividade e desenvolvimento econômico”, concluiu Joana Siqueira.

Em seguida, Julia Zardo passou a palavra ao CEO do Centro de Operações Rio (COR), Alexandre Cardeman, que falou da importância dos dados para o planejamento público e para auxiliar o cidadão carioca. Localizado na Cidade Nova, Zona Portuária do Rio, o COR é considerado o quartel-general das equipes operacionais da prefeitura. Ali estão reunidos cerca de 30 órgãos públicos, além de concessionárias de serviços públicos, que somam 500 profissionais que trabalham 24 por dia em três turnos, monitorando a cidade. À frente do COR há 10 anos, quando foi convidado para implantar o Centro, Cardeman explicou que três pilares com iniciais “i” sustentam as operações: "identificação" dos problemas (imput), por meio de sensores, rádio, internet, operadores de rua e um geoportal de rede câmeras (865 próprias e 335 de parceiros), que produzem um mapa de visão situacional com mais de 250 camadas de informações. A "integração", facilitada pela reunião de todas as agências (light, metro, polícia militar etc) no COR para ajudar no compartilhamento de informações, tomadas de decisão e providências. Já a "informação", ou seja, a forma de a prefeitura se comunicar e orientar o cidadão em situações de emergência, é feita de diversas formas, como pelos relógios digitais nas ruas, monitores nos ônibus, helicópteros que repassam informações para as rádios, e parcerias com google/waze, moovit, entre outros. O executivo deu um exemplo de compartilhamento de dados, a partir de uma parceria com uma operadora de telefonia celular que permitiu ao COR, durante o Carnaval deste ano, saber com exatidão a concentração e movimentação de foliões nos blocos de rua em todos os bairros, e se eles eram do Rio de Janeiro, outros estados ou do exterior. O mesmo CDR online permite ao COR monitorar ao longo da ,manhã o deslocamento de moradores do Rio em direção ao centro da cidade a fim de planejar a disponibilidade de ônibus do BRT. Caderman convidou a plateia a baixar o aplicativo COR.Rio em seus celulares, pois, segundo ele, é uma nova forma de a prefeitura interagir com a população e vice-versa. Segundo ele, em uma situação de emergência o usuário poderá receber informações personalizadas, como, por exemplo, como escapar de um acidente ou o tempo de espera para um socorro. E a população também pode enviar informações sobre ocorrências. “Estamos tentando personalizar a informação a partir da geolocalização. É uma revolução na comunicação, um trabalho de médio e longo prazo, mas que acredito terá grande sucesso”, garantiu Cardeman.


Alexandre Caderman convidou a plateia a baixar o app COR.Rio em seus celulares


Formada em Engenharia Eletrônica, com mestrado em Engenharia da Computação e doutoranda em Inteligência Artificial, Laura Moraes é cofundadora da startup de ciência de dados Twist Systems. Ano passado ela passou três meses em Portugal no programa de imersão Data Science for Social Good, que objetiva solucionar problemas sociais. Com a missão de transformar dados públicos disponíveis em informações estratégicas que auxiliem empresas em suas tomadas de decisão, o Twist trabalha em três frentes. O Data Profiling, que é a extração das características dos dados; o Data Quality, que é a verificação da qualidade dos dados para a análise, e o Data Mining, que é a mineração dos dados e identificação de padrões. Além de toda a análise de identificação de padrões, a Twist trabalha com dados textuais, agrupando notícias e twitts similares, realizando a análise de sentimento, identificação de identidade (pessoas em evidência), como se fosse uma interpretação de texto. O produto foi desenvolvido inicialmente para atender a uma demanda da Rede Globo. Além da grande mídia, a emissora queria diversificar suas fontes de informação e passou a buscar nas redes sociais em todo o mundo assuntos para suas pautas. As análises são todas entregues em tempo real usando como fontes diferentes mídias. O viés social do aplicativo foi testado durante um trabalho para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2018, para a verificação de denúncias de fraudes em urnas. “Quando se trabalha com políticas públicas o mais importante é saber que os dados refletem a estrutura atual e o histórico da sociedade. Nem tudo que vem dos dados é isento, mas devem apoiar a tomada de decisão, que é humana”, diz Laura. Para ela, ao trabalhar com dados em redes sociais é fundamental que eles sejam baseados na justiça, ou seja, não promovam ainda mais exclusões sociais, na responsabilidade, com base na interpretação dos dados frente a diferentes contextos; e no cuidado com fraudes e fake news a partir de contas automatizadas (bots). Em sua opinião, como a tomada de decisão envolve a vida de pessoas, os dados devem ser interpretados considerando razões éticas e legais.

