Nos estudos da Comunicação, o poder de influência das agências de notícias dos Estados Unidos e Europa está frequentemente sob os holofotes. No entanto, elas não são as únicas fontes de informação para muitos profissionais da Comunicação ao redor do mundo, e a produção local de notícias também é bastante relevante para a população de cada país. Com isso em mente, o professor Pedro Aguiar Lopes de Abreu, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), realizou o mapeamento de 110 agências estatais de notícias em países do chamado "Sul Global". Para a realização do trabalho de pesquisa, Aguiar contou com bolsa de Doutorado da FAPERJ. Na quarta-feira, dia 6 de novembro, ele recebeu, no campus da Universidade Federal de Goiás (UFG), o Prêmio Adelmo Genro Filho, da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), pela tese “Agências de Notícias do Sul Global: jornalismo, Estado e circulação da informação nas periferias do sistema-mundo”. A orientação do trabalho foi de Sonia Virginia Moreira, professora do Departamento de Jornalismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
“Eu acredito que a importância disso atualmente é entendermos as outras fontes de informação que circulam nas periferias em tempos em que se normalizou o uso de poucas fontes. E essas agências dos países periféricos são ferramentas estratégicas na persecução do desenvolvimento, parte dos esforços nacionais por corrigir desequilíbrios estruturais causados por décadas ou séculos de dominação colonial e imperial”, explica o jornalista.
Pedro Aguiar destaca a importância das agências estatais na produção de conteúdo, bastante disseminado por veículos de cada país (Foto: Arquivo pessoal)
Após a pesquisa, Aguiar afirma que não é possível traçar um único perfil comum das agências estatais e, em poucos casos, elas funcionam como um fortalecimento do papel do governo, como é o caso das agências chinesa e russa. Por isso, o pesquisador comenta que é preciso diferenciar governo de Estado, sendo que o fechamento ou abertura dessas agências ocorre com certa frequência por parte dos governos. “Algumas são serviços de divulgação de atos oficiais, não só restritos a regimes autoritários, enquanto outras perceptivelmente esforçam-se em fornecer material jornalístico com pluralismo para sua própria mídia conterrânea, mas esbarram em limitações de orçamento e de recursos humanos e técnicos. Utilizando critérios como quantidade de praças de correspondências, variedade do cardápio de serviços, número de línguas usadas nos serviços e a gratuidade ou cobrança pelos serviços, constata-se que poucos são os atributos comuns que compartilham”, escreve em seu trabalho.
Em muitos casos, são essas agências que irão alimentar o noticiário local e levar informações sobre campanhas de saúde, em especial para regiões remotas ou que estejam passando por epidemias, em que há programações específicas sobre o assunto. E para esses assuntos em regiões fora das grandes cidades sem acesso à Internet, não é possível falar em descentralização da informação por meio das redes sociais. “Não dá para dizer que as redes sociais substituem as mídias tradicionais", diz Aguiar. De acordo com os dados levantados pela pesquisa, não dá para ignorar que são essas agências locais que alimentam a mídia tradicional. É muita coisa sendo feita em rádio, que ainda é a principal fonte, e, em segundo lugar, a televisão”, enfatiza o pesquisador.
A partir de seu trabalho, o pesquisador confirmou sua hipótese de que o Estado é a força-motriz da circulação da informação nos países menos desenvolvidos. Também destacou que, ao contrário das agências hegemônicas, a circulação da informação não se baseia apenas na ideia de mercadoria, mas funciona como um direito, como promoção de políticas públicas e estratégia de comunicação.
Autor: FAPERJ
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 08/11/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3864.2.2
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