sábado, 4 de junho de 2022

ADA 2022: nutrição no diabetes – quebrando paradigmas

Estamos na cobertura in loco do congresso da American Diabetes Association (ADA 2022) para trazer informações fresquinhas sobre o tema. O ADA é o principal congresso de diabetes do mundo e conta com simpósios muito interessantes que sumarizam evidências em temas específicos e também com apresentação de diversos artigos originais, capazes de modificar a prática clínica.

Um dos destaques do dia de hoje, 03, foi a palestra conjunta das doutoras Alison Evert e Maureen Chomko a respeito de tópicos comumente abordados no tratamento do diabetes e cujo corpo de evidências científicas é controverso: a nutrição do paciente.

Vamos direto aos tópicos abordados.


Nutrição no diabetes

Pessoas com diabetes precisam comer várias vezes ao dia?

É muito comum ouvir, mesmo dentro do ambiente universitário, que pessoas com diabetes devem se alimentar de 3/3 horas ou fazer três refeições principais e três lanches. Apesar da recomendação servir para algumas situações como o diabetes gestacional, para o diabetes tipo 2 (DM2) essa teoria não encontra fundamentos científicos.

A dra. Alison aponta que além da falta de estudos embasando essa prática, a medida pode aumentar a ingestão calórica de forma desnecessária, levando a ganho de peso e piora do controle glicêmico.

Lembrando que ninguém deve comer para evitar hipoglicemias. Se isso for necessário é sinal de excesso de insulina ou hipoglicemiantes na grande maioria das vezes.

Pessoas com diabetes devem se alimentar pela manhã

Existem estudos mostrando que pular o café da manhã está associado a maior risco cardiovascular. Com o diabetes não é diferente: não se alimentar pela manhã parece aumentar o risco de desenvolver DM2 e em quem já tem a condição, parece piorar o pico pós-prandial de glicemia, refletindo um pior controle. Logo, parece haver um benefício em se alimentar mais pela manhã e menos ao final do dia.

Atenção com adoçantes

Estudar os adoçantes pode ser muito difícil, uma vez que são uma classe heterogênea de moléculas com vias metabólicas particulares. Também existe um viés de que quem busca bebidas artificialmente açucaradas, tendem a consumir mais alimentos processados e a ter uma pior dieta. Contudo, o que temos de evidência sobre essas substâncias?

Em estudos observacionais, os adoçantes não se associaram a redução de peso, mas aumentaram discretamente o risco de diabetes (RR 1,14; IC 95%, 1,05 – 1,25), por mecanismos não discutidos na palestra. Porém vale ressaltar que são dados observacionais e não demonstrados em ensaios randomizados. Recomendação prática? Se o seu paciente puder tomar água, melhor.

O macronutriente importa?

Não há dados que sustentem a recomendação de se omitir ou reduzir um macronutriente (ex.: carboidratos, proteínas ou lipídios) ou outro. Dados de estudos com dieta very low carb (ingestão de carboidratos entre 10 e 26% das calorias diárias) ou cetogênica (cuja definição muda um pouco, limitando a ingestão de carboidratos a 20-50g/dia – sem grande diferença na prática portanto comparado a very low carb) mostram que de fato, a curto prazo (3 a 6 meses) há melhora do controle glicêmico e da resistência insulínica.

Porém esse benefício não é mantido a longo prazo, muito porque é uma dieta difícil de ser mantida. Logo, o mais importante é a qualidade dos alimentos, evitando carboidratos de baixo valor, como os advindos de farinhas brancas, refinados, sucos e derivados.






Autor: Luiz Fernando Fonseca Vieira
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 03/06/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/ada-2022-nutricao-no-diabetes-quebrando-paradigmas/

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