Ana Addobbati, diretora executiva da Social Good Brasil (SGB), ONG sediada em Florianópolis, aproveitou o evento para lançar no Rio o Movimento Data For Good, que tem como objetivo transformar dados em ações de impacto positivo. A Social Good Brasil usa a tecnologia para promover uma sociedade mais humana, inspirando, conectando e capacitando pessoas. Ana disse que a base do seu trabalho e iniciativas está alinhada aos Objetivos do desenvolvimento Sustentável (ODS), a fim de colaborar com a ONU para alcançar a meta da Agenda 2030 e atingir o bem social. Ela apresentou os números da Social Good Brasil, que agrega mais de 27 mil pessoas engajadas em sua comunidade digital, 140 mil seguidores nas redes sociais, 12 laboratórios de inovação social e dados, que reúnem mais de 550 participantes. O projeto possui uma rede de 80 fellows que já impactaram mais de 12 mil pessoas em todo o Brasil. Ana lembrou que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais entrará em vigor no Brasil no próximo semestre e que é importante que todo cidadão tenha conhecimento do seu conteúdo. Segundo ela, o SGB é uma comunidade intersetorial com o objetivo de orientar ações sociais a partir evidências e dados, estimulando organizações a usarem o poder dos dados para construir uma sociedade mais justa. “Todos nós transmitimos dados o tempo todo. Quando fornecemos nosso número de CPF na farmácia, transmitimos um dado. Mas a questão é: para quem você está dando este poder, como esta informação será trabalhada?” Ana fez uma reflexão sobre a frase do escritor israelense Yuval Noah Hahari, que disse “os donos dos dados serão os donos do futuro”, para lembrar da necessidade de se usar esse poder em ações para o bem. Como exemplo de compartilhamento de dados para o bem ela citou a iniciativa de uma operadora de telefonia na Colômbia, que diante de uma tragédia doou os dados dos usuários para ajudar as equipes de resgate a encontrarem sobreviventes, o que é considerado filantropia de dados. Ana também deu o exemplo do aplicativo Mete a Colher, desenvolvido em Pernambuco para proteger mulheres em situação de violência doméstica, cujos dados serão compartilhados com a academia e com a polícia como forma de fazer a prevenção ao feminicídio. Por fim, Ana explicou que o movimento Data for Good vem trabalhando sobre três pilares: conectar, capacitar e inspirar e garantiu que o festival anual SGB, um encontro anual da comunidade, parceiros e pessoas-referência em tecnologia, dados e impacto social no Brasil e no mundo.


Ana Addobbati lançou o Movimento Data For Good no Rio, com objetivo de transformar dados em ações de impacto positivo


O coordenador de monitoramento e avaliação do Impulsiona Educação Esportiva, Pedro Sarvat, colocou em discussão “os desafios de uma educação para o século XXI”. Após apresentar alguns significados para a palavra dados, Pedro elegeu a que em sua opinião é a melhor: Dado é produto de criação, pesquisa, coleta e descoberta, um material bruto para lapidação. Para ele, os dados são o pilar da pesquisa, a base do conhecimento científico, além de moldarem os interesses políticos, econômicos e sociais das nações. Segundo ele, três questões estão em discussão nos últimos 150 anos: o que é considerado dado, quais deles são confiáveis e a quem pertencem. Segundo ele, o grande dilema que continuará acompanhando os indivíduos é o quanto cada um está disposto a abrir mão de sua privacidade em função de uma oferta de conteúdo mais privado ou genérico. Sarvat acredita que o uso de dados como forma de aumentar receita deve estar agregado a um impacto social. Exemplificou com a estatística que indica que a cada 15 minutos morre uma pessoa no trânsito no Brasil, 90% delas causadas por erro humano, e indicou o monitoramento de áreas criticas como uma forma de reduzir esses acidentes. Recorreu a outro indicador social para revelar que a pobreza extrema atinge 13,5 milhões de brasileiros e que o estado do Maranhão lidera essa triste realidade, onde mais de 50% da população tem renda inferior a R$ 500 mensais. Em sua opinião, o maior desafio é como garantir à população mais necessitada o acesso aos programas de governo. Sarvat lembra que os dados têm uma infinidade de aplicações, como em saúde, vigilância sanitária, segurança pública, e meio ambiente, entre outros.

Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que menos de 2,5% dos jovens brasileiros querem ser professores, entre outros motivos porque a profissão não é valorizada, os salários são baixos, a carga horária é elevada, a infraestrutura nas escolas precária. Formado em Administração de Empresas, Pedro decidiu trabalhar com dados para resolver os problemas da educação, mas achava que não tinha a compreensão do que significava a educação no País. Por isso, nos últimos dois anos participou do programa Ensina Brasil em duas escolas estaduais na periferia de Campo Grande (MS) e ali vivenciou o que ocorre na maioria das escolas públicas do Brasil. Para dar uma ideia do desafio de se formar a reciclar professores, ele recorre aos números: dos 2,2 milhões de professores no País, 62% são mulheres, 71% são os principais responsáveis pela renda familiar, 49% não recomendam a profissão e outros 71% avaliam ineficiente sua formação inicial. “Hoje consigo me apropriar com muito mais empatia dos dados sobre a educação no Brasil, já não é tão distante da realidade que vivi”, diz Sarvat em relação a sua experiência. Ele não considera que o Brasil invista pouco em educação (4,9% do PIB), mas acha que investe mal. Em contrapartida, o desempenho dos alunos não é bom. “Acho que a experiência de aprendizagem dos alunos mudou muito com a tecnologia. Há um espaço na nova educação para que passemos a ver os alunos como indivíduos mais completos”, reflete, lembrando que empatia é construir com e não apenas para alguém. Por fim, o Sarvat explicou que o Impulsiona é um programa de educação esportiva que oferece cursos e conteúdos para os professores dessa disciplina, lembrando que o movimento e atividade física nas escolas aumentam o nível de aprendizagem e bem estar, além de combater a violência, a indisciplina, o bullying e ainda desenvolve competências socioemocionais. Hoje, a plataforma tem 62 mil usuários e 26 mil escolas cadastradas, em 4.411 municípios.




Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 14/11/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3880.2.3

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