sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Bactérias resistentes a antibióticos estão associadas a recentes surtos de cólera, diz estudo




Criança chora enquanto é medicada no centro de tratamento contra cólera de um hospital após a passagem do furacão Matthew em Jeremie, no Haiti (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)



A "Science" publicou nessa quinta-feira (9) dois estudos com descobertas sobre os últimos surtos de cólera no mundo. Eles analisaram o genoma de cepas da Vibrio cholerae e verificaram a origem e a capacidade de resistência a medicamentos. Os achados podem evitar a ocorrência de uma nova pandemia (quando uma doença se espalha por todas as regiões do globo) -- já que a condição volta com força em regiões vulneráveis. No Iêmen, surto grave da doença ceifou a vida de milhares esse ano.


Uma das descobertas que chamam a atenção é o fato de que todas as últimas cepas da bactéria Vibrio cholerae introduzidas na África desde 1980 são resistentes a antibióticos. "Antibióticos foram usados por décadas para tratar a cólera, juntamente com terapias de reidratação", explica o estudo. "Eles limitam a reprodução da bactéria e, com isso, diminuem a duração da diarreia", diz. O estudo mostra que entre 106 e 109 cópias de bactérias contribuem com a perda de 1 litro de líquido por hora.


No entanto, esse amplo uso está associado com o surgimento de patógenos resistentes hoje. A descoberta está em consonância com esforços globais para diminuir o uso de antibióticos no mundo -- esta semana a Organização Mundial da Saúde exortou que a indústria diminua o uso de medicamentos em animais para evitar a transmissão de patógenos resistentes a seres humanos.


Os estudos analisaram dados do genoma de 1200 amostras de bactérias ligadas à cólera em todo o mundo -- algumas das amostras datadas de antes de 1950. A maioria das amostras veio da África e da América Latina, regiões que enfrentaram duas grandes epidemias nas últimas décadas.


O estudo mostra que uma das linhagens resistentes datam de uma circulação da cólera que ocorreu na Tanzânia em 1977. Na época, o governo usou amplamente antibióticos do tipo tetraciclina para conter o surto.



Outras cepas resistentes também datam de surtos ocorridos em 1999 em Madagascar, quando medicamentos foram utilizados para a prevenção. O estudo também cita mutações associadas à resistência que teriam surgidas em Ruanda, para o controle do surto de disenteria em campos de refugiados.



Hospital trata crianças com suspeita de cólera em Sanaa, no Iêmen (Foto: Mohammed HUWAIS / AFP)



América Latina


Em um dos estudos com foco na América Latina, também publicado na "Science" nesta quinta-feira (9), cientistas analisaram 252 amostras da bactéria - e descobriram que 164 eram uma variedade de bactéria El Tor (7PET), ligadas a uma variante vinda do sul da Ásia.


O achado mostra a necessidade de controle dos patógenos para evitar a disseminação global -- últimas epidemias na região foram verificadas no Peru em 1999 e no Haiti em 2010.


A cólera afeta 47 países em todo o mundo e está associada à morte de 100 mil pessoas por ano. O mundo convive com a cólera desde o século XIX, mas as epidemias mais recentes datam da introdução da variante asiática "7PE", identificada primeiramente nos anos 1960.


Cólera no Brasil


Até 1991, o Brasil estava ileso da cólera, segundo o Ministério da Saúde. Naquele ano, no entanto, a pandemia atingiu o continente sul-americano pelo litoral do Peru, o que levou a doença a 14 países da América do Sul; entre eles, o Brasil.



Do Peru, a doença adentrou a selva Amazônica, chegando ao Norte e ao Nordeste do país, atingindo depois áreas mais vulneráveis em outros centros urbanos.


No Brasil, entre os anos de 1991 e 2000, foram notificados 168.598 casos de cólera e 2.035 óbitos. Entre 2001 e 2004, sete casos foram notificados. Não há registros oficiais recentes. O último boletim epidemiológico sobre a cólera produzido no Brasil data de 2004, quando um caso foi registrado em Pernambuco.


Apesar de não registrar casos atuais, o Ministério da Saúde considera, no entanto, que como há potencial endêmico no País , as ações de vigilância devem continuar presentes.


Autora: G1Globo
Fonte: G1Globo
Sítio Online da Publicação: G1Globo
Data de Publicação: 09/11/2017
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/bacterias-resistentes-a-antibioticos-estao-associadas-a-recentes-surtos-de-colera-diz-estudo.ghtml

